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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

** A cidade dos engenheiros A trama urbana paulista foi criada pelos "saberes técnicos e eruditos"

 
A cidade dos engenheiros
© reprodução do livro Dois séculos de projetos no estado de São Paulo (Imesp-edusp)
Vale do Anhangabaú

"Se até 1900 os interessados na questão 'alojamento' reuniam-se na casa dos higienistas, passaram eles a residir em separado. O engenheiro mantém com os higienistas relações proveitosas e cordiais, visitam-se com regularidade, mas não os vemos mais de braço dado: os primeiros encontram mais conveniência em se aproximar dos urbanistas", afirmou Victor da Silva Freire, engenheiro e diretor de Obras Públicas da prefeitura de São Paulo, em 1914, em sua conferência A Cidade Salubre, proferida no Grêmio Politécnico. "Entre 1890 e 1950, é impossível separar, no plano conceitual, o vocabulário do 'urbanista' (engenheiro e arquiteto) daquele do administrador público de São Paulo", explica a historiadora Maria Stella Bresciani, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do projeto temático Saberes eruditos e técnicos na configuração e reconfiguração do espaço urbano: estado de São Paulo, séculos XIX e XX, apoiado pela FAPESP. Segundo a pesquisadora, o saber erudito de técnicos e autoridades, propondo e acreditando-se capazes de dar respostas adequadas aos desafios de uma cidade que se modernizava, foi responsável pelas modificações ocorridas em São Paulo e marcou profundamente a relação entre o poder público e os interesses do capital privado, que tiveram grande peso na configuração do espaço urbano paulista.
Segundo a pesquisadora, o que distingue esse projeto de outros estudos sobre o mesmo tema são as indagações teóricas e históricas em dois eixos que se cruzam. "Em termos de história, indicamos a forma como os pressupostos do higienismo-sanitarismo permanecem ativos mesmo quando se estabelece o campo profissional de especialistas da cidade. Estudamos de que forma esses pressupostos se mantêm ao serem traduzidos em preceitos técnicos e incorporados à disciplina urbanística nos anos 1920, mesmo que engenheiros e arquitetos procurassem autonomia sobre o que chamavam de 'rigidez teórica dos higienistas'", observa ainda. "Pelo lado teórico, quisemos entender como funcionava o 'intervalo' entre a promulgação de leis, projetos e planos e sua efetiva aplicação ou execução, já que seriam – como outros estudos afirmam – meras cópias de ideias e modelos estrangeiros e, assim, inadequados à situação local", continua.
Avenidas – A historiadora lembra, para exemplificar a primeira situação, o Plano de Avenidas do prefeito Prestes Maia (1896-1965), concebido na década de 1930 e só implementado nos anos 1970. O segundo ponto é mais complexo, pois envolve, nota Stella, ir além da linha interpretativa das "ideias fora do lugar", pois "usar o argumento da importação de ideias para a configuração urbana de São Paulo impede a reflexão mais atenta sobre o processo de constituição de um campo concei­tual do urbanismo como sendo um 'saber de domínio comum', composto de vários saberes e experiências, difundido e aplicado com mudanças por causa de situações específicas em diversos países quando se acrescentam opções práticas ao urbanismo abertamente pragmático", afirma. Basta recordar o que dizia, nos anos 1920, o engenheiro e prefeito de São Paulo, Anhaia Mello (1896-1974), ao lado de Prestes Maia um dos polos intelectuais que propuseram uma maneira de se pensar a configuração urbana da cidade. Embora preconizasse que "as ideias têm hoje uma efetividade imensa e um raio de ação quase ilimitado e imediato, que abraça o globo e vai sondar outros planetas", Anhaia Mello avisava que era preciso conhecer como os outros resolveram os problemas urbanos e "aplicar com inteligência, e não servilmente ou por mero espírito de imitação, os métodos e processos que se adaptem às nossas condições locais. Acima de tudo, afirmamos a importância de acompanhar a formação acadêmica e a atuação dos especialistas e, nesse processo, entender os momentos de definição de suas opções teóricas".
Assim, além de revelar a permanência dos pressupostos sanitários no urbanismo paulista e de superar a teoria da importação de modelos como forma de compreender a formação da cidade, o temático trouxe outro resultado significativo aos estudos existentes: a demonstração do poder do capital privado na configuração do espaço urbano paulista. Obras feitas pelos especialistas em questões urbanas que, acredita Stella, acabaram por atribuir à cidade a sua configuração moderna. "Além disso, os pressupostos desse saber científico e técnico desenvolvido na capital foram também aplicados na criação de novas cidades ao oeste, frutos da expansão da fronteira cafeeira resultante da implantação da rede ferroviária que influenciou a urbanização de toda essa área até os limites da cidade de São Paulo. As nossas pesquisas revelam o poder das companhias privadas e dos donos de propriedades rurais no estabelecimento das ferrovias e na feição urbana de cada nova cidade surgida nesse processo."

© reprodução do livro Dois séculos de projetos no estado de São Paulo (Imesp-edusp)
Faculdade de Medicina, em 1929

