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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

** Cronologia de Nelson Werneck Sodré

 

Cronologia de Nelson Werneck Sodré

Fonte: ITU.COM.BR Publicado: Sábado, 22 de janeiro de 2011 por Salathiel de Souza

Saiba mais sobre a vida e a obra do historiador.
Divulgação
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Nelson Werneck Sodré faleceu em Itu, no ano de 1999
1911 – Nasce no Rio de Janeiro (RJ) em 27 de abril, filho de Heitor de Abreu Sodré e Amélia Werneck Sodré.
1924 – Ingressa no Colégio Militar do Rio de Janeiro.
1929 – Publica o conto "Satânia", premiado pela revista O Cruzeiro.
1930 – Ingressa na Escola Militar do Realengo.
1933 – Conclui o curso, fazendo a Declaração de Aspirantes.
1934 – É designado para servir no Regimento de Artilharia de Itu (Regimento Deodoro). Começa a colaborar com artigos para o Correio Paulistano.
1935 – Casa-se com Yolanda Frugoli Sodré, em 2 de fevereiro.
1936 – Passa a considerar-se um profissional da Imprensa, assinando críticas literárias no Correio Paulistano.
1937 – Após a decretação do Estado Novo, em 10 de novembro, é nomeado ajudante-de-ordens do general José Pessoa, designado comandante da 9ª Região Militar, no Mato Grosso.
1938 – Publicação de "História da Literatura Brasileira".
1939 – Publicação de "Panorama do Segundo Império".
1940 – Torna-se amigo pessoal de Graciliano Ramos, Jorge Amado e vários expoentes da literatura no período, já tendo ingressado no Partido Comunista do Brasil.
1941 – Publicação de "Oeste". Nasce sua filha Olga Regina Frugoli Sodré.
1942 – Publicação de "Orientações do Pensamento Brasileiro".
1943 – Publicação de "Síntese do Desenvolvimento Literário no Brasil".
1944 – Publicação de "Formação da Sociedade Brasileira".
1945 – Publicação de "O Que Se Deve Ler Para Conhecer o Brasil".
1951 – É desligado da Escola de Estado-Maior devido às posições políticas que assumiu publicamente: participar da diretoria do Clube Militar, empenhada na luta pelo monopólio estatal da pesquisa e lavra do petróleo no Brasil, e pela publicação, sob pseudônimo, de um artigo na Revista do Clube Militar, claramente identificado com as posições sustentadas à época pelo Partido Comunista Brasileiro, em que combatia a participação do Brasil na Guerra da Coréia. É transferido para o 5º Regimento de Artilharia em Cruz Alta (RS).
1954 – Estando no Rio de Janeiro (RJ), é convidado por Alberto Guerreiro Ramos a participar do Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (IBESP), que oferecia cursos de pós-graduação no auditório do Ministério da Educação e Cultura.
1955 – Reformulação do IBESP, que passa a ser chamado de Instituro Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), do qual participa desde a sua fundação, inicialmente apenas participando das reuniões, escrevendo artigos e fazendo conferências.
1956 – O ISEB passa a ocupar sede no bairro de Botafogo. Torna-se o responsável pelo Curso de Formação Histórica do Brasil.
1957 – Publicação de "As Classes Sociais no Brasil" e "O Tratado de Methuen".
1958 – Publicação de "Introdução à Revolução Brasileira".
1959 – Publicação de "Narrativas Militares".
1961 – Publicação de "A Ideolologia do Colonialismo".  Durante a crise gerada pela renúncia de Jânio Quadros, é preso por 10 dias por se se opor à tentativa do golpe que pretendia impedir a posse do vice-presidente eleito, João Goulart. Com a posse de Goulart, sob o regime parlamentarista, seu pedido de passagem à reserva foi despachado, anulado e, mais uma vez, Sodré foi classificado para servir na capital do Pará, agora numa Circunscrição Militar. É promovido ao generalato por antiguidade e pela segunda vez requer seu afastamento do serviço ativo do Exército, consumando sua saída das fileiras militares.
1962 – Publicação de "Formação Histórica do Brasil".
1963 – Publicação de "Quem Matou Kennedy".
1964 - Após a deposição do presidente Goulart pelos militares, teve seus direitos políticos cassados por dez anos. Refugiado em uma fazenda de parentes em Fernandópolis (SP), foi preso no dia 26 de maio e enviado ao Rio de Janeiro, onde ficou detido durante 57 dias.
1965 – Publicação, na Argentina, de "Evolución Social y Económica del Brasil", "Ofício de Escritor", "O Naturalismo no Brasil", "As Razões da Independência" e "A História Militar no Brasil. Várias de suas obras foram censuradas e retiradas de livrarias e distribuidoras de todo o país.
1966 – Publicação de "História da Imprensa no Brasil", obra de referência até hoje.
1967 – Publicação de "Memórias de Um Soldado".
1968 – Publicação de "Fundamentos da Economia Marxita", "Fundamentos da Estética Marxista", Fundamentos do Materialismo Histórico" e "Fundamentos do Materialismo Dialético".
1970 – Publicação de "Síntese de História da Cultura Brasileira" e "Memórias de Um Escritor".
1974 – Publicação de "Brasil: Radiografia de Um Modelo".
1976 – Publicação de "Introdução à Geografia".
1978 – Publicação de "A Verdade Sobre o ISEB", "Oscar Niemeyer" e "A Coluna Prestes".
1984 – Publicação de "Vida e Morte da Ditadura"
1985 – Publicação de "Contribuição à História do PCB", "O Tenentismo" e "História e Materialismo Histórico no Brasil".
1986 – Publicação de "História da História Nova" e "A Intentona Comunista de 1935".
1987 – Publicação de "O Governo Militar Secreto" e "Literatura e História no Brasil Contemporâneo".
1988 – Republicação de "Memórias de Um Escritor" com o título "Em Defesa da Cultura".
1989 – Publicação de "A República: Uma Revisão Histórica", "A Marcha Para o Nazismo" e do ensaio "O Populismo: a Confusão Conceitual".
1990 – Publicação de "Capitalismo e Revolução Burguesa no Brasil", "O Facismo Cotidiano" e "A Luta Pela Cultura".
1992 – Publicação de "A Ofensiva Reacionária" e "O Golpe de 64".
1994 – Publicação de "A Fúria de Calibã".
1995 – Publicação de "A Farsa do Neoliberalismo".
1998 – Publicação de "Tudo é Política: 50 Anos do Pensamento de Nelson Werneck Sodré", com textos inéditos em livro ou censurados, organizados por Ivan Alves Filho.
1999 – Falece na cidade de Itu, em 13 de janeiro.

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** Secretário da Cultura comenta obra de Werneck Sodré

Secretário da Cultura comenta obra de Werneck Sodré

Fonte: ITU.COM.BR Publicado: Quarta-feira, 19 de janeiro de 2011 por Salathiel de Souza

Jonas Soares de Souza escreve sobre "Oeste", editado em 1941

Deborah Dubner / itu.com.br
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Jonas Soares de Souza comenta a obra de Werneck
Oeste, de Nelson Werneck Sodré (Livraria José Olympio Editora, 1941) é um estudo sobre a colonização pastoril do sertão de além-Paraná, produzido no início da década de 1940 por um grande conhecedor do território hoje pertencente ao estado do Mato Grosso do Sul. Aluno da Escola Militar do Rio de Janeiro, ao alcançar o oficialato Nelson Werneck Sodré serviu nas guarnições de Jundiaí e Itu entre 1934 e 1937, e são desse período suas primeiras incursões na região de Campo Grande, acompanhando tropas em movimento de exercício.  Em março de 1938 passa a servir na guarnição de Campo Grande e integra a campanha militar contra os grupos de bandoleiros que assolavam os chapadões do oeste. Depois dessa experiência, serviu novamente em Itu e em seguida na capital paulista, ali permanecendo até dezembro de 1941, ano em que foi promovido a capitão e no qual a Editora José Olympio publicou Oeste, na Coleção Documentos Brasileiros.  Ao escrever esse livro Sodré valeu-se mais de suas observações diretas e vivência militar do que da análise de dados estatísticos, documentos e bibliografia [1].
Na vasta produção do autor, Oeste não tem os mesmos nível e significação daquelas obras de "textura substantiva", embora, como salientou José Paulo Netto, no caso de Sodré "não há que opor o caráter testemunhal à substantividade". Memóriasde um soldado, por exemplo, "além de ser texto muitíssimo bem construído, dos mais belos da memorialística brasileira – é um extraordinário painel sócio-político da vida de nosso país, cobrindo todo o segundo terço deste século". Por outro lado, cabe ressaltar a autocrítica de Sodré acerca de Oeste, registrada em Memóriasde um escritor: o autor "não tinha o domínio das informações e das ciências necessárias à pintura de um quadro tão amplo".
José Paulo não vê esse gênero de discriminação como essencial para uma primeira aproximação ao conjunto da obra de Sodré. A seu juízo, essa aproximação reclama a distinção de dois momentos na evolução intelectual e na produção de Sodré, cujas fronteiras são demarcadas pela sua participação na direção do Clube Militar e o seu ingresso no Iseb na década de cinqüenta. Não se trata, alerta José Paulo, de visualizar um "corte" entre tais momentos ou de pensar a produção do primeiro momento como uma espécie de "idade da pedra" de Sodré. Mas de levar em consideração que as experiências aludidas levaram-no a uma revisão dos seus supostos teóricos e, "dada a sua conseqüência como pesquisador, a um tratamento diverso às temáticas que já antes saturavam o seu universo de problemas". Ao longo da sua produção alteraram-se os recortes analíticos e os suportes teóricos e metodológicos, mas o conjunto da sua obra desvela uma preocupação fundamental: a compreensão da particularidade histórica brasileira, como apontou José Paulo, um profundo conhecedor da trajetória intelectual de Sodré [2].
Oeste, publicado em 1941, é um dos livros do primeiro momento. O livro não teve reedição, a não ser a edição fac-símile impressa em 1990 pelo Arquivo do Estado de São Paulo, sem a reatualização crítica que mereceram as reedições de outras obras da mesma fase.
Sodré de certa forma justifica o seu estudo lembrando que a grande conquista do Oeste, feita pelos homens do planalto de Piratininga, teve dois instantes nítidos: o "ciclo das bandeiras" e o "ciclo das monções". Cumpre-nos acrescentar nesse desenvolvimento, diz Sodré, o "ciclo pastoril". Se, sobre o fenômeno bandeirante e as monções, a documentação é extensa e fecunda, sobre o desenvolvimento pastoril os dados se mostraram insuficientes para fundamentar conclusões formais. A primeira fase da expansão pastoril, que se deu em terras desbravadas pelo próprio movimento de expansão, tem cronistas e escritores de mérito. A segunda fase dessa expansão, aquela que se afirmou pela posse efetiva de terras já descobertas, percorridas e conquistadas definitivamente pelo elemento humano, é de uma pobreza de documentos e cronistas. É natural, explica Sodré, a cultura pastoril é fundamentalmente rústica e visceralmente pobre. Demasiadamente econômica em sinais visíveis, pouco deixou de si. Na colônia, o dominador teve dois motivos de rancor contra a cultura pastoril. O primeiro, porque ela não pesava no fisco. O segundo motivo não era menos forte: o vaqueiro tinha uma enraizada aversão ao domínio. Abandonou o litoral e penetrou no sertão, desceu e subiu rios e vales nessa constante fuga à autoridade, ao fisco e ao mando dos homens da coroa que, "arranhando o litoral", no dizer de frei Vicente Salvador, nele fixavam a organização do fisco e da repressão. O vaqueiro não deu de si cronistas brilhantes e nem ofereceu, com os seus próprios recursos, sinais  visíveis  de sua passagem territorial e de seu avanço econômico. A cultura canavieira, além dos sinais externos de sua existência, teve seus cronistas, que deixaram documentos, cartas e livros. A lavoura cafeeira teve a felicidade de encontrar os seus comentadores, que explicaram os seus rumos e peculiaridades. A mineração produziu poetas, narradores e historiadores. Só a cultura pastoril não teve a mesma sorte: nômade e dispersiva, sem acarretar a fixação, deixou poucos sinais exteriores e documentos. É essa fase quase desconhecida que Sodré se propõe a estudar, para entender as razões da pobreza do Oeste em seu tempo.
No final do século XVIII a grande conquista do Oeste era obra acabada em termos de extensão. As grandes rotas de penetração estavam abertas, havia núcleos de população e até centros de uma incipiente riqueza. É nesse período que se dão as primeiras penetrações de gado, graças ao capricho de uma hidrografia favorável. As nascentes dos formadores do São Francisco aproximavam-se das nascentes dos formadores do Paraná. Os campos abertos,as passagens obrigatórias e os pontos em que as vias fluviais permitiam vau eram um convite para a passagem, das terras de Minas Gerais para as terras de Goiás e Mato Grosso, dos rebanhos que marchavam continuamente.  Estava iniciada a conquista pastoril que se estenderia por quase todo o território palmilhado pelo bandeirismo e pelos homens das monções. Sodré chama a atenção para o fato de que a penetração do gado prendeu-se às regiões banhadas por águas dos formadores da bacia platina. Nas terras de domínio da floresta amazônica, em que corriam os rios que alimentavam o Amazonas, a expansão pastoril não conseguiu infiltrar-se. Entretanto, toda a bacia platina na sua parte do Oeste ficou dominada pelo regime pastoril.
Emborapobre, a cultura pastoril proporcionou ao Oeste o seu grande momento no sentido da ocupação e da dispersão humana. Os primeiros grupos humanos que ocupam a região seriam originários de Minas Gerais, de onde tinham vindo os rebanhos. Ao contrário dos mineiros, os gaúchos que chegam depois às terras do Oeste não se fazem acompanhar de grandes entradas de rebanhos. No caso dos gaúchos, foi uma marcha exclusivamente humana, em busca de posses novas, já desbravadas e com o gado em constante aumento. A cultura pastoril só permitia a formação de núcleos, centros de distribuição, entre os quais reinava o deserto como uma permanente ameaça. Se essa condensação devia processar-se de modo muito lento, inerente às peculiaridades do regime pastoril, ela tinha uma característica que devia aproveitar fundamentalmente à dispersão humana no Oeste: a continuidade. Enquanto as arrancadas  bandeirante e monçoeira eram fragmentárias e essencialmente descontínuas, plantando núcleos isolados que permaneciam incapazes de novas expansões, a arrancada pastoril apresentava uma continuidade lenta, que cobria intervalos e enchia os divórcios imensos. Pobre em sinais exteriores e em elemento humano, na continuidade da infiltração e no constante desdobramento dos rebanhos a cultura pastoril deixaria na geografia humana do Oeste um papel de relevo verdadeiramente único. No caso do Oeste, diz Sodré, a cultura pastoril desbravava e civilizava. Se o padrão civilizador era baixo e traria conseqüências desequilíbradoras mais adiante, não importa. No momento e no espaço em que se deu tal expansão, ela teve uma função de primeira ordem.
O drama da miséria começa com a Lei de terras de 1850. A posse precária de tão vastos territórios chocou-se com a lei que proibia a aquisição de terras devolutas por outro título que não fosse o de compra.  A posse efetiva exigia a habitação dos proprietários nos tratos de que se declaravam donos, sem o que os respectivos tratos não passariam de terras devolutas, de propriedade do Estado. Isso não ocorria pelo simples motivo da inaptidão fundamental do regime pastoril em concentrar, em adensar elementos humanos, de forma a confirmar a posse efetiva da terra. As posses nada valiam, nelas não havia sinais de trabalho humano, benfeitorias que agregassem valor. Aí residia uma das características fundamentais da cultura pastoril: o absoluto desvalor do solo, a desestima da terra. A segunda característica é o nomadismo que, em última análise, prendia-se ao pauperismo profundo do regime pastoril. Nomadismo e pobreza, pobreza e nomadismo. Essa massa humana abre caminhos, conquista terras, mas nada levanta sobre essas conquistas. Não há marcos que assinalem a grandeza dessa conquista, só a tradição oral, transmitida de pais para filhos.
