Este espaço é reservado para troca de textos e informações sobre a História do Brasil em nível acadêmico.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Novo site da Anpuh-Rio

ANPUH-RJ - Associação Nacional de História - Seção Rio de Janeiro
Prezados(as), 

O novo site da Anpuh-Rio está no ar: www.rj.anpuh.org
Aguardamos a visita de todos!

Atenciosamente.
Diretoria da Anpuh-Rio
Biênio 2014-2016





ANPUH-RJ - Associação Nacional de História - Seção Rio de Janeiro
http://www.rj.anpuh.org/



__._,_._

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    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

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terça-feira, 12 de maio de 2015

Ora pois, uma língua bem brasileira

Análise de textos antigos e de entrevistas expõe as marcas próprias do idioma no país, o alcance do R caipira e os lugares que preservam modos antigos de falar (O Violeiro, de Alme

12 de maio de 2015

Fonte: Carlos Fioravanti | Revista Pesquisa FAPESP – A possibilidade de ser simples, dispensar elementos gramaticais teoricamente essenciais e responder “sim, comprei”, quando alguém pergunta “você comprou o carro?”, é uma das características que conferem flexibilidade e identidade ao português brasileiro.
A análise de documentos antigos e de entrevistas de campo ao longo dos últimos 30 anos está mostrando que o português brasileiro já pode ser considerado único, diferente do português europeu, do mesmo modo que o inglês americano é distinto do inglês britânico.
O português brasileiro ainda não é, porém, uma língua autônoma: talvez seja – na previsão de especialistas, em cerca de 200 anos – quando acumular peculiaridades que nos impeçam de entender inteiramente o que um nativo de Portugal diz.
A expansão do português no Brasil, as variações regionais com suas possíveis explicações, que fazem o urubu de São Paulo ser chamado de corvo no Sul do país, e as raízes das inovações da linguagem estão emergindo por meio do trabalho de cerca de 200 linguistas.
De acordo com estudos da Universidade de São Paulo (USP), uma inovação do português brasileiro, por enquanto sem equivalente em Portugal, é o R caipira, às vezes tão intenso que parece valer por dois ou três, como em porrrta ou carrrne.
Associar o R caipira apenas ao interior paulista, porém, é uma imprecisão geográfica e histórica, embora o R desavergonhado tenha sido uma das marcas do estilo matuto do ator Amácio Mazzaropi em seus 32 filmes, produzidos de 1952 a 1980.
Seguindo as rotas dos bandeirantes paulistas em busca de ouro, os linguistas encontraram o R supostamente típico de São Paulo em cidades de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e oeste de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, formando um modo de falar similar ao português do século XVIII.
Quem tiver paciência e ouvido apurado poderá encontrar também na região central do Brasil – e em cidades do litoral – o S chiado, uma característica hoje típica do falar carioca que veio com os portugueses em 1808 e era um sinal de prestígio por representar o falar da Corte. Mesmo os portugueses não eram originais: os especialistas argumentam que o S chiado, que faz da esquina umashquina, veio dos nobres franceses, que os portugueses admiravam.
A história da língua portuguesa no Brasil está trazendo à tona as características preservadas do português, como a troca do L pelo R, resultando em pranta em vez de planta. Camões registrou essa troca em Os lusíadas – lá está um frautas no lugar de flautas – e o cantor e compositor paulista Adoniran Barbosa a deixou registrada em diversas composições, em frases como “frechada do teu olhar”, do samba Tiro ao Álvaro.
Em levantamentos de campo, pesquisadores da USP observaram que moradores do interior tanto do Brasil quanto de Portugal, principalmente os menos escolarizados, ainda falam desse modo. Outro sinal de preservação da língua identificado por especialistas do Rio de Janeiro e de São Paulo, dessa vez em documentos antigos, foi a gente ou as gentes como sinônimo de “nós” e hoje uma das marcas próprias do português brasileiro.
Célia Lopes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), encontrou registros de a gente em documentos do século XVI e, com mais frequência, a partir do século XIX. Era uma forma de indicar a primeira pessoa do plural, no sentido de todo mundo com a inclusão necessária do eu.
Segundo ela, o emprego de a gente pode passar descompromisso e indefinição: quem diz a gente em geral não deixa claro se pretende se comprometer com o que está falando ou se se vê como parte do grupo, como em “a gente precisa fazer”.
Já o pronome nós, como em “nós precisamos fazer”, expressa responsabilidade e compromisso. Nos últimos 30 anos, ela notou, a gente instalou-se nos espaços antes ocupados pelo nós e se tornou um recurso bastante usado por todas as idades e classes sociais no país inteiro, embora nos livros de gramática permaneça na marginalidade.
Linguistas de vários estados do país estão desenterrando as raízes do português brasileiro ao examinar cartas pessoais e administrativas, testamentos, relatos de viagens, processos judiciais, cartas de leitores e anúncios de jornais desde o século XVI, coletados em instituições como a Biblioteca Nacional e o Arquivo Público do Estado de São Paulo.
A equipe de Célia Lopes tem encontrado também na feira de antiguidades do sábado da Praça XV de Novembro, no centro do Rio, cartas antigas e outros tesouros linguísticos, nem sempre valorizados. “Um estudante me trouxe cartas maravilhosas encontradas no lixo”, ela contou.
Leia a reportagem completa em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/


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domingo, 10 de maio de 2015

Laboratório traz propostas para o ensino de História.