"As atividades desses grupos foram importantes para uma reconfiguração do espaço urbano do estado de São Paulo, para a difusão da arquitetura eclética e para a constituição do repertório paisagístico e para a remodelação dos antigos largos, praças e jardins", observa o arquiteto Adalberto Retto Junior, coordenador do grupo de professores da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação de Bauru (Faac) que integram uma área do temático. Segundo estudos desses pesquisadores, por causa das iniciativas que exigiram a construção de equipamentos e edificações voltados à produção e construção da malha ferroviária, as cidades formadas no oeste paulista, a zona de expansão da produção cafeeira, apresentam, ainda hoje, uma paisagem bastante homogênea no seu desenho urbano: o quadriculado contínuo da malha urbana se detém ao encontrar uma barreira natural ou os leitos de ferrovias e rodovias, independentemente da topografia existente. Para Retto Junior, o espaço público dessas novas cidades, muitas criadas em função da passagem das ferrovias, houve uma reprodução da legislação da capital em seu processo de difusão e a circulação dos preceitos higiênicos e inovações técnicas.
A implantação dessas cidades, segundo o grupo de estudos, pode ser considerada um marco no planejamento urbano, cujo objetivo maior era obter um rápido retorno do investimento feito. Após serem substituídas pelas rodovias, as estruturas arquitetônicas criadas pela expansão da rede ferro­viária no interior do estado se transformaram em "ruínas modernas", também existentes na capital. "É preciso questionar para quem se preservam áreas e imóveis, por que e em nome de que passado. Ainda que essa preservação tenha sido feita em nome de uma 'linha de continuidade com o passado', ela deve ser pensada como trabalho seletivo de reconstrução desse passado", analisa a historiadora Cristina Meneguello, da Unicamp, integrante do temático. "Essa preservação virou 'tema favorito' nos meios de comunicação e no discurso político, mas é preciso questionar isso para além do seu lado 'positivo'. A apropriação da história não deve ser apenas uma citação material e visual, mas algo que mostre em si a possibilidade de transformação", continua.
Engenheiros – Para entender, aliás, essa transformação em seu processo, é preciso compreender como se chegou ao predomínio dos engenheiros. Afinal, antes deles, quem comandava esse desenvolvimento eram os higienistas. "As prescrições sanitárias eram baseadas na teo­ria miasmática, que atribuía ao 'veneno' presente no ambiente a causa das epidemias. Daí o surgimento de um corpo de profissionais que deveriam combater os 'males' aos quais as cidades estavam submetidas, realizando intervenções práticas para reduzir os 'miasmas'", explica a arquiteta e historiadora Ivone Salgado, da PUC-Campinas, integrante do temático. Uma epidemia de febre amarela em Campinas e Santos levou o poder público a decretar a inspeção dos cortiços do bairro de Santa Ifigênia. "Os médicos higienistas sentiram-se no direito de entrar no espaço privado das habitações coletivas, mais pobres, para uma intervenção 'ordenadora' da cidade e sugeriram a localização das futuras habitações de trabalhadores em vilas construídas numa distância de 15 quilômetros da capital. Era o início de um processo de segregação espacial que marca a cidade até hoje, designada pelos especialistas como 'padrão periférico de crescimento urbano'", continua Ivone.
Mas uma inovação científica, a microbiologia, levou à decadência da teoria miasmática, causando a emergência de um novo profissional responsável pelo saneamento urbano: o engenheiro sanitário. "Os novos programas de saneamento básico ficaram para os engenheiros municipais que se tornaram o braço técnico do movimento de reforma sanitária. A profissão de engenheiro experimentou um crescimento rápido", observa Ivone. "Os engenheiros a serviço da cidade eram chefes entre a elite tecnocrática, que construía e administrava a nova infraestrutura urbana e foram surgindo ao lado da classe emergente burocrática de funcionários permanentes da cidade." Ou, nas palavras de Victor Freire: "Passam eles a residir em separado". "É preciso ver a cidade moderna como um organismo complexo inserido num plano de expansão. Temos hoje, para sorte da sociedade, soluções técnicas", escreveu ele em 1918. Era a vitória dos "argumentos técnicos, científicos e econômicos", considerando todas as manifestações da vida da cidade em conjunto, em suma, "na essência do urbanismo". "Nas décadas finais do século XIX houve mudanças importantes nas formas de legitimar a autoridade municipal e as intervenções na cidade. Uma 'nova política urbana' surgiu, embasada na possibilidade de o Estado estabelecer critérios 'objetivos' para solucionar problemas 'reais' da coletividade", nota Stella. A parceria entre o engenheiro e o médico, continua a pesquisadora, indiscutível no século XIX, dá lugar, no fim da década de 1920, à parceria desigual entre o engenheiro urbanista e o especialista em sociologia urbana, seu colaborador. Em 1914, praticamente todas as cidades com alguma expressão econômica já contavam com serviços urbanos modernos. Havia base para tanto desenvolvimento.


© reprodução do livro Dois séculos de projetos no estado de São Paulo (Imesp-edusp)
Vale do Anhangabaú e viaduto do Chá


A criação da Politécnica em 1894 e da Escola de Engenharia Mackenzie em 1896 deu nascimento a um núcleo institucional, de um centro a partir do qual se definiram as políticas para a ação oficial e privada no setor de construção civil. Foi o passo decisivo para a união entre o engenheiro e o administrador. "Seja porque os prefeitos procuravam esses profissionais para tocar os vários departamentos da administração pública, seja porque eles mesmos eram, na sua maioria, engenheiros formados pela Politécnica e falavam a mesma linguagem", nota Stella. São Paulo se orgulhava de sua independência e de seu saber erudito e técnico na relação entre o crescimento demográfico e espacial e as intervenções realizadas na cidade pelo poder público associado à iniciativa privada.
Livre – "Vimos as várias terras da província se cobrirem de vias férreas sob os auspícios fecundos da iniciativa privada; vimos se formarem ricas associações e companhias para explorar, sem a intervenção do poder estatal, os ramos mais importantes da indústria, agricultura e comércio; vimos a província do estado de São Paulo mudar completamente de aparência em poucos anos, impulsionada pelo poder admirável das associações livres, da vontade individual", escreveu o presidente de São Paulo, Paulo Egydio, em artigo ao jornal O Estado de S. Paulo em 1888. São tempos dos "melhoramentos": os empresários ricos da província passam a se estabelecer de vez na capital, o que levou as autoridades públicas a investir nas obras de "melhoramento e embelezamento" da cidade.
É afirmação recorrente na historiografia que a forma de se pensar a cidade pode ser dividida entre duas correntes representadas pelos engenheiros Anhaia Mello e Prestes Maia, ambos ocupantes da cadeira de prefeito de São Paulo em tempos distintos (Mello entre 1930 e 1931; Maia entre 1938 e 1945, durante o Estado Novo). "Mello propunha solucionar os problemas de congestão da cidade pela contenção e retração do crescimento urbano para criar uma 'transição equilibrada entre campo e cidade'. Prestes Maia, em posição oposta, defendia o 'esgotamento das potencialidades da metrópole e a remoção dos problemas por novas obras e novos planos'. Ambos representavam opções distintas do uso dos saberes técnicos e eruditos na configuração da cidade", diz a pesquisadora. Sylvia Ficher transcreve em Os arquitetos da Poli (Edusp) o depoimento do engenheiro-arquiteto Leo Ribeiro de Moraes, seguidor de Anhaia, em 1954. "Para lidar com questões de urbanismo são possíveis duas atitudes: a prática e a científica. A primeira, que foi advogada por Prestes Maia, é a que tem sido tomada até hoje pelos governos que se empenham em fazer 'alguma coisa'. A outra, adotada por Anhaia Mello, é a aplicação dos preceitos do urbanismo moderno para alcançar algo mais que a simples desobstrução do trânsito e a ornamentação de praças e avenidas."
Abridor – "Para Prestes Maia causava estranheza o 'esquema Anhaia', o que previa a proibição da instalação de novas indústrias em São Paulo e a limitação do crescimento da cidade, que dizia serem medidas para 'ananicar a nossa cidade por meio da forma'. Mas Anhaia Mello defendia a posição teórica correta, enquanto Prestes Maia se apoiava na posição mais pragmática de 'abridor de avenidas'", continua Ribeiro. Em 1929, numa coletânea de artigos, Mello designava, aponta Stella, a "ciência do urbanismo" como "cooperação" e criticava aqueles que "confundiam uma ciência tão bela e vasta com a simples técnica da engenharia municipal" ao subestimarem a necessidade da "colaboração do sociólogo, do legislador, do jurista, do político, do administrador, do economista e de todo o cidadão". O saber erudito vitorioso dos engenheiros, na visão de Mello, tinha novos preceitos: o "verdadeiro objetivo da civilização – construir belas cidades e viver nelas em beleza – exigia preparar o ambiente e formar uma psicologia urbana e anseio cívico, uma opinião pública esclarecida". Era preciso "limitar a expansão indefinida e desordenada de São Paulo" e "criar espaços de lazer para os operários". Mais importante, o esquema Anhaia criticava estruturas monopolistas e defendia o controle estatal sobre companhias privadas que ofereciam serviços públicos.
Prestes Maia caminhava na direção oposta e apostava no valor do capital privado, na opção por grandes avenidas perimetrais para fluidez da circulação, na adoção de soluções técnicas para o "ajuste permanente da metrópole às exigências de organização da sociedade moderna: a necessidade é evitar não o crescimento da metrópole, mas a interrupção do processo pela ineficiência do funcionamento urbano", afirmava. "Para Prestes Maia, a apresentação dos planos para a população pela imprensa só deveriam acontecer depois que o projeto já tivesse sido desenvolvido e elaborado pelos engenheiros da municipalidade", diz a pesquisadora. O saber erudito segundo Prestes Maia venceu a disputa. "Foi apenas nos anos 1950, após o fim do regime Vargas e  o fim do mandato de Prestes Maia, que os profissionais do Departamento de Urbanismo começaram a incorporar algumas das ideias de Anhaia Mello." Mas a cidade já criara uma nova feição: os cidadãos estavam apartados das decisões de políticas urbanas. "As descobertas do temático revelam que a estrutura baseada no sanitarismo, na engenharia e na arquitetura não foi sucedida por um urbanismo técnico e mais adequado a lidar com a cidade. O caráter sanitário ainda se mantém como guia das ações urbanas", nota Stella. "Construir cidades é construir homens. O ambiente urbano é que plasma o caráter humano, de acordo com sua própria feição, para a fealdade ou para a beleza", já observava, com grande antevisão, Anhaia Mello em 1929.