A pequenez do ecúmeno no Oeste, ligada às características da produção dominante nessas terras, não podia deixar de ter uma profunda projeção na organização social e suas transformações. As distâncias infinitas divorciaram os homens e reduziram a possibilidade do trabalho coletivo que constrói e torna viável a mutação contínua. Pobreza, desertão, primitivismo, foram características permanentes, que não sofreram mais que um leve abalo com o advento de novos fatores.
A forma de ocupação do território permitiu a formação de grandes propriedades pobres, que impõem mais limites ao crescimento demográfico. Aos grandes senhores rurais a cultura pastoril só é compensadora porque a terra lhes ficou gratuita, pela posse fácil das heranças, não lhes interessando a fragmentação. Uma outra atividade da região, a exploração da erva mate, também era feita sob o regime da grande propriedade. Agravando o panorama de desolação, vigia o sistema de concessão de grandes tratos a organizações estrangeiras. São extensões vastíssimas, só possíveis no desertão do Oeste. Se as terras propícias ao gado, que são aquelas em que a lavoura se poderia estabelecer, ficam na posse de grandes proprietários brasileiros e estrangeiros, e se as outras terras não se prestam, por inundáveis, que resta a cultivar?,  pergunta Sodré. O fator grande propriedade e o fator geográfico ligado às condições físicas e ao meio prejudicam a marcha progressiva da grande para a pequena propriedade, do nomadismo para a fixação, da pobreza para a riqueza, da dispersividade de interesses para a sua comunidade – especificada nas organizações municipais.
Sodré faz uma rápida análise do desenvolvimento da Argentina e de sua trajetória para a superação dos entraves do predomínio do regime pastoril sobre a ação civilizadora da colonização agrícola.  Em seguida, aponta os pontos de contato com o quadro do Oeste: o choque profundo entre o regime pastoril e o regime agrícola, o antagonismo formal entre a cidade e o campo, as disparidades oriundas do caudilhismo, da ausência de princípio hierárquico, de fuga à autoridade, de dispersão. Esses são os quadros comuns que tiveram uma representação formidável na formação Argentina e que têm um papel de primeira ordem no cenário do Oeste.
ParaSodré, a luta contra o cenário apresentado pelo Oeste deveria se apoiar decisiva e formalmente no primado do regime agrícola, na positiva intervenção do Estado em favor da fragmentação da grande propriedade, no incremento do crescimento demográfico, na ampliação das vias de comunicação, na formação de autoridade forte e sólida apoiada nos grupamentos urbanos e na elaboração da organização municipal.
Quandoo número de pequenas propriedades agrícolas crescer e desdobrar-se, começando pelas beiras das estradas de ferro para depois penetrar no interior através das rodovias, o domínio pastoril terá que refluir e estabelecer-se em novos padrões. Só a agricultura liga o homem à terra, só ela pode estabelecer os vínculos formidáveis que interpõem limites à dissociação familiar, à pobreza eterna, à tristeza das moradas desconfortáveis, à miséria alimentar e ao obscurantismo.  O crescimento e o desdobramento das ferrovias, além de articular o Brasil com a Bolívia, oferecendo vias de escoamento pelo oceano da produção desses países, contribuirão para neutralizar a ação desnacionalizadora e antibrasileira do sistema fluvial cuja resultante conduz ao rio da Prata. A política ferroviária acarretará a expansão dos mercados abastecidos pelo parque industrial paulista, o desenvolvimento do mercado interno, e oferecerá a possibilidade do deslocamento das levas nômades, em busca de melhores condições de vida e de trabalho.
Sodré conclui afirmando que a marcha da agricultura, com o advento da pequena propriedade, será o avanço civilizador e nacionalizador que provocará o desaparecimento das forças contrárias que jogam no cenário do Oeste. Superadas as anomalias que se traduzem na instabilidade e na pobreza, o Oeste poderá estruturar uma fase de riqueza e de libertação.


