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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

** Informativo do Arquivo Público do Estado de São Paulo - janeiro

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** 70 anos da Força Aérea Brasileira

 
No ano de 2011 a Força Aérea Brasileira lembra a sua trajetória. São 70 anos de grandes feitos e de muitos heróis, famosos e anônimos. A aviação brasileira nasceu e se consolidou sob as asas da FAB.


Acompanhe esta história.

Anos 40: a decolagem


Já havia algum tempo em que se discutia a criação de um ministério específico para o setor de aviação. As discussões no Brasil começaram no final da década de 20 e ganharam força a partir de 1935, com o lançamento de uma campanha para a criação do Ministério do Ar, sob a influência de países como a França.

Para o primeiro Ministro da Aeronáutica, Joaquim Pedro Salgado Filho, os desafios eram muitos. Faltavam aeronaves, pilotos, estrutura. "Era imprescindível despertar o interesse da juventude para a carreira de aviador", dizia.

Naquele momento, com a criação do novo órgão, Salgado Filho assumiu o comando da Aeronáutica brasileira – a aviação civil, a infraestrutura, a indústria nacional do setor e as escolas de formação de mão-de-obra – e do seu braço-armado, a Força Aérea Brasileira (FAB), criada com o novo ministério a partir das aviações da Marinha e do Exército.

Nesse contexto, a Segunda Guerra trouxe ao país um grande incentivo para organizar a sua aviação, sobretudo depois de iniciada a batalha do Atlântico Sul. Com o afundamento de navios brasileiros, a aviação militar teve de assumir o patrulhamento do litoral e, mais tarde, acabou enviada à Itália, para combater com os aliados.

Romper barreiras e vencer desafios: a missão da FAB nos anos 50


Desafio é a palavra que melhor define a década de 50. Desde a criação de uma "fábrica de cérebros" para a indústria aeronáutica até a construção de aeroportos no interior da Amazônia, a Força Aérea Brasileira começou a consolidar os seus objetivos de produzir tecnologia nacional e de integrar o território brasileiro.

Em 1953, na pacata cidade de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, o Centro Técnico de Aeronáutica abrigou dois institutos científicos, tecnicamente autônomos, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) - para o ensino superior - e o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento (IPD) - voltado para pesquisa e desenvolvimento na área de aviação militar.

A nova tecnologia chegava também na área operacional. Os jatos Gloster Meteor mudaram a história da aviação militar e da aviação civil brasileiras. A FAB adquire os F-8 e entra na "Era das Turbinas".

Em 1956, a FAB começou a atuar na construção de aeródromos em meio à imensidão da floresta amazônica com a criação da Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (COMARA). O objetivo era integrar a Amazônia Brasileira ao resto do país.

A década de 50 também marca a criação do Esquadrão de Demonstração Aérea, conhecido como Esquadrilha da Fumaça.

Década de realização de sonhos na indústria aeronáutica brasileira
 


Encurtar distâncias, vencer barreiras, transpor limites. Do planejamento dos anos 50 a ação na década de 60. O Brasil avança no ramo da ciência e tecnologia com o avião Bandeirante e o início do Programa Espacial, projetos que saíram do papel dentro do Centro de Tecnologia de Aeronáutica (CTA).

O avião Bandeirante surgiu a partir do projeto IPD-6504, uma referência ao ano (65), número do projeto (04) e ao Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD), do CTA. O protótipo daria origem ao futuro EMB 110 Bandeirante que, em 1968, decolou pela primeira vez, em um voo que durou, aproximadamente, 50 minutos. O projeto bem-sucedido deu origem à Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), destinada à fabricação seriada do Bandeirante.

Na mesma década, o CTA formou o Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (GOCNAE). Os pesquisadores brasileiros militares e civis do Ministério da Aeronáutica participaram de pesquisas internacionais nas áreas de astronomia, geodésica, geomagnetismo e meteorologia. O SONDA I foi considerado a grande escola do Programa Espacial Brasileiro.

Mudanças no conceito de defesa aérea
 


Os anos 70 marcam o início de uma nova fase para a Força Aérea Brasileira (FAB). Até a década de 60, o Brasil ainda baseava seus conceitos de defesa aérea nos conhecimentos adquiridos na Segunda Guerra. O mundo era outro, a guerra fria estava no auge e a aviação tornava-se cada vez mais rápida, letal e tecnológica. Era preciso antecipar (ter meios para detectar possíveis ameaças) e agir (atingir rapidamente os objetivos). Chegava a vez dos supersônicos.

O Ministério da Aeronáutica concluiu uma série de estudos e, em 1969, concebeu o Sistema Integrado de Controle do Espaço Aéreo, um projeto ambicioso e estratégico que previa a utilização conjunta de equipamentos de detecção, de telecomunicações e de apoio para as atividades de defesa aérea e de controle de tráfego aéreo. Dois anos antes, a FAB já havia criado o Comando Aéreo de Defesa Aérea (COMDA), embrião do atual Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA).

Ao mesmo tempo em que a estrutura de detecção nascia, com uma complexa de rede de radares e equipamentos espalhados pelo país, o Ministério da Aeronáutica buscava no mercado internacional o que havia de melhor em modernos caças supersônicos. Em 1972, entra em operação a primeira unidade aérea de interceptação da FAB, o atual Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), equipado com caças F-103 Mirage III. Na mesma década, chegaram ao Brasil os caças F-5 e, sob licença, a EMBRAER passou a produzir o primeiro jato fabricado no país, o AT-26 Xavante.

Novidades na indústria aeronáutica e no programa aeroespacial brasileiro


A indústria aeronáutica brasileira apresentou grande expansão na década de 80. A EMBRAER alcançou sucesso com projetos como o Brasília, o T-27 Tucano e o AMX. A cidade de Alcântara, no Maranhão, foi a escolhida para a construção da principal base da então Missão Espacial Brasileira (MECB), no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).  

O AMX foi projetado como substituto ao Xavante para missões de ataque e se destaca pelo raio de alcance, robustez e confiabilidade nos sistemas eletrônicos. Daí vem o apelido de "o avião computador". O T-27 Tucano, além de cumprir o papel de treinador, também pode voar missões de treinamento armado, apoio aéreo, ataque ao solo e defesa do espaço aéreo. O projeto de substituição do Bandeirante deu origem ao Brasília. Na FAB, o avião foi designado de C-97. As primeiras unidades passaram a ser operadas pelo 6º Esquadrão de Transporte Aéreo.

A cidade de Alcântara, no Maranhão, não foi escolhida por acaso para ser a sede do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). A localidade se destaca por possibilitar lançamentos de foguetes com menor consumo de combustível ou com maior capacidade de carga. Houve um grande investimento em infraestrutura e tecnologia que possibilitou o lançamento de quinze foguetes SBAT-70 e 2 SBAT-152 na Operação Pioneira.

SIVAM: os olhos vigilantes da Amazônia



Uma imensidão verde impenetrável aos olhos dos viajantes e dos aviadores que percorriam as poucas rotas dos 62% de florestas do território nacional. Até a década de 1990, esta era a visão da Amazônia brasileira. A região era desprotegida e alvo de atividades ilícitas, como rotas clandestinas, tráfico de drogas, biopirataria, para citar as mais recorrentes em um território de baixa densidade demográfica e fronteiras despovoadas. A integração da Amazônia, que parecia um objetivo distante, foi possível com o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM).

Pode-se dividir a Amazônia em antes e depois do SIVAM. O sistema de radares e satélites permitiu que a região fosse conhecida e possibilitou que o espaço aéreo da região voltasse ao controle do país. Imaginar o espaço aéreo na época era visualizar um grande vazio com algumas ilhas na região de selva, já que os radares ficavam restritos às capitais. O Brasil estava integrado por três Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA) nas Regiões Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Sul, e experimentava uma lacuna em mais da metade de seu território.

O SIVAM é uma complexa rede de radares, satélites e equipamentos de vigilância, controle e comunicação espalhados por nove Estados – Roraima, Amazonas, Amapá, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Pará, Maranhão e Tocantins. O projeto exigiu investimentos da ordem de 1,4 bilhões de dólares, necessários para a criação de uma rede de equipamentos em uma região de 5,2 milhões de quilômetros quadrados.

Tempos de tecnologia e inovação sem esquecer o lado humano

A tecnologia veio para ficar nos anos 2000. O que parecia roteiro de filme virou realidade. A Força Aérea Brasileira investe em projetos de aviões supersônicos, veículos aéreos não-tripulados e foguetes movidos a combustível líquido. O Brasil se consolida como referência na aviação mundial, investindo no reaparelhamento da frota de aeronaves militares e como uma das lideranças do projeto de criação do espaço aéreo contínuo (CNS-ATM), gerenciado com o apoio de satélites.

Entre as novas aeronaves, estão o A-29 Super Tucano e o Projeto F-X2, os aviões de patrulha P-3AM, os de transporte C-99 e C-105 Amazonas, os helicópteros AH-2 Sabre, H-60 BlackHawk e EC-725. Além disso, a FAB investe na modernização dos F-5 E e dos bombardeiros A-1.

Na área aeroespacial, os Centros de Lançamento de Alcântara e de Barreira do Inferno são considerados referência para o voo de foguetes e para rastrear equipamentos do mundo inteiro que passam pelo espaço brasileiro. Os lançamentos de foguetes VSB-30 são realizados desde 2004. Dois anos depois, o país assiste à chegada a Estação Internacional (ISS) do primeiro astronauta brasileiro, o então Tenente-Coronel-Aviador Marcos Cesar Pontes.

As operações de resgate e ajuda humanitária da FAB ultrapassaram as fronteiras nacionais. Missões aconteceram no Brasil, no Líbano, no Haiti, no Chile e em diversos países. No Brasil, marcaram a história as operações de resgate do voo AF447, da Air France, no meio do Oceano Atlântico, e do voo 1907, da Gol, na Amazônia.






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Fernanda das Graças Corrêa
Doutoranda/ Programa de Pós Graduação de Ciência Política/ Estudos Estratégicos
Universidade Federal Fluminense
E-mail (1): fernanda.das.gracas@hotmail.com
E-mail (2): fernanda.das.gracas@bol.com.br
Site: www.fernandadasgracascorrea.blogspot.com





"A Ciência está sempre errada; nunca resolve um problema sem que seja criado outro" (Bernard Shaw).
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Atividade nos últimos dias:
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** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História de Heleny Telles Ferreira Guariba -XVIII-

Carta O Berro..........................................................repassem



Heleni Telles Ferreira Guariba

 


Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR).

Nasceu em 13 de março de 1941 em Bebedouro, Estado de São Paulo, filha de Isaac Ferreira Caetano e Pascoalina Alves Ferreira.


Desaparecida desde 1971 aos 30 anos.


Professora universitária e diretora do "Grupo de Teatro da Cidade", de Santo André, São Paulo.


Presa no Rio de Janeiro no dia 12 de julho de 1971, juntamente com Paulo de Tarso Celestino da Silva (desaparecido), por agentes do DOI-CODl/RJ.


Inês Etienne Romeu, em seu relatório sobre a "Casa da Morte", em Petropólis, denuncia que Heleny esteve naquele aparelho clandestino da repressão no mês de julho de 1971, tendo sido torturada por três dias, inclusive com choques elétricos na vagina.


O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que Heleny foi "presa em 20 de outubro de 1970, em Poços de Caldas/MG, sendo libertada em 01 de abril de 1971..." Já o Relatório do Ministério do Exército afirma que "foi presa em 24 de abril de 1970 durante a Operação Bandeirantes e libertada a 1° de abril de 1971."


De Ulisses Telles Guariba Netto:


"Casei-me com Heleny Ferreira Teles Guariba em 1962 e nos separaramos judicialmente em fins de 1969. Estudamos na Faculdade de Filosofia da USP-Departamento de Filosofia. Foi um longo namoro. Ambos militávamos na VPR. No final de 1969, após separar-me de Heleny, retirei-me do movimento.


