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quinta-feira, 22 de julho de 2021

Genevieve Naylor: um olhar humanizado sobre o Brasil da Boa Vizinhança.

Fonte: FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

Débora Motta

Registro de um ambulante no calçadão de Copacabana,
pelas lentes de Genevieve Naylor (Foto: Reprodução)  

As imagens oficiais do Brasil produzidas durante o período getulista do Estado Novo (1937-1945), pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), eram marcadas pelo discurso visual de exaltação à pátria e de grandiosidade, influenciado pelos regimes fascistas europeus da época. Um olhar feminino, entretanto, registrou de forma peculiar e humanizada o cotidiano do País nesse período, em um tempo que o acesso às câmeras fotográficas, ainda analógicas, era algo raro. A fotógrafa americana Genevieve Naylor (1915-1989), em expedição pelo Brasil, registrou imagens históricas que correram o mundo em galerias internacionais e se tornaram fundamentais para a construção da imagem da brasilidade no exterior durante o período conhecido na historiografia como Política da Boa Vizinhança, de estreitamento das relações culturais e diplomáticas entre Estados Unidos e América Latina. Esse é o tema de estudo da pesquisadora Ana Maria Mauad, professora titular do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Integrante do Laboratório de História de Oral e Imagem (Labhoi/UFF), Ana vem se dedicando ao tema desde a realização do seu doutorado, na década de 1990, e atualmente recebe o apoio da FAPERJ por meio do programa Cientista do Nosso Estado. “São imagens muito significativas, porque no Brasil, durante o Estado Novo, não tinha muita gente fotografando, além dos fotógrafos oficiais do DIP, que eram, por sinal, todos homens, incluindo refugiados da Alemanha e da França, como Peter Langue, Erich Hess, Paul Stille e Jean Manzon, além dos brasileiros Jorge de Castro e Epaminondas Macedo. Ela foi uma fotógrafa humanista, apoiada nos padrões de uma fotografia que aproximava a câmera do seu fotografado e identificava as pessoas nos seus espaços”, contextualizou a historiadora da imagem.

As fotos de Genevieve não eram uma propaganda direta, como a cineasta alemã Leni Riefenstahl fazia ao nazismo de Hitler. “Sua obra retratava um território visual. Era uma cartografia sensível de pessoas e lugares que buscava aproximar a vivência cotidiana de brasileiros e estadunidenses. A Genevieve fotografava na altura do olho, não criava grandes cenários massivos nem estéticas grandiosas, como o DIP e a propaganda oficial fascista. Focava nas pessoas e nos entornos delas, com variedade de personagens e lugares, desde cenas cariocas, como o Carnaval, o passeio de um ambulante na praia de Copacabana, um jogo de futebol; passando por imagens de festas religiosas e de imagens do Aleijadinho, em Minas Gerais, até imagens do Brasil profundo, no sertão nordestino, captadas durante suas incursões rumo ao Rio São Francisco”, detalhou Ana.

Ana Mauad: pesquisa sobre a fotógrafa Genevieve Naylor,
que contribuiu para a construção da imagem do Brasil no

exterior durante o Estado Novo (Foto: Divulgação/UFF)  

Genevieve Naylor fotografou o Brasil durante sua permanência no país, em 1941 e 1942, durante a Segunda Guerra, como funcionária do Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (CIAA), órgão dirigido por Nelson Rockefeller e responsável pela cooperação interamericana e implementação da Política da Boa Vizinhança. Em janeiro de 1943, ela se tornou a primeira mulher convidada a expor no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), com a mostra Faces and Places in Brazil, que foi levada a vários museus americanos, retratando os modos de vida do povo brasileiro à época. Apresentando o modo brasileiro de ser, a imprensa americana noticiou o trabalho dela juntamente com a do fotógrafo americano Kidder Smith, que registrou na mesma época a arquitetura de Brasília, na exposição Brazil Builds. “Genevieve tinha o olhar de quem se formou na melhor tradição da fotografia engajada, influenciada pela geração de fotógrafos da Farm Security Administration, agência criada durante o governo Roosevelt (1933-1945) que se notabilizou ao contratar fotógrafos profissionais que criaram uma estética original para registrar as condições de vida no campo nos Estados Unidos e validar a necessidade da implantação das medidas sociais e econômicas propostas no New Deal”, explicou.

O cenário norte-americano de então era delimitado pela experiência da depressão econômica dos anos 1930, pelo crescimento urbano, pelas experimentações das vanguardas artísticas e pelas instituições criadas no âmbito do Estado de Bem-Estar Social — o New Deal, lançado pelo presidente Roosevelt. “Havia ainda o interesse, por parte do Departamento de Estado dos EUA, em consolidar a presença estadunidense na América Latina através de acordos comerciais, planos de cooperação internacional e, por fim, de alianças políticas que garantissem a hegemonia dos Estados Unidos na região”, contextualizou Ana. Se o Brasil tinha, por um lado, Carmen Miranda como embaixadora da música nacional, o imaginário fotográfico da Boa Vizinhança ficou marcado pela obra de Genevieve.  

A pesquisadora publicou diversos artigos sobre o tema, entre eles “Genevieve Naylor, fotógrafa: impressões de viagem (Brasil, 1941-1942)”, na Revista Brasileira de História (vol.25, nº 49); o artigo “O olhar engajado: fotografia contemporânea e as dimensões políticas da cultura visual”, em que compara aspectos da obra de Genevieve com as fotos de Sebastião Salgado, na revista ArtCultura, da Universidade Federal de Uberlândia (vol. 10, nº 16); e a Good Neighbor Photographer in Brazil (1941-42), na revista Crítica Cultural, de Santa Catarina (v. 12, n. 2). “A obra de Genevieve ajuda a reconstruir os itinerários da fotografia pública brasileira e a imagem do Brasil no exterior”, concluiu. Atualmente, a obra de Genevieve está em cartaz no Metropolitan, em Nova York, na exposição The New Woman Behind the Camera.    

sexta-feira, 9 de julho de 2021

SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA MILITAR.

Página do V Simpósio Nacional de História Militar | Sobre | Programação | Contato         

V Simpósio

Nacional de

História Militar.​ 

IV Encontro de História Militar

do GTHM-ANPUH/RS.

BALANÇOS E PERSPECTIVAS DA HISTÓRIA MILITAR NO BRASIL

18 a 21 de outubro de 2021

PROMOÇÃO
GT DE HISTÓRIA MILITAR - ANPUH/BRASIL
GT HISTÓRIA MILITAR - ANPUH/RS

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Livro revisita a produção literária de Álvares de Azevedo

 

Fonte: FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro Débora Motta


Obra analisa a produção literária do escritor que
se tornou uma referência do 
Romantismo
na literatura brasileiro
 (Imagem: Reprodução)

Poeta da melancolia, da atmosfera gótica e das paixões idealizadas, Álvares de Azevedo (1831-1852) é a maior referência do ultrarromantismo na literatura nacional. Em 2021, quando se completam os 190 anos de nascimento do escritor, a professora e pesquisadora de Literatura Brasileira da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Andréa Sirihal Werkema, bolsista do programa Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, lança o livro “Cuidado leitor” – Álvares de Azevedo pela crítica contemporânea (Ed. Alameda Editorial, 2021, 282 p.) - https://www.alamedaeditorial.com.br/critica-literaria/cuidado-leitor-organizacao-de-andrea-sirihal-werkemaOrganizada por Andréa, a obra reúne nove capítulos, escritos por pesquisadores de diversas instituições de ensino superior do Sudeste, estudiosos da produção literária do autor, que se destacou com títulos como Noite na Taverna e Macário.

Cada um dos capítulos apresenta e discute aspectos da obra de Álvares de Azevedo que dizem respeito a sua poesia, visão de mundo romântica e inserção no contexto do Romantismo, brasileiro ou global. “Trata-se de um livro produzido inteiramente durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, quando entramos em trabalho remoto, o que reafirma a importância do trabalho das universidades brasileiras nesse momento para a preservação do nosso patrimônio cultural”, contextualizou Andréa. O título do livro é uma alusão ao prefácio que ele escreveu para a segunda parte da Lira dos Vinte Anos. Após concluir a primeira parte, marcada pelo lirismo, ele avisa que a obra entrará em outra atmosfera, cômica e grotesca. “Cuidado, leitor, ao voltar esta página! Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos entrar num mundo novo, terra fantástica, verdadeira ilha Baratária de D. Quixote, onde Sancho é rei e vivem Panúrgio, sir John Falstaff, Bardolph, Fígaro e o Sganarello de D. João Tenório: — a pátria dos sonhos de Cervantes e Shakespeare.”

Em Cuidado, leitor, o primeiro capítulo após a Apresentação, intitulado “Um romântico brasileiro e seus modelos clássicos”, é assinado por Andréa. “A obra de Azevedo é diversa, visitando diferentes gêneros literários, como poesia e prosa; drama, narrativa e crítica. Podemos hoje afirmar que sua produção, publicada postumamente, tem qualidades que asseguraram o interesse da crítica nesses muitos anos que se passaram”, disse a doutora em Estudos Literários. “O lugar de Álvares de Azevedo na literatura brasileira é bastante interessante, já que ele faz parte do cânone de nosso Romantismo, sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, está ali colocado como um romântico antinacionalista, invertendo a imagem mais comumente vendida do movimento romântico entre nós, caracterizada pelo indianismo e por temas que reforçavam a imagem nacionalista da então recém-criada República brasileira”, explicou. 

A autora da obra e professora da Uerj, Andréa
Sirihal Werkema, destaca a maturidade literária
da bibliografia do jovem Álvares de Azevedo

O segundo capítulo, “Um sopro republicano e de vingança escrava”, é escrito pela professora da Universidade de São Paulo (USP) Cilaine Alves Cunha. O terceiro, “Álvares de Azevedo ou o fetiche de Solfieri”, é do professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Gilberto Araújo. O quarto, “Ainda sobre o gótico no Brasil”, é assinado pelo professor do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Júlio França. O quinto capítulo, “Emulação e paródia no fragmento IX de Ideias íntimas”, é da professora de Teoria Literária da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Natália Gonçalves de Souza Santos. O sexto, “O desencantamento em Álvares de Azevedo”, da doutoranda no Programa de Pós Graduação em Literatura Brasileira da USP Patrícia Aparecida Guimarães de Souza. O sétimo, “Ideias íntimas [fragmentos, ensaio, da Trindade em Lira dos vinte anos], é do professor em Teoria da Literatura e Literatura Comparada da UFMG Rafael Fava Belúzio. O oitavo, “Endereçamento, amizade e ecos de uma querela filosófica na meditação de “Panteísmo”’, é do professor associado de Literatura Brasileira da USP Vagner Camilo. O último capítulo, do professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Wilton José Marques, intitula-se “O fantasma de Álvares de Azevedo e Machado de Assis: alguns diálogos.”

Filho do advogado Inácio Manoel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Silveira da Motta Azevedo, Álvares de Azevedo passou a infância no Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos. Voltou a São Paulo, em 1847, para estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde se destacou desde cedo no cenário literário. Durante o curso, teria traduzido o quinto ato de Otelo, de Shakespeare, e a obra Parisina, do poeta britânico Lord Byron, sua grande influência literária. Fundou a revista da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano (1849) e fez parte da Sociedade Epicureia. Entre seus contemporâneos na faculdade encontravam-se José Bonifácio, o Moço, Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães, os dois últimos suas maiores amizades em São Paulo, que se tornariam escritores.

O jovem acadêmico de Direito morreu precocemente, aos 21 anos incompletos, quando passava as férias no Rio. Ele teria desenvolvido um tumor na região ilíaca após cair de um cavalo, e embora a causa de sua morte seja, muitas vezes, apontada como tuberculose, ela ainda é controversa. “Sua contribuição para a literatura brasileira é inegável. Azevedo influenciou outras gerações de escritores românticos, na prosa e na poesia, como o próprio Castro Alves. O mais impressionante na sua obra, toda publicada postumamente, é o grande volume de coisas escritas por um autor que morreu tão jovem. Mostra que ele era um autor amadurecido, refletindo sobre a obra que queria construir, com uma coerência interna entre os textos. Há aspectos, já levantados pela crítica, que sugerem inclusive uma continuação do drama Macário na narrativa de Noite na Taverna, por exemplo”, concluiu Andréa.

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