[1]WERNECK SODRÉ, Nelson – Memóriasde um soldado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.
                                                       –  Memóriasde um escritor. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970.
[2]PAULO NETTO, José – Nelson Werneck Sodré. In: WERNECK SODRÉ, Nelson – O naturalismo no Brasil. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1992.

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** Mitologias Africanas e Afro-brasileiras na Sala de Aula

 
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** Pluralidade ganhou espaço no pensamento republicano

 
Pluralidade ganhou espaço no pensamento republicano

Interesses e conflitos são determinantes 
para a tomada de decisões

No pensamento republicano, a pluralidade ocupou um lugar definitivo substituindo o conflito e o interesse, enquanto categorias políticas. "Pluralidade é quando há diversidade de opiniões e, ao mesmo tempo, espaço para a existência simultânea e paralela para tamanha variedade", descreve a cientista política Maria Aparecida Azevedo Abreu. Com base em obras literárias de épocas distintas sobre o pensamento republicano, a pesquisadora analisou como foram tratados o "conflito" e o "interesse". A tese de doutorado Conflito e interesse no pensamento político republicano foi apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, sob a orientação do professor Gabriel Cohn, do Departamento de Ciência Política.
"O conflito e o interesse estiveram juntos e no interior da política em dado momento, e fora dela em outros", aponta a cientista política. As obras estudadas por Maria Aparecida foram "Os discursos sobre a primeira década de Tito Lívio", de Maquiavel; "Oceana", de James Harrington (séc. 19); "O Contrato Social", de Rousseau (séc. 18); "Que é o Terceiro Estado?", de Emmanuel Joseph Sieyes; "O Espírito das Leis", de Montesquieu (séc. 18); "Os artigos federalistas", de James Madison, Alexander Hamilton Rice, e  John Jay (séc. 16); e "Da Revolução, de Hannah Arendt (séc. 20).
Ela cita como exemplo "Os artigos federalistas", do século 16, em que o conflito e o interesse se dissociaram. "Neste caso, o interesse permanece no interior da república e o conflito deu lugar à pluralidade. Hannah Arendt, na obra Da Revolução, do século 20, preserva a pluralidade, mas retira novamente o interesse da política", explica Maria Aparecida.
Em relação a Maquiavel, a pesquisadora descreve que a manifestação de interesses do cidadão maquiavélico, em conflito com os interesses opostos, tinha a função de gerar boas leis e a liberdade da república. "Em contrapartida, a concepção de Rosseau para a resolução de conflitos prega que os cidadãos deixem de lado seus interesses particulares e que aceitem a manifestação da vontade geral, obtida a partir da comunidade política como um todo, e não da soma de interesses gerais, vontade esta que em Sieyes se manifesta na forma de um interesse parcial, o do terceiro estado, como se fosse de toda a comunidade.
Concepção de interesse e conflito
A análise das obras literárias publicadas em diferentes épocas permitiu à pesquisadora apontar a diferenciação entre interesse e bem comum. "O interesse é algo parcial e definido pela pessoa ou por um grupo que deseja algo e que por meio de suas atitudes, opiniões e discursos busca alcançá-lo. Já o bem comum é definido como um interesse de toda a comunidade e para o qual a mesma deve agir em conjunto para atingi-lo", descreve.
Dentro das diversas épocas, locais e sociedades vários interesses são manifestados. Como conciliá-los é um dos maiores problemas. Segundo a pesquisadora, "alguns interesses entram em conflito, quando o grau de divergência é tão grande que não podem coexistir. Outros se encaixam naquilo que se denomina como pluralidade.
Nos artigos federalistas, os interesses entraram para a vida da república e foram seu combustível. "Não há conflito entre eles, mas tolerância e estímulo para que sejam manifestados em uma maior quantidade e diversidade de forma a impedir que se formem apenas interesses opostos ou contraditórios de grupos dominantes e uma possível concentração de poderes", descreve Maria Aparecida.
E o Brasil?
De acordo com a cientista política, o Brasil se encaixa perfeitamente nos republicanos federalistas. Afinal, segundo ela, "os mecanismos, dos primórdios republicanos para a manifestação de interesses, hoje, estão ausentes ou obscurecidos". Ela esclarece que a teoria não fornece elementos para que o Estado possa ter uma estrutura mais adequada a fim de que interesses plurais se manifestem de forma clara. "A insuficiência no estudo de interesses e conflitos em espaços deliberativos sobre políticas públicas, como os conselhos de participação, órgãos e agências de regulação sobre educação, saúde e meio ambiente, entre outras áreas, acabam por entrar em um desequilíbrio desnecessário, perdendo o objeto de suas funções que seriam políticas públicas de qualidade."
Mais informações: mazabreu@uol.com.br

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** [Carta O BERRO] RIBEIRÃO EM CENA ESTRÉIA NOVO ESPETÁCULO NO FESTIVAL INTERNACIONAL DE CURITIBA. Grupo encenará texto inédito de Izaías Almada: "PAI" . entre 29 de março e 10 de abril

 
Carta O Berro..........................................................repassem


RIBEIRÃO EM CENA ESTRÉIA NOVO ESPETÁCULO NO FESTIVAL INTERNACIONAL DE CURITIBA
Grupo encenará texto inédito de Izaías Almada

Pelo terceiro ano consecutivo a Cia. Ribeirão Em Cena foi qualificada para participar do Festival Internacional de Curitiba que em sua vigésima edição será realizado na capital paranaense entre 29 de março e 10 de abril.
Considerado o mais importante evento teatral da América Latina, o Festival de Curitiba consolidou-se como uma imensa vitrine para artistas e companhias de teatro do Brasil e do exterior. Um espaço para todas as artes que mantém o pé firme no teatro, mas reúne dança, circo, improviso, teatro físico e até gastronomia. Promovendo o encontro de uma enorme diversidade artística e humana na cidade, abrange propostas tradicionais e também aquelas que propõem desafios ao público traçando novos caminhos para a arte.

"Pai", espetáculo que representa Ribeirão Preto no evento, tem a direção do encenador Gilson Filho e texto de Izaías Almada. O elenco reúne Neuza Maria, atriz com trinta anos de carreira e Mariana Casula da nova geração de atrizes formadas nas oficinas da Ribeirão Em Cena. Conta ainda com a participação especial do ator Julio Avanci e Gracyela Gitirana.
O enredo é sobre a história de uma família que descobre o corpo do pai, desaparecido político na época da ditadura militar brasileira. A ação se passa em São Paulo, 1991, ano que se descobriram centenas de ossadas numa parte clandestina do Cemitério de Perus, muitas delas de prisioneiros da ditadura. A história, contudo, se faz no dia-a-dia. Um simples telefonema desperta emoções e lembranças, causando uma transformação na relação de mãe e filha, revelando sentimentos reprimidos de uma para com a outra.