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** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História de Ruy Carlos Vieira Berbert -XXIII-

Carta O Berro..........................................................repassem




Ruy Carlos Vieira Berbert

 
Militante do MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO POPULAR (MOLIPO).


Estudante universitário.


Nasceu em Regente Feijó (São Paulo), no dia 16 de dezembro de 1947, filho de Ruy Thales Jaccoud Berbert e Ottilia Vieira Berbert.


Desaparecido em 1972, aos 25 anos de idade, assim permanecendo até 30 de junho de 1992, quando a Justiça reconheceu sua morte em 2 de janeiro de 1972, na cidade de Natividade (Tocantins).


Poucas informações se tinha a respeito de Rui Carlos e de seu desaparecimento. Sua morte foi admitida por um general estreitamente ligado ao aparelho repressivo em entrevista fornecida ao jornal "Folha de São Paulo", em 28 de janeiro de 1979.


Foi indiciado no inquérito 15/68, referente ao XXX Congresso da UNE, em Ibiúna/SP. Em 27 Julho/72 foi condenado pela 2ª Auditoria da Marinha à pena de 21 anos de reclusão.


Em meados de junho de 1991 foi entregue por Hamilton Pereira, membro da Comissão Pastoral da Terra, à Comissão 261/90 da Prefeitura de São Paulo, criada no governo da prefeita Luíza Erundina, para acompanhar a identificação das 1049 ossadas encontradas na vala clandestina de Perus, um atestado de óbito em nome de João Silvino Lopes, causa mortis: suicídio, datado de 02 de janeiro de 1972, em Natividade (na época, Estado de Goiás). Havia probabilidade de ser de um militante desaparecido político.


Na ocasião, não se tinha a possibilidade de identificar este provável militante. Este nome não constava na lista dos desaparecidos políticos. Caso fosse um nome falso, era necessário mais informações para identificá-lo.


Em Janeiro de 1992, quando se teve acesso aos arquivos do DOPS-SP, encontrou-se uma relação elaborada a pedido do Dr. Romeu Tuma intitulada: "Retorno de Exilados". Na relação das pesssoas, estava o nome de Ruy Carlos Vieira Berbert com as seguintes observações: preso em Natividade, suicidou-se na Delegacia de Polícia, em 02 de janeiro de 1972. Concluiu-se que João Silvino Lopes era o nome falso de Ruy Carlos Vieira Berbert e buscaram-se meios para prosseguir nessas investigações. Solicitou-se à Comissão de Representação da Câmara Federal ajuda para investigar, naquela cidade, a verdadeira identidade do morto.


Organizou-se uma caravana integrada pelas seguintes pessoas: o Presidente da Comissão de Representação Externa do Congresso, deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG), deputado federal Roberto Valadão (PMDB-ES), Idibal Piveta, advogado da família de Ruy Carlos Vieira Berbert e representante da OAB-SP, Hamilton Pereira, da Comissão Pastoral da Terra, de Goiás e Suzana Keniger Lisboa, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos.


Os integrantes da Caravana tomaram os depoimentos de populares que presenciaram os fatos da época. Foram entrevistados alguns moradores, funcionários públicos e membros da PM, que confirmaram que Ruy Carlos e João Silvino eram realmente a mesma pessoa.


Feito levantamento das sepulturas do Cemitério e localizado o possível local do sepultamento, foi encaminhado à Justiça pedido para reconstituição de identidade e posterior exumação e traslado dos restos mortais. Contatos com o Prefeito e o Governador do Estado foram feitos para providenciar as medidas necessárias para guarda da sepultura localizada.


No dia 30 de junho de 1992, a juíza de Direito da Comarca de Natividade, Dra. Sarita Von Roeder Michels, concluiu os termos de retificação da Certidão de Óbito, requerida pelo Sr. Ruy Jaccoud Berbert, pai de Ruy Carlos. O parecer da juíza diz o seguinte: "A documentação acostada aos autos não deixa quaisquer dúvidas de que Ruy Carlos Vieira Berbert seja a mesma pessoa que morreu na cadeia pública desta cidade de Natividade, foi sepultado no Cemitério local e cujo óbito lavrou-se em nome de João Silvino Lopes."


Em seguida encaminhou o cancelamento do registro de óbito em nome de João Silvino Lopes e foi lavrado novo assento que registra o óbito de Ruy Carlos Vieira Berbert, falecido em 02 de janeiro de 1972, às 3:00 horas na cadeia pública da Praça Senador Leopoldo de Bulhões.


Seu corpo, entretanto, não pode ser localizado, apesar das tentativas realizadas pela Equipe do Departamento de Medicina Legal da UNICAMP. No dia 19 de maio de 1992, em Jales, São Paulo, uma urna funerária vazia foi depositada no jazigo da família Berbert, simbolizando o enterro de Ruy Carlos, vinte anos após sua morte.


De sua mãe, D. Ottília:


"Rui Carlos tinha uma única imã, Regina Maria Berbert Pereira. Ele passou a adolescência em sua terra natal. Sempre foi uma pessoa tranqüila e bondosa, especialmente para sua família.


Ao concluir o Curso Científico, deixou sua cidade seguindo para São Paulo com o intuito de se preparar para o vestibular e conseguiu, para tal, bolsa de estudos integral. E venceu essa etapa na vida estudantil conseguindo ser aprovado na PUC e USP, com distinção. Com o resultado dos vestibulares, optou pelo seu ingresso na USP, no curso de Letras.


Porém, após um ano, trancou a matrícula e começou a ministrar aulas em cursinhos particulares, entre outros no Capi-Vestibulares, na Av. São João e também num cursinho da Liberdade. Neste ínterim, iniciou seu envolvimento nas atividades políticas estudantis, quando, em outubro de 1968, foi preso em decorrência de sua participação no Congresso da UNE, em Ibiúna.


