Este espaço é reservado para troca de textos e informações sobre a História do Brasil em nível acadêmico.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

** UFOP abre inscrições para Mestrado em História

 
UFOP abre inscrições para Mestrado em História



A Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), por meio do Programa de Pós-graduação em História, abre inscrições para o curso de mestrado em História entre os dias 22 de agosto e 26 de outubro. As inscrições devem ser feitas na secretaria do Programa, no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da (UFOP), Campus Mariana, das 8h às 15h.

A área de concentração do mestrado é Poder e Linguagens e as linhas de pesquisa são: 1) Poder, Espaço e Sociedade 2) Idéias, linguagens e historiografia.

Os candidatos ao Programa de Pós-Graduaç&a! tilde;o deverão ser portadores de diploma de curso superior reconhecido pelo MEC, com graduação em nível de bacharelado ou licenciatura plena (ou documento que comprove a conclusão do curso antes do início do semestre letivo de 2012/01).

Além de inscrições presenciais, os candidatos também podem se inscrever por correspondência, que deverá ser remetida até 26/10/2011 (carimbo de postagem) para:

Inscrições por correspondência
Programa de Pós-Graduação em História, Departamento de História
Instituto de Ciências Humanas e Sociais – UFOP
Campus Mariana, Rua do Seminário, s/n.
CEP 35420-000 - Mariana – MG.

Para mais informações acesse o
site.

Foto: Campus ICHS / Arquivo ACI. 





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Atividade nos últimos dias:
        **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

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    quarta-feira, 10 de agosto de 2011

    ** Um general diferente

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    Quarta-feira, 10 de Agosto de 2011

    Versus - Páginas da Utopia




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    Um general diferente
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    Por Mário Maestri, de Porto Alegre


    A negativa à apreciação sistemática da obra de Nelson Werneck Sodré devido a seu conteúdo e opções metodológicas determinou o empobrecimento das nossas ciências sociais.
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    Nelson Werneck Sodré

    Com o falecimento de Nelson Werneck Sodré, em 13 de janeiro de 1999, o Brasil perdeu um dos seus mais longevos e brilhantes pensadores. Werneck Sodré nasceu em 27 de abril de 1911, há cem anos, e ingressou, jovem, na carreira militar, alcançando o generalato. Ainda jovem oficial, dedicou-se ao estudo da sociedade brasileira, publicando, em 1938, seus dois primeiros livros, Panorama do Segundo Império e História da literatura brasileira:seus fundamentos econômicos.

    O título do segundo livro − que, ampliado, conheceu inúmeras reedições – assinalava a opção metodológica do autor. Até sua morte, Sodré dedicou-se à análise materialista da sociedade brasileira. Apesar de ter-se consagrado sobretudo como historiador, produziu vasta obra sobre múltiplos aspectos da formação social brasileira - literários, geográficos, sociológicos, políticos, etc.

    Nos anos 40, 50 e 60, Sodré desempenhou singular importância na formação da intelectualidade brasileira, em geral, e de esquerda, em particular. O fato de ter sido o mais brilhante defensor da existência de relações semi-feudais no passado do Brasil, tese defendida pelo PCB, então maior partido da esquerda, determinou forte desvalorização de sua produção teórica, quando da crise daquela organização, golpeada pelo golpe de 1964.

    Antes e após o golpe, diversos pensadores de esquerda propunham, em oposição a essa leitura, o caráter capitalista acabado da sociedade nacional e, portanto, um programa socialista para o país. Na época, a ideologização da discussão historiográfica levou a que parcelas da intelectualidade e da militância de esquerda negassem, em bloco, a produção de Sodré. O debate entre passado semi-feudal e capitalista seria superado, em 1978, por Jacob Gorender, dirigente dissidente do PCB, ao propor essência escravista do Brasil, até 1888, em O escravismo colonial.

    Intelectual e politicamente ativo após a redemocratização, Sodré permaneceu, com Oscar Niemeyer, de sua geração, ao lado de Luiz Carlos Prestes, quando o velho secretário-geral rompeu com o PCB, acusando sua direção de revisionismo. Na década de 80, sob a pressão da maré neoliberal, o marxismo conheceu forte desprestígio entre a intelectualidade, sendo praticamente defenestrado dos cursos universitários. Nesses anos, intelectuais de esquerda abandonaram suas posições sob a pressão da conjuntura hostil. Mesmo após o fim da URSS, o velho general perseverou em suas concepções.
    http://www.viapolitica.com.br/foto_peq/310711_01.jpg
    Nelson Werneck Sodré

    Nesses anos, construiu-se uma quase conspiração de silêncio em torno da obra de Sodré. Diversas gerações de cientistas sociais formaram-se escutando que o velho pensador constituía anacronismo a ser esquecido. Em geral, essa desqualificação foi realizada sem o estudo da obra em questão, comumente, por críticos que não a conheciam. Tal era essa ignorância que os próprios críticos continuaram veiculando conteúdos, corretos e incorretos, atuais ou vencidos, cunhados ou difundidos pelo historiador.

    A negativa à apreciação sistemática da obra de Sodré devido a seu conteúdo e opções metodológicas determinou o empobrecimento das nossas ciências sociais. Na sua práxis historiográfica, esse autor aventurou-se por sendas, sobretudo historiográficas, que décadas mais tarde seriam apresentadas como último grito da pós-modernidade, em geral em sentido conservador. Em seus livros encontram-se páginas magistrais sobre a história da vida cotidiana e das mentalidades; das relações entre história e literatura; sobre aspectos inusitados da história política, etc.

    Sodré distinguiu-se também pela plena consciência dos nexos essenciais, também nas ciências sociais, da forma e conteúdo. Por escrever com virtuosismo de artista e de artífice, a leitura de muitos de seus livros permitem verdadeiro prazer estético.

    A obra sodreana construiu-se através de seis décadas - um dedo a mais da metade de história republicana do Brasil! Ela constitui tentativa de reflexão sistemática, desde o método marxista, da sociedade brasileira, passada, presente e futura, e singular registro da evolução de importante vertente da intelectualidade nacional.

    31/7/2011

    Fonte: ViaPolítica/O autor

    Mário Maestri, 63, é professor do Curso e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul.

    E-mail: maestri@via-rs.net



    01.08.2011



































    .. Iniciativa: Laser Press Comunicação
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    terça-feira, 9 de agosto de 2011

    ** PROGRAMAÇÃO E INSCRIÇÕES PARA O I CICLO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM HISTÓRIA MILITAR [1 Anexo]

     
    Prezados (a) pesquisadores (a),

    O Núcleo de Estudos e Pesquisas em História Militar do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil apresenta o cronograma, com as mesas e os palestrantes, do I Ciclo de Estudos e Pesquisas em História Militar que ocorrerá entre setembro e novembro de 2011, na sede do referido instituto (Museu Casa do Marechal Deodoro da Fonseca, localizado na Praça da República, nº 197, Centro, Rio de Janeiro).

    Para realizar as inscrições é necessário enviar para o e-mail ighmb_nephim@yahoo.com.br os dados abaixo:

    - NOME COMPLETO
    - ESCOLARIDADE
    - INSTITUIÇÃO QUE REPRESENTA
    - MESA (S)

    Atenciosamente,

    Coordenação 

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      ** Morte e Vida Severina em desenho animado

       

      http://www.youtube.com/watch?v=P8yeAHVP8MQ

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      Fernanda Moura
      Professora de História
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      A prática política apoia-se na verdade do poder;
      A pratica educativa, no poder da verdade.
                                                                  (Dermeval Saviani)
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        domingo, 7 de agosto de 2011

        ** Moniz Bandeira: "Legalidade foi o primeiro levante civil a impedir golpe"

         
        Moniz Bandeira: "Legalidade foi o primeiro levante civil a impedir golpe"
        ELEONORA DE LUCENA
        DE SÃO PAULO
        A Campanha da Legalidade não deixou nenhum legado, pois o golpe frustrado em 1961 aconteceu em 1964. A avaliação é de Luiz Alberto Moniz Bandeira, 75. Como repórter, ele testemunhou, de Brasília, a crise da renúncia de Jânio Quadros e os debates para a implantação do parlamentarismo.
        Historiador e cientista político, ele é autor de livros como "A Renúncia de Jânio Quadros e a Crise Pré-64" [Brasiliense, 1989] e "O Governo João Goulart - As Lutas Sociais no Brasil (1961-1964)" [Civilização Brasileira, 1977].
        Nesta entrevista, Moniz Bandeira analisa a crise militar desencadeada pela Campanha da Legalidade e a adesão do Terceiro Exército ao movimento contra o golpe.
        Folha - Qual o significado político e militar da Campanha da Legalidade? Qual o seu legado?
        Luiz Alberto Moniz Bandeira - A Campanha da Legalidade possibilitou que, pela primeira vez na história do Brasil, um levante civil, ao qual 3º Exército aderiu, impedisse um golpe de Estado. Não creio que tenha deixado nenhum legado pois o golpe militar, frustrado em agosto/setembro de 1961, foi consumado em 1° de abril de 1964.
        O sr. concorda com a avaliação de que a campanha causou uma cisão inédita nas Forças Armadas brasileiras?
        Sempre houve distintas tendências políticas nas Forças Armadas, porém os militares, na sua imensa maioria, tinham formação legalista e de respeito à hierarquia e à disciplina. Um dos pressupostos da Aliança para o Progresso, lançada pelos EUA há 50 anos, era não reconhecer governos que resultassem de golpes de Estado ou revoluções e não obedecessem às normas do regime democrático-representativo. Esse pressuposto colidia com a diretriz do Pentágono, que, considerando as Forças Armadas como a organização social mais estável e modernizadora na América Latina, promoveu a mutação na estratégia de segurança continental, com a doutrina da Civic Action (Ação Cívica). Essa doutrina incentivou os militares a participarem da política interna em seus respectivos países, a fim de conter um suposto avanço do comunismo.
        Como explicar a conduta do comandante do Terceiro Exército naquele momento?
        O general Machado Lopes, comandante do 3º Exército, relutou a princípio em aderir ao movimento. Disse que era um soldado e que cumpriria ordens. Porém, tinha formação legalista e, com o levante popular promovido pelo governador Leonel Brizola e com a mobilização da Brigada, ele deve ter percebido a justa causa da campanha.
        Jango e Brizola divergiram naqueles dias. Quem tinha razão? Como o sr. os define?
        Divergências entre Jango e Brizola sempre ocorreram. Os dois tinham temperamento e estilo político diferentes. As variáveis são muitas e avaliar a razão de um ou de outro não passaria de especulação. Estou convencido, porém, de que a marcha sobre Brasília defendida por Brizola não seria simples passeata. Haveria luta armada. Carlos Lacerda, governador do Estado da Guanabara, tinha apoio militar e estava envolvido na articulação do golpe.
        A mobilização, que incluiu a distribuição de armas à população, é comparável a outros episódios da história brasileira?
        Brizola não distribuiu armas a toda a população. A Brigada Militar distribuiu apenas 2.000 revólveres, calibre 38, com uma caixa de balas, mediante recibo. E pediu à indústria Taurus que aumentasse sua produção de armas, inclusive metralhadoras leves. Foi um ato heroico, porém não haveria condições para um enfrentamento armado se o 3º Exército não aderisse à campanha.
        Como o sr. acompanhou os fatos naquele momento?
        Eu estava em La Paz, hospedado na residência do embaixador do Brasil, Mario Antônio de Pimentel Brandão, quando ele me mostrou telegramas do Itamaraty sobre o agravamento da crise política. Decidi regressar imediatamente ao Brasil. No dia 25 de agosto, tomei o avião para Santa Cruz de la Sierra, onde embarquei para o Brasil, em aparelho da companhia Cruzeiro do Sul. E, ao chegar a São Paulo, por volta das 14h, escutei a notícia de que Jânio Quadros renunciara à presidência da República, pois Carlos Lacerda, governador do Estado da Guanabara, havia denunciado pela televisão que ele estava a articular um golpe contra as instituições, a fim de adquirir poderes especiais, por meio do ministro da Justiça, Oscar Pedroso d'Horta. Com as informações que possuía, foi-me fácil concluir que Lacerda havia lancetado o tumor. Viajei então para o Rio, e João Dantas, o proprietário do "Diário de Notícias", onde eu era editor político, mandou que fosse imediatamente para Brasília acompanhar a evolução da crise. Acompanhei os acontecimentos de dentro da Câmara dos Deputados, pois o deputado Sérgio Magalhães, meu amigo pessoal e em cujo apartamento sempre me hospedava, assumira a presidência do Congresso quando o deputado Ranieri Mazzilli foi investido na presidência da República. Tinha muitas informações de bastidores e cujas fontes (muitas das quais militares) não podia revelar. Assim, dois meses após a renúncia, em novembro, publiquei o livro "O 24 de Agosto de Jânio Quadros", no qual deslindei o enigma, ao mostrar que ele renunciou à Presidência da República esperando voltar ao governo com o apoio das multidões. O respeitável jornalista Carlos Castelo Branco, seu secretário de imprensa, ouviu-o dizer a Francisco Castro Neves, ministro do Trabalho: "Não farei nada por voltar, mas considero minha volta inevitável. Dentro de três meses, se tanto, estará na rua, espontaneamente, o clamor pela reimplantação do nosso governo".
        Como o sr. acompanhou Jânio Quadros?
        Em janeiro de 1960, com 24 anos, eu era redator político do "Diário de Notícias", e seu diretor determinou que eu acompanhasse Jânio na campanha eleitoral, que ele estava a começar. Nunca fui simpatizante, muito menos partidário de Jânio. Porém, não podia deixar de cumprir a ordem. Viajei com Jânio seis meses, durante todo o primeiro semestre de 1960. Na viagem, escutei diversas vezes Jânio declarar que processaria o Congresso perante o povo, promoveria sua responsabilidade, caso ele não lhe desse as leis que pedia, culpando-o pela situação do país. Jânio manifestava o inconformismo de ter de governar dentro dos marcos constitucionais. Repetia que não poderia governar "com aquele Congresso". A Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, Jânio disse que, "com aquele Congresso", dominado pelos conservadores, não poderia avançar para a esquerda, tomar iniciativas para reformar as instituições e promover a transformação da estrutura econômica e social do país, com a limitação das remessas de lucros para o exterior, a criação de uma lei antitruste e a implantação da reforma agrária. Precisava, portanto, de poderes extraordinários. Seduzido, Brizola comentou com o ex-presidente Juscelino Kubitschek o objetivo de Jânio Quadros e sua disposição de apoiá-lo. Porém, com Carlos Lacerda, a conversa era diferente, embora a conclusão fosse a mesma. "Com aquele Congresso", dentro do regime democrático, não poderia governar, sem fazer "concessões às esquerdas e apelar para elas". Necessitava, em conseqüência, de poderes extraordinários. Percebi que sua pretensão era jogar a opinião pública contra o Legislativo e, provavelmente, dar um golpe de Estado sui generis. A deflagração da crise, portanto, não me surpreendeu.

        http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/955466-legalidade-foi-o-primeiro-levante-civil-a-impedir-golpe-diz-moniz-bandeira.shtml

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        Fabrício Augusto Souza Gomes

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          ** "Legalidade mostrou que sociedade organizada impede golpe", afirma historiador

           
          "Legalidade mostrou que sociedade organizada impede golpe", afirma historiador
          ELEONORA DE LUCENA
          DE SÃO PAULO

          "A Junta Militar apertou o botão para disparar o golpe, mas a sociedade reagiu e não concordou", assim o historiador Jorge Ferreira resume os resultados da Campanha da Legalidade desencadeada há 50 anos para lutar pela posse de João Goulart na Presidência da República.
          Ferreira, 54, autor de "João Goulart, uma Biografia" [Civilização Brasileira, 2011], destaca a força decisiva das organizações civis no movimento. "Golpes não dependem da vontade de generais, mas exigem apoio social", enfatiza.
          Nesta entrevista, Ferreira, professor de História do Brasil da Universidade Federal Fluminense, narra momentos cruciais da campanha e analisa a crise militar.
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          Folha - Qual é o legado do movimento pela legalidade 50 anos depois?

          Jorge Ferreira - O legado foi o de mostrar que havia, na sociedade brasileira, um forte apego pela manutenção das instituições da democracia representativa instauradas pela Constituição de 1946. Em agosto/setembro de 1961, a sociedade brasileira não quis golpes de Estado. Não se tratou apenas da liderança de Brizola ou do levante no Rio Grande do Sul. Em todo o país, diversos sindicatos de trabalhadores declararam greve pela posse de Goulart. Organizações camponesas no nordeste brasileiro também protestaram. Empresários, por meio de Federações de Indústrias e Associações de Comércio apoiaram a continuidade do processo democrático. Organizações estudantis, como a UNE, UBES E UMES, fizeram o mesmo. Todos os partidos políticos no Congresso Nacional, incluindo a UDN, exigiram a posse de Goulart. A OAB, a ABI, A CNBB, mas também federações umbandistas e até diretorias de clubes de futebol repudiaram o golpe. A imprensa, majoritariamente, apoiou a legalidade (apenas "O Globo", "O Estado de S. Paulo" e "Tribuna da Imprensa" apoiaram o veto a Goulart). Ao final, as Forças Armadas se dividiram. Uma coisa era muitos oficiais não gostarem de Jango; outra, diferente, era rasgar a Constituição e impedir a posse do vice-presidente eleito constitucionalmente. Em outras palavras, a Junta Militar apertou o botão para disparar o golpe, mas a sociedade reagiu e não concordou. Até mesmo parte considerável das Forças Armadas não aceitou o golpe. Como sabemos, golpes não dependem da vontade de generais, mas exigem apoio social. Então, vemos, em 1961, a sociedade brasileira apegada aos valores democráticos e constitucionais. Esse é o grande legado. Mas também vemos que não existe aquela imagem da "sociedade de massas" conduzida por líderes "populistas". A crise da legalidade nos mostra, sim, a sociedade brasileira organizada. Empresários, trabalhadores urbanos, camponeses, estudantes, profissionais liberais, religiosos etc., organizados em suas entidades representativas. Nesse sentido, cai por terra a tese de que o regime de 1946-1964 foi uma "democracia populista" ou uma "república populista". O regime foi de democracia-liberal ou democracia representativa. E imbuída de valores democráticos. Pronto. Agora, porque, em menos de três anos, essa mesma sociedade assistiu de braços cruzados, sem reação, recrutas liderados por um general sem prestígio marchando de Juiz de Fora para a Guanabara com objetivo de depor o presidente da República, é outra história.
          Como o sr. analisa o ineditismo da campanha, ao provocar uma cisão nas Forças Armadas. Como o sr. explica a posição adotada pelo comandante do 3º Exército naquele episódio? Qual era a sua formação? Por que ele resolveu apoiar Brizola? Como era atuação dos grupos de esquerda dentro das Forças Armadas?

          No período 1945-1964, conviviam nas Forças Armadas diversas tendências políticas, da direita à esquerda. Se havia militares direitistas golpistas, havia também muitos oficiais comunistas, janguistas e brizolistas. Na crise política gerada pela renúncia de Jânio Quadros, o general José Machado Lopes tomou decisão junto com o Estado-Maior do 3º Exército. Para obedecer à Junta Militar golpista, ele teria que bombardear o Palácio Piratini, matando todos que lá estavam, incluindo o governador Brizola. Depois, teria que impor a "ordem" no Rio Grande do Sul. Para isso, ele teria que cometer verdadeira chacina. A população gaúcha estava em estado de revolta na capital e no interior. Há de se considerar que o militar é obrigado a obedecer à hierarquia e à disciplina, mas não é obrigado a cumprir ordens absurdas. Assim, entre cumprir a Constituição e evitar ser responsável por milhares de mortes, ele preferiu estar ao lado da legalidade.
          A questão da distribuição de armas à população durante a campanha parece ser um ponto obscuro. O sr. tem mais dados a respeito? As fábricas de armamentos localizadas no RS foram também mobilizadas?

          A população de Porto Alegre e das cidades do interior gaúcho mobilizou-se para a defesa da legalidade. Na capital, cerca de 45 mil pessoas se alistaram para a formação de batalhões populares. Brizola requisitou nas lojas de armas da capital mil revólveres e os distribuiu a quem desejasse. É interessante que, ao final da crise, todos os que receberam as armas as devolveram. A Brigada Militar gaúcha tinha em seus arsenais uma grande quantidade de fuzis e metralhadoras. Eles foram comprados no início dos anos 1930 pelo governador Flores da Cunha, no caso de enfrentamento com Vargas. Depois, a Brigada Militar (a PM gaúcha), para evitar o confisco das armas pelo Exército Brasileiro, as manteve escondidas. Todos os alistados que quisessem armas recebiam os revólveres e os fuzis e tinham rápida aula de tiro com instrutores da Brigada Militar --incluindo aí mulheres e comunistas. O que ocorreu, de fato, foi que Brizola armou a população em Porto Alegre. No interior, o trabalho foi feito pelos Centros de Tradições Gaúchas, mas nesse caso com armas artesanais, como lanças, arcos e flechas, facões etc.
          A situação em que o general Machado Lopes canta o hino nacional também não é muito abordada. O sr. tem mais detalhes?

          O relato que tenho é esse: o comandante do 3º Exército, Machado Lopes, junto aos generais de seu Estado Maior, comunicou a Brizola que iria ao Palácio Piratini conversar com ele. Para Brizola, Machado Lopes tinha o objetivo de depô-lo do cargo. Brizola armou assessores e alguns funcionários mais próximos. Se Machado Lopes desse ordem de deposição, os assessores sacariam as armas e prenderiam os generais. Tendo-os como reféns, Brizola desafiaria a Junta Militar a bombardear o Palácio Piratini. O fato é que Machado Lopes e os generais chegaram em um jipe. Nas escadarias do Palácio e, diante deles, havia cerca de 100 mil pessoas. O silêncio era enorme. Quando eles subiam as escadas (permitindo que a população os vissem), alguém começou a cantar o hino nacional. Machado Lopes e os generais pararam, viraram-se para o povo, botaram a mão no peito (na altura do coração) e também cantam o hino. Milhares de pessoas choraram nesse momento.
          Do ponto de vista da história militar, qual é a relevância? Quem poderia ser ouvido sobre esse ponto?

          Pois é, boa pergunta. Trata-se de história ainda a ser construída. Creio que três livros de memórias são importantes: um, o do próprio José Machado Lopes. O outro, o do Odílio Denys. Ele, na época, era o Ministro da Guerra (atual ministro da Defesa) e, se não me engano, tem um livro publicado. O terceiro é o do Cordeiro de Farias. Ele foi nomeado por Denys para chefiar as forças militares para combater o 3º Exército.


          http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/955485-legalidade-mostrou-que-sociedade-organizada-impede-golpe-afirma-historiador.shtml


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          Fabrício Augusto Souza Gomes

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            ** "Ideia da Legalidade era repetir Revolução de 30", diz ex-líder do PTB

             
            07/08/2011 - 08h15
            "Ideia da Legalidade era repetir Revolução de 30", diz ex-líder do PTB
            ELEONORA DE LUCENA
            DE SÃO PAULO

            A Campanha da Legalidade impediu o golpe que queria vetar a posse de João Goulart em 1961. Mas queria fazer mais: repetir a Revolução de 30, fazendo uma marcha para que Jango não tivesse que se submeter ao parlamentarismo.
            Quem faz a análise daquele momento turbulento é Almino Affonso, 82. Na época, ele era líder do PTB, o partido de Jango --com quem discutiu a adoção do parlamentarismo. Como o governador Leonel Brizola, que liderava a ação contra os golpistas, Almino queria que Goulart assumisse com plenos poderes, como estabelecido na lei.
            Hoje, 50 anos depois, ele reconhece que Jango tinha razão em negociar e evitar uma guerra civil. Almino, que depois foi ministro do Trabalho e Previdência de Goulart, prepara outro livro sobre o período.
            Nesta entrevista, ele fala dos dias tensos no Congresso e nas ruas, e expõe o que considera as razões de fundo do conflito: a herança de Getulio e o nacionalismo.
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            Folha - Onde o sr. estava em 25 de agosto de 1961?

            Almino Affonso - Era deputado federal, líder do PTB. Líder da oposição ao governo Jânio Quadros. Estava no meu gabinete e vi um verdadeiro tropel de jornalistas a correr, parlamentares a correr. Jânio era uma pessoa de difícil compreensão, desmerecia o Congresso, era agressivo muitas vezes. Fui ao plenário e um deputado do Espírito Santo lia os documentos de renúncia: um manifesto à nação e uma declaração simples. Fui o segundo a falar. Analisei o documento de uma forma quase mediúnica. Jânio falava das Forças Armadas em ordem. Agradecia ao empresariado, aos trabalhadores. Era um documento contraditório. Porque ele revelava uma tranquilidade para governar, um apoio significativo das forças sociais e, não obstante, considerava inviável governar e renunciava. Fiz a análise do paradoxo entre a renúncia e a revelação de que ele tinha tudo em perfeita ordem. Escrevi isso no me livro "Raízes do Golpe". Como não há uma explicação que justifique o gesto, eu só posso entendê-lo como algo em que ele joga o país numa crise e, no bojo dela, ele pretenda retornar ao poder na plenitude de um poder ditatorial. Isso eu disse instantaneamente, imediatamente. O debate no Congresso incendeia e usei a seguinte frase: o presidente renuncia, o vice está na China em missão oficial. Não estava no país, mas, pela norma, era um cidadão em condições de assumir a presidência. Disse assim: o presidente renunciou; a renúncia está aceita, assume o presidente da Câmara dos Deputados, Rainieri Mazzili, em caráter provisório, enquanto se aguarda a presença do presidente que está no exterior para assumir o cargo de presidente em definitivo. Eu não discutia a aceitação ou não da renúncia. Não estava pondo em dúvida a renúncia. Gustavo Capanema me pede um aparte: a renúncia é um ato unilateral, não cabe discuti-la. Ficou claro que a renúncia era um fato definitivo, não cabia ao congresso discutir. Mazzili assumiu em caráter provisório enquanto se aguardaria a chegada de Jango.
            Jânio tinha a intenção de que a renúncia não fosse aceita?

            Você me pergunta qual era o sentido da renúncia do Jânio? Era definitiva, era um ato de insegurança psicológica? Ou, como na hipótese que eu tinha levantado, no bojo disso ele esperaria um clima de convulsão política e social --ele tinha um grande prestígio popular-- que lhe devolvesse o poder não no sistema vigente da Constituição de 46, mas com um poder absoluto. Na minha opinião, de forma intuitiva, tinha considerado que era um golpe que ele tinha tentado através desse gesto. Depois eu li o livro "História do Povo Brasileiro", do próprio Jânio e de Afonso Arinos de Melo Franco, que tinha sido ministro das Relações Exteriores. No capítulo quinto, que trata da renúncia, ele narra o procedimento claramente: se estimou que em termos constitucionais era impossível governar. Faço um parênteses. Isso é absurdo. Ele não podia alegar que houvesse uma incompatibilidade entre os poderes legislativo e executivo. A UDN não se agradava dos gestos de Jânio na política externa (negociação para reatamento com a URSS, condecoração de Che Guevara etc). Quem dava apoio a Jânio nessas matérias era o PTB, eu. Não havia necessidade de renunciar.
            Essas posições também desagradam os militares.

            Mas ele agradece aos militares.
            Ele não esperava um gesto dos militares?

            Sem nenhuma dúvida. Jânio diz no seu livro que para isso estava ausente o Jango. O país estaria acéfalo. Portanto a decorrência é que ele voltaria ao poder, na plenitude do poder. Por que isso não se deu? O desdobramento disso não teve no gesto nas Forças Armadas; não se consumou o planejado.
            Como o sr. explica a Legalidade e a posição do 3º Exército?

            Fica claro que os militares têm um veto absoluto à volta de Jango ao país. Parlamentares como Doutel de Andrade e Rui Ramos ouvem [a ameaça] de Denys. Rui Ramos revelou isso da tribuna da Câmara. O general Teixeira Lott, que tinha sido ministro da Guerra de JK, numa nota, revela que tinha sido feito um apelo aos militares para que respeitassem a ordem constitucional. Ele foi preso imediatamente. Denys manda prendê-lo. Lott foi preso por conta dessa declaração de resistência. Brizola protesta contra tudo isso e exige que Jango tome posse na plenitude de poderes, no regime presidencialista. Isso levanta o RS emocionalmente de uma forma fantástica na campanha da Legalidade. É o povo nas ruas. Brizola com apoio popular fantástico e com o apoio ostensivo da Brigada Militar. Em Gpoás, levanta-se a palavra de Mauro Borges, que coloca a sua PM em pé de guerra para dar posse ao presidente. Os outros ou estavam contra mas em silêncio ou apoiaram as posições dos militares. A resistência propriamente militar se deu no RS e em Goiás. O fato novo e significativo ocorre quando Orlando Geisel dá ordens para que a Aeronáutica da Base Aérea de Canoas bombardeie o Palácio Piratini. Isso foi contado na rádio que o Brizola incorporou. Havia uma audiência nacional. O país inteiro acompanhava. Meus pais moravam em Porto Velho e eles ouviam pelo rádio e me narravam depois. A Base Aérea não pôde executar a ordem porque os sargentos se rebelaram, furaram os pneus dos aviões etc. Tornaram impossível que os aviões decolassem. O comandante Machado Lopes, num certo momento, ao ver a população, toma um gesto fantástico e pede uma audiência com Brizola. Vai ao palácio e hipoteca apoio à tese da Legalidade, à posse plena de Jango no poder.
            O Exército tinha uma parte golpista e outra legalista.

            Sem dúvida. Os generais das bases do Rio Grande do Sul, onde o Exército sempre foi mais forte pelo fato de as fronteiras serem lá, consideram um absurdo bombardear o palácio. Com o apoio de Machado Lopes, o Estado em pé de guerra. Não houve nada parecido em outras divisões do Exército. Houve algo em Belém, uma rebelião dos sargentos em defesa da Legalidade. Jango vai para Montevidéu. Começa a haver um movimento político entre os diversos partidos, com exceção do PTB, de que isso se convertesse num golpe militar. A volta de Jânio não entrou no debate. Havia concretamente um veto a Jango. Não dá para analisar esse episódio sem se dar conta que é uma história que vem lá do Getulio.
            Do Jango no Ministério do Trabalho, as mobilizações defesa do aumento do salário mínimo?

            É o Getulio de 1950 de volta, o monopólio estatal do petróleo, que criava cisões. Muitas lideranças militares não eram a favor do monopólio estatal. Quereriam a abertura para outras empresas, diziam que não tínhamos dinheiro pra fazer isso [explorar petróleo], o que implicava a participação do capital internacional, Shell etc. Eram ostensivamente contrários ao monopólio estatal. Isso vem lá do Getulio. Também é dele a Eletrobrás, o que acabava com a Light. Nos bastidores do governo havia uma história antiga que vai além do Jango, mas do Jango herdeiro daquele getulismo. Sem esse tipo de análise fica pobre, parecendo um veto anti-Jango strito sensu. Nasce no meio disso a discussão do parlamentarismo. Jango já em Paris e me telefona. Faz consulta sobre o parlamentarismo, quer saber a minha opinião, como a bancada reagiria. Eu, pessoalmente, sou parlamentarista no sentido histórico. Respondi que, naquelas circunstâncias, considerava um golpe de Estado. Porque era uma forma de impedir a posse de alguém legitimamente eleito. Mas que eu teria que conversar com a bancada. Jango diz que está longe do quadro."Só posso dizer que não me nego a dialogar", disse. Tínhamos mandado a Paris um mensageiro para mandar um apelo para que ele não voltasse diretamente ao Brasil. Foi o Carlos Jereissati, o pai desse senador [Tasso Jereissati (PSDB-CE)]. Carlos Jereissati foi a Paris levando essa mensagem: aguarde os desdobramentos dos fatos. Ele fez isso. Foi até Montevidéu. Evoluia, enquanto isso, nos setores anti-getulistas a ideia do parlamentarismo. Havia na própria bancada [do PTB] pessoas que achavam que era o momento de criar o parlamentarismo. San Tiago Dantas passou a ser um líder dentro do PTB do parlamentarismo. Foi criando consistência a tese do parlamentarismo. A liderança de oposição a isso fui eu. Chamei de golpe branco. Porque a Constituição da República não poderia ser emendada num clima de convulsão política, de guerra intestina. Não cabia alterar, era ilegal, inconstitucional. Jango já em Montevidéu, os favoráveis ