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terça-feira, 10 de maio de 2011

Re: ** A Geração ISEB

 
Existem duas informações equivocadas no texto: 1) a sede do ISEB não foi abandonada: foi transformada em Ministério do Interior, sob o comando do general Cordeiro de Farias; e 2) A biblioteca foi parcialmente queimada: uma boa parte do acervo do ISEB foi parar na... Escola Superior de Guerra.

No que se refere ao item 1, tive acesso ao acervo do Diário Oficial da União de 1964 e nele consta um ofício do Ministério do Interior informando sobre a mudança de sua sede para a Rua das Palmeiras 55; E no item 2, ao visitar a Escola Superior de Guerra (ESG) para pesquisa, verifiquei que parte do acervo lá está, inclusive com títulos de livros de isebianos editados pela ESG, principalmente livros de Guerreiro Ramos.

Aproveito que o tema é sobre o ISEB e convido todos a lerem meu artigo sobre esta instituição:

http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=315

Saudações históricas,

Fabrício Augusto Souza Gomes
http://lattes.cnpq.br/3456306984132451



Em 10 de maio de 2011 19:23, GRUPO DE ESTUDOS DA HISTORIA DO BRASIL <grupohistoriadobrasil@yahoo.com.br> escreveu:
 

A Geração ISEB

Fonte: ITU.COM.BR Publicado: Segunda-feira, 9 de maio de 2011 por Deborah Dubner
divulgação
Foto
Este artigo foi publicado no livro História e Geografia Fluminense
Por Neusa Fernandes, Pós-doutora, historiadora e museóloga
O Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB- foi um centro de estudos criado pelo Decreto n. 37.608, de 14 de julho 1955, ainda no Governo de Café Filho, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. Foi inspirado em um projeto do professor Alberto Torres, do início do século, na época dos grandes diagnósticos do Brasil, e esboçado pelo Grupo Itatiaia, que reunia intelectuais do Estado do Rio de Janeiro e de São Paulo, defensores de um nacionalismo menos radical que o nele defendido. O Grupo Itatiaia era liderado pelo professor Hélio Jaguaribe que articulou uma instituição denominada Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (IBESP). Esta instituição foi responsável pela edição da Revista Cadernos de Nosso Tempo (1953 a 1956) e que viria a se constituir no núcleo do futuro ISEB.
O ISEB iniciou suas atividades quando Juscelino Kubitschek assumiu a presidência da República. Com plena liberdade de cátedra, caracterizou-se por promover o debate sobre os problemas nacionais.Constantes na pauta das discussões promovidas pelos intelectuais do Instituto estavam a filosofia, a história, a economia, a sociologia, a política e a cultura. O principal objetivo da instituição era servir de instrumento para o desenvolvimento de uma ação política na conjuntura econômica e social brasileira dos anos 50, formando quadros para o Estado e para a sociedade brasileira. Para tanto, apresentava-se como um órgão de vanguarda do pensamento desenvolvimentista , reunindo os mais conceituados intelectuais da esquerda, da direita ou do centro. Conviviam no ISEB liberais, socialistas, marxistas, democratas, nacionalistas e antinacionalistas, defensores do capital estrangeiro, como o economista Roberto Campos, enfim nomes como: Ignácio Rangel, Miguel Reale, Sérgio Buarque de Holanda, Hélio Jaguaribe, Guerreiro Ramos, Cândido Mendes de Almeida, Cândido Motta Filho, Josué de Castro, Álvaro Vieira Pinto e Nelson Werneck Sodré, sob a direção do filósofo paulista Roland Cavalcanti de Albuquerque Corbisier.
Era o ISEB constituído de cinco departamentos: o de filosofia, chefiado pelo professor Álvaro Vieira Pinto; o de História, chefiado pelo professor Cândido Mendes, com coordenação no curso de História Brasileira do pensador marxista e militar Nelson Werneck Sodré; o de Sociologia, chefiado pelo sociólogo Alberto Guerreiro Ramos; o de Ciência Política, chefiado por Hélio Jaguaribe; o de Economia com Evaldo Correia Lima, cujo mais destacado colaborador foi Ignácio Rangel.
