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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Livro apresenta uma história crítica do samba carioca de 1917 a 1990

Fonte: FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro Publicado em: 24/02/2022

Débora Motta

Um dos fundadores do Salgueiro, Djalma Sabiá, em
sua casa na comunidade
guardião das tradições
da escola de samba
 (Foto: Samuel Araújo)

Samba, agoniza mas não morre/Alguém sempre te socorre/ Antes do suspiro derradeiro...Os versos da música, imortalizados na criação do compositor Nelson Sargento, trazem à tona o debate sobre as transformações sofridas ao longo das décadas por esse gênero musical que representa de forma tão autêntica a cultura brasileira e a alma carioca. Para contar uma história do samba, desde seus primórdios, partindo de uma interpretação interdisciplinar com foco na música, o etnomusicólogo Samuel Araújo, professor da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EM/UFRJ), lança o livro Samba, sambistas e sociedade – um ensaio etnomusicológico. A obra foi publicada com recursos da FAPERJ, por meio do programa Apoio à Editoração (APQ 3), pela Editora UFRJ.

O livro é fruto do projeto de Doutorado do etnomusicólogo, que defendeu em 1992 sua tese na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (Uiuc/EUA), sob orientação do professor Bruno Nettl (1930-2020), que foi um dos grandes nomes nessa área de estudo. O recorte temporal da obra vai de 1917, ano em que a música Pelo telefone entrou para a história como o primeiro samba gravado a ter sucesso comercial no Brasil, até o ano de 1990.

“Fiz uma revisão histórica das referências do samba nesse período, apresentando o que foi produzido, os principais argumentos de jornalistas, antropólogos, cientistas sociais e críticos que pensaram teoricamente a evolução do samba, e um denso trabalho de etnografia. Durante o trabalho de campo, fui conversar diretamente com diversos sambistas relevantes, o que é um contraponto metodologicamente inovador nesse trabalho”, resumiu Araújo.

Entre os sambistas entrevistados, estão grandes nomes da Velha Guarda do Salgueiro, guardiões da memória e das tradições da escola de samba tijucana. Entre eles, o mestre Louro, da bateria do Salgueiro, os compositores Noca da Portela e Nelson Sargento (1924-2021) e a dona Haydée Blandina, jornalista e única mulher presidente do Salgueiro, a primeira que presidiu uma ala de compositores na escola, além de Djalma Sabiá, um dos fundadores da escola, falecido aos 95 anos em 2020. Ricamente ilustrado, a capa e as ilustrações internas são de autoria de Guilherme Sá, compositor da Mangueira que cursa seu Doutorado sob orientação de Araújo, na EM/UFRJ.

Samuel Araújo destaca a tradição da
Escola de Música da UFRJ nos estudos
de Etnomusicologia (Foto: Divulgação)


No primeiro capítulo, Perspectivas críticas sobre o samba de seus registros iniciais a 1990, a obra apresenta uma resenha da literatura relacionada ao samba, aponta a relativa ausência e possível relevância de abordagens musicológicas sobre o tema e propõe uma ênfase teórico-metodológica no samba como trabalho. No segundo, Samba como formação acústica, expõe as contribuições históricas que incidem sobre os modos de fazer samba no Rio de Janeiro, com destaque para os impactos dos meios de comunicação de massa na percepção desse gênero musical, como o chamado “efeito Carmen Miranda”, e dos seus aspectos afro-brasileiros. No terceiro capítulo, é apresentado um estudo sobre as escolas de samba, seus antecedentes, afiliação, metas, atividades e formas de patrocínio. O livro detalha ainda, no quarto capítulo, questões relacionadas à estrutura das baterias das escolas de samba e, no Capítulo 5, passeia pelas categorias de samba, como o samba de quadra, samba-enredo e partido alto, e apresenta os compositores entrevistados.

O autor reforça a importância da disciplina Etnomusicologia, tradicionalmente lecionada na Escola de Música da UFRJ, que estabeleceu já no ano de 1939 a cadeira Folclore Nacional, para investigar tradições orais da cultura brasileira. “A disciplina Etnomusicologia tem origem nas universidades germânicas no final do século 19, quando a cultura do Brasil já era objeto de estudo, assim como outros países do mundo colonial”, contextualizou Araújo, que é professor da disciplina tanto na graduação como nos cursos de pós-graduação, além de liderar o grupo de pesquisa Laboratório de Etnomusicologia na Escola de Música da UFRJ.

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