Depois de separar-me vim morar na Rua Maria Antônia. Heleny foi morar nas Perdizes. Tínhamos, então, dois filhos, Francisco e João Vicente, que continuaram morando com a mãe. Eu sempre visitava meus filhos, semanalmente, mantendo, assim, também contatos com Heleny. No início de fevereiro de 1970, em um sábado à noite, Heleny me procurou para dizer que Olavo, seu namorado, tinha sido preso e me pedia auxílio, uma vez que meu pai era general reformado. Eleni pediu também que eu falasse com o Capitão Maurício da OBAN, uma vez que esse oficial havia, anos atrás, namorado com minha irmã, ainda mantendo relações de amizade comigo. Quando procurei Maurício, este confirmou que Olavo realmente estava preso e que era membro da VPR.


Meu pai foi à OBAN pedir que, ao menos, Olavo não fosse torturado, mostrando-se interessado na própria pessoa de Olavo. Com a prisão de Olavo, Heleny deixou a residência das Perdizes, deixando os filhos comigo. Nessa mesma época, mudei-me para a Rua José Antônio Coelho, na Vila Mariana, em São Paulo, em um anexo da casa de meus pais. No início de março daquele mesmo ano o pai de Olavo me procurou, desesperado e contou-me que os órgãos de segurança ameaçavam prendê-lo, bem como a sua esposa e os filhos, pois queriam que eles prestassem informações a respeito do paradeiro de Eleni.


Ela, por sua vez, estava escondida em Serra Negra. O pai de Olavo, contou-me também que, não resistindo às pressões, havia contado onde estava Eleni e que ela havia sido presa, naquele dia, no final da tarde. Diante disso eu e meu pai fomos à OBAN. Fomos, também, procurar o Capitão Maurício, que nessa época prestava serviços ao DOPS. Procuramos, também, delegados do DOPS e todos diziam que não podiam prestar informações a respeito de Heleny. Três dias após, eu e meu pai fomos ao DOPS, à noite, para encontrar Heleny, no Gabinete de Romeu Tuma, então um dos delegados do DOPS. Ela então contou que havia sido torturada pelo Capitão Albernaz. Tinha marcas roxas nas mãos e nos braços, provocadas por choques elétricos. Albernaz havia tido contato conosco antes de torturar Heleny. Fôra, em tal conversa, extremamente simpático. Heleny contou também que estava no início do período menstrual e que, com as torturas, havia tido uma hemorragia, que havia assustado os torturadores, que a haviam retirado da OBAN e enviado ao Hospital Militar, onde ficou 48 horas, tendo naquele dia, sido encaminhada para o DOPS.


Foi solta em fins de abril de 1971, por decisão da própria Justiça Militar.


Ao ser libertada, desejava viajar para o exterior. Ela tinha também a intenção de ajudar familiares de perseguidos e mortos. Ficou uns tempos na casa da mãe e na casa de amigos, enquanto se preparava para a tal viagem. Por volta do dia 25 de julho, recebi um telefonema em casa informando-me que Heleny havia sido presa no Rio de Janeiro.


Meu pai foi para Brasília, bem como ao Comando do I Exército, no Rio de Janeiro, procurando autoridades e amigos. Todas as informações foram no sentido de que Heleny não havia sido presa e que, provavelmente havia embarcado para o exterior..."

