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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

** Estudo revela espionagem norte-americana no Brasil

Estudo revela espionagem norte-americana no Brasil
Documento da Embaixada Americana com informações sobre o Brasil
 
A análise de cerca de 9 mil documentos do Departamento de Estado norte-americano permitiu ao professor Eduardo José Afonso encontrar provas da presença de lideranças sindicais norte-americanas no Brasil junto às lideranças locais, durante o segundo mandato de Getúlio Vargas. Eram os adidos trabalhistas, que foram enviados ao Brasil para descentralizar o operariado das mãos do governo da época. Em pesquisa de doutorado realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Afonso analisou a ação dos adidos trabalhistas norte-americanos e ingleses no Brasil, entre 1943 e 1952. “A vinda dessas lideranças foi uma tentativa de “fazer a cabeça” dos brasileiros para a busca da desvinculação de sua atuação do Estado”, afirma.
O pesquisador descreve os adidos trabalhistas como pessoas que não pertencem ao quadro diplomático de determinado país, mas servem junto à estes órgãos representando interesses específicos, como o adido militar e o adido cultural, por exemplo. Quando Roosevelt assumiu a presidência dos Estados Unidos, em 1933, colocou os adidos trabalhistas para se inteirarem da movimentação sindical ao redor do mundo, que tinha fios ideológicos ligados a esquerda proposta pelos soviéticos. “Mesmo sabendo da contraposição que ia sofrer, Vargas não pôde se indispor à presença dos grupos, pois estes se apresentavam oficialmente como membros da embaixada norte-americana no Brasil”, revela Afonso. Segundo o professor, as lideranças norte-americanas queriam criar uma grande central sindical mundial, a qual comandariam.

Foram analisados cerca de 9 mil documentos do governo americano
Atenção redobrada
 
No segundo mandato de Vargas, a atenção dos adidos trabalhistas no Brasil foi redobrada, pois o Departamento de Estado sabia que sua liderança ia de encontro com o desejado pelos EUA para o Brasil, bem como para a América Latina toda. Os documentos comprovam que, logo após o final da Segunda Guerra, eles mudam de tom e voltam a ver todo o resto do continente americano como um fornecedor de matérias-primas e uma possibilidade para expansão de mercado. Ainda assim, Afonso diz não ter encontrado nos documentos uma comprovação oficial de que os Estados Unidos articularam um boicote ao governo Vargas.
Segundo Afonso, o programa dos adidos trabalhistas foi criado depois da Crise de 1929 para que o Departamento de Estado tivesse um maior controle sobre a situação de suas empresas no exterior. “O Departamento de Estado é um braço do modelo econômico”, diz. À época, as motivações para as ações se davam para impedir a organização do corpo de funcionários de empresas norte-americanas ao redor do mundo, que possivelmente atuariam em greves, passeatas e ações contra seus empregadores.
A ideia para a pesquisa surgiu durante a elaboração de seu mestrado, sobre a presença do partido comunista na Assembleia Legistativa de São Paulo, quando encontrou documentos norte-americanos secretos que apresentavam um pretendido controle sobre o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Eles eram camuflados por interesses dos Estados Unidos no Brasil no período da Segunda Guerra e no pós-guerra. Naquela ocasião, o movimento sindical ao redor do mundo era preocupante, pois recebia o apoio da União Soviética. Além de o Brasil ser um mercado em expansão e cabia aos EUA garantir que suas empresas dominassem o parque industrial que viria em seguida.
Período nos EUA
Foram cinco meses nos Estados Unidos analisando documentos antes arquivados como secretos ou de circulação restrita. O selo “TOP SECRET” sobre as caixas que guardavam os documentos tinha sido riscado e sobre ele posto um novo selo “Desclassified”, ou seja, o Estado não julgava mais aquilo como secreto, apenas como uma parte da política externa do passado do país. O acesso aos documentos é irrestrito, inclusive para estrangeiros. Contudo, as perguntas sobre o desenrolar da pesquisa foram muitas e minuciosas.
Afonso diz ter se surpreendido com os dados encontrados em sua pesquisa por se deparar com uma enorme logística voltada para a espionagem e tentativa de doutrinação. A abertura e análise de documentos antes secretos facilita a compreensão de uma época marcada e movida por divergências entre potências de ideologias antagônicas, além de tirar do campo das hipóteses a noção de que os Estados Unidos tinham, deveras, um controle sobre tudo o que estava dentro do seu campo de interesse nas relações exteriores.
Mais informações: email tchorla@gmail.com