Fonte: Agência USP - O Laboratório de Ensino e Material Didático (Lemad) surgiu no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Criado em 2008, e coordenado pela professora Antônia Terra de Calazans, ele tem como um dos seus principais objetivos desenvolver trabalhos que incentivem alunos a se tornarem professores de educação básica. O Laboratório, que atualmente é referência na área, desenvolve trabalhos em parceria com a disciplina ‘Ensino de História: Teoria e Prática” ministrada pela professora Antônia. Uma das atividades desenvolvidas é a produção de Sequências Didáticas, propostas de aulas planejadas pelos alunos, que seguem os princípios do teórico Antoni Zabala.

Criado em 2008, Lemad incentiva alunos a se tornarem professores de educação básica
Segundo a coordenadora do laboratório, nesse estudo é necessário explicitar não apenas os conceitos e informações sobre as temáticas das aulas, como também todos os materiais (vídeos e textos), orientações e metodologias possíveis para que os professores possam aplicá-las. Com o objetivo de disponibilizar esses e outros materiais, o Lemad elaborou uma plataforma online, na qual os melhores trabalhos são divulgados. O intuito é ampliar o acesso ao conhecimento desenvolvido na universidade, incentivando, inclusive, professores da rede pública a trabalhar com propostas alternativas em sala de aula. O site conta também com uma seção destinada à disponibilização de propostas curriculares de história de diferentes estados, tanto contemporâneas como históricas.
Um das pesquisas desenvolvidas no Lemad é a catalogação e higienização dos livros didáticos contidos em seu acervo. A partir desse trabalho, alunos realizam estudos sobre os autores, as temáticas e os aspectos iconográficos das obras. “Eles nos ajudam e ao mesmo tempo aprendem a fazer pesquisa com livros didáticos”, afirma a professora. Recentemente, os estudantes trabalharam com um projeto em que passaram a procurar e digitalizar livros didáticos traduzidos para diferentes escolas indígenas. Além disso, realizaram pesquisas com obras didáticas do século 19 e as disponibilizaram online.
O Lemad também desenvolve um trabalho vinculado ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) do Ministério da Educação, que possibilita a alunos da graduação estagiar na rede pública. Dessa maneira, os pesquisadores do laboratório, em parceria com os professores das escolas, produzem oficinas que colocam em prática propostas didáticas na sala de aula.
Temática indígena
De acordo com a Antônia Terra de Calazans, umas das atividades propostas foi o trabalho com a temática indígena. O laboratório possuía uma série de objetos indígenas, fato que levou alunos a realizarem uma pesquisa da história sobre o material, com o auxílio de dicionários etnográficos, levando-os a elaborarem propostas sobre como trabalhar este conhecimento didaticamente nas escolas. A sala de aula foi organizada para que os objetos e os respectivos vídeos que ilustravam sua utilização pelos indígenas fizessem parte do espaço.
Na oficina, foram distribuídas fichas com o mapa do Brasil e fotografias dos materiais presentes na sala. A proposta era que os alunos buscassem a origem desses itens no mapa, assim como, observassem e explicitassem suas características materiais e culturais. Além de discutir as propostas realizadas em sala de aula, os estudantes da graduação desenvolvem pesquisas relacionadas ao estudo do meio. Um dos seus trabalhos foi a visita a uma aldeia Guarani, em Paraty. “A ideia era poder conhecer realidades quilombolas e as realidades indígenas”, explica a professora.
Os alunos do ensino médio, por meio da bolsa de pré-iniciação científica, também desenvolveram pesquisas no laboratório. O projeto, que foi realizado em parceria com a graduação, tinha como intuito trabalhar com a temática história da África, a partir dos quadrinhos. Os bolsistas foram levados ao acervo de quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e do Centro Cultural São Paulo. Além disso, realizaram oficinas sobre como compor um quadrinho com um desenhista convidado.
A Lei nº 11.645 definiu que, a partir de 2008, as escolas de nível médio e fundamental deveriam incluir em seu conteúdo programático o estudo da cultura afro-brasileira e indígena. No entanto, de acordo com a coordenadora do Lemad, mesmo que as universidades tenham dedicado esforços para incorporar disciplinas de história da África e Indígena em seus currículos, são muitos os professores atuantes hoje em dia que não tiveram essa formação e que apresentam, assim, dificuldades de trabalhar com essas novas propostas.
As oficinas produzidas por meio do PIBID têm como objetivo problematizar as discussões sobre essas questões, trazendo um conteúdo que muitas vezes não é visto em sala de aula, como a diversidade de línguas faladas pelas populações indígenas. Para a docente, essas temáticas não são encontradas de maneira enfática nos livros didáticos. “O que tem pouco é uma versão histórica que dê protagonismo às ações dessa populações”, defende a pesquisadora.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Mais informações: site http://lemad.fflch.usp.br