Após a sua prisão retornou à sua terra natal, permanecendo uns 15 dias e voltando logo em seguida para o Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo, onde morava, continuando a sua participação nos movimentos estudantis, até que, por motivos óbvios, se retirou do país.


Logo após sua saída do país, no final de 1969, em dezembro, recebemos uma carta da Europa na qual reconhecemos a letra dele. Porém, percebia-se claramente que, por motivos de força maior, dizia estar como turista pelo velho mundo, que estava bem, mas que seria muito difícil nos escrever sempre. Meses após recebemos um bilhetinho escrito às pressas e falando apenas que estava bem e que pensássemos sempre nele com carinho.


A partir daí saíram algumas notícias na imprensa sobre ele, tais como:


25/11/78: 'Folha de São Paulo' - O Congresso Nacional pela Anistia divulgou uma lista de 37 nomes de pessoas mortas e desaparecidas a partir de 1964 e nela constava o nome de Ruy Carlos como desaparecido em Dezembro de 69.


28/01/79: 'Folha de São Paulo' - 13 nomes de desaparecidos, cujas fichas estavam no 'necrotério' de um órgão de segurança em dezembro de 1973 e que são dados como desaparecidos pelas famílias e organizações de defesa dos direitos humanos; consta que o desaparecimento de Ruy Carlos está ainda em investigação.


03/08/79: 'Correio da Manhã' - Rio - Noticia uma lista de 14 nomes, com este título: 'Estes desaparecidos foram mortos'. Entre esses nomes estava o de Ruy Carlos.


18/08/79: 'Estado de São Paulo'- O Dr. Idibal Piveta envia carta ao Ministro da Justiça, Petrônio Portela, solicitando informação de Ruy Carlos e outros.


22/09/79: 'Folha de São Paulo'. O Juiz Antonio Carlos de Seixas Teles, anistiou várias pessoas condenadas por atividades estudantis contra a segurança nacional e entre elas estava o nome de Ruy Carlos.


01/08/1991: 'Diário Popular' noticia trabalho feito em Curitiba pela Comissão Especial de Investigação, onde foram encontradas fichas de 17 desaparecidos em um arquivo de aço, com a identificação "falecidos", constando o nome de Ruy Carlos.


Após este histórico sobre a vida de Ruy Carlos, gostaria de mostrar a luta constante pela qual passamos, na busca incerta da solução de um passado certo.


Apesar dos fatos comprovarem a quase certeza de sua morte, nós vivemos mais de uma década com a esperança e o sonho de vê-lo novamente.


A partir do momento em que tivermos a certeza de que ele não voltaria mais, passamos a viver momentos ainda mais angustiantes e mais uma década se passou.


Hoje, o nosso maior sonho é conseguir dar para Ruy Carlos um lugar digno de grande herói que foi. É esta a nossa última e grande esperança.


Se assim o conseguirmos, não olvidaremos jamais a grande luta dos amigos e, porque não dizer, irmãos, que lutam e lutaram para a elucidação de uma época tão negra para nós.


Esperamos que a História nunca se esqueça de mencionar esses jovens heróis, muitas vezes anônimos para a maioria da população alienada a respeito dos acontecimentos passados.


Todavia, para nós, Ruy Carlos Vieira Berbert não é um herói anônimo pois, além de dar a sua contribuição para as grandes transformações sócio-políticas brasileiras, nos é lembrado como um filho digno das mais belas recordações, como um ser humano maravilhoso que foi: jovem, belo, inteligente, honesto e carinhoso que soube lutar pelos seus ideais."






Desaparecidos: à margem do rio dos Mortos


Hoje, no Brasil, ainda são 144 os desaparecidos políticos da ditadura civil-militar. Corpos à espera do sepultamento. Familiares à espera de concretizar o luto, de acabar com a incerteza. Almas à espera da travessia do Aqueronte. Como definiu Ivan Seixas, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, "são os fantasmas que voltam sempre. São os fantasmas que querem lembrar que não podem ser esquecidos". A reportagem especial é de Paula Sacchetta, publicada originalmente no Brasil de Fato.


Paula Sacchetta - Brasil de Fato – 02/08/2010


Queres tu, realmente,


sepultá-lo, embora isso tenha


sido vedado a toda a cidade?


Fala de Ismênia na tragédia Antígona






Cena 1: o começo ou sepultamento inusitado


Segunda-feira, 18 de maio de 1992. Em Jales, a 600 quilômetros de São Paulo, um caixão fechado é velado na Câmara Municipal. Foi decretado feriado, a cidade inteira está parada. A Câmara está lotada. Presentes crianças e adolescentes, gente de todas as idades. É um dia de sol muito quente, daqueles que nem ferro de marcar. Após o velório, um cortejo segue a pé até o cemitério.






Depois de anos de busca do filho desaparecido, Ruy Thales consegue enterrá-lo. O caixão é finalmente depositado no jazigo da família Berbert. Dentro dele, porém, não havia um corpo. Nem restos mortais. Apenas um terno completo e os sapatos de Ruy Carlos Vieira Berbert, desaparecido desde 1972. Objetos que haviam permanecido até então intocados em seu quarto, para "caso ele voltasse".






Antes do início das cerimônias, Ruy Thales, o pai, chamou Amélia Teles em casa para tomar um café. Ela estava em Jales representando a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. "Ele havia me chamado para o enterro, mas eu sabia que os restos mortais não haviam sido encontrados. Aceitei o convite e não perguntei nada. Ele também não me disse nada".






Depois do café, o conteúdo do caixão foi revelado. Naquele dia, Amélia foi cúmplice de Ruy Thales. Ninguém, além dos dois, sabia que o ataúde estava praticamente vazio. O pai já estava bastante idoso, e, prevendo que morreria logo, quis enterrar o filho. Mesmo sem ter um corpo. No fim do dia, depois do ato na Câmara e do enterro, deu um jantar para 80 pessoas. "Era uma mesa enorme, parecia um banquete", conta Amélia. O pai de Berbert morreu pouco tempo depois. Mas conseguiu enterrar seu filho.






Cena 2: Ruy Carlos Vieira Berbert, presente!


O ritual foi a forma encontrada pela família Berbert para acabar com a espera. A maneira de encerrar o luto que já durava 20 anos. Estavam se libertando de um fantasma que, até hoje, assombra a vida de famílias inteiras: filhos, pais, mães e irmãos. Hoje, no Brasil, ainda são 144 os desaparecidos políticos.






"Não pode haver aceitação da ideia de que ainda existem mais de 140 brasileiros que muitos vivos sabem onde estão seus corpos ou como seus corpos deixaram de existir", afirma Paulo Vannuchi, à frente da Secretaria Especial de Direitos Humanos desde o final de 2005.






O caso de Ruy Carlos Vieira Berbert é emblemático. Nascido em Regente Feijó, no interior paulista, em 1947, veio para São Paulo tentar o vestibular da USP. Passou em letras, começou o curso e se tornou militante no movimento estudantil. Mais tarde, passou à luta armada. Em 1969, viajou, pela ALN – Ação Libertadora Nacional, organização de maior expressão no cenário da guerrilha urbana, nascida como dissidência do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e que teve Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira como dirigentes –, para Cuba, de onde retornou como militante do Molipo – Movimento de Libertação Popular, surgido a partir de um racha da própria ALN.






A maioria dos que voltavam do treinamento na ilha socialista já chegava ao Brasil "queimada" e procuradíssima pela repressão. Quando os serviços de informação da ditadura souberam que os integrantes do Molipo estavam se espalhando de forma clandestina para dentro do país, o governo baixou uma ordem exigindo a prisão de todo e qualquer estranho recém-chegado às cidades do interior.






O turista relâmpago


Na virada de 1971 para 1972, Berbert instalou-se em Natividade (na época, em Goiás, hoje, no Tocantins), em uma pequena pensão. No dia seguinte, foi preso enquanto conversava tranquilamente na calçada com a filha do dono do estabelecimento.






A delegacia da cidade era bem antiga. Suas celas possuíam amplas janelas gradeadas que davam para a praça principal. Da janela, o preso conversava com as pessoas que por ali passavam. Em algumas horas, o militante tornou-se celebridade, quase uma atração turística. Ficou conhecido.






Dois ou três dias após sua prisão, baixou em Natividade "o pessoal de São Paulo", como eram chamados os agentes do DOI-Codi. Nesse mesmo dia, Berbert apareceu enforcado em sua cela. A versão oficial: suicídio.






No dia seguinte, um grande proprietário de terras da região, não muito querido pela população local, também morreu. Os dois corpos partiram em cortejo rumo ao cemitério, seguidos por boa parte dos habitantes daquela cidade. Os agentes da repressão acreditavam que era por conta da morte do latifundiário, mas as pessoas estavam seguindo Berbert, o turista relâmpago, que, embora tivesse ficado tão pouco tempo na cidade, angariou simpatia e admiração, e que, do mesmo jeito que chegou, foi-se embora num piscar de olhos. Enterraram o latifundiário na ala "dos ricos" do cemitério, e o militante, numa vala comum, junto aos indigentes.






A família Berbert passou a ter informações sobre o filho somente através de notícias de jornal. Em 1979, um general ligado ao aparelho repressivo admitiu sua morte em entrevista concedida à Folha de S. Paulo. Na ocasião, dona Ottília, mãe de Ruy Carlos, disse ao grupo Tortura Nunca Mais que gostaria de mostrar a luta constante pela qual passaram, na busca incerta da solução de um passado certo: "Apesar dos fatos comprovarem a quase certeza de sua morte, nós vivemos mais de uma década com a esperança e o sonho de vê-lo novamente".






Corpo que não era corpo


Apenas em 1991 começaram a obter dados mais concretos. Um atestado de óbito com o nome de João Silvino Lopes foi entregue à Comissão 261/90 da Prefeitura de São Paulo, criada no mandato da prefeita Luiza Erundina, para acompanhar a identificação das 1.049 ossadas encontradas na vala clandestina do cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus. Segundo a versão oficial, Lopes havia se suicidado em 2 de janeiro de 1972, em Natividade. Embora pudesse ser um militante político, seu nome não constava na lista de desaparecidos.






Só um ano mais tarde, em 1992, quando os familiares dos mortos e desaparecidos tiveram acesso aos arquivos do Dops, foi encontrada uma relação elaborada a pedido de Romeu Tuma, diretor da unidade paulista do órgão entre 1977 e 1982. Nela, estava o nome de Ruy Carlos Vieira Berbert com as seguintes observações: preso em Natividade, suicidou-se na Delegacia de Polícia, em 2 de janeiro de 1972. Concluiu-se que João Silvino Lopes era o nome com que fora enterrado Ruy Carlos Vieira Berbert.






Tendo-se como base esse mesmo documento, foi possível saber que seu corpo estava no cemitério de Natividade, mas não em qual local exatamente. Para exumá-lo e fazer a posterior identificação, seria preciso escavar o cemitério inteiro. Membros da Comissão 261/90 explicaram a situação à família Berbert, que, resignada, se contentou com um atestado de óbito, concordando em não fazer a exumação praticamente impossível. O corpo permaneceu no local, mas um enterro simbólico foi realizado na cidade onde seus pais moravam.






Naquele dia, quem passou pela Câmara Municipal de Jales prestou homenagens frente ao caixão vazio de corpo, mas repleto de símbolos. Velaram um corpo que não era corpo, que não sabiam que não era corpo, mas que reverenciavam e o fariam ainda que o soubessem. No cemitério, colocaram a bandeira a meio-pau e cantaram o hino nacional. Tudo isso para o homem que não estava lá.

** Lançamento_Ano V_Nº 2_História e Literatura

 
Prezados,
           
             Informamos que a Edição Ano V, nº 2 da Revista Eletrônica Cadernos de História já se encontra disponível em nosso site http://www.ichs.ufop.br/cadernosdehistoria/ . Neste número contamos com a seção temática de artigos sobre História e Literatura, e na seção livre temos a contribuição de resenhas e transcrições documentais, e ainda uma entrevista com a historiadora Íris Kantor, professora do Departamento de História da USP. 
             Aproveitamos para lembrar que a chamada de trabalhos da Edição ano VI, Nº 1, dossiê História do Esporte no Brasil, já está no ar. A partir desse número contaremos com uma nova seção livre, destinada à artigos produzidos por graduandos de iniciação científica que queiram divulgar os resultados finais ou parciais de suas pesquisas (ver mais detalhes no site da Revista).    
 
Att.,



Conselho Editorial
Revista Eletrônica Cadernos de História:
publicação do corpo discente do departamento de história da UFOP
www.ichs.ufop.br/cadernosdehistoria
Rua do Seminário, s/n - Centro
Mariana - MG
35420-000

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    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.


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** A televisão paulistana entre o popular e o erudito Estudo investiga o que os musicais representaram para o país

 
A televisão paulistana entre o popular e o erudito
Estudo investiga o que os musicais representaram para o país


Fonte: PESQUISA FAPESP
© Guilherme Lepca
A televisão cresceu rapidamente. Em 1958, o país tinha 344 mil aparelhos de TV

