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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História de Heleny Telles Ferreira Guariba -XVIII-

Carta O Berro..........................................................repassem



Heleni Telles Ferreira Guariba

 


Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR).

Nasceu em 13 de março de 1941 em Bebedouro, Estado de São Paulo, filha de Isaac Ferreira Caetano e Pascoalina Alves Ferreira.


Desaparecida desde 1971 aos 30 anos.


Professora universitária e diretora do "Grupo de Teatro da Cidade", de Santo André, São Paulo.


Presa no Rio de Janeiro no dia 12 de julho de 1971, juntamente com Paulo de Tarso Celestino da Silva (desaparecido), por agentes do DOI-CODl/RJ.


Inês Etienne Romeu, em seu relatório sobre a "Casa da Morte", em Petropólis, denuncia que Heleny esteve naquele aparelho clandestino da repressão no mês de julho de 1971, tendo sido torturada por três dias, inclusive com choques elétricos na vagina.


O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que Heleny foi "presa em 20 de outubro de 1970, em Poços de Caldas/MG, sendo libertada em 01 de abril de 1971..." Já o Relatório do Ministério do Exército afirma que "foi presa em 24 de abril de 1970 durante a Operação Bandeirantes e libertada a 1° de abril de 1971."


De Ulisses Telles Guariba Netto:


"Casei-me com Heleny Ferreira Teles Guariba em 1962 e nos separaramos judicialmente em fins de 1969. Estudamos na Faculdade de Filosofia da USP-Departamento de Filosofia. Foi um longo namoro. Ambos militávamos na VPR. No final de 1969, após separar-me de Heleny, retirei-me do movimento.


Depois de separar-me vim morar na Rua Maria Antônia. Heleny foi morar nas Perdizes. Tínhamos, então, dois filhos, Francisco e João Vicente, que continuaram morando com a mãe. Eu sempre visitava meus filhos, semanalmente, mantendo, assim, também contatos com Heleny. No início de fevereiro de 1970, em um sábado à noite, Heleny me procurou para dizer que Olavo, seu namorado, tinha sido preso e me pedia auxílio, uma vez que meu pai era general reformado. Eleni pediu também que eu falasse com o Capitão Maurício da OBAN, uma vez que esse oficial havia, anos atrás, namorado com minha irmã, ainda mantendo relações de amizade comigo. Quando procurei Maurício, este confirmou que Olavo realmente estava preso e que era membro da VPR.


Meu pai foi à OBAN pedir que, ao menos, Olavo não fosse torturado, mostrando-se interessado na própria pessoa de Olavo. Com a prisão de Olavo, Heleny deixou a residência das Perdizes, deixando os filhos comigo. Nessa mesma época, mudei-me para a Rua José Antônio Coelho, na Vila Mariana, em São Paulo, em um anexo da casa de meus pais. No início de março daquele mesmo ano o pai de Olavo me procurou, desesperado e contou-me que os órgãos de segurança ameaçavam prendê-lo, bem como a sua esposa e os filhos, pois queriam que eles prestassem informações a respeito do paradeiro de Eleni.


Ela, por sua vez, estava escondida em Serra Negra. O pai de Olavo, contou-me também que, não resistindo às pressões, havia contado onde estava Eleni e que ela havia sido presa, naquele dia, no final da tarde. Diante disso eu e meu pai fomos à OBAN. Fomos, também, procurar o Capitão Maurício, que nessa época prestava serviços ao DOPS. Procuramos, também, delegados do DOPS e todos diziam que não podiam prestar informações a respeito de Heleny. Três dias após, eu e meu pai fomos ao DOPS, à noite, para encontrar Heleny, no Gabinete de Romeu Tuma, então um dos delegados do DOPS. Ela então contou que havia sido torturada pelo Capitão Albernaz. Tinha marcas roxas nas mãos e nos braços, provocadas por choques elétricos. Albernaz havia tido contato conosco antes de torturar Heleny. Fôra, em tal conversa, extremamente simpático. Heleny contou também que estava no início do período menstrual e que, com as torturas, havia tido uma hemorragia, que havia assustado os torturadores, que a haviam retirado da OBAN e enviado ao Hospital Militar, onde ficou 48 horas, tendo naquele dia, sido encaminhada para o DOPS.


Foi solta em fins de abril de 1971, por decisão da própria Justiça Militar.


Ao ser libertada, desejava viajar para o exterior. Ela tinha também a intenção de ajudar familiares de perseguidos e mortos. Ficou uns tempos na casa da mãe e na casa de amigos, enquanto se preparava para a tal viagem. Por volta do dia 25 de julho, recebi um telefonema em casa informando-me que Heleny havia sido presa no Rio de Janeiro.


Meu pai foi para Brasília, bem como ao Comando do I Exército, no Rio de Janeiro, procurando autoridades e amigos. Todas as informações foram no sentido de que Heleny não havia sido presa e que, provavelmente havia embarcado para o exterior..."

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+ Informações sobre a vida de Heleny Ferreira Telles Guariba.
Quando o golpe de 1964 instaurou a ditadura militar no Brasil, mulheres e homens amargaram nas prisões de delegacias e aparelhos clandestinos de repressão, sofrendo as mais desumanas torturas físicas e psicológicas. Com o poder nas mãos dos militares, muitas destas pessoas foram exiladas e deixaram o país. Outras ficaram, para lutar das mais variadas formas para reconquistar a liberdade e a democracia do Brasil. O ideal era o mesmo, mas as formas de luta variavam: alguns decidiram pegar em armas, através das guerrilhas, outros escolheram a arte. Dentre aqueles que optaram por este instrumento está a diretora teatral Heleny Guariba, que junto com outros nomes desconhecidos pela maioria dos brasileiros, contribuiu para semear o ideal de liberdade e de justiça em um período crítico da história nacional.
Heleny Ferreira Telles Guariba nasceu em Bebedouro, interior de São Paulo, em 1941 e se criou numa família essencialmente feminina. Orfã de pai, aos 2 anos de idade, foi criada pela mãe, pela avó e por uma tia. Filha única e centro das atenções de sua família, a pequena Heleny encantava a todos com seu jeito gentil e falante. Ainda adolescente, começou a dar aulas para crianças e jovens na Escola Dominical da Igreja Metodista Central , em São Paulo, cidade para onde sua família seguiu depois da morte de seu pai. Nesta escola, desenvolveu uma de suas características mais marcantes: saber ensinar e ouvir com interesse e respeito a consideração do outro.
Estudos no exterior
Em 1965, um ano depois de se formar na Faculdade de Filosofia da USP, Heleny parte para a Europa para estudar teatro, política e artes. Na Alemanha, frequentou o teatro do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, o Berlinder Ensemble. Já na França, a diretora fez seu doutorado, além de estágios em diversos teatros do país, como o Theatre de la Cité, de Roger Planchon, também discípulo do teatro idealizado por Brecht.
Na volta ao Brasil, Heleny queria colocar em prárica tudo aquilo que tinha aprendido, visto e sentido na sua temporada no exterior. Para colocar seus ideais revolucionários de transformação política e de resgate da liberdade de expressão em prática, ela usou o teatro como instrumento. Passou a dar aulas na Escola de Artes Dramáticas da USP, onde seu objetivo de popularizá-lo ganhou força entre seus alunos. Assim como Brecht, Heleny queria fazer um teatro operário, que pudesse agir como ferramenta de conscientização política. Assim, foi em Santo André, no ABC paulista, que ela encontrou o campo favorável para isso. Na década de 60, a instalação de diversas fábricas faziam com que a cidade tivesse uma forte concentração de trabalhadoras e trabalhadores, além de uma grande representatividade estudantil, o que tornava o contexto perfeito para o trabalho de Heleny.
Foi então que em 1968, a diretora fundou o grupo Teatro da Cidade, formado em sua grande maioria por operários. A primeira montagem do grupo, Jorge Dandin, o Marido Traído, do dramaturgo francês Moliére, foi vista por mais de 7 mil pessoas. Em 1969, o grupo montou A Ópera dos Três Vintens, de Bertolt Brecht, um dos autores preferidos de Heleny, por causa de sua intensa veia social.
O grupo tinha a alma de Helleny, que através de seu teatro popular buscava a intensificação do envolvimento político dos trabalhadores no contexto social pelo qual o Brasil passava. Mas sua história com o teatro ultrapassou as fronteiras de Santo André. Além das aulas na EAD, Heleny trabalhou com Augusto Boal, dando aulas no seminário de dramaturgia do Teatro de Arena, criado pelo diretor, A diretora também escreveu diversos artigos, publicados em jornais dos anos 60.
Censura dos militares cala a voz de Heleny
Tanto envolvimento político provocou a ira dos militares da ditadura que não toleravam nenhuma iniciativa de transformação no pensamento dos brasileiros. Em março de 1971, Heleny foi presa pelo Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), sendo torturada por dois meses. Foi solta, mas detida novamente em julho do mesmo ano e enviada ao Destacamento de Operações de Informações, no Rio de Janeiro. Testemunhas afirmam que ela sofreu torturas por três dias e que foi assassinada na ''casa da morte'', em Petrópolis, um dos aparelhos clandestinos de repressão da ditadura. Depois disso, Heleny ingressou na extensa lista dos desaparecidos políticos da ditadura militar. A artista deixou dois filhos: João Vicente e Francisco.
Todos que conviveram com ela têm como lembrança a imagem de uma pessoa companheira e sempre pronta para enfrentar situações difíceis. ''De jeito alegre e cativante, pequena, arisca e bonita - beleza que a gente percebe que vem de dentro pra fora, enraizada no espírito ágil que lhe conservava, no corpo, o jeito de menina'', disse Frei Betto sobre Heleny. Uma brava guerreira, que apesar de permanecer no quase anonimato para a grande maioria dos brasileiros deixou sua marca na história recente do Brasil, como um exemplo de fibra, coragem e perseverança. Heleny provou que não importa de que maneira, o importante é lutar por mudanças.

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