Apesar das diferentes convicções filosóficas, pode-se detectar que o nacionalismo e o desenvolvimentismo estavam no centro das metas isebianas. Esses pensadores acreditavam que poderiam formular um projeto ideológico comum para o País.
Afinados com a política desenvolvimentista de JK, os intelectuais do ISEB receberam apoio do presidente que, em declarações públicas, prestigiou a instituição, definindo-a, como um centro de estudos e pesquisas, que se diferenciava dos demais órgãos universitários por estar voltado para o estudo dos problemas brasileiros.. Entretanto, JK criou o Conselho de Desenvolvimento exatamente com essa tarefa e a ele não pertencia nenhum membro do ISEB.
O ISEB, além da publicação de livros e da realização de seminários de estudos e da promoção de pesquisas, oferecia cursos e outras atividades intelectuais.. Entre elas, empenho maior na organização dos debates políticos, cuja tônica era sempre o desenvolvimento nacional e a construção de uma ideologia do desenvolvimento, visando ao processo de transformação, à possibilidade de diminuir os abismos sociais, quando o estágio de uma sociedade industrialmente desenvolvida fosse atingido.
Ao longo de sua existência, podemos distinguir dois momentos na vida do Instituto. O primeiro (1955-1959) foi o da criação, que coincidiu com o período desenvolvimentista do governo JK. Nessa fase, o grupo de intelectuais aderiu à candidatura JK.
Vale lembrar que na década de 50, a ideologia do desenvolvimento nacional era o idioma político alavancado pelo presidente "bossa nova", que deu a grande virada do capitalismo brasileiro, construindo a nova capital, favorecendo a entrada de tecnologia e capital estrangeiro, correndo à sombra do desejo da nação em superar o seu atraso.
O segundo e último momento do ISEB foi a fase que criticou as teses desenvolvimentistas. Decorridos cinco anos do governo, a realidade indicava que o país crescera economicamente, com a consolidação do capitalismo industrial, mas não tinha resolvido seus problemas sociais e as desigualdades tinham aumentado. Nessa fase houve uma maior politização e homogeinização ideológica do instituto norteado pelos filósofos Vieira Pinto e Roland Corbisier e pelo historiador Nelson Werneck Sodré, que privilegiavam as mudanças sociais, econômicas e as reformas de base defendidas pelo governo João Goulart, acompanhando a radicalização do país. Esses três intelectuais foram as referências dessa segunda fase..
O ISEB assumiu uma posição mais agressiva na crítica dos lucros das empresas estrangeiras, da remessa de lucros, da distribuição de renda e da transformação da estrutura agrária. A harmonia de idéias sofreu fissuras no ano de 1958, uma crise que provocou uma cisão, nas palavras de Nelson Werneck Sodré, " inoportuna, inadequada, sectária". De um lado, estavam os que defendiam maior participação do capital estrangeiro, isto é, apoio à plataforma do governo. De outro lado, ao contrário, os que desejavam radicalizar a posição nacionalista.
Após a crise, o ISEB reformulou suas atividades, ampliando os seus cursos, até então dirigido a alunos indicados pelo serviço público, a exemplo do que já fizera a Fundação Getúlio Vargas. A meta agora era atingir um público maior.Nesse sentido, passou a oferecer cursos regulares a militares, estudantes, sindicalistas, empresários, parlamentares, artistas, profissionais liberais, etc. Produziu, também, pequenos livros, de linguagem accessível e didaticamente elaborados, dirigidos às camadas menos privilegiadas e às classes trabalhadoras, denominados Cadernos do Povo.