** História singular


Estudando trajetória da atriz Eliane Lage, mito do cinema na década de 1950, pesquisadora da Unicamp levanta documentação inédita sobre história da Companhia Vera Cruz. Resultado está em livro
 

História singular

31/08/2011
Por Fábio de Castro
Fonte: Agência FAPESP – Uma pesquisa sobre a trajetória singular da atriz franco-brasileira Eliane Lage – mito do cinema brasileiro na década de 1950 – acabou revelando perspectivas inéditas a respeito da história da Companhia Cinematográfica Vera Cruz.
O estúdio, inaugurado em 1949, representou uma controversa tentativa de industrialização do cinema paulista e marcou época em seus meteóricos quatro anos de existência.
O resultado do trabalho, realizado pela historiadora e documentarista Ana Carolina de Moura Delfim Maciel, pode ser conferido no livro Yes nós temos bananas – Cinema industrial paulista: a Companhia cinematográfica Vera Cruz, atrizes de cinema e Eliane Lage, que será lançado no dia 26 de setembro, em São Paulo. A obra teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações. Maciel co-dirigiu o documentário Eliane (2002) com o cineasta Caco Souza, sobre a atriz.
O lançamento contará com a presença da própria Eliane Lage, que completou 83 anos em julho. Comparada a estrelas como Greta Garbo e Ingrid Bergman, Lage nunca desejou ser atriz e abandonou a carreira artística após seu quinto filme, Ravina, ainda em 1958, no auge da beleza física. Avessa a entrevistas, ela vive no interior do Goiás.
De acordo com Maciel, que atualmente realiza pós-doutorado com Bolsa da FAPESP, o livro tem três temas principais: o cinema industrial pioneiro da Vera Cruz, as atrizes do cinema brasileiro e mundial na década de 1950 e a trajetória de Lage.
“Meu foco principal no estudo era o itinerário de Eliane Lage. Mas sua história como atriz estava estreitamente ligada à Vera Cruz e precisei me aprofundar na história da companhia muito mais do que poderia imaginar”, disse à Agência FAPESP.
Segundo Maciel, ao mergulhar na história da Vera Cruz, ela se deparou com uma documentação inédita que permitiu estabelecer novas interpretações sobre o significado dessa ousada proposta de cinema industrial paulista. Segundo ela, os estúdios fundados pelo produtor Franco Zampari e pelo industrial Ciccillo Matarazzo, foram vistos durante muito tempo como “uma aventura irresponsável e amadora de grã-finos”.
“Durante muito tempo eles foram atacados impiedosamente, especialmente por Glauber Rocha na década de 1960. O legado da Vera Cruz, no entanto, nunca foi pensado com o respeito merecido. Afinal, eles conseguiram iniciar uma produção que, imaginava-se, seria o início do cinema industrial brasileiro – que não existe até hoje”,
Os estúdios chegaram a produzir 18 longas metragens em apenas quatro anos de existência. Essa falência precoce intrigou a pesquisadora, que resolveu pesquisar em fontes primárias que permitissem compreender o fracasso da Vera Cruz.
“Fui atrás da documentação da própria companhia, incluindo seus registros contábeis, que permitiram compreender a dinâmica dos empréstimos os prejuízos. Procurei fazer a análise a partir de dados concretos. Além disso, colhi mais de 30 depoimentos de pessoas que haviam trabalhado nos estúdios e que ainda estavam vivas – técnicos, atores e atrizes”, disse Maciel.
A pesquisadora concluiu que não havia uma explicação única para a decadência da Vera Cruz. No entanto, foi possível concluir que as principais críticas feitas à iniciativa, classificando-a como uma aventura inconsequente, eram um julgamento tendencioso.