Por se tratar de um tema intimamente ligado à nossa história mais recente, e ao mesmo tempo expor as conseqüências dos fatos históricos na vida privada dos cidadãos, a peça traz à tona a discussão sobre o relacionamento familiar e a consciência social. Trata também das conseqüências do autoritarismo e da arbitrariedade de um governo sobre os destinos de um povo.
Izaías Almada, o autor, é mineiro de Belo Horizonte. Veio para São Paulo em 1965, onde, depois de cursar a Escola de Arte Dramática, tornou-se assistente de encenação de Augusto Boal, no musical Opinião. Nessa época dirigiu algumas peças e participou como ator do espetáculo Arena Conta Zumbi, além de trabalhar como jornalista na Folha de São Paulo. Foi preso em 1969, como militante da Vanguarda Popular Revolucionária. Em 1995, recebeu o Prêmio Vladimir Herzog de jornalismo com a peça para teatro "Uma Questão de Imagem" e escreveu os romances "A metade arrancada de mim" e "Clarão da América".
Em Curitiba, "Pai" cumprirá temporada de quatro apresentações no Teatro Solar do Barão entre os dias seis e nove de abril.
O elenco viaja com o patrocínio de Bebidas Ipiranga, Independance Veículos-Citroem , UsinaMoreno, Pálpebras Brasil e apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Ribeirão Preto.
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** UM CASO DE CORRUPÇÃO ACADÊMICA

 
Sobre o autor deste artigoUrariano Motta - RecifeÉ pernambucano, jornalista e autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do cabo Anselmo, executada pela equipe do Delegado Fleury com o auxílio de Anselmo. www.diretodaredação.com

  • Publicado em 02/02/2011

    Um caso de corrupção acadêmica

    O homem que me contou este caso não é nenhum corrupto. Ainda que não haja contradição entre ser um cientista e um senhor corrupto, ele é um mestre, um cientista. Para melhor situá-lo, direi que é biólogo de uma escola superior do sul do Brasil. No entanto, a sua pessoa poderá ser vista em qualquer cidade. Com a palavra, o mestre K:
    "A coisa está pior do que se pode imaginar.  O senhor se julga um escritor, um sujeito dotado de fantasia? Então acompanhe o que lhe vou contar, porque a sua imaginação vai aprender muito.
    Eu fui nomeado para ser relator de uma dissertação de mestrado. Tudo bem, isso faz parte do meu trabalho. Por experiência eu sei que não devo esperar teses que revolucionem o mundo da ciência. Revolução? Menos,  para que exagerar? A realidade já é um exagero. Para dizer a verdade, eu não devo esperar a mínima contribuição para qualquer coisa. Como eu sou um homem honesto, eu lhe digo que se esse fosse o critério, eu não estaria no lugar onde estou. Mas não ter esperança é diferente da mais completa desesperança. Acompanhe.
    Quando eu havia corrigido cerca de 2/3 da tese, eu tinha contado cerca de 150 erros de português. Preste bem atenção. Eu não sou exatamente um cultor do português, a minha especialidade é outra. Mas havia erros crassos, gritantes até para mim.  Agora olhe como as coisas andam na maior concordância orgânica. O que o trabalho não sabia de português, melhor ainda não sabia da ciência biológica. Que maravilhosa coerência, não é? Havia antagonismos, buracos, saltos, o diabo. Então chamei o aluno, contei-lhe o estado deplorável da sua tese.
    O aluno, muito vivo, me respondeu então, na minha cara, pois a que cara ele haveria de falar, não é?... na minha cara ele me disse que não tinha tempo de fazer as correções antes da defesa, que já estava marcada para o dia 13 de abril, e que viria um outro doutor  de Brasília para a banca examinadora, etc. Então eu disse a ele: 'Escute, você me fez perder um tempo grande na correção. Mas se a data da defesa já está marcada e seu orientador acha que o trabalho está apresentável, não vou criar problema. Mas tem uma coisa: retire o meu nome de relator, certo?'
    Não sei por que cargas d`água o futuro 'cientista' achou que a comissão examinadora poderia criar problemas se ele não recebesse 'o apto a ser julgado' do relator, no caso, eu. Por conta dessa dúvida, ele apareceu em minha casa acompanhado dos seguintes fundamentos teóricos e experiências de laboratório: o seu poderoso pai com mostras de riqueza nas roupas, nos sapatos, mencionando de passagem o carro importado, junto às mais importantes citações científicas, todas de nomes de políticos e de pessoas influentes da sociedade. Claro, como a visita era de amizade, como era uma política de boa vizinhança, trouxeram um litro de uísque antigo, cujo preço é o meu salário.... Eu não só dispensei o 'presente' como voltei a explicar tudo de novo: 'O problema é seu e de seu orientador. O que vocês acordarem, pra mim está ótimo. Agora, não coloque o meu nome nessa história. Só isso'.
    Bem, o 'cientista' defendeu o indefensável, não fez as modificações sugeridas  por mim e pela banca examinadora, mas foi aprovado. Quando imprimiu os seis volumes da dissertação, deixou o meu nome como relator. Eu  só não chamei o cara de santo. Então, fiz uma reclamação por escrito ao coordenador da pós-graduação e lhe disse que já era a segunda vez que me faziam de palhaço. E numa atitude radical, consegui apagar o meu nome em quatro dos seis volumes impressos, com corretivo. O pai do aluno, quando soube de minha atitude, o que fez?  Imagine, o pai do farsante me ameaçou com um processo. Eu era o delinquente! Ainda bem que para a minha sorte, para que o pai indignado não levasse adiante o processo, não havia prova de que eu cometera o crime de apagar o meu nome. E para maior atenuante, ainda havia dois exemplares com o meu nome de relator.
    Agora, vem a melhor parte: contando isso aos colegas em uma reunião do Departamento de Biologia, em vez de receber apoio integral pela minha atitude, eu fui acusado de estar com excesso de 'preciosismo' nas minhas correções. Os professores mais corruptos disseram que eu fui idiota, metido a Robespierre  em não ter aceitado o litro de uísque do cara. Em nome até da boa convivência, eu nada respondi a quem me chamou de Robespierre. Minha cabeça podia ir para a guilhotina".
    E aqui termina a fala do mestre K. Acreditem os leitores, o narrado não é ficção. Acontece em muitos lugares do Brasil.