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sexta-feira, 8 de maio de 2015

O esporte no Rio nos tempos de D. Pedro II.

Fonte: FAPERJ - Débora Motta

Na década de 1870, a patinação virou moda no Rio,
em clubes onde era possível alugar patins importados
(Foto: Reprodução/Bibliothèque Nationale de France)
O futebol é hoje considerado a paixão nacional. Mas antes de se tornar um fenômeno de popularidade – consagrado em 1950, ano em que o Brasil sediou, e infelizmente perdeu, a sua primeira Copa do Mundo –, outros esportes faziam parte do cotidiano do carioca no século XIX e no início do século XX. A patinação, o remo, a corrida de cavalos e até mesmo as touradas, quem diria, já foram bem populares no cenário esportivo do Rio. A história do esporte na cidade é tema de estudo do professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Victor Andrade de Melo, Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, que desenvolve o projeto “O corpo da nação - educando o físico, disciplinando o espírito, forjando o país: as práticas corporais institucionalizadas na sociedade da Corte (1850-1889)”.
No estudo, Victor analisa como a sociedade de hábitos recatados, na época em que o Brasil era governado por D. Pedro II, passou aos poucos a valorizar a prática dos esportes como um bem para a saúde e para a formação moral dos cidadãos. “A prática esportiva surgiu como consequência do estabelecimento das primeiras iniciativas de entretenimento no Rio, então capital do Brasil, que, com a chegada de muitos estrangeiros, se tornou um caldo cultural cosmopolita”, contextualizou Victor.
Ele destaca que, em alguns artigos publicados em revistas médicas fluminenses do século XIX, profissionais da saúde já reconheciam a importância dos exercícios físicos regulares. Entre os periódicos de época pesquisados por Victor, estão o Semanário de Saúde PúblicaRevista Médica FluminenseRevista Médica BrasileiraArquivo Médico BrasileiroO Progresso MédicoAnnaes Brasilienses de Medicina e Brasil Médico. O projeto teve como desdobramento o lançamento do livro A gymnastica no tempo do Império, que o pesquisador assina junto com Fabio de Faria Peres (editora 7 Letras, 2014). “O esporte passou a ser relacionado à construção de uma ideia de nação, que deveria seguir moldes civilizados, com o desenvolvimento de hábitos saudáveis e higiênicos e a organização da sociedade civil”, disse.
Ele lembra que em 1850 houve uma enorme safra cafeeira e a definitiva proibição do tráfico negreiro, com a Lei Eusébio de Queirós. Nesse período, houve um aumento de recursos no país e a indústria têxtil teve um sensível crescimento. Com mais dinheiro circulando, houve um maior vínculo com o continente europeu, o que também foi favorecido pelo uso do navio a vapor e pelo telégrafo. “A partir de 1850, começamos a estruturar uma burocracia estatal e a construir um sentido de nação. Essa modernização contribuiu para a estruturação de um mercado de entretenimento na cidade. O esporte surgiu como um meio de socialização, como uma das formas de entretenimento que melhor se delineia nesse processo, ao lado do teatro, de outras diversões públicas e da organização de bares, restaurantes e confeitarias na Rua do Ouvidor. Promovendo bailes, reuniões sociais, aulas, apresentações e competições, entre outras atividades, os clubes ginásticos, athleticos ou sportivos começaram a despontar pela cidade”, destacou.
1ª Regata da Sociedade Recreio Marítimo na Enseada de Botafogo, em novembro de 1851: o remo foi o esporte mais popular entre os cariocas no final do século XIX até a década de 1920 (Foto: A. L. Guimarães/Biblioteca Nacional)

As touradas também foram uma dessas práticas esportivas que caíram no gosto popular. No Rio, elas começaram a ser organizadas em meados do século XVII. “Comumente, elas integravam a programação de festividades promovidas para celebrar importantes datas da monarquia portuguesa. Essa popularidade tornou-se ainda mais notável entre os anos de 1808 e 1821, momento em que a família real se instalou na cidade, em razão dos conflitos napoleônicos”, lembrou. A partir de 1840, as touradas passaram a ser promovidas não mais pelo estado, mas pelo empresariado local.