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+ Informações sobre a vida de Heleny Ferreira Telles Guariba.
Quando o golpe de 1964 instaurou a ditadura militar no Brasil, mulheres e homens amargaram nas prisões de delegacias e aparelhos clandestinos de repressão, sofrendo as mais desumanas torturas físicas e psicológicas. Com o poder nas mãos dos militares, muitas destas pessoas foram exiladas e deixaram o país. Outras ficaram, para lutar das mais variadas formas para reconquistar a liberdade e a democracia do Brasil. O ideal era o mesmo, mas as formas de luta variavam: alguns decidiram pegar em armas, através das guerrilhas, outros escolheram a arte. Dentre aqueles que optaram por este instrumento está a diretora teatral Heleny Guariba, que junto com outros nomes desconhecidos pela maioria dos brasileiros, contribuiu para semear o ideal de liberdade e de justiça em um período crítico da história nacional.
Heleny Ferreira Telles Guariba nasceu em Bebedouro, interior de São Paulo, em 1941 e se criou numa família essencialmente feminina. Orfã de pai, aos 2 anos de idade, foi criada pela mãe, pela avó e por uma tia. Filha única e centro das atenções de sua família, a pequena Heleny encantava a todos com seu jeito gentil e falante. Ainda adolescente, começou a dar aulas para crianças e jovens na Escola Dominical da Igreja Metodista Central , em São Paulo, cidade para onde sua família seguiu depois da morte de seu pai. Nesta escola, desenvolveu uma de suas características mais marcantes: saber ensinar e ouvir com interesse e respeito a consideração do outro.
Estudos no exterior
Em 1965, um ano depois de se formar na Faculdade de Filosofia da USP, Heleny parte para a Europa para estudar teatro, política e artes. Na Alemanha, frequentou o teatro do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, o Berlinder Ensemble. Já na França, a diretora fez seu doutorado, além de estágios em diversos teatros do país, como o Theatre de la Cité, de Roger Planchon, também discípulo do teatro idealizado por Brecht.
Na volta ao Brasil, Heleny queria colocar em prárica tudo aquilo que tinha aprendido, visto e sentido na sua temporada no exterior. Para colocar seus ideais revolucionários de transformação política e de resgate da liberdade de expressão em prática, ela usou o teatro como instrumento. Passou a dar aulas na Escola de Artes Dramáticas da USP, onde seu objetivo de popularizá-lo ganhou força entre seus alunos. Assim como Brecht, Heleny queria fazer um teatro operário, que pudesse agir como ferramenta de conscientização política. Assim, foi em Santo André, no ABC paulista, que ela encontrou o campo favorável para isso. Na década de 60, a instalação de diversas fábricas faziam com que a cidade tivesse uma forte concentração de trabalhadoras e trabalhadores, além de uma grande representatividade estudantil, o que tornava o contexto perfeito para o trabalho de Heleny.
Foi então que em 1968, a diretora fundou o grupo Teatro da Cidade, formado em sua grande maioria por operários. A primeira montagem do grupo, Jorge Dandin, o Marido Traído, do dramaturgo francês Moliére, foi vista por mais de 7 mil pessoas. Em 1969, o grupo montou A Ópera dos Três Vintens, de Bertolt Brecht, um dos autores preferidos de Heleny, por causa de sua intensa veia social.
O grupo tinha a alma de Helleny, que através de seu teatro popular buscava a intensificação do envolvimento político dos trabalhadores no contexto social pelo qual o Brasil passava. Mas sua história com o teatro ultrapassou as fronteiras de Santo André. Além das aulas na EAD, Heleny trabalhou com Augusto Boal, dando aulas no seminário de dramaturgia do Teatro de Arena, criado pelo diretor, A diretora também escreveu diversos artigos, publicados em jornais dos anos 60.
Censura dos militares cala a voz de Heleny
Tanto envolvimento político provocou a ira dos militares da ditadura que não toleravam nenhuma iniciativa de transformação no pensamento dos brasileiros. Em março de 1971, Heleny foi presa pelo Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), sendo torturada por dois meses. Foi solta, mas detida novamente em julho do mesmo ano e enviada ao Destacamento de Operações de Informações, no Rio de Janeiro. Testemunhas afirmam que ela sofreu torturas por três dias e que foi assassinada na ''casa da morte'', em Petrópolis, um dos aparelhos clandestinos de repressão da ditadura. Depois disso, Heleny ingressou na extensa lista dos desaparecidos políticos da ditadura militar. A artista deixou dois filhos: João Vicente e Francisco.
Todos que conviveram com ela têm como lembrança a imagem de uma pessoa companheira e sempre pronta para enfrentar situações difíceis. ''De jeito alegre e cativante, pequena, arisca e bonita - beleza que a gente percebe que vem de dentro pra fora, enraizada no espírito ágil que lhe conservava, no corpo, o jeito de menina'', disse Frei Betto sobre Heleny. Uma brava guerreira, que apesar de permanecer no quase anonimato para a grande maioria dos brasileiros deixou sua marca na história recente do Brasil, como um exemplo de fibra, coragem e perseverança. Heleny provou que não importa de que maneira, o importante é lutar por mudanças.

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