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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Poderes femininos nos interstícios da ordem patriarcal




 
Estudo destaca participação
intensa das mulheres da elite
rural brasileira nos diversos
aspectos da vida cotidiana no
fim do século 19 e início do
século 20 (divulgação
URL: agencia.fapesp.br/16281
Fonte: Agência FAPESP

Poderes femininos nos interstícios da ordem patriarcal

04/10/2012
Por José Tadeu Arantes
Agência FAPESPAs mulheres da elite rural brasileira do fim do século 19 e início do século 20 podem ter exercido um papel muito mais ativo, dentro e fora do lar, do que deixou transparecer o discurso ideológico dominante.
Para além da epiderme da ordem patriarcal, elas teriam sido centros de gravidade de famílias extensas, atuantes nos negócios e opinantes na política. Tal é a generalização que poderia ser feita a partir do caso singular – e exemplar – estudado por Marcos Profeta Ribeiro, professor da Universidade do Estado da Bahia.
O estudo foi feito em mestrado orientado por Maria Odila Leite da Silva Dias, professora titular aposentada da Universidade de São Paulo, onde mantém atividades de orientação de mestrado e doutorado, e professora associada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e resultou no livro Mulheres e poder no Alto Sertão da Bahia, publicado com apoio da FAPESP.
Ribeiro se ocupou do vasto acervo de cartas deixado por Celsina Teixeira Ladeia, irmã do educador Anísio Teixeira, idealizador da Universidade de Brasília e notável defensor da reforma educacional no país.
Celsina (1887-1979) testemunhou, quando criança, a última década do século 19 e, como adolescente e adulta, as oito primeiras décadas do século 20. O livro enfoca um período específico da vida de Celsina, o quarto de século que se estendeu de 1901 a 1927.
"Nesse trabalho, Ribeiro dá uma importante contribuição aos estudos das relações de gênero, ao investigar os espaços de autonomia, ocultados pelos papéis atribuídos às mulheres pela Igreja, pela cultura e pelas tradições das elites", disse Maria Odila.
"As cartas, estudadas com argúcia pelo autor, são expressivas não apenas pelo que dizem, mas também e principalmente pelo que silenciam", afirmou a professora.
Celsina era filha do coronel Deocleciano Pires Teixeira (chefe político do município de Caetité, no Alto Sertão da Bahia) e de Ana Spínola Teixeira, a terceira de três filhas do coronel Antonio de Souza Spínola (grande fazendeiro de Lençóis, na Chapada Diamantina), com as quais Deocleciano se casou sucessivamente.
Fruto de um casamento que foi, antes de tudo, um arranjo político entre duas famílias poderosas, Celsina foi a segunda filha de sua mãe e quinta integrante da prole do pai – que teria um total de 14 filhos e filhas.
"Sua intensa atividade epistolar, iniciada aos 14 anos de idade, em 1901, estendeu-se até meados da década de 1960. Dessas mais de seis décadas de produção resultou um espantoso acervo de 1,5 mil cartas, emitidas ou recebidas", disse Ribeiro.
Ribeiro esmiuçou parte desse legado, estudando as cartas produzidas até 1927, quando, em decorrência do estresse sofrido com a prolongada doença e a morte do marido (o fazendeiro e farmacêutico José Antônio Gomes Ladeia, neto do Barão de Caetité) e as primeiras manifestações da doença mental que afetou seu único filho (Edvaldo Teixeira Ladeia, morto precocemente aos 35 anos), Celsina viveu um severo, mas rapidamente superado, episódio de depressão, ou, como foi diagnosticado na época, uma enfermidade causada por "incômodos nervosos".
Essas cartas colocam diante de nossos olhos uma mulher muito ativa, não apenas na gestão do lar, mas também na administração das fazendas, na promoção da filantropia e nas articulações de bastidores da política local.
"Celsina mantinha uma rigorosa contabilidade, tomava decisões em relação aos empregados, planejava investimentos para enfrentar as graves secas que castigavam o sertão, estava a par das variações do preço do gado e sabia aproveitar as melhores ofertas dos compradores e recusar as oportunidades de risco", disse Maria Odila.
Dotado da singularidade que caracteriza cada trajetória humana, o caso de Celsina não foi, no entanto, único. A vasta documentação estudada por Ribeiro desvelou uma participação intensa das mulheres da elite local nos diversos aspectos da vida cotidiana.
Tanto que, em seu trabalho de doutorado, Ribeiro pretende ampliar o foco, estudando as trajetórias de outras mulheres, inclusive da mãe de Celsina, Ana Spínola Teixeira.
"Os documentos sugerem uma revisão da questão patriarcal. Por meio deles, percebemos que as mulheres da elite exerceram poderes difusos e periféricos que não transparecem ao primeiro olhar. E constatamos que o ambiente doméstico era um espaço de articulação do poder público", disse Ribeiro.

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