Curiosamente, a cidade teve diversas arenas, conhecidas como “praças de touros”. No tradicional bairro de Laranjeiras, existia uma dessas praças nas proximidades do Mercado São José. “Fontes de jornais indicam que as touradas realizadas na Rua das Laranjeiras chegaram a atrair um público de até cinco mil pessoas”, revelou Victor. Havia ainda uma praça de touros na Rua da Guarda Velha (atual Rua 13 de maio), no mesmo espaço onde antes se encontrava o Circo Olímpico e onde, em 1871, seria construído o Teatro Lírico. “O sucesso das touradas se estendeu até 1907, quando elas foram proibidas na cidade, segundo um processo civilizatório de preocupação com os animais. O Rio foi precursor entre as cidades brasileiras no sentido de censurar esportes que promovessem o maltrato dos animais. Em Porto Alegre, as touradas continuaram a ocorrer até 1934”, explicou Victor.
A patinação, com patins de quatro rodas que eram inicialmente importados da Europa, também ganhou espaço na cidade. “Em 1872, já se podia alugar patins para andar dentro do Teatro Dom Pedro II, que mais tarde seria chamado de Teatro Lírico, localizado nos arredores da Largo da Carioca”, contou Victor. “O dono desse teatro era Bartolomeu Correa da Silva, um dos primeiros grandes empresários de entretenimento na cidade”, completou.
Em 1878, uma novidade surgiria: o Skating Rink, um estabelecimento que oferecia um espaço para patinação, além de jardins para lazer e um restaurante. “O Skating Rink ficava na Rua do Costa, perto da atual Rua Marechal Floriano, que se chamava Rua Larga de São Joaquim. A patinação virou moda”, disse o pesquisador. E foi além: “Nesse período, há o registro ainda da concessão da primeira patente para um brasileiro desenvolver patins de fabricação própria. Em 1878, Saul Severino da Silva conseguiu a patente, mas não há indício de que ele tenha desenvolvido o produto.”
Victor Melo contou que a prática de esportes já era
recomendada em revistas médicas do século XIX
                         (Foto: Divulgação) 
Apesar do sucesso das touradas e da patinação, o remo logo se tornou o esporte mais popular entre os cariocas, aproveitando a vocação natural da cidade para os esportes náuticos. “Até a década de 1920, o remo era praticado na Baía de Guanabara. Diversos clubes se instalaram ali, como a Sociedade de Recreio Marítimo e o Clube de Regatas Guanabarense, nos arredores da Enseada de Botafogo; e o Clube Regata de Boqueirão do Passeio, que tinha sede perto do Passeio Público, na Lapa – vale lembrar que, antes da construção do Aterro, o mar chegava até o Passeio. Quando o remo foi transferido para a Lagoa Rodrigo de Freitas, nas décadas de 1920 e 1930, esses clubes passaram a ter um custo muito alto para transportar seus barcos. Muitos desistiram. A poluição da baía de Guanabara também contribuiu para a queda de popularidade desse esporte”, explicou Victor.
Essas e outras histórias estarão reunidas no livro Rio Esportivo, com lançamento previsto para agosto, pela editora Casa da Palavra. Victor Melo também é coordenador do Sport: Laboratório de História do Esporte e do Lazer da UFRJ (www.sport.história.ufrj.br)





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quinta-feira, 7 de maio de 2015

Publicação de nova edição - Revista Angelus Novus.

Caros leitores,

A Revista Angelus Novus acaba de publicar seu último número em
http://www.revistas.usp.br/ran/index . Convidamos a navegar no sumário da
revista para acessar os artigos e itens de interesse.

Boa leitura!

Cordialmente,

Equipe editorial
Revista Angelus Novus

Revista Angelus Novus
No 7 (2014)
Sumário
http://www.usp.br/ran/ojs/index.php/angelusnovus/issue/view/Ano%20V%20n.%207%202014

Editorial
--------
Aos nossos leitores (1-10)
 Revista Angelus Novus


Dossiê temático: Perspectivas sobre o Império Português (séculos
XVI-XVIII)
--------
“Doces tributos”: Antônio Vieira e o pacto da Restauração (11-30)
 Marcello José Gomes Loureiro

A dízima da Alfândega de Salvador e o Império Ultramarino Português na
primeira metade do século XVIII (31-48)
 Hyllo Nader de Araújo Salles

“Projeto Montevidéu”: A atuação do mestre de campo Manoel de Freitas
da Fonseca nos limites entre América portuguesa e espanhola (1723-1732)
(49-66)
 Victor Hugo Abril

Entre a lei e a prática: comércio de escravos e soberania dos Estados
ibéricos no Rio da Prata colonial (67-88)
 Hevelly Ferreira Acruche


Artigos
--------
Fragmentos da História do São José: Uma (re)construção a partir dos
conceitos de Memória, Lugar e Identidade. (89-104)
 Hezrom Vieira Costa Lima, Jéssica Camêlo de Lima

No abrir das cortinas: comemorações, tempo presente e educação
(105-128)
 Ana Luíza Mello Santiago de Andrade

Memórias femininas enunciadoras da história: estratégias de umbandistas
e católicas em Santa Catarina (129-144)
 Clarice Bianchezzi, Cristiana de Azevedo Tramonte



Revista Angelus Novus
http://www.usp.br/ran/


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A influência de Jean-Ovide Decroly na reforma educacional no Brasil.

Pesquisa mostra que manuais e cursos de formação para professores das escolas primárias ajudaram a difundir o método do pedagogo belga (Aplicação do Método Decroly em escola francesa no final dos anos 1940 / foto: Ecoles Nouvelles)

07 de maio de 2015

Fonte: Por José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Jean-Ovide Decroly (1871-1932) foi um aluno rebelde. Sua oposição ao ensino autoritário e a recusa em frequentar as aulas de catecismo fizeram com que fosse expulso de várias escolas. Mas esse belga formou-se em medicina, com especialização em neurologia, e tornou-se um dos mais importantes protagonistas do movimento por uma nova educação.
A ideia central do método de Decroly é a dos “centros de interesse” como eixos estruturantes do currículo, que permitem a expressão da motivação espontânea do aluno e, ao mesmo tempo, abrem caminho para a aquisição de novos conhecimentos.
O processo de aprendizagem se desdobraria em três fases: observação (não como técnica, mas como atitude diante da realidade), associação (possibilitando a integração no espaço e no tempo dos conhecimentos adquiridos por meio da observação) e expressão (concreta, por meio de desenho livre, de trabalhos manuais e outros; ou abstrata, por meio, por exemplo, do texto escrito ou da linguagem matemática).
Embora sejam pouco conhecidas fora do círculo dos especialistas em história da educação, as concepções de Decroly – ou, melhor, uma adaptação delas – tiveram grande difusão e repercussão na educação brasileira do fim dos anos 1920.
O tema foi tratado no artigo Translating Ovide Decroly’s ideas to Brazilian teachers, publicado por Alessandra Arce Hai, Frank Simon e Marc Depaepe na Paedagogica Historica, uma das principais revistas em história da educação.
Professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Hai escreveu o artigo no período em que atuou como professora visitante na Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, com apoio de Bolsa de Pesquisa no Exterior da FAPESP.
Simon, professor emérito da Universidade de Ghent (Bélgica), e Depaepe, vice-reitor de Leuven, os dois coautores do artigo, são considerados os maiores especialistas na obra de Decroly.
“Nossa pesquisa buscou entender como as ideias de Decroly foram apropriadas, difundidas e transformadas no Brasil. As traduções de seus livros foram realizadas entre 1928 e 1930, ainda durante a vida de Decroly, em uma época na qual ocorreram no país várias reformas educacionais, buscando a inovação pedagógica”, disse Hai à Agência FAPESP.
Para esse processo, denominado “Movimento das Escolas Novas”, a metodologia dos “centros de interesse”, adaptada e simplificada conforme as condições da sociedade brasileira, forneceu importante aporte teórico e orientação prática.
O principal laboratório dessa experimentação pedagógica foi propiciado pela reforma educacional do Rio de Janeiro em 1928, com importante apoio de Fernando de Azevedo, na época diretor do Departamento de Instrução Pública do então Distrito Federal.
Segundo o artigo, havia, da parte de vários intelectuais da época, a opinião de que o Brasil ainda não era um país propriamente “civilizado”. Como medida “civilizadora” urgente, capaz de “republicanizar a república”, esses preconizavam uma combinação de educação e medicina, junto com medidas sanitárias e higiênicas.
“Fernando de Azevedo acrescentou o objetivo de produzir reformas sociais à escolarização, enfatizando a qualidade em vez de apenas trabalhar para eliminar o analfabetismo por meio da instrução”, ressaltam os pesquisadores. Azevedo e seus colaboradores consideravam que a escola produziria a pressão para as necessárias mudanças sociais.
Nesse contexto, a ideia de “centros de interesse” teve grande difusão e aplicação em programas de ensino no Rio de Janeiro e também em Minas Gerais. Artigos, livros e manuais para professores foram publicados. Conferências, seminários e cursos foram oferecidos. “O público-alvo era de professores do ensino primário e os responsáveis por aquilo que chamamos hoje de educação infantil”, disse Hai.
Centros de interesse
Como médico, Decroly estudou o desenvolvimento infantil com bastante detalhamento, tendo escrito várias obras nos campos da neurologia e da psicologia. E suas concepções pedagógicas foram embasadas nesses estudos.
“Mas a metodologia dos ‘centros de interesse’ foi adaptada no Brasil de forma bastante simplificada, como a possibilidade de o professor trabalhar com os alunos não por disciplinas mas por temáticas. A partir de uma temática, como, por exemplo, ‘animais’, o professor conduziria os alunos por várias áreas do conhecimento”, comentou Hai.
No artigo publicado na Paedagogica Historica, para interpretar a assimilação do pensamento de Decroly no contexto brasileiro, os autores recorreram à ideia da antropofagia, lembrando que o Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade, foi publicado no mesmo ano de 1928.
Juntamente com outros teóricos da nova educação, como o norte-americano John Dewey (1859-1952) e o alemão Georg Kerschensteiner (1854-1932), o belga Decroly foi deglutido e digerido na ocasião, do “jeito brasileiro”.
Como reminiscência desse banquete antropofágico, restou para a educação brasileira da atualidade a metodologia dos projetos, como eixos capazes de perpassar a grade curricular, apontam os pesquisadores.
O artigo Translating Ovide Decroly’s ideas to Brazilian teachers (DOI:10.1080/00309230.2015.1021361), de Alessandra Arce Hai e outros, pode ser lido por assinantes da Paedagogica Historica em www.tandfonline.com/eprint/Htj99UQ9uAsRfiTDVNTu/full.



