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sexta-feira, 8 de maio de 2015

O esporte no Rio nos tempos de D. Pedro II.

Fonte: FAPERJ - Débora Motta

Na década de 1870, a patinação virou moda no Rio,
em clubes onde era possível alugar patins importados
(Foto: Reprodução/Bibliothèque Nationale de France)
O futebol é hoje considerado a paixão nacional. Mas antes de se tornar um fenômeno de popularidade – consagrado em 1950, ano em que o Brasil sediou, e infelizmente perdeu, a sua primeira Copa do Mundo –, outros esportes faziam parte do cotidiano do carioca no século XIX e no início do século XX. A patinação, o remo, a corrida de cavalos e até mesmo as touradas, quem diria, já foram bem populares no cenário esportivo do Rio. A história do esporte na cidade é tema de estudo do professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Victor Andrade de Melo, Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, que desenvolve o projeto “O corpo da nação - educando o físico, disciplinando o espírito, forjando o país: as práticas corporais institucionalizadas na sociedade da Corte (1850-1889)”.
No estudo, Victor analisa como a sociedade de hábitos recatados, na época em que o Brasil era governado por D. Pedro II, passou aos poucos a valorizar a prática dos esportes como um bem para a saúde e para a formação moral dos cidadãos. “A prática esportiva surgiu como consequência do estabelecimento das primeiras iniciativas de entretenimento no Rio, então capital do Brasil, que, com a chegada de muitos estrangeiros, se tornou um caldo cultural cosmopolita”, contextualizou Victor.
Ele destaca que, em alguns artigos publicados em revistas médicas fluminenses do século XIX, profissionais da saúde já reconheciam a importância dos exercícios físicos regulares. Entre os periódicos de época pesquisados por Victor, estão o Semanário de Saúde PúblicaRevista Médica FluminenseRevista Médica BrasileiraArquivo Médico BrasileiroO Progresso MédicoAnnaes Brasilienses de Medicina e Brasil Médico. O projeto teve como desdobramento o lançamento do livro A gymnastica no tempo do Império, que o pesquisador assina junto com Fabio de Faria Peres (editora 7 Letras, 2014). “O esporte passou a ser relacionado à construção de uma ideia de nação, que deveria seguir moldes civilizados, com o desenvolvimento de hábitos saudáveis e higiênicos e a organização da sociedade civil”, disse.
Ele lembra que em 1850 houve uma enorme safra cafeeira e a definitiva proibição do tráfico negreiro, com a Lei Eusébio de Queirós. Nesse período, houve um aumento de recursos no país e a indústria têxtil teve um sensível crescimento. Com mais dinheiro circulando, houve um maior vínculo com o continente europeu, o que também foi favorecido pelo uso do navio a vapor e pelo telégrafo. “A partir de 1850, começamos a estruturar uma burocracia estatal e a construir um sentido de nação. Essa modernização contribuiu para a estruturação de um mercado de entretenimento na cidade. O esporte surgiu como um meio de socialização, como uma das formas de entretenimento que melhor se delineia nesse processo, ao lado do teatro, de outras diversões públicas e da organização de bares, restaurantes e confeitarias na Rua do Ouvidor. Promovendo bailes, reuniões sociais, aulas, apresentações e competições, entre outras atividades, os clubes ginásticos, athleticos ou sportivos começaram a despontar pela cidade”, destacou.
1ª Regata da Sociedade Recreio Marítimo na Enseada de Botafogo, em novembro de 1851: o remo foi o esporte mais popular entre os cariocas no final do século XIX até a década de 1920 (Foto: A. L. Guimarães/Biblioteca Nacional)

As touradas também foram uma dessas práticas esportivas que caíram no gosto popular. No Rio, elas começaram a ser organizadas em meados do século XVII. “Comumente, elas integravam a programação de festividades promovidas para celebrar importantes datas da monarquia portuguesa. Essa popularidade tornou-se ainda mais notável entre os anos de 1808 e 1821, momento em que a família real se instalou na cidade, em razão dos conflitos napoleônicos”, lembrou. A partir de 1840, as touradas passaram a ser promovidas não mais pelo estado, mas pelo empresariado local.

Curiosamente, a cidade teve diversas arenas, conhecidas como “praças de touros”. No tradicional bairro de Laranjeiras, existia uma dessas praças nas proximidades do Mercado São José. “Fontes de jornais indicam que as touradas realizadas na Rua das Laranjeiras chegaram a atrair um público de até cinco mil pessoas”, revelou Victor. Havia ainda uma praça de touros na Rua da Guarda Velha (atual Rua 13 de maio), no mesmo espaço onde antes se encontrava o Circo Olímpico e onde, em 1871, seria construído o Teatro Lírico. “O sucesso das touradas se estendeu até 1907, quando elas foram proibidas na cidade, segundo um processo civilizatório de preocupação com os animais. O Rio foi precursor entre as cidades brasileiras no sentido de censurar esportes que promovessem o maltrato dos animais. Em Porto Alegre, as touradas continuaram a ocorrer até 1934”, explicou Victor.
A patinação, com patins de quatro rodas que eram inicialmente importados da Europa, também ganhou espaço na cidade. “Em 1872, já se podia alugar patins para andar dentro do Teatro Dom Pedro II, que mais tarde seria chamado de Teatro Lírico, localizado nos arredores da Largo da Carioca”, contou Victor. “O dono desse teatro era Bartolomeu Correa da Silva, um dos primeiros grandes empresários de entretenimento na cidade”, completou.
Em 1878, uma novidade surgiria: o Skating Rink, um estabelecimento que oferecia um espaço para patinação, além de jardins para lazer e um restaurante. “O Skating Rink ficava na Rua do Costa, perto da atual Rua Marechal Floriano, que se chamava Rua Larga de São Joaquim. A patinação virou moda”, disse o pesquisador. E foi além: “Nesse período, há o registro ainda da concessão da primeira patente para um brasileiro desenvolver patins de fabricação própria. Em 1878, Saul Severino da Silva conseguiu a patente, mas não há indício de que ele tenha desenvolvido o produto.”
Victor Melo contou que a prática de esportes já era
recomendada em revistas médicas do século XIX
                         (Foto: Divulgação) 
Apesar do sucesso das touradas e da patinação, o remo logo se tornou o esporte mais popular entre os cariocas, aproveitando a vocação natural da cidade para os esportes náuticos. “Até a década de 1920, o remo era praticado na Baía de Guanabara. Diversos clubes se instalaram ali, como a Sociedade de Recreio Marítimo e o Clube de Regatas Guanabarense, nos arredores da Enseada de Botafogo; e o Clube Regata de Boqueirão do Passeio, que tinha sede perto do Passeio Público, na Lapa – vale lembrar que, antes da construção do Aterro, o mar chegava até o Passeio. Quando o remo foi transferido para a Lagoa Rodrigo de Freitas, nas décadas de 1920 e 1930, esses clubes passaram a ter um custo muito alto para transportar seus barcos. Muitos desistiram. A poluição da baía de Guanabara também contribuiu para a queda de popularidade desse esporte”, explicou Victor.
Essas e outras histórias estarão reunidas no livro Rio Esportivo, com lançamento previsto para agosto, pela editora Casa da Palavra. Victor Melo também é coordenador do Sport: Laboratório de História do Esporte e do Lazer da UFRJ (www.sport.história.ufrj.br)





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