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sexta-feira, 24 de junho de 2016

Convocatoria para publicar en Revista de la Red Intercátedras de Historia de América Latina Contemporánea (N°5).



Convocatoria para publicar en el N° 5 (Diciembre de 2016)

La Revista de la Red Intercátedras de Historia de América Latina Contemporánea, ISSN 2250.7264, invita a presentar colaboraciones para las secciones “Artículos”, “Contribuciones”, “Entrevistas”, “Resúmenes de tesis sobre América Latina” y “Reseñas bibliográficas”.
Las colaboraciones se recibirán hasta el 30 de junio de 2016 a través del mail de la revista o de la plataforma OJS: http://revistas.unc.edu.ar/index.php/RIHALC/index
Las propuestas de artículos serán sometidas a referato doble ciego y todas las colaboraciones deberán ajustarse estrictamente a las normas editoriales de la publicación, que están disponibles en:

    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

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Documentário resgata histórias vivenciadas nos cinemas de rua



Fonte: Aline Salgado - FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro


Ator e diretor, o 'Rei da Pornochanchada' Carlo
Mossy 
participa do documentário (Fotos: Divulgação)

Qualquer semelhança, não é mera coincidência. É o que confidencia o professor do Curso de Produção Cultural do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), campusNilópolis, Tiago José Lemos Monteiro. Bebendo na produção de um dos maiores cineastas e documentaristas brasileiros, Eduardo Coutinho (1933-2014), o pesquisador produziu um vídeo-documentário sobre as relações de personagens anônimos e famosos com o ambiente dos cinemas de rua do Rio de Janeiro e o fascínio despertado pela imagem em movimento na telona.

O set de filmagens é uma das salas do Cine Center, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, já desativado. No elenco, estudiosos dos cinemas de rua do Rio, estudantes, espectadores, profissionais que trabalharam em antigas salas de exibição, personalidades que viveram os tempos áureos da produção cinematográfica brasileira e, até mesmo, atores, que interpretam histórias fictícias. 

Memórias vividas, criadas e interpretadas se combinam na reconstrução do imaginário que envolve os cinemas de rua neste documentário do professor do IFRJ – da mesma forma como Eduardo Coutinho fez em seu "Jogo de Cena" (2007), longa que mistura realidade e dramaturgia, onde os personagens reais falam da sua própria vida e, depois, atrizes interpretam as personagens. Um jogo em que o espectador não sabe o que é real e o que é ficção.

"Sempre me consternou o fato de os cinemas de rua terem sido extintos e dado lugar a outros empreendimentos, como farmácias e igrejas. Visitar e revisitar esses lugares, pautava meu interesse", conta Tiago, que, em 2011, obteve apoio da FAPERJ, por meio do edital Apoio à Produção e Divulgação das Artes no Estado do Rio de Janeiro – 2011, para desenvolver seu projeto. 

Ex-gerente do Cine Santa Rosa, Zé Grande relembra
o convívio que teve com o ator e diretor Mazzaropi


O pesquisador ressalta que, inicialmente, a ideia era fazer uma pesquisa histórica sobre os cinemas da Baixada Fluminense. No entanto, a escassez de fontes documentais levou a uma mudança de rumo do projeto. Diante desse desafio, Tiago optou por aliar o interesse de contar a história dos cinemas à sua atividade como professor responsável pelo Núcleo de Criação Audiovisual do IFRJ – Nuca. Para realizar a tarefa, ele contou com a ajuda de 10 colaboradores, entre pesquisadores, monitores, bolsistas e voluntários.

"Eu tinha essa vontade de criar uma produção de cunho historiográfico com um viés mais memorialista das pessoas com as salas de cinema de rua. Pensar a realidade dos bairros de subúrbio e da Baixada, que tinham no cinema uma opção de lazer popular e barata", diz Tiago.
 
Depois de muita pesquisa, o professor do IFRJ e sua equipe conseguiram encontrar um set de filmagens que se adequasse, perfeitamente, à ideia do projeto: o Cine Center, em Nova Iguaçu. Preservando o estilo de cineteatro, que remonta à década de 1970, a sala mantinha elementos de época, tais como as cadeiras em madeira, os letreiros manuais e em cor vermelha, a telona e o antigo projetor. Foi nesse espaço que o documentário batizado de "Tempo de Projeção", ainda inédito, foi rodado. Com 79 minutos, o filme apresenta ricos depoimentos do ator e diretor, conhecido como "Rei da Pornochanchada", Carlo Mossy; e do ex-gerente do Cine Santa Rosa, de Duque de Caxias, Zé Grande.



No filme, Zé Grande relembra o convívio que teve com o ator e diretor Amácio Mazzaropi (1912-1981), que imortalizou a figura do jeca, e também discute as dificuldades que levaram ao desaparecimento das salas de rua: "O custo de exibição do filme de película de 35 milímetros é de R$ 4 mil. Já o filme digital custa de R$ 300 a R$ 400", diz. 

O depoimento de Carlo Mossy reforça o debate. Para ele, é importante que os cinemas de rua voltem a funcionar. "Eles deveriam exibir 60% de filmes brasileiros e 40% de 'filmes alienígenas'. O grande público não vai ao cinema de shopping porque não tem condições monetárias. As pessoas gostariam de ir a pé e voltar a pé do cinema", diz Mossy, que, em outra passagem do filme, revela toda a emoção que tem com essa arte: "A projeção não era apenas de fotogramas. Era de emoções, paixões e momentos inesquecíveis". 

Fundador e diretor do Cinema Ponto Cine – primeira sala popular de cinema totalmente digital do País –, Adailton Medeiros também ressalta, no documentário, a função social dos cinemas de rua. "Só 17,2% dos cariocas já pisaram em um cinema. Ele vive mais no nosso imaginário do que na nossa prática. Temos 2.500 salas no Brasil. É muito pouco para os mais de 190 milhões de brasileiros", questiona.
Pesquisadora dos cinemas de rua, Talitha Ferraz fala
da comoção popular com o fechamento do Cine Olinda
Professora e pesquisadora dos cinemas de rua, Talitha Ferraz também participa do documentário. Ela ressalta como as salas de cinema modificaram os espaços urbanos e o cotidiano da população, a partir da década de 1940. "Eu era moradora da Tijuca e vi os fechamentos dos cinemas de rua acontecerem. Claro que eu não peguei o fechamento do Cine Olinda, que foi o maior cinema da América Latina, mas o relato das pessoas que viram a demolição dá conta da grande comoção que ocorreu. Muitos foram para a porta do cinema para protestar, chorar e lamentar a sua demolição. Foi uma grande perda", afirma Talitha no documentário, referindo-se ao cinema que foi demolido para dar lugar a um centro comercial, o Shopping 45, localizado na Praça Saens Peña. 

O filme de Tiago também compartilha histórias pessoais e análises da professora, pesquisadora e artista Paola Barreto; da jornalista Paula Dias; do jornalista e professor Rodrigo Cerqueira; do ex-funcionário do Cine Jóia, em Copacabana, Pedro Soares; do economista e estudante de Produção Cultural,  Carlos Abrunhosa, do estudante Rafael Velloso e dos atores Ana Moura e Gueko Hiller. Como parte da estética adotada pelo diretor, o público não consegue identificar os participantes, que não são identificados durante o documentário, mas apenas nos créditos finais. 

Finalizado em 2014, o documentário ainda se encontra inédito, disponível apenas em um canal particular no Youtube. Segundo Tiago, problemas técnicos comprometeram a qualidade do som da produção, que deve passar ainda por ajustes. "Contamos com uma boa estrutura de imagem, mas não de áudio. Precisamos ainda contornar problemas na mixagem para, então, divulgar o projeto ao público", afirma o pesquisador.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Palestra Estado Laico - prof. Dr. Roger Raupp Rios.


PROF. Dr. ROGER RAUPP
Juiz
Desembargador
Possui graduação em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1993), mestrado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2000) e doutorado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2004). Atualmente é conselheiro - International Council of Human Rights Policy, Juiz federal - Justiça Federal - Seção Judiciária e professor do Centro Universitário Ritter dos Reis, no Mestrado Stricto Sensu (Direitos Humanos) e na Graduação. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Público, atuando principalmente nos seguintes temas:direitos humanos, direitos fundamentais, direito da antidiscriminação, direitos sexuais e direito à saúde.














MARIA LIMA
Profa. adjunta do curso de Pedagogia
Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCHS)
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) - Campo Grande/MS
Gentileza gera gentileza!

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terça-feira, 7 de junho de 2016

A antropologia física dos “vis aimorés”.

Estudo que busca desvendar a origem dos índios botocudos coloca em dúvida a tese de que eles seriam descendentes diretos de uma primeira e hipotética migração para as Américas ( Foto: Índios botocudos, Santa Leopoldina (ES)/ Walter Garbe, 1909/Biblioteca Nacional Digital )

Fonte: Peter Moon | Agência FAPESP – Um dos principais mistérios da Antropologia Física brasileira – e que já dura 150 anos – está prestes a ser elucidado. Afinal, quem eram os índios botocudos? Seriam eles descendentes diretos de uma primeira onda migratória de paleoíndios com traços negroides que teria povoado a América do Sul há 13 mil anos, no final da Idade do Gelo? Ou seriam os botocudos uma etnia diferente de todas as demais etnias brasileiras, por possuirem DNA polinésio no seu caldo hereditário? Ou carregariam injustamente a pecha de “primitivos” desde os tempos do Brasil Colônia, já que seriam descendentes da mesma migração humana que derivou em todas as etnias indígenas do Novo Mundo?

Em um trabalho publicado em 2015 no American Journal of Physical Anthropology, os antropólogos físicos André Strauss, pesquisador associado do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos e do Laboratório de Antropologia Biológica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha;Danilo V. Bernardo, da Universidade Federal do Rio Grande; e Mark Hubbe, da Universidade Estadual de Ohio, em Columbus, Estados Unidos, entre outros, se propõem a eliminar uma daquelas possibilidades. No caso, a que prega que os botocudos seriam descendentes diretos de uma primeira e hipotética migração para as Américas. A pesquisa teve apoio da FAPESP nas modalidadesbolsa de doutorado e mestrado.
A onda migratória da qual os botocudos seriam os seus herdeiros modernos é simbolizada pelo chamado “Povo de Lagoa Santa”, nome coletivo dado aos 30 esqueletos fossilizados de paleoíndios descobertos pelo naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund em uma gruta inundada de Lagoa Santa, Minas Gerais, em 1844.
A hipótese de que os crânios dos botocudos teriam uma morfologia distinta da dos tupis, e talvez parecida com a do homem de Lagoa Santa, foi levantada pela primeira vez por antropólogos do Museu Nacional do Rio de Janeiro ainda nos idos de 1870.
Desde então, a busca de uma resposta para a questão tem impulsionado as investigações arqueológicas em Lagoa Santa. Um dos pontos altos desta pesquisa foi a missão franco-brasileira que encontrou, nos anos 1970, um crânio com cerca de 12.500 anos, apelidado carinhosamente de Luzia, a “primeira brasileira”, por Walter Neves, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP.
Outro ponto alto da pesquisa foram as escavações realizadas entre 2003 e 2009 em diversas grutas e abrigos da região de Lagoa Santa. O trabalho foi liderado pelo próprio Neves, com apoio da FAPESP, no âmbito do Projeto Temático “Origins and microevolution of man in the Americas: a paleoanthropological approach”. Durante o trabalho de campo, Neves, que foi orientador de Strauss e Hubbe, escavou 23 crânios de paleoíndios com idades de até 8 mil a 10 mil anos. Foram esses crânios que forneceram a base principal de comparação para o estudo agora publicado.
A análise multivariada consistiu na comparação dos 32 crânios de botocudos da coleção do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro com a morfologia craniana de 3 mil crânios humanos modernos e pré-históricos de todo o mundo (incluídos aí 19 crânios de paleoíndios de Lagoa Santa e 66 de paleoíndios da Colômbia).
O objetivo dos pesquisadores foi chegar a um veredicto sobre a pretensa ancestralidade dos botocudos. O resultado comprovou o que os estudiosos do século 19 suspeitavam. “Nosso artigo confirma que a morfologia craniana dos botocudos era mais parecida com a dos crânios de Lagoa Santa do que com a dos tupis,” afirma Strauss.
O estudo sugere que a morfologia dos antigos paleoíndios foi conservada por milhares de anos nos ancestrais dos botocudos e sobreviveu até o século 19, apesar da existência de grupos tupis-guaranis ocupando a mesma região.
Daí se infere que a baixa afinidade morfológica entre os tupis-guaranis e os botocudos é sinal de um fluxo genético muito limitado entre os dois grupos. Em outras palavras, apesar de ocuparem as mesmas regiões por milhares de anos, praticamente não houve cruzamento entre os ancestrais dos botocudos e os dos tupis-guaranis.
Indo além, o fato de haver dois componentes genéticos, os ancestrais dos botocudos e os dos tupis, indicaria a existência de duas ondas migratórias distintas que teriam povoado o nosso continente – hipótese defendida por Neves desde os anos 1980.
Polinésios nas Américas?
Em 2014, um estudo internacional realizado a partir de DNA extraído dos crânios de botocudos do Museu Nacional e publicado noCurrent Biology, chegou a conclusões surpreendentes. Entre os crânios estudados, dois deles (os de números 15 e 17) revelaram ser 100% polinésios, enquanto os demais crânios da coleção eram 100% ameríndios.
A hipótese mais aceita para o povoamento das Américas prega que os primeiros grupos humanos que adentraram o Novo Mundo o fizeram através de uma ponte terrestre, hoje submersa, que existia no estreito de Behring. Essa ponte ligou a Ásia ao Alasca durante a Idade do Gelo, quando o nível dos mares era 130 metros mais baixo do que o nível atual.
Desde os tempos da expedição Kon-Tiki, do norueguês Thor Heyerdahl, que saiu do Peru em 1947 numa jangada para, três meses depois, atingir a Polinésia francesa, especulava-se se o povoamento das Américas teria ocorrido no sentido contrário, da Polinésia para o Novo Mundo.
Os autores do estudo entendem a surpresa do achado e procuram explicá-la por meio das seguintes suposições: o DNA polinésio poderia ter se imiscuído nas tribos dos botocudos do tempo do Império pelo tráfico de escravos entre a Polinésia e o Peru, ou entre Madagascar e o Brasil. Outras possibilidades seriam a vinda de polinésios ao Brasil como tripulantes de navios europeus – ou via travessias oceânicas realizadas pelos próprios polinésios.
“Como explicar que, à exceção daqueles dois crânios com DNA francamente polinésio, todos os demais possuem DNA ameríndio?”, questiona Strauss. “Como explicar DNA polinésio na costa atlântica do Brasil se jamais se encontrou nenhuma evidência neste sentido em nenhum outro ponto da América do Sul?”, complementa Hubbe. Se houvesse de fato ocorrido uma antiga migração polinésia para as Américas, por menor que esta fosse, seria de esperar que todos, ou pelo menos uma parte considerável dos crânios pesquisados, tivessem traços genéticos polinésios, o que não acontece.
Para Strauss e Hubbe, uma vez eliminadas todas as possíveis explicações para a chegada do DNA polinésio no Brasil, a única probabilidade que resta, e que deve ser verdadeira, é o fato de aqueles dois crânios com DNA polinésio não serem de botocudos. Em outras palavras, em algum momento nos últimos 150 anos ocorreu um erro no registro daqueles crânios.
“Fui ao Museu Nacional, pesquisei o tombo da coleção. Pude verificar que mais ou menos na mesma época da aquisição dos crânios de botocudos, na década de 1870, também foram adquiridos crânios da Polinésia para a montagem de uma exposição antropológica”, afirma Strauss. “Como o tombo do museu como conhecemos hoje só foi feito 30 anos mais tarde, já no início do século 20, tudo leva a crer que possa ter ocorrido um equívoco no registro daqueles dois crânios polinésios, que inadvertidamente acabaram rotulados como botocudos.”
Pesquisador com múltipla formação, Strauss irá concluir na Alemanha em 2016 um duplo doutorado em evolução humana, em Leipzig, e arqueologia, na Universidade de Tübingen. “Em museus alemães já vi crânios de gorilas classificados como sendo de chimpanzés. Esse tipo de troca pode ter ocorrido no Museu Imperial de Dom Pedro II no século 19.”
Com a palavra o geneticista Sergio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, um dos líderes do trabalho com DNA polinésio. “No nosso artigo tínhamos como coautores excelentes antropólogos cranianos, como o próprio Walter Neves, e provavelmente o maior especialista mundial na origem dos polinésios, Mark Stoneking. Nenhuma pista deixou de ser investigada”, afirma Pena. “É lógico que a possibilidade de troca no Museu Nacional foi extensivamente investigada, mas nenhuma evidência a seu favor foi encontrada.”
A suspeita de erro no tombo dos crânios faz sentido, porém jamais poderá ser comprovada. Não há forma de saber com certeza a origem e a real identidade daqueles dois crânios polinésios. O que é possível, e que está de fato em vias de ser conhecida, é a real ancestralidade dos índios botocudos.
Desde 2011, Strauss dá continuidade aos trabalhos iniciados por Neves na Lapa do Santo, dirigindo as escavações arqueológicas naquele abrigo rochoso. Ele revela que foram achados mais cinco crânios antigos, dos quais se procura, neste exato momento, extrair material genético no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva – a instituição responsável por inventar as técnicas que revolucionaram o estudo de DNA fóssil e onde foi sequenciado o genoma dos neandertais. De acordo com Strauss, os resultados parecem promissores.
Afinal, quem eram os botocudos?
Os índios botocudos, também conhecidos como aimorés ou aimberês, eram assim chamados pelos colonizadores portugueses por causa dos discos de madeira (os botoques) que costumavam usar no lábio inferior e nas orelhas. No início do século 19, as tribos de botocudos viviam no vale do rio Doce, entre o Espírito Santo e a Bahia. Não eram tupis, mas pertencentes ao grupo linguístico macro-jê. Guerreiros, eles evitavam o contato com o colonizador branco, daí terem recebido a alcunha de “índios ferozes” ou “de vis aimorés”, como declama o poema I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias.
Em 1808, Dom João VI transferiu a sua Corte de Lisboa para o Rio de Janeiro. No mesmo ano, além de fundar o Banco do Brasil, a Casa da Moeda e o Jardim Botânico, o monarca assinou duas cartas régias deflagrando uma guerra ofensiva contra os botocudos. A primeira carta permitia o cativeiro de indígenas por até dez anos, ou enquanto durasse a “fereza” e a “antropofagia” entre eles. A segunda afirmava a intenção de colonizar o vale do rio Doce graças à guerra, tornando os territórios conquistados terra devoluta, própria para distribuição aos novos colonos.
A campanha militar contra os botocudos se estendeu por todo o século 19. Os que conseguiram sobreviver ao massacre fugiram para os vales do Mucuri e do Jequitinhonha. Os pouquíssimos remanescentes só foram declarados oficialmente pacificados em 1912.
Ao longo de um século de perseguição, que resultou no extermínio dos botocudos, a alcunha conferida a eles como sendo índios “ferozes” foi aos poucos virando sinônimo de feiúra, de seres primitivos. A partir daí, foi natural os botocudos despertarem o interesse científico dos antropólogos do Museu Nacional do Rio de Janeiro.
O artigo, assinado por André Strauss, Mark Hubbe, Walter A. Neves, Danilo V. Bernardo e João Paulo V. Atui, The cranial morphology of the Botocudo Indians, Brazil, publicado no American Journal of Physical Anthropology, está acessível no endereço: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ajpa.22703/abstract;jsessionid=60C5158D2873DCB73B13B0E4CB603A7D.f04t04

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Atrás da coxia, o Rio de Janeiro da Belle Époque.

Fonte: FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro 

Aline Salgado
Irmão de Aluísio Azevedo, autor de O Cortiço, Artur foi 
jornalista e dramaturgo (Foto: Reprodução)
Um rico recorte histórico e um personagem pouco conhecido do grande público. Esses sãos os ingredientes da etnografia contada pela pesquisadora em Antropologia Social e professora de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Tatiana Oliveira Siciliano. Pelas páginas de O Rio de Janeiro de Artur Azevedo: cenas de um teatro urbano (Edit. Mauad X, p.333), Tatiana leva os leitores a uma viagem de volta à capital do Brasil no final do século XIX e início do XX, quando a República dava seus primeiros passos e os ares de modernização se misturavam aos anseios de uma sociedade que buscava deixar para trás um passado de atraso, vinculado ao tempo de colônia e escravidão. 
A obra é uma adaptação da tese de doutorado da pesquisadora, defendida em 2011, no programa de pós-graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ), sob orientação do antropólogo e pioneiro nos estudos sobre Antropologia Urbana, Gilberto Velho – que faleceu em 2012. Por meio do Auxílio à Editoração (APQ 3) da FAPERJ, Tatiana Siciliano conseguiu recursos para publicar sua análise socioantropológica do universo ficcional de Artur Azevedo e, assim, difundir para o público essa rica figura intelectual.
Irmão de Aluísio Azevedo, autor de O Cortiço, e colega de repartição de Machado de Assis no Ministério da Viação, Artur Azevedo é o que hoje chamaríamos de "comunicador de massas". É assim que define a própria pesquisadora. Segundo Tatiana, Artur Azevedo foi um intelectual antenado à cultura de massas emergente. Um escritor de plateias amplas e heterogêneas, de letrados a analfabetos, que analisava com humor as virtudes e os vícios das transformações políticas, sociais e culturais pelas quais passava a capital da nova República. 
“Artur Azevedo queria ser entendido por todos os tipos de pessoas, até mesmo por aquelas que liam sobre os ombros dos outros. É importante lembrar que aquele era um tempo em que, apesar de a maior parte da população ser analfabeta, os jornais circulavam e quem lia contava o que lia aos outros”, salienta Tatiana, que escolheu como recorte histórico para seu estudo o período de 1902 a 1908, ano da morte do intelectual. 
    Tatiana assina autógrafos na noite
    de lançamento 
(Foto: Arquivo Pessoal)
Membro fundador da Academia Brasileira de Letras (1897), o jornalista e dramaturgo Artur Azevedo foi colaborador de diversos jornais da época, como O País, O Diário do Rio de Janeiro, Diário de Notícias, Novidades, Vida Moderna (que ajudou a fundar), O Álbum (que dirigiu), A Estação (no qual era redator na mesma época em que Machado de Assis publicou alguns de seus contos e romances), A NotíciaO MequetrefeCorreio da Manhã e O Século.
Como dramaturgo, escreveu peças de teatro, crônicas, contos e sainetes (pequena peça alegre do teatro espanhol, que passou a designar um gênero para o qual se usa hoje a palavra esquete), publicados em dezenas de folhas, que tinham como temática preferida o cotidiano da cidade e o choque entre o novo e o arcaico, seja no que diz respeito aos costumes, seja em relação às novas tecnologias, tais como os automóveis, os bondes, a energia elétrica e o cinematógrafo. “Artur Azevedo era conhecido pelas peças que escrevia para o teatro ligeiro musicado, no qual se inseriam as revistas de ano, maior produção do autor. Essas revistas eram retrospectivas satíricas, cantadas e dançadas, sob a forma de esquetes”, diz Tatiana.
Cabe lembrar que o pano de fundo das produções de Artur Azevedo é o Rio de Janeiro da belle époque, uma cidade em ebulição, com as expectativas de modernização e progresso que se seguiram ao fim da Guerra do Paraguai, ao movimento republicano, à intensificação da imigração europeia, à abolição da escravidão e ao fim do Império, além das reformas urbanas empreendidas na então capital federal por Pereira Passos e as campanhas de urbanização e higienização que tanto desafiaram os costumes nacionais na gestão de Rodrigues Alves (1902-1906).
A obra foi lançada em 2014
pela 
editora Mauad X 
No meio político, Artur Azevedo se destacou como defensor do Theatro Municipal, inaugurado um ano após sua morte. “O intelectual defendia a criação de um teatro nacional que formasse atores e dramaturgos. Um espaço patrocinado pelo Estado, a exemplo da Comédie-Française. Para Artur Azevedo, o País precisava desenvolver uma indústria cultural que remunerasse atores e dramaturgos. Só assim, segundo ele, o País conseguiria ter talento e inovação nas produções nacionais”, afirma Tatiana.
Mas tal concepção de espaço voltado à dramaturgia foi deturpada pelas decisões de políticos da época. Conforme nos conta a pesquisadora em seu livro, apesar de aprovado por lei desde 1895, o teatro nacional só foi inaugurado em 1909, com outra concepção: dirigido por companhias internacionais e destinado a grandes espetáculos. Apenas a partir dos anos 1930, na gestão de Getúlio Vargas, o Theatro Municipal viria a ser patrocinado pelo governo.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Conferência em homenagem ao Dia Internacional Dos Arquivos: ARQUIVOS, TRANSPARÊNCIA E ACESSO À INFORMAÇÃO.

Conferência em homenagem ao Dia Internacional Dos Arquivos: ARQUIVOS, TRANSPARÊNCIA E ACESSO À INFORMAÇÃO.





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