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terça-feira, 5 de maio de 2015

Revista do Instituto de Estudos Brasileiros.


O site de Revistas USP disponibilizou gratuitamente a nova edição da Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, número 60.
O editorial é assinado por  Jaime Oliva, Paulo Iumatti e Walter Garcia.
Entre os artigos que a publicação traz estão “Os coronéis – de Mendonça a Paulo Honório: notas sobre tipicidade e realismo em S. Bernardo”, de Hermenegildo Bastos, “O vaqueiro e o procurador dos pobres: Vidas Secas”, de Ana Paula Pacheco, “A fazenda assombrada: figurações da escravidão no romance Til, de José de Alencar”, de Paula Maciel Barbosa, “A Graça, o Sal e o Espírito ou José de Alencar Ao Correr da Pena”, de José Quintão de Oliveira.


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domingo, 3 de maio de 2015

Baseado em relatos pessoais, livro resgata história da imigração judaica no Brasil

22 de abril de 2015



Fruto de anos de pesquisa, obra reuniu depoimentos de 92 pessoas –
imigrantes de 16 países diferentes ou nascidas no Brasil – e construiu um
retrato da presença contemporânea dos judeus no país (
judeus fugindo
com Torás envoltas em mantos / reprodução de imagem de gravura
cedida por Elka Frost, publicada no livro O Brasil como Destino
)
FONTE: José Tadeu Arantes | Agência FAPESP A presença judaica no Brasil é tão antiga quanto a colonização europeia do território brasileiro. Dois judeus teriam participado da expedição de Pedro Álvares Cabral: João Faras, médico, astrônomo e astrólogo, que deu nome à constelação do Cruzeiro do Sul (já conhecida, mas ainda sem denominação), e Gaspar da Gama, apelidado “Gaspar de las Indias”, navegador, aventureiro e poliglota, que, antes de vir à América, fora piloto de Vasco da Gama.
Nos primeiros tempos do domínio português, o território foi arrendado por um consórcio de cristãos-novos (judeus convertidos ao cristianismo), liderado por Fernando de Noronha, que se dedicou à exploração do pau-brasil. Posteriormente, premidas pelas perseguições da Inquisição ou pelas difíceis condições de vida no Velho Mundo, sucessivas gerações de judeus imigraram para o Brasil. (*).
Um expressivo recorte dessa longa saga compõe o livro O Brasil como destino: raízes da imigração judaica contemporânea para São Paulo, da socióloga Eva Alterman Blay, professora titular sênior da Universidade de São Paulo. A obra foi publicada com apoio da FAPESP.
Autora e organizadora de vários livros, Blay colocou neste um pouco de sua história pessoal, como filha de imigrantes judeus (o pai nascido na Polônia, a mãe nascida na antiga Bessarábia, hoje República Moldova). “Todos nós, imigrantes e filhos de imigrantes, temos uma memória que se estende além de nossas próprias vivências. É a memória das experiências narradas por aqueles com quem convivemos”, escreveu.
Blay conta que começou essa pesquisa muitos anos atrás. E, durante bastante tempo, não soube que forma dar ao material pesquisado. “Sem associar uma coisa com a outra, eu tinha, nessa época, sonhos recorrentes, nos quais ia para algum lugar e me perdia, não encontrando mais o caminho de volta. Um dia, depois de ter escrito e reescrito o livro muitas vezes, encontrei, finalmente, a forma que procurava. E nunca mais tive aquele sonho”, disse à Agência FAPESP.
A forma encontrada pela autora foi dar voz aos entrevistados, destacando seus depoimentos na primeira pessoa, e valorizando a “bagagem” de cada um – uma “bagagem” peculiar, pois composta não apenas pelas memórias da existência vivida nos países de origem, mas também pela lembrança da vida construída aqui.
Seus 92 entrevistados provieram de 16 países diferentes: Alemanha, Argentina, Áustria, Bielorrússia, Egito, França, Hungria, Itália, Líbano, Lituânia, Palestina, Polônia, Romênia, Rússia, Ucrânia, Uruguai. Ou nasceram no Brasil, filhos de pais estrangeiros. Mas, a despeito das muitas diferenças, apresentavam três características em comum: eram judeus, idosos e estavam aqui “para ficar”.
Destino definitivo
“Todos os imigrantes que eu havia estudado no Brasil tinham a fantasia de, um dia, voltar para suas terras de origem. Constatei tal fantasia nostálgica entre os italianos, os portugueses, espanhóis. Mas não entre os judeus. E isso devido às próprias condições que os fizeram vir para cá. A volta não estava em seu ideário. Até porque, para muitos deles, simplesmente não havia para onde voltar. Guerras e acordos de paz de duração temporária tinham retraçado fronteiras e redefinido o estatuto político das regiões de origem. Para esses judeus, o Brasil era visto como o destino definitivo”, afirmou Blay.
Muitos deles, nascidos nos shtetlach (plural de shtetl), as pequenas aldeias de população predominantemente judaica da Europa Oriental, com sua vida sem perspectivas, viam no Brasil a promessa de um Eldorado. E mesmo aqueles que vieram de cidades grandes e cultas, como Berlim ou Varsóvia, puderam desfrutar aqui de uma liberdade muito mais evidente.
“Fugindo de situações adversas na Europa – pogroms, serviço militar rude e escravizante, pobreza, proibição de mobilidade geográfica, carência de direitos civis – encontraram no Brasil uma situação incomparavelmente mais branda, porém cheia de armadilhas”, escreveu Blay, referindo-se a um antissemitismo que, sem assumir as formas aberrantes manifestadas no continente europeu, jamais deixou de existir no país.
A pesquisa de Blay concentrou-se muito mais sobre a comunidade asquenazita (do hebraico ashquenazi), proveniente da Europa, majoritariamente nas primeiras décadas do século XX, do que sobre a comunidade sefardita (do hebraico sepharadhi), proveniente da Península Ibérica e do Oriente Médio, cuja presença remonta aos tempos coloniais, mas que cresceu no Brasil após a chamada “Crise do Canal de Suez”, em 1956.
Seu rol de entrevistados incluiu figuras de todas as classes sociais, além de alguns notáveis, como o físico Mario Schenberg (1914 – 1990), a escritora Tatiana Belinky (1919 – 2013) e a filantropa Ema Gordon Klabin (1907 – 1994).
Filho de pais não religiosos, Schenberg, que nasceu em Recife, iniciou seu depoimento, em 1982, dizendo não possuir nenhum vínculo com o judaísmo e expressou preocupação com o surgimento de uma nova “onda internacional de antissemitismo”, motivada, em sua opinião, pela política do Estado de Israel em relação ao povo palestino.
Já Tatiana Belinky, natural de São Petersburgo, Rússia, relatou, em 1983, o longo empenho de seu marido, o médico psiquiatra Júlio Gouveia (1914 – 1988), um dos precursores da televisão no Brasil, para se converter ao judaísmo. Em um evento talvez inédito no mundo, Júlio, seu filho e seu neto fizeram juntos o Bar-Mitzvá, o ritual de entrada na maioridade, que os meninos judeus cumprem normalmente depois de completar 13 anos (o Bat-Mitzvá, reservado para as meninas, é cumprido depois dos 12 anos).
Ema tem seu nome associado, principalmente, à Fundação Cultural Ema Gordon Klabin, um museu com mais de 1.500 objetos de arte, e ao Hospital Israelita Albert Einstein, para cuja construção sua contribuição financeira foi decisiva. Nascida no Rio de Janeiro, em uma das famílias judias mais tradicionais do país, ela herdou de seu pai, Hessel, nascido na Lituânia, sua participação na indústria de papel e celulose Klabin, e se destacou como colecionadora de arte, mecenas e filantropa. Foi entrevistada em 1982.
Micro-história e a construção da sociologia
Comentando estes e outros depoimentos, Blay ressaltou o papel da história pessoal, da “micro-história”, na construção da sociologia. “Eu prefiro isso do que fazer as grandes generalizações. Foi um movimento que iniciamos nos anos 1980, a Maria Isaura Pereira de Queiroz, o Aziz Simão e eu. Buscávamos valorizar o cotidiano, a vida real, os comportamentos individuais, sempre respeitando os dados empíricos. E fomos muito criticados na época.”
“Quando se trabalha com histórias de vida, o cuidado a se tomar é considerar que as pessoas contam uma determinada verdade, circunscrita ao momento em que estão relatando. Não existe a verdade. Existe uma memória, em um determinado momento, e essa memória tem que ser considerada no contexto”, ponderou a socióloga.
Notável como história pessoal foi o longo depoimento de Rifca Gutnik, que, na época da entrevista, iniciada em 1982 e continuada por alguns anos, morava no Lar dos Velhos, mantido pela Sociedade Israelita. Nascida na antiga Bessarábia, Rifca teve de abandonar os estudos depois que Alexander Cuza (1857 – 1946), considerado o Hitler romeno, proibiu o ensino de ídiche nas escolas.
Tornou-se operária desde muito cedo e, como tal, liderou uma greve contra as condições absolutamente desumanas de trabalho, sem horário para refeição, sem remuneração adicional para serviço noturno, sem direito nenhum. A greve resultou vitoriosa, mas Rifca foi demitida. Desempregada, emigrou, depois de um tempo, para o Brasil, onde seu namorado e futuro marido, Velvel, já estava.
Aqui, participou, no Rio de Janeiro, do Arbeter Center, que promovia atividades educacionais e culturais e mantinha um restaurante para trabalhadores. Depois da fracassada insurreição da Aliança Nacional Libertadora, em 1935, Velvel foi preso como comunista. Após horas exposta ao sol na porta do presídio, esperando pela permissão para visitar o marido, Rifca perdeu sua filha, Clara, vítima de insolação. Perderia também o marido, deportado para campo de concentração.
“A história de Rifca teve um efeito profundo sobre mim”, escreveu Blay. “Depois de tê-la entrevistado no Lar dos Velhos, passei a visitá-la regularmente”. Rifca participava ativamente da vida no Lar. Costurava na máquina que ela mesma havia doado; lia livros em português, russo, ídiche e alemão; organizava, com seus próprios discos, audições de música erudita e folclórica para os demais moradores; mantinha-se atualizada com a leitura diária de dois jornais. E ajudou Blay em sua pesquisa, traduzindo um livro sobre a história de Britchon, o shtetl onde nascera em 1905.
A ideia de fazer pelos outros, que, a despeito de todas as vicissitudes, deu sentido à vida de Rifca, está fortemente assentada no conceito judaico de tzedaká, que pode ser traduzido como “justiça” ou “retidão”. Exemplo de tzedaká foi o intenso trabalho voluntário desenvolvido pela professora Betty Lafer (1909 – 2006), nascida em Schirvint, na Lituânia, e diplomada em Araraquara, no Brasil.
Depois de anos no magistério, casada e com os filhos criados, Betty passou a atuar como voluntária na Organização Feminina Israelita de Assistência Social (Ofidas), e, posteriormente, na União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (Unibes), da qual se tornou presidente de honra. Ela foi entrevistada em 1982.
O trabalho social foi, para muitos desses imigrantes, a principal forma de praticar o judaísmo. “A geração que entrevistei não era especialmente religiosa”, afirmou Blay. “O máximo de sua religiosidade se resumia à observância das três datas principais do judaísmo: Rosh Hashaná (Ano Novo), Iom Kippur (Dia do Perdão) e Pessach (Páscoa). A geração atual é muito mais voltada para a religião, inclusive para a ortodoxia. Alguns filhos ou netos dos imigrantes daquela geração agora usam roupas tradicionais, casam-se com pessoas que fazem parte do mesmo grupo e aprofundam-se no estudo da religião. É uma nova tendência que deveria ser estudada”, concluiu.
(*) Conforme Os judeus no Brasil Colonial, de Arnold Wiznitzer (São Paulo, Livraria Pioneira Editora, Editora da Universidade de São Paulo, 1966), e Breve história dos judeus no Brasil, de Salomão Serebrenick (disponível emhttp://tryte.com.br/colecaojudaismo/livro10.htm).
Título: O Brasil como destino: raízes da imigração judaica contemporânea para São Paulo
Autora: Eva Alterman Blay
Editora: Editora Unesp
Ano: 2013
Páginas: 424
Preço: R$ 76,00
Vendas e mais informações: www.editoraunesp.com.br/catalogo/9788539304912,brasil-como-destino-o



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