Em São Paulo, em 1954, três emissoras de TV, comandadas por grupos particulares, disputavam a preferência dos telespectadores nos 34 mil aparelhos existentes no país. Nas grades de programação, uma extensa e heterogênea oferta de programas musicais, todos apresentados ao vivo e utilizando as grandes orquestras que haviam se formado nas rádios. A pioneira TV Tupi (canal 3), inaugurada em 1950, em São Paulo, pelo empresário Assis Chateaubriand, apostava nas árias, óperas, balés e apresentações de música estrangeira com cantores brasileiros, como se pode verificar numa pesquisa recente feita na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "A TV tinha pouquíssimo ou quase nenhum alcance fora de São Paulo, mas mostrava musicalmente o que a cidade era naquele momento", afirma a pesquisadora Rita de Cássia Lahoz Morelli, professora do Departamento de Antropologia Social do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Segundo ela, exibir programas musicais para italianos, espanhóis e portugueses que viviam na cidade funcionaria como uma espécie de TV agregadora de grupos. "Para se ter ideia da importância disso, a Tupi mantinha em seu quadro duas artistas que cantavam em espanhol, Lolita Rodrigues e Triana Romero", diz a pesquisadora.
Rita de Cássia, autora de livros como Indústria fonográfica: um estudo antropológico (Editora da Unicamp) e Arrogantes, anônimos, subversivos: interpretando o acordo e a discórdia na tradição autoral brasileira (Mercado de Letras), agora está analisando como se deu o processo de difusão musical no Brasil por meio da televisão entre 1954, ano em que o presidente Getúlio Vargas cometeu suicídio, e 1969, pouco depois do AI-5, o decreto cuja primeira consequência foi o fechamento do Congresso Nacional. "Sabe-se pouco a respeito da produção desse período. Os estudos feitos até agora trazem afirmações genéricas, como a de que as programações eram feitas para um público de elite. Quero entender por que havia tanta variedade musical e quais eram os interesses dos investidores em divulgar, ao mesmo tempo, música erudita e popular", afirma Rita de Cássia. A pesquisa Músicas e músicos na TV de São Paulo: trabalho, distinção e identidade (1954-1969), que contou com o apoio da FAPESP, busca as raízes da televisão em São Paulo. Segundo Rita de Cássia, há poucos estudos sobre o tema e nem mesmo o conhecido jornalista e crítico musical José Ramos Tinhorão, um dos que mais estudaram o tema, aprofundou-o em suas pesquisas. "Os estudos dele estão muito mais focados na produção musical da TV carioca", observa a pesquisadora.
Rita de Cássia investiga duas questões básicas e empíricas. Ela quer saber se, durante o período selecionado para a pes­quisa, os telespectadores consumiam música erudita como sinal de status e também se a música se tornou objeto de uma identidade nacional. No período analisado, ela identificou 4.078 programas e, dentre esses, 1.068 (ou 26,2%) foram classificados como "musical-arte" – muito mais do que as novelas, que somam 308 no tempo pesquisado. O projeto ainda está em andamento, mas, segundo ela, depois da Tupi, as emissoras que surgiram em São Paulo também investiram fortemente em programações musicais. A TV Paulista canal 5, que entrou no ar em 1952, igualmente chegou com um vasto investimento em repertórios musicais. Era a menor televisão de São Paulo: sua sede funcionava em um pequeno apartamento do edifício Liége na rua da Consolação, perto da avenida Paulista. Seus estúdios eram montados na garagem e em uma área do térreo do prédio, conta Rita de Cássia. Apesar das condições improvisadas e precárias – a redação foi instalada na sala e o laboratório de revelação na cozinha –, importantes nomes artísticos da TV brasileira passaram pela emissora, como Hebe Camargo e o maestro e compositor Guerra Peixe.
Repertório – "A TV Record, aberta no ano seguinte pela família Machado de Carvalho, também apostou pesadamente em programações musicais, mas mais focada em repertório nacional e popular, um pouco diferente da Tupi", diz a pesquisadora. Entre os artistas da emissora estavam nomes como Ary Barroso, Inezita Barroso, Dorival Caymmi, Elizete Cardoso, Ataulfo Alves, Jacob do Bandolim e Aracy de Almeida. "Foi então que o marketing do canal passou a ser o de 'cadeia verde-amarela'. Ainda assim, a emissora também foi responsável pelo início do processo de 'internacionalização'. Vários artistas estrangeiros se apresentaram aqui, como Louis Armstrong, Nat King Cole e muitos outros. Mas não dá para afirmar que a presença deles caracterizava um estrangeirismo", explica Rita de Cássia. Seria a Record uma emissora visionária? Para a professora não é possível se afirmar isso. "O que se sabe é que, sem o videoteipe, era mais fácil e econômico registrar os shows do que produzir novelas", explica.
O rock começava a aparecer e expressões como teenager surgiam em comentários televisivos e publicações de jornais. "Ainda não é conclusivo, mas talvez essas referências tenham sido importantes na construção das grades de programação dirigidas ao público jovem", avalia a autora. Até o final dos anos 1950, as emissoras de TV de São Paulo apresentavam quadros musicais ainda mais heterogêneos: operetas, fados, boleros, samba, rock, música romântica, pois havia público para todos os gostos. A década de 1950, toda passada no chamado interregno (o intervalo entre dois governos, o democrático, ocorrido entre o fim do Estado Novo e o golpe militar), é vista com importância pela pesquisadora. "Foram anos marcados por um refluxo do Estado na cultura nacional. As TVs são por concessão pública, mas quem assume o comando são grupos privados, deixando as programações sem interferência institucional. A mesma coisa acontecia nos jornais", afirma. A televisão crescia rapidamente. Em 1958, o país tinha 344 mil aparelhos de TV e estima-se que havia 1 milhão e meio de telespectadores. Com isso, havia muitos programas culturais e começaram a surgir os anunciantes. Rita de Cássia lembra que Maysa, cantora, compositora, atriz, por exemplo, teve um programa chamado Espetáculos Piraquê. Mas houve outros, diz a professora, nos mesmos moldes de negociação. "O Antarctica no mundo do som era patrocinado pela marca de bebidas e reunia uma orquestra enorme e maestros importantes", lembra.
À medida que o final da década se aproximava, o chamado samba-canção, nas vozes de Ângela Maria, Cauby Peixoto, Dalva de Oliveira, Maysa, entre tantos outros, passava a dividir o repertório com a música jovem: o iê-iê-iê, de Roberto Carlos, e o rock americano, de Elvis Presley. Em 1960, a Rede Excelsior, do empresário Mário Wallace Simonsen, entrou no ar para competir também com musicais. No Teatro Cultura Artística, centro de São Paulo, alugado pela emissora, foram organizadas atrações como Brasil 60, com Bibi Ferreira. O programa recebia cantores e compositores como João Gilberto, Roberto Carlos, Elis Regina e Dercy Gonçalves. Por outro lado, a TV Paulista produzia o Bom Tom, apresentado por ninguém menos do que Tom Jobim. "Novos programas começam a surgir, apresentando uma grande e nova variedade de estilos. Tem a jovem guarda, a bossa nova, o rock. É um momento rico da produção musical", diz Rita de Cássia.
Política – Em 1964 o golpe militar mudou radicalmente os rumos do país e interferiu nesse desenvolvimento. Mas a nova situação política, ressalta a pesquisadora, não afetou de imediato a programação das TVs. Em São Paulo, um novo tipo de música brasileira começava a dominar reu­niões universitárias, bares e teatros, um som contestatório, bem diferente da bossa nova, que já vivia seus tempos de glória. De olho nessa tendência, a Excelsior organizou em 1965 o primeiro festival de música que consagrou a cantora Elis Regina. No ano seguinte, Excelsior e Record competiram na audiência pelos festivais, levando Edu Lobo, Chico Buarque, Nara Leão, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, os Mutantes, nomes e bandas até então nem tão conhecidos. Com o sucesso desses programas, as TVs investiram ainda mais  em programas de valorização da música brasileira.
Novas emissoras surgiram em São Paulo: a Bandeirantes, em 1967, e a Cultura, dois anos mais tarde, quando as TVs já tinham alcance quase nacional – a exceção era o estado do Amazonas, que passou a ter transmissões a partir de 1970. "Há estudos que apontam os militares como os responsáveis pela divulgação nacional. Era uma questão política", afirma Rita de Cássia. Se por um lado a ideia era levar o sentimento nacionalista a todos os estados, por outro, fez com que os gêneros musicais chegassem a todo canto do país. Qual terá sido o impacto disso? Rita de Cássia ainda não tem todas as respostas. A autora lembra que a repressão do regime militar, iniciada com o AI-5, levou vários artistas a deixar o país e iniciou-se um processo de censura e controle. "A minha pesquisa se estende até 1969. O que realmente me interessa é justamente esse período entre os dois governos, bem como os efeitos do golpe e do AI-5 sobre as programações musicais." Para levantar esse estudo antropológico sobre a música erudita e popular divulgada nas emissoras de televisão de São Paulo, Rita de Cássia conta com as fontes vivas, as pessoas que ajudaram a fazer os primórdios da televisão paulistana.