“Ao contrário do que se disse por muitos anos, eles sabiam muito bem o que estavam fazendo. Infelizmente muitos fatores levaram o empreendimento a não se sustentar financeiramente”, disse.
Os criadores da Vera Cruz, segundo Maciel, almejavam o mercado internacional. Prova idsso era seu slogan: “Do planalto abençoado para as terras do mundo”. Mas isso não aconteceu. Pesquisando na documentação da companhia, a historiadora descobriu que depois da falência da empresa, os filmes passaram a gerar lucros para estúdios norte-americanos.
“Os filmes da Vera Cruz eram distribuídos pela Columbia e pela Universal, que tinham enorme interesse no mercado brasileiro. Além do alto custo da construção dos estúdios, a companhia teve que lidar com os gastos de produção dos filmes, que demoravam a se pagar com a bilheteria. Depois da falência, porém, os filmes passaram a render para os estúdios norte-americanos em salas do exterior”, contou.
Estrelas do período
Segundo Maciel, a trajetória da Vera Cruz é coerente com um padrão típico do cinema brasileiro: a necessidade de recomeçar incessantemente. “O cinema brasileiro sempre foi feito de surtos. Enquanto nos Estados Unidos há uma continuidade na trajetória dos estúdios, mesmo quando a indústria passa por crises, o cinema brasileiro já foi fundado inúmeras vezes”, disse.
O livro apresenta ainda imagens inéditas de cenas de filmes e reproduções de documentos considerados importantes pela autora. “Não é fácil encontrara documentação sobre a Vera Cruz. A ideia é que o livro forneça uma referência para quem queira se aprofundar no tema”, disse a autora.
Em um segundo momento da obra, ela trata das estrelas de cinema que apareceram durante o período. “É impressionante constatar que o Brasil tentou estabelecer um sistema de grandes estrelas do qual não restou quase nenhum vestígio. Folheando as revistas da época, ficamos espantados ao perceber que não temos ideia de quem seja 95% das atrizes que aparecem. Nesse sentido também encaramos a ausência de continuidade”, disse.
De acordo com Maciel, Eliane Lage, importantíssima nesse contexto, jamais desejou ser atriz. Avessa aos holofotes, havia realizado trabalhos sociais na favela Dona Marta, no Rio de Janeiro e voltava de uma experiência na Europa, onde trabalhou com crianças carentes, quando teve seu destino transformado em um almoço na casa de Matarazzo e Yolanda Penteado. Ali, conheceu o diretor argentino Tom Payne, com quem se casaria em 1951.
“Payne a convidou para um teste para o filme Caiçara, o primeiro da Vera Cruz. Mas ela sempre alegou que se tornou uma estrela por acaso. Essa tinha uma postura de negação do cinema me chamou a atenção. Era uma pessoa muito ligada à terra, que morava em um sítio sem luz elétrica e estava completamente fora dos padrões do meio artístico. Sua carreira triunfal, iniciada já como protagonista de um filme, era inteiramente incomum”, afirmou.
Eliane Lage fez quatro filmes pela Vera Cruz: Caiçara (1950), dirigido por Adolfo Celi, e Ângela (1951), Terra é sempre terra (1952) e Sinhá Moça (1953), todos com direção de Tom Payne, marido da atriz. Depois de alguns anos, a atriz estrelou Ravina (1958), dirigido por Rubem Biáfora, quando a Companhia Vera Cruz já havia falido.
  • Yes nós temos bananas – Cinema industrial paulista: a Companhia cinematográfica Vera Cruz, atrizes de cinema e Eliane Lage
    Autor: Ana Carolina de Moura Delfim Maciel
    Lançamento: 2011
    Preço: R$ 72
    Páginas: 376
    Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br

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** Entidades da Umbanda refletem história cultural brasileira

 