Por intermédio do sociólogo do ISEB, Carlos Estevão Martins, o Instituto construiu um canal com a UNE, atuando junto ao CPC – Centro Popular de Cultura, criado em 1961, que reuniu artistas de diversas áreas, objetivando a construção de uma cultura popular e democrática. Segundo o seu criador e primeiro diretor, Carlos Estevão, o CPC nasceu inspirado no grupo paulista do Teatro de Arena que também atuou no Rio de Janeiro. Seguiu-se uma temporada de apresentações de peças políticas, elaboradas com humor e que fizeram muito sucesso: Eles não usam black tie, de Gianfrancesco Guarnieri, que mais tarde virou filme com Fernanda Montenegro; Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vianna Filho; A mais-valia vai acabar, seu Edgard, de Oduvaldo Vianna Filho e Francisco de Assis, musicado por Carlos Lyra, que analisava didaticamente o conceito ideológico da teoria marxista. Durante um ano, de 1961 a 1962, o CPC, juntamente com o ISEB, produziu dezenas de peças, com a colaboração de muitos artistas, poetas, escritores, atrizes e atores, encenadas nos diversos teatros cariocas e também nos locais de trabalho, além da organização de feiras de livros com shows musicais. Selando a parceria ISEB e UNE, as edições dos Cadernos Brasileiros e a História Nova de um dos artífices do ISEB, Nelson Werneck Sodré.
A lembrança que guardo dos meus professores no ISEB são todas muito ricas. O convívio com aquelas inteligências era muito gratificante. Entretanto, recordo que as mais marcantes foram as presenças dos professores Cândido Mendes de Almeida e Nelson Werneck Sodré. O primeiro pela impressão avassaladora que causavam a sua exuberância e a sua erudição, expressas nas aulas ininteligíveis para nós, ainda graduandos. Ficávamos ali como a massa ficava em Roma ouvindo Cícero: não entendia nada, mas permanecia siderada, embalada pela musicalidade do discurso.
O segundo era uma figura simples de um general aparentemente tímido que lecionava História do Brasil, plenamente identificado com o materialismo histórico. Estatura mediana, cabelos, olhos e farto bigode escuros, ministrava suas aulas, de pé, cuja característica era a seriedade. Passava tanta verdade e seriedade, que no auditório o silêncio era profundo. Impossível negar a importância que as sínteses interpretativas da história brasileira apresentadas por ele causavam nos corações e nas mentes de seus alunos. A popularidade do professor Nelson Werneck Sodré entre os estudantes de História e de Ciências Sociais foi típica dos meados dos anos 50 e 60. Seus livros eram leituras obrigatórias. Fiel às suas ideias e ao socialismo, defendeu sempre as suas posições, o marxismo, o ISEB, suas obras, até a sua morte em 1999.
Em entrevista que deu, em maio de 1988, Nelson Werneck Sodré, talvez último historiador marxista ortodoxo, analisou, dentre outras coisas, a atuação do ISEB, afirmando que, no ano de 1964, o Instituto já não desfrutava do prestígio dos anos anteriores. Para ele, a esquerdização tinha levado a instituição ao isolamento
Nos primeiros dias de abril de 1964, o ISEB e a UNE foram destruídos pelo golpe militar que depôs o presidente João Goulart no dia 31 de março. A biblioteca e o arquivo do ISEB foram queimados. A sua sede na Rua das Palmeiras 55, foi abandonada, para tempos depois, sediar o Museu do Indio que veio transferido do Maracanã.
Repetindo as palavras do professor Caio Navarro de Toledo, da UNICAMP, que, em artigo publicado na Folha de São Paulo, analisou as metas isebianas: " O ISEB foi, no Brasil contemporâneo, a instituição cultural que melhor simbolizou ou que melhor concretizou o ideal do engajamento do intelectual na vida pública e social do país".
Se a produção dos intelectuais que compuseram o ISEB é vasta, a produção teórica, os estudos monográficos sobre o ISEB ainda são relativamente pequenos. E os estudos produzidos no exterior não foram traduzidos e publicados no Brasil.
No entanto, conseguimos levantar uma bibliografia geral sobre o assunto que disponibilizamos e se encontra na secretaria do IHGRJ.
Desejei passar impressões muito pessoais sobre a instituição e o professor general que ajudaram a me formar.

Artigo publicado no livro História e Geografia Fluminense. Rio de Janeiro: IHGRJ, 2008, p. 457-462.
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Fabrício Augusto Souza Gomes

E-mail: fabricio.gomes@gmail.com




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Atividade nos últimos dias:
    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

                                                                                                    Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
 
Visite o Blog do nosso Grupo:http://www.grupohistoriadobrasil.blogspot.com

** Lançamento do Livro: PARLAMENTO BRASILEIRO E POLÍTICA EXTERIOR NA REPÚBLICA

 
Lançamento do Livro: PARLAMENTO BRASILEIRO E POLÍTICA EXTERIOR NA REPÚBLICA (1889-1930) Autora: Regina da Cunha Rocha
Dia 12 de maio de 2011 às 17h
Local: Espaço do Servidor - Espaço Cultural Zumbi de Palmares - Câmara dos Deputados - Brasília - DF

Regina da Cunha Rocha é doutora em Relações Internacionais e mestra em História pela UnB, bacharela em Direito pelo Uniceub e em Relações Internacionais pela UnB. Na Câmara dos Deputados, atua como analista legislativo, e também como professora do CEFOR na área de História. Dedica-se ao estudo da Historia das relações internacionais e História politica.

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** Privilégios e intolerância

 

Resultado de pesquisa feita na USP, livro que será lançado no dia 10 de maio mostra como imigrantes portugueses, entre 1822 e 1945, eram beneficiados pela lei brasileira, mas sofriam com violentas perseguições (Foto: Arquivo pessoal de José S.R. Mendes)