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Atividade nos últimos dias:
    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.


                                                                                                    Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
 
Visite o Blog do nosso Grupo:http://www.grupohistoriadobrasil.blogspot.com

** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História de SANTO DIAS DA SILVA -XXVI-

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SANTO DIAS DA SILVA
Nasceu em 22 de fevereiro de 1942, em São Paulo, filho de Jesus Dias da Silva e Laura Amâncio.
Operário metalúrgico, era motorista de empilhadeira da Metal Leve S/A. Antes havia sido lavrador, colono, diarista e bóia-fria. Em 1961, foi expulso, com a
família, das terras onde era colono, por exigir registro de carteira profissional, como era lei. Trabalhador em fábrica, foi demitido por participar de campanhas
coletivas por aumento de salário e adicional de horas extras.
Líder operário bastante reconhecido no meio dos trabalhadores,era casado e pai de dois filhos.
Após sua covarde morte, como homenagem de sua luta e seu exemplo, foi criado o Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo.
Santo era membro da pastoral operária de São Paulo, representante leigo ante a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, membro do Movimento
Contra a Carestia, candidato a Vice-presidente da chapa 3, da Oposição no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e integrante do Comitê Brasileiro pela
Anistia - CBA/SP.
Assassinado friamente pela PM paulista quando comandava um piquete de greve no dia 30 de outubro de 1979, em frente à fabrica Silvânia, em Santo Amaro,
bairro da região sul.
Relato da morte de Santo Dias, publicado no Boletim do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Paulo, encontrado no Arquivo do DOPS/SP:
" Os policiais estavam puxando o Espanhol por um lado. Do outro, Santo segurava o companheiro. Começou então a violência, com tiros para cima e,
depois, eu vi o Santo ser atingido na barriga, de lado, e o tiro sair de outro lado. Escutei três gritos: ai, ai, ai. E o Santo caiu no chão.
O metalúrgico Luís Carlos Ferreira relatou assim a morte de Santo Dias da Silva, no depoimento que prestou à Comissão de Justiça e Paz, que
também ouviu mais duas outras testemunhas sobre a morte do companheiro. Segundo Luís Carlos afirmou à Comissão, ele estava a uns seis metros de
distância de Santo Dias, no momento em que ele foi baleado.
Os policiais continuaram a perseguir outros - prossegue Luís Carlos no seu depoimento. 'Eu fiquei atrás de um poste e posso, com toda segurança,
reconhecer o policial que atirou no Santo: tem cerca de um metro e oitenta, alto, forte e aloirado.
E pude ver, depois, na delegacia que ele tem uma falha na arcada dentária. Vi ele bem, quando eu estava sendo levado preso no Tático Móvel 209.
Luís Carlos lembra que havia cerca de 50 operários no piquete, que nunca usou de violência, pois só fazíamos o trabalho de conscientização. Ele
também desmente a versão de que os trabalhadores teriam iniciado o conflito, afirmando que quando chegamos na porta da Sylvânia, tinha uns
quatro ou cinco policiais guardando o local. Não houve nenhum atrito com eles e nenhum de nós estava armado.
Luís Carlos Ferreira reconheceu o soldado Herculano Leonel como o autor do disparo que matou o operário.
Correndo, assustados e ao mesmo tempo com raiva do ocorrido, os companheiros entraram na sede com a notícia parada na garganta: 'Mataram o
Santo'. Num primeiro momento, a dúvida e, após a confirmação, a dor. A repressão diante da Sylvânia, local para o qual Santo se dirigira com a
finalidade de acalmar os ânimos, dissolveu a tiros o piquete; fez um ferido (João Pereira dos Santos) e um morto, Santo Dias da Silva. A triste notícia
correu de boca em boca. As autoridades procuravam esvaziar e eximir-se da culpa.
Imediatamente começou a mobilização dos trabalhadores para protestar contra o assassinato. A polícia não queria nem mesmo liberar o corpo. Depois
da interferência de outros sindicalistas e parlamentares, o corpo de Santo chegou à Igreja da Consolação onde foi velado pelo povo de São Paulo. A
tristeza se misturava com a incredulidade e a raiva contra os assassinos. Milhares de pessoas desfilaram diante do caixão aberto de Santo, prestando
sua homenagem ao novo mártir da luta operária, que estampava no seu rosto um leve sorriso de tranquilidade.
Já na madrugada, o povo continuava a rezar por Santo e a se preparar para a grande marcha até a Sé, local fixado para a cerimônia de
encomendação do corpo.
Às 8:00h da manhã a movimentação diante da Consolação era grande: metalúrgicos, estudantes, todos querendo levar Santo. Saindo da Consolação
às 14:10h, o cortejo com faixas e palavras de ordem contava com mais de 10 mil pessoas. Dos prédios caiam papeis picados, um sinal silencioso de
solideariedade.
Novos manifestantes se acresciam ao cortejo e as palavras de ordem se sucediam: 'A Luta Continua', 'A polícia dos patrões matou um operário',
'Você está presente, companheiro Santo'..."

** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História de ZULEIKA ANGEL JONES -XXVII-

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ZULEIKA ANGEL JONES


Nasceu em Curvelo, MG, em 5 de junho de 1923, filha de Pedro Netto e Francisca Gomes Netto. Mais tarde sua família se mudou para Belo Horizonte, onde fez o
curso primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e o ginasial no Colégio Sagrado Coração de Jesus.

Ousada, criativa, inovadora, anti-militarista, talentosa, corajosa, envolvente, charmosa e alegre. É essa a definição da personalidade da estilista Zuzu Angel.
Começou sua carreira como costureira e, mais tarde, tornou-se "designer",transformando panos de colchão, fitas de gorgurão, rendas do norte, pedras preciosas,
estampados de pássaros e papagaios, babados e zuartes em saias, chales e vestidos maravilhosos, criando uma moda brasileira capaz de encantar o mundo

O anjo era a logomarca de sua confecção. Seu princípio era a liberdade. Criava uma moda autêntica - a partir de suas raízes e origens de sua vida e emoções. A natureza brasileira estava presente em suas roupas, através das flores, pássaros e borboletas.

Morta aos 49 anos de idade, em 14 de abril de 1976, às 3:00 horas, na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos (RJ).

Figurinista conhecida internacionalmente como Zuzu Angel, era mãe do militante Stuart Angel Jones, desaparecido político, preso em 14 de maio de 1971 pelos agentes do CISA, onde foi torturado e assassinado.

O preso político Alex Polari de Alverga, escreveu da prisão – logo após a morte de Stuart– carta a Zuzu Angel, onde narrava as torturas sofridas por seu filho. Alex presenciou Stuart ser arrastado por um jipe pelo pátio interno da Base Aérea do Galeão, com a boca no cano de descarga do veículo. Também ouviu os gritos de Stuart – numa cela ao lado – pedindo água e dizendo que ia morrer e, pouco depois, seu corpo foi retirado da cela. Este depoimento de Alex consta do vídeo "Sônia Morta e Viva", produzido e dirigido por Sérgio Waisman, em 1985.

Zuzu Angel incansavelmente denunciou as torturas, morte e ocultação do cadáver de Stuart, tanto no Brasil como no exterior. Em vários de seus desfiles no exterior denunciou a morte do filho para a imprensa estrangeira e a deputados norte-americanos, entregando em mãos uma carta a Henry Kissinger, na época Secretário de Estado do Governo norteamericano, visto que seu filho também tinha a cidadania americana.Sua atitude e a abrangência das denuncias, apesar da férrea censura, desnudavam o que a ditadura tentava esconder, os desaparecidos.

Zuzu passou, então a fazer - como ela mesma classificaria - "a primeira coleção de moda política da história", usando estampas com silhuetas bélicas, pássaros engaiolados e balas de canhão disparadas contra anjos. O anjo tornou-se o símbolo de Tuti, o filho desaparecido - caracterizando suas coleções de moda: anjos amordaçados, meninos aprisionados, sol atrás das grades, jeeps e quépis.

Durante cinco anos, buscou reaver o corpo de Stuart, cuja morte e prisão jamais foram admitidos pelos órgãos de segurança. O atrevimento, a criatividade, a audácia e até mesmo o bom humor foram as armas que ela usou contra a ditadura.
Soube tirar proveito de sua fama, para envolver, a favor da sua causa, inúmeros clientes e amigos importantes: Joan Crawford, Kim Novak, Veruska, Liza Minelli, Jean Shrimpton, Margot Fontein, Henry Kissinger, Ted Kennedy, entre outros.

Dizia sempre: "Eu não tenho coragem, coragem tinha meu filho. Eu tenho legitimidade".

O acidente de automóvel em que veio a morrer foi bastante estranho, não ficando claro até hoje as circunstâncias dessa tragédia. Há testemunhas que afirmam que havia um jipe do Exército, logo após o acidente, na saída do túnel Dois Irmãos.

Ela própria denunciou seu fim: "Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho".
Seu óbito, de n° 384, foi firmado pelo Dr. Higino de Carvalho Hércules, que confirma a versão policial de morte em acidente.

Uma semana antes do acidente que a vitimou fatalmente, Zuzu deixara na casa de Chico Buarque, um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse.

Sua postura diante da vida, sua força e sua garra, inspiraram Chico Buarque que compôs a música "Angélica", onde ele pergunta, quem é essa mulher?
Zuzu Angel foi sepultada pela família, em 15 de abril de 1976, no Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro.

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