Entidades da Umbanda refletem história cultural brasileira

Médiuns durante ritual no Terreiro 
de Umbanda Pai José do Rosário

A história cultural brasileira pode ser aprendida e apreendida não apenas em livros de História, mas também em Terreiros de Umbanda espalhados por todo o País. Essa afirmação é um reflexo de estudos sobre a Umbanda realizados no Laboratório de Etnopsicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, que é coordenado pelo professor José F. Miguel H. Bairrão. “A religião é  concebida dentro do caldeirão cultural brasileiro congregando elementos do espiritismo, catolicismo, tradições indígenas e das religiões de origem africana”, descreve o pesquisador Rafael de Nuzzi Dias.
No estudo denominado Correntes ancestrais: os pretos-velhos do Rosário, Rafael reforça a ideia da antropóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC), Maria Helena Villas-Boas Concone, de que a Umbanda é formada por personagens retirados da experiência histórica e da memória coletiva brasileira. Como, por exemplo, o preto-velho e o caboclo.
“O preto-velho umbandista é associado aos escravos do Brasil pré-colonial e apresenta-se como ancestral afro-brasileiro, assim como o caboclo está relacionado com os indígenas e os baianos com os migrantes nordestinos”, afirma o pesquisador. “Essas entidades rememoram a cultura e a história (afro) brasileira por intermédio de alguns de seus personagens mais marcantes”, ressalta.
Universo Simbólico dos Pretos-Velhos
O estudo de Rafael Dias debruça-se especificamente sobre o preto-velho, entidade espiritual construída a partir da referência simbólica dos negros, ancestrais afro-brasileiros, trazidos da África para serem escravizados em terras brasileiras.
Em suma, são entidades que remetem à ascendência africana de grande parte do povo brasileiro, e que uma vez “abrasileiradas” trazem em seus ritos e performances a marca de uma forte herança católica. “O preto-velho é a entidade espiritual da umbanda que mais herdou e carrega elementos católicos, como a cruz, o rosário, os terços e suas orações”, afirma Dias.
Segundo o pesquisador, a influência católica é tão presente sobre os pretos-velhos, que eles, muitas vezes, se revelam como uma espécie de metáfora afro-brasileira do próprio Jesus Cristo, bastião do catolicismo. “Todos eles trazem uma marca de sofrimento ou de sacrifício e deixam a seus devotos a mensagem de que é possível elevar-se espiritualmente a partir do sofrimento, coerentemente com a lógica cristã”.
Para Dias, essa memória coletiva do período escravocrata brasileiro, presente nas marcas, narrativas e performances dos pretos-velhos, funciona como recurso simbólico para a resolução de conflitos subjetivos (individuais e coletivos) dos fiéis que os incorporam ou que com eles se consultam. “Os pretos-velhos agem na conciliação do homem com seu próprio inconsciente. Integrando marcas de filiação e pertencimento contidas na tradição e na cultura. Com isso, eles convocam a pessoa a assumir seus direitos e deveres enquanto elo de uma corrente ancestral”, afirma.
De acordo com o autor, isso é possível porque os conflitos e tensões psicológicas das pessoas são, em última instância, de natureza social e histórica, ou seja, também são permeadas pela cultura e pela tradição de seu povo.
Método
Para validar suas conclusões, a pesquisa de campo foi desenvolvida em quatro terreiros de umbanda da região de Ribeirão Preto, São Paulo, todos distintos e independentes entre si. Dentre os quatro terreiros, o Terreiro de Umbanda Pai José do Rosário — onde houve um trabalho de imersão de três anos — foi escolhido como caso-modelo para a apresentação dos resultados do estudo.
A obtenção dos dados se deu por meio de entrevistas semiabertas e da escuta participante, uma união dos métodos e instrumentos da observação participante, da antropologia, com a escuta psicanalítica lacaniana. “Num certo sentido, o objetivo do estudo foi aplicar, de forma não reducionista, os potencias práticos das ferramentas da clínica analítica nos terreiros. Como exemplo dessas ferramentas estão a transferência e a atenção ao sujeito do inconsciente, no contexto da Umbanda. Ou seja, em um contexto de um fenômeno social”, explica Dias.
Mais informações: email rafaelndias@hotmail.com







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