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** SEMINÁRIO E OFICINAS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

 
SEMINÁRIO E OFICINAS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

A Representação do Ministério da Educação no Rio de Janeiro – REMEC RJ, vai realizar um evento, com Seminário e Oficinas sobre a temática Políticas Públicas da Educação e da Formação Docente , no período de 14 a 18 de fevereiro próximo, sempre iniciando às 14 horas, no Palácio Gustavo Capanema, Rua da Imprensa, nº 16, Rio de Janeiro. O evento inclui-se nas atividades do Programa de Formação Continuada de Professores da Educação Básica, executadas em caráter de ação piloto do Centro de Memórias da Educação e da Cultura, projeto desenvolvido pela REMEC RJ, no âmbito do Acordo Brasil-UNESCO. Este Programa, articulando-se com a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, vai oferecer, de fevereiro até maio próximos, oficinas e seminários sobre as questões da educação e da cultura brasileira, potencializando os movimentos históricos e a estética do Palácio Capanema. Tais atividades serão desenvolvidas como encontros de formação endereçados, principalmente, aos professores da rede pública de ensino básico numa modalidade de formação continuada que valoriza e contextualiza as experiências educativas e as urgências de diferir e criar do mundo contemporâneo. Além disto , também serão promovidas visitas guiadas para apresentar ao público as obras de arte e as dimensões históricas , ressaltando as referências arquitetônicas do Palácio Capanema, que o qualificam como um dos grandes marcos mundiais da arquitetura moderna.


PROGRAMAÇÃO 14 ⁄ 02 ⁄ 2011 Salão Portinari 14h .

ABERTURA MEC- REMEC -UNESCO 14:30h às 16:30h .

Seminário Políticas públicas da educação e da formação docente.

Debates. Coordenação: ProfªDra. Célia Linhares
Palestrantes: Prof. MSc. Rogério José de Souza.
Profª Esp. Elisa Loureiro Kritsinelis.
Profª Dra. Maria Cristina Leal 17h às 18h .

Visitas Guiadas 15, 16 e 17 ⁄ 02 ⁄ 2011 14 às 18h .


Oficinas


TEMA 1 : Espaço Lúcio Costa Prof. MSc. Rogério José de Souza Políticas públicas contemporâneas para formação de professores


TEMA 2: Auditório Moniz Aragão Profª Esp. Elisa Loureiro Kritsinelis Papel da Escola e dos educadores na Educação Inclusiva


Tema 3: Salão Portinari Profª Dra. Maria Cristina Leal Cooperação entre as Instituições Públicas na formação continuada de professores do Ensino Básico.


18 ⁄ 02 ⁄ 2011 Salão Portinari 14 às 18h . Avaliação.


Informações e inscrições
gabineteremecrj@mec.gov.br, memoriasremecrj@mec.gov.br,
(21) 3478-1601⁄1602

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** Fórum Sor Binário - destinado a professores de História

 
Fórum Sor Binário - destinado a professores de História - está no ar! Contamos com você !
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Tyrone Andrade de Mello

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domingo, 30 de janeiro de 2011

** O ESTOPIM DA REVOLTA

 
            "Nunca antes nesse país" os cidadãos brasileiros demonstraram tal grau de apatia  em relação aos "homens públicos" e suas  cínicas e escabrosas atitudes. Roubado e esculachado, diariamente, nada diz, nada faz, nada enxerga. Os canais de representação estão em sua totalidade cooptados. Exemplo triste e emblemático é o da UNE, que vendeu seu glorioso passado de lutas por quarenta dinheiros. Esse artigo solitário abaixo define bem a situação dramática em que vivemos.
 A primeira revolta que assisti foi em 1959 (tinha 10 anos de idade), quando o povo se rebelou com o descalabro da travessia Rio/Niterói (que permanece) e tocou fogo na Estação de Niterói e nas três casas dos donos da empresa. A reação da repressão (fuzileiros navais) foi violenta deixando um saldo dramático de 9 mortos e 108 feridos. Como dano colateral a destruição de um patrimônio público insubstituível, a bela Estação das Barcas de Niterói que poderia ter sido restaurada tranquilamente. Também foi minha primeira experiência com morte violenta, tipo tiro de fuzil na cabeça, tão banal nos dias de hoje.
Dada às circunstâncias, sou levado a concluir que o único brasileiro que "nasceu com aquilo roxo" foi o ex-presidente, filósofo, mitômano e machupaca Fernando Collor de Mello que foi demitido do cargo pelos cidadãos. Os bagos lhe subiram a cabeça e deu no que deu. Mas mito é mito, afinal todos os homens nascem arroxeados (com "aquilo" inclusive), gritam e esperneiam desesperadamente quando abrem os olhos para essa bosta de lugar hostil. Sobre a revolta basta acessar o Google e farto material poderá ser obtido. Dentre textos e várias fotos destaco o livro do companheiro da UFF e IUPERJ Edson de Oliveira Nunes. Quanto à afirmação do autor que se o parlamento fosse no Rio de Janeiro haveria reação, tenho sérias dúvidas. Afinal o aumento se espalhou como praga bíblica para deputados estaduais e vereadores e nada aconteceu na antiga capital. Por aqui parece que o estopim é de má qualidade e apaga antes de chegar à pólvora. "Na América Latina, só temos duas saídas: ser resignados, ou ser indignados. E eu não vou me resignar nunca" (Darcy Ribeiro).
  • Publicado em 26/01/2011

    O estopim da revolta

    O Brasil acaba de realizar sua sexta eleição direta consecutiva para a presidência da República, após os longos anos da ditadura militar; a questão social entrou definitivamente na pauta dos governantes, mas existe um grupo que parece se esforçar por minar os alicerces da democracia e trata-se justamente de um dos que mais deveria estar comprometido na sua preservação: o dos políticos.
    Generalizar é sempre perigoso, mas o mau comportamento da classe política brasileira na manutenção de privilégios tem deixado poucas exceções ou, no máximo, o silêncio cúmplice. Os políticos têm se transformado numa casta, que, ao invés de servirem ao Estado e à população, deles se servem.
    A história é cheia de exemplos, à direita e à esquerda, da construção de castas privilegiadas em governos, que provocaram as suas ruínas. No caso do parlamento em um regime democrático, a questão é ainda mais grave, já que se tratam de representantes do povo. Estão lá, porque os colocamos. Seria simplista dizer que o povo precisa votar melhor. Ou uma meia verdade. De fato, elegemos muita gente ruim, mas na maioria das vezes não sabemos que são inescrupulosos assim. A melhoria da educação e o aperfeiçoamento do processo democrático serão os melhores mecanismos de correção destes desvios, mas o curto prazo exige medidas reparadoras.
    A classe política precisa estar alinhada à população que representa, e não distante, desfrutando de uma realidade inimaginável para a maioria dos brasileiros. Altos salários, passagens, mordomias e vantagens impensáveis para o trabalhador. Mal passara um mês que os parlamentares elevaram os próprios salários para ofensivos R$ 26 mil, considerando todos os ganhos indiretos que já possuem, surge a aposentadoria dos ex-governadores, que se acumulam com os subsídios que recebem em suas voltas à Câmara e ao Senado, totalizando salários astronômicos, incompatíveis com a realidade brasileira.
     Parlamentares não são funcionários públicos. São cidadãos, eleitos pelo povo para determinados cargos. Devem ser remunerados adequadamente durante o período dos mandatos, nos quais devem contribuir para a Previdência, com desconto na fonte, como qualquer trabalhador de carteira assinada. Ao fim do seu mandato, continuam a contribuir em outros locais para onde voltam ou passam a trabalhar. Nada justifica uma situação de privilégios, que cria anomalias como a de José Sarney, que recebe como ex-presidente, ex-governador e senador, sustentando a si e aos seus com o dinheiro público.
    O propósito deste artigo está longe do moralismo, que costuma atender aos interesses da direita, aliás majoritária nas benesses, já que esteve a maior parte do tempo à frente do poder. O oportunismo não respeita ideologias e traz decepções, como a de ouvir do ex-governador do Acre, Jorge Viana, do PT, que recebe a aposentadoria porque está prevista em lei. Viana, com sua trajetória combativa e responsável, sabe muito bem que nem tudo que é legal é moral. Aguarda-se uma manifestação sua nos grandes jornais onde encontra espaço.
    Mas o que se busca alertar é que este tipo de comportamento fermenta revolta na população. Se o parlamento fosse no Rio, o aumento de salário dos parlamentares dificilmente sairia, pois haveria um cerco popular que obrigaria a revogação no ato. Nunca se sabe onde um cidadão irá se imolar, como aconteceu na Tunísia, ou de onde virá o estopim que acenderá a revolta. Mas é prudente não brincar com fogo diante de situações explosivas, cujas conseqüências são imprevisíveis.

     
     
     
     
     

    Sobre o autor deste artigo Mair Pena Neto Jornalista carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de economia. 
    www. diretodaredação.com


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** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História de LÍGIA MARIA SALGADO NÓBREGA -XXII-

Carta O Berro..........................................................repassem


LÍGIA MARIA SALGADO NÓBREGA

Lígia Maria
Livro "Dos Filhos deste Solo"

DADOS PESSOAIS


Nasceu em 30 de julho de 1947 em Natal, Rio Grande do Norte. Filha de Georgino Nóbrega e Naly Ruth Salgado Nóbrega, foi a terceira numa família de seis irmãos.

ATIVIDADES

Ainda pequena, Lígia mudou-se para a cidade de São Paulo onde estudou, terminando o curso de Normalista no Colégio Estadual Fernão Dias Paes. Em 1967, entrou no curso de Pedagogia da Universidade de São Paulo (USP) e se destacou pela sua capacidade intelectual, pela liderança e empenho em abrir horizontes, modernizar métodos de ensino, implicar as pessoas em sua responsabilidade social em uma vida dígna, onde os direitos humanos fossem respeitados e o indivíduo fosse um verdadeiro cidadão. Após a edição do Ato Institucional no. 5, com os canais de participação aberta e legal fechados pela ditadura militar. Em 1970, Lígia se engaja na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-PALMARES) e com outros companheiros, passa à luta armada para enfrentar a violência do regime autoritário vigente no país à época.

CIRCUNSTÂNCIAS DA MORTE

Foi metralhada em 29 de março de 1972, quando a casa em que se encontrava no bairro de Quintino, Rio de Janeiro, foi invadida por agentes do DOI-CODI do I Exército. Com Lígia, foram mortos seus companheiros: Antonio Marco Pinto de Oliveira e Maria Regina Lobo Leite Figueiredo. Seu corpo foi reconhecido por seu irmão Francisco Salgado da Nóbrega, em 07 de abril de 1972, tendo sido sepultada em cemitério de São Paulo.
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MARIA REGINA LOBO LEITE FIGUEIREDO
MILITANTE DA VANGUARDA ARMADA REVOLUCIONÁRIA PALMARES
(VAR-PALMARES).
Ex-integrante da Juventude Universitária Católica, era formada em Filosofia pela
Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Pedagoga,
foi morta aos 33 anos. Casada com Raimundo Gonçalves Figueiredo, morto em 28 de abril
de 1971, deixou duas filhas menores.
Maria Regina foi ferida quando a casa em que se encontrava foi invadida por agentes
do DOI/CODI-RJ no dia 29 de março de 1972. Lígia Maria Salgado Nóbrega e Maria
Regina, juntamente com Antônio Marcos Pinto de Oliveira, foram presos e assassinados.
O corpo de Maria Regina chegou ao IML pelaGuia n° 02 do DOPS, como
desconhecida, vindo da Av. Suburbana, n° 8988, casa 72, Bairro de Quintino (RJ), como
tendo sido morta em tiroteio. Entretanto, há testemunhas que dizem que, após ser baleada,
foi levada para o DOI-CODI, onde veio a morrer horas depois, tendo inclusive sido levada
para o Hospital Central do Exército.
Sua necrópsia, feita em 30 de março de 1972, pelos Drs. Eduardo Bruno e Valdecir
Tagliari confirma a versão oficial. Foi identificada nesse mesmo dia 30, através de ficha do
Instituto Félix Pacheco/RJ.
Maria Regina foi reconhecida por suas irmãs Maria Eulália, Maria Alice e Maria
Augusta, em 07 de abril de 1972, e sepultada no dia seguinte no Cemitério São João
Batista.
Fotos e laudo de perícia de local (n° 1884/72 e Ocorrência n° 264/72) feitas pelo
Instituto de Criminalística Carlos Éboli/RJ, mostram o corpo de Maria Regina baleado.
O jornal "Correio da Manhã", de 06 de abril de 1972, publicou a notícia de sua
morte, sob o título "Terroristas Morrem em Tiroteio: Quntino"e capciosamente dá, ao lado
de sua foto, o nome de Ranúsia Alves Rodrigues. No entanto, Maria Regina já havia sido
identificada no IML/RJ.

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