URL: agencia.fapesp.br/13842
 

Privilégios e intolerância

09/05/2011
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Por mais de um século após a Independência do Brasil, os imigrantes portugueses viveram uma condição singular no país. Por um lado, eram institucionalmente beneficiados, já que a legislação brasileira sempre lhes concedeu privilégios políticos, diplomáticos e jurídicos. Por outro lado, foram vítimas de perseguições violentas motivadas por um forte sentimento antilusitano.
Essas são algumas das conclusões do livro Laços de Sangue – Privilégios e Intolerância à Imigração Portuguesa no Brasil (1822-1945), de José Sacchetta Ramos Mendes, professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que será lançado no dia 10 de maio.
A obra é resultado da pesquisa de doutorado concluída por Mendes em 2007, com Bolsa da FAPESP de Doutorado Direto. O estudo foi realizado no Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), sob orientação da professora Maria Luiza Tucci Carneiro.
No ano seguinte, o doutorado de Mendes foi eleito o melhor trabalho acadêmico de 2007 pela Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP) e pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), recebendo o Prêmio Fernão Mendes Pinto.
Formado na Faculdade de Direito (FD) da USP, Mendes foi jornalista por 12 anos, atuando no jornal Folha de S. Paulo e na revista Veja, antes de seu doutorado em História Social, concluído em 2007. De 2009 a 2010, fez um pós-doutorado, com Bolsa da FAPESP, no Departamento de Filosofia e Teoria do Direito da Faculdade de Direito da USP.
De acordo com Mendes, a pesquisa teve início nos arquivos do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Columbia, em Nova York (Estados Unidos), onde atuou como pesquisador visitante. Posteriormente, dedicou-se a estudar as leis brasileiras entre 1822 e 1945 e a analisar a correspondência diplomática do Itamaraty durante aquele período. Na etapa final, conseguiu também auxílio do Instituto Camões, em Lisboa, para realizar pesquisas no Arquivo Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros e no Arquivo da Torre do Tombo.
Segundo ele, o campo de estudos imigratórios no Brasil tem foco principal nos italianos, japoneses, alemães e judeus. Curiosamente, a história do imigrante português nunca foi contada. Por outro lado, suas pesquisas mostraram que, pelo menos desde a Independência, os portugueses eram tratados institucionalmente de maneira diferenciada em relação aos outros estrangeiros.
"Como venho do campo do Direito, tinha em mente as inúmeras leis brasileiras que mencionam expressamente os portugueses – essa etnicidade da legislação é algo inusitado, que não acontece com nenhuma outra nacionalidade no Brasil", disse à Agência FAPESP.
Mendes conta que ainda hoje a Constituição brasileira trata os portugueses de maneira diferenciada. Qualquer cidadão estrangeiro pode solicitar a naturalização depois de 15 anos ininterruptos de residência no Brasil. No caso dos portugueses e de outros povos lusófonos, um ano de residência comprovada já é o bastante para a naturalização.
"Essa característica vem desde a Constituição de 1946, mas desde a primeira Constituição do país, em 1824, já havia diversas menções expressas aos portugueses", afirmou. Fontes brasileiras e portuguesas apontam que, entre 1822 e 1950, cerca de 1,9 milhão de portugueses imigraram para o Brasil.
"Na Assembleia Constituinte de 1823, os portugueses já não eram considerados estrangeiros. Qualquer pessoa nascida em Portugal que morasse no Brasil era considerada brasileira caso concordasse com a Independência", afirmou.
Intolerância e ataques
Se os portugueses eram considerados "quase brasileiros" para a legislação, por outro lado representaram por muitos anos a própria encarnação da condição de estrangeiros.
"Durante um longo tempo havia pouca imigração de outras nacionalidades para o Brasil. O português era o estrangeiro por excelência. Por outro lado, era um estrangeiro que falava a mesma língua, tinha a mesma religião, era fisicamente familiar e tinha costumes parecidos", disse.
Durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945), segundo Mendes, foram criadas várias restrições à entrada de estrangeiros no Brasil. Mas os portugueses continuaram a ser beneficiados.
"A Constituição de 1934 limitou as cotas de entrada para estrangeiros de todas as nacionalidades. Em 1938, essa Lei foi suspensa apenas para portugueses. Entre 1939 e 1945, com a Segunda Guerra Mundial, Vargas comunicou aos serviços diplomáticos do exterior que os portugueses poderiam entrar no Brasil, embora impedisse a entrada de judeus, por exemplo", disse.
Apesar de toda a familiaridade e dos privilégios da lei, segundo a pesquisa de Mendes, o português seguia sendo um estrangeiro e era identificado com o processo de colonização. Com isso, a intolerância irrompia frequentemente.
"Há inúmeros episódios de ataques contra portugueses em todas as províncias. Seria natural que a intolerância ocorresse durante o processo de independência, mas os ataques, embora não de forma contínua, seguiram ocorrendo pelo menos até o fim da década de 1920", disse.
Os ataques tomavam várias formas e o antilusitanismo se refletia até no campo da cultura e da arte, segundo Mendes. O movimento modernista, na década de 1920, por exemplo, refutava a presença portuguesa.
"Mas, algumas vezes, os ataques tomavam uma dimensão realmente violenta. No fim do século 19, por exemplo, houve na província do Mato Grosso uma chacina articulada simultaneamente em uma série de vilas e cidades. Em uma única noite, centenas de portugueses foram assassinados. A documentação sobre esses ataques foi destruída deliberadamente e só conhecemos esses fatos a partir dos relatos de terceiros", disse.
As manifestações antilusitanas vinham de diversas frentes, muitas vezes por motivações contraditórias. "Muitos portugueses tinham participação no movimento operário e no anarquismo sindical. Outros eram proprietários de imóveis e pensões. Nos dois casos motivavam a intolerância por razões completamente diferentes", explicou.
Um dos fatores que levaram à pesquisa foi a ausência de fontes e dados confiáveis a respeito da imigração portuguesa. No entanto, o campo de pesquisas sobre imigração portuguesa, segundo Mendes, vem crescendo, em especial na USP e em instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Universidade Federal Fluminense.
"Antes, a maior parte dos trabalhos existentes eram os textos de memorialistas. Na minha pesquisa procurei fugir dessa perspectiva e buscar o rigor científico na pesquisa sobre a imigração portuguesa, como estão fazendo agora os pesquisadores desses centros de São Paulo e do Rio de Janeiro", disse.
  • Laços de Sangue – Privilégios e Intolerância à Imigração Portuguesa no Brasil (1822-1945)
    Autor: José Sacchetta Ramos Mendes
    Lançamento: 2011
    Preço: R$ 64
    Páginas: 384
    Mais informações: www.edusp.com.br
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** A Geração ISEB

 

A Geração ISEB



Fonte: ITU.COM.BR Publicado: Segunda-feira, 9 de maio de 2011 por Deborah Dubner


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Este artigo foi publicado no livro História e Geografia Fluminense
Por Neusa Fernandes, Pós-doutora, historiadora e museóloga
O Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB- foi um centro de estudos criado pelo Decreto n. 37.608, de 14 de julho 1955, ainda no Governo de Café Filho, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. Foi inspirado em um projeto do professor Alberto Torres, do início do século, na época dos grandes diagnósticos do Brasil, e esboçado pelo Grupo Itatiaia, que reunia intelectuais do Estado do Rio de Janeiro e de São Paulo, defensores de um nacionalismo menos radical que o nele defendido. O Grupo Itatiaia era liderado pelo professor Hélio Jaguaribe que articulou uma instituição denominada Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (IBESP). Esta instituição foi responsável pela edição da Revista Cadernos de Nosso Tempo (1953 a 1956) e que viria a se constituir no núcleo do futuro ISEB.
O ISEB iniciou suas atividades quando Juscelino Kubitschek assumiu a presidência da República. Com plena liberdade de cátedra, caracterizou-se por promover o debate sobre os problemas nacionais.Constantes na pauta das discussões promovidas pelos intelectuais do Instituto estavam a filosofia, a história, a economia, a sociologia, a política e a cultura. O principal objetivo da instituição era servir de instrumento para o desenvolvimento de uma ação política na conjuntura econômica e social brasileira dos anos 50, formando quadros para o Estado e para a sociedade brasileira. Para tanto, apresentava-se como um órgão de vanguarda do pensamento desenvolvimentista , reunindo os mais conceituados intelectuais da esquerda, da direita ou do centro. Conviviam no ISEB liberais, socialistas, marxistas, democratas, nacionalistas e antinacionalistas, defensores do capital estrangeiro, como o economista Roberto Campos, enfim nomes como: Ignácio Rangel, Miguel Reale, Sérgio Buarque de Holanda, Hélio Jaguaribe, Guerreiro Ramos, Cândido Mendes de Almeida, Cândido Motta Filho, Josué de Castro, Álvaro Vieira Pinto e Nelson Werneck Sodré, sob a direção do filósofo paulista Roland Cavalcanti de Albuquerque Corbisier.
Era o ISEB constituído de cinco departamentos: o de filosofia, chefiado pelo professor Álvaro Vieira Pinto; o de História, chefiado pelo professor Cândido Mendes, com coordenação no curso de História Brasileira do pensador marxista e militar Nelson Werneck Sodré; o de Sociologia, chefiado pelo sociólogo Alberto Guerreiro Ramos; o de Ciência Política, chefiado por Hélio Jaguaribe; o de Economia com Evaldo Correia Lima, cujo mais destacado colaborador foi Ignácio Rangel.
Apesar das diferentes convicções filosóficas, pode-se detectar que o nacionalismo e o desenvolvimentismo estavam no centro das metas isebianas. Esses pensadores acreditavam que poderiam formular um projeto ideológico comum para o País.
Afinados com a política desenvolvimentista de JK, os intelectuais do ISEB receberam apoio do presidente que, em declarações públicas, prestigiou a instituição, definindo-a, como um centro de estudos e pesquisas, que se diferenciava dos demais órgãos universitários por estar voltado para o estudo dos problemas brasileiros.. Entretanto, JK criou o Conselho de Desenvolvimento exatamente com essa tarefa e a ele não pertencia nenhum membro do ISEB.
O ISEB, além da publicação de livros e da realização de seminários de estudos e da promoção de pesquisas, oferecia cursos e outras atividades intelectuais.. Entre elas, empenho maior na organização dos debates políticos, cuja tônica era sempre o desenvolvimento nacional e a construção de uma ideologia do desenvolvimento, visando ao processo de transformação, à possibilidade de diminuir os abismos sociais, quando o estágio de uma sociedade industrialmente desenvolvida fosse atingido.
Ao longo de sua existência, podemos distinguir dois momentos na vida do Instituto. O primeiro (1955-1959) foi o da criação, que coincidiu com o período desenvolvimentista do governo JK. Nessa fase, o grupo de intelectuais aderiu à candidatura JK.
Vale lembrar que na década de 50, a ideologia do desenvolvimento nacional era o idioma político alavancado pelo presidente "bossa nova", que deu a grande virada do capitalismo brasileiro, construindo a nova capital, favorecendo a entrada de tecnologia e capital estrangeiro, correndo à sombra do desejo da nação em superar o seu atraso.
O segundo e último momento do ISEB foi a fase que criticou as teses desenvolvimentistas. Decorridos cinco anos do governo, a realidade indicava que o país crescera economicamente, com a consolidação do capitalismo industrial, mas não tinha resolvido seus problemas sociais e as desigualdades tinham aumentado. Nessa fase houve uma maior politização e homogeinização ideológica do instituto norteado pelos filósofos Vieira Pinto e Roland Corbisier e pelo historiador Nelson Werneck Sodré, que privilegiavam as mudanças sociais, econômicas e as reformas de base defendidas pelo governo João Goulart, acompanhando a radicalização do país. Esses três intelectuais foram as referências dessa segunda fase..
O ISEB assumiu uma posição mais agressiva na crítica dos lucros das empresas estrangeiras, da remessa de lucros, da distribuição de renda e da transformação da estrutura agrária. A harmonia de idéias sofreu fissuras no ano de 1958, uma crise que provocou uma cisão, nas palavras de Nelson Werneck Sodré, " inoportuna, inadequada, sectária". De um lado, estavam os que defendiam maior participação do capital estrangeiro, isto é, apoio à plataforma do governo. De outro lado, ao contrário, os que desejavam radicalizar a posição nacionalista.
Após a crise, o ISEB reformulou suas atividades, ampliando os seus cursos, até então dirigido a alunos indicados pelo serviço público, a exemplo do que já fizera a Fundação Getúlio Vargas. A meta agora era atingir um público maior.Nesse sentido, passou a oferecer cursos regulares a militares, estudantes, sindicalistas, empresários, parlamentares, artistas, profissionais liberais, etc. Produziu, também, pequenos livros, de linguagem accessível e didaticamente elaborados, dirigidos às camadas menos privilegiadas e às classes trabalhadoras, denominados Cadernos do Povo.
Por intermédio do sociólogo do ISEB, Carlos Estevão Martins, o Instituto construiu um canal com a UNE, atuando junto ao CPC – Centro Popular de Cultura, criado em 1961, que reuniu artistas de diversas áreas, objetivando a construção de uma cultura popular e democrática. Segundo o seu criador e primeiro diretor, Carlos Estevão, o CPC nasceu inspirado no grupo paulista do Teatro de Arena que também atuou no Rio de Janeiro. Seguiu-se uma temporada de apresentações de peças políticas, elaboradas com humor e que fizeram muito sucesso: Eles não usam black tie, de Gianfrancesco Guarnieri, que mais tarde virou filme com Fernanda Montenegro; Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vianna Filho; A mais-valia vai acabar, seu Edgard, de Oduvaldo Vianna Filho e Francisco de Assis, musicado por Carlos Lyra, que analisava didaticamente o conceito ideológico da teoria marxista. Durante um ano, de 1961 a 1962, o CPC, juntamente com o ISEB, produziu dezenas de peças, com a colaboração de muitos artistas, poetas, escritores, atrizes e atores, encenadas nos diversos teatros cariocas e também nos locais de trabalho, além da organização de feiras de livros com shows musicais. Selando a parceria ISEB e UNE, as edições dos Cadernos Brasileiros e a História Nova de um dos artífices do ISEB, Nelson Werneck Sodré.
A lembrança que guardo dos meus professores no ISEB são todas muito ricas. O convívio com aquelas inteligências era muito gratificante. Entretanto, recordo que as mais marcantes foram as presenças dos professores Cândido Mendes de Almeida e Nelson Werneck Sodré. O primeiro pela impressão avassaladora que causavam a sua exuberância e a sua erudição, expressas nas aulas ininteligíveis para nós, ainda graduandos. Ficávamos ali como a massa ficava em Roma ouvindo Cícero: não entendia nada, mas permanecia siderada, embalada pela musicalidade do discurso.
O segundo era uma figura simples de um general aparentemente tímido que lecionava História do Brasil, plenamente identificado com o materialismo histórico. Estatura mediana, cabelos, olhos e farto bigode escuros, ministrava suas aulas, de pé, cuja característica era a seriedade. Passava tanta verdade e seriedade, que no auditório o silêncio era profundo. Impossível negar a importância que as sínteses interpretativas da história brasileira apresentadas por ele causavam nos corações e nas mentes de seus alunos. A popularidade do professor Nelson Werneck Sodré entre os estudantes de História e de Ciências Sociais foi típica dos meados dos anos 50 e 60. Seus livros eram leituras obrigatórias. Fiel às suas ideias e ao socialismo, defendeu sempre as suas posições, o marxismo, o ISEB, suas obras, até a sua morte em 1999.
Em entrevista que deu, em maio de 1988, Nelson Werneck Sodré, talvez último historiador marxista ortodoxo, analisou, dentre outras coisas, a atuação do ISEB, afirmando que, no ano de 1964, o Instituto já não desfrutava do prestígio dos anos anteriores. Para ele, a esquerdização tinha levado a instituição ao isolamento
Nos primeiros dias de abril de 1964, o ISEB e a UNE foram destruídos pelo golpe militar que depôs o presidente João Goulart no dia 31 de março. A biblioteca e o arquivo do ISEB foram queimados. A sua sede na Rua das Palmeiras 55, foi abandonada, para tempos depois, sediar o Museu do Indio que veio transferido do Maracanã.
Repetindo as palavras do professor Caio Navarro de Toledo, da UNICAMP, que, em artigo publicado na Folha de São Paulo, analisou as metas isebianas: " O ISEB foi, no Brasil contemporâneo, a instituição cultural que melhor simbolizou ou que melhor concretizou o ideal do engajamento do intelectual na vida pública e social do país".
Se a produção dos intelectuais que compuseram o ISEB é vasta, a produção teórica, os estudos monográficos sobre o ISEB ainda são relativamente pequenos. E os estudos produzidos no exterior não foram traduzidos e publicados no Brasil.
No entanto, conseguimos levantar uma bibliografia geral sobre o assunto que disponibilizamos e se encontra na secretaria do IHGRJ.
Desejei passar impressões muito pessoais sobre a instituição e o professor general que ajudaram a me formar.

Artigo publicado no livro História e Geografia Fluminense. Rio de Janeiro: IHGRJ, 2008, p. 457-462. 


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** Conferência "A ordem republicana na América Hispânica"

 
Caros colegas,
O Programa de Pós Graduação em História Social da Cultura da PUC-Rio está
promovendo a realização da conferência "A ordem republicana na América
Hispânica" que será proferida pelo Prof. Alfredo Ávila, nesta sexta-feira
dia 13 de maio, às 11h na sala 502F, na PUC-Rio. O Prof. Alfredo Ávila é
pesquisador do Instituto de Investigaciones Históricas e professor da
Facultad de Filosofia y Letras de la Universidad Nacional Autónoma de
México. É autor de vários livros e artigos sobre o tema do republicanismo
e da nação na América Hispânica e em especial no México. Gostaria de
solicitar a divulgação entre os alunos e professores do seu Programa deste
evento. Agradeço desde já sua atenção e ajuda.
um abraço,
Maria Elisa Noronha de Sá Mader
Coordenadora do Programa de Pós Graduação em História Social da Cultura da
PUC-Rio

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Programa de Pós-Graduação em História/PPGH - CCH
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO
Av. Pasteur, 458, Urca
22290-240
tel: 21-25421578
poshistoria@unirio.br

--

____________________________


Fabrício Augusto Souza Gomes


__._,_.___
Atividade nos últimos dias:
    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

                                                                                                    Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
 
Visite o Blog do nosso Grupo:http://www.grupohistoriadobrasil.blogspot.com

** Simpósio Ouro Preto 300 Anos

 








Favor divulgar o link desse simpósio entre nossos colegas (professores/alunos).


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Fabrício Augusto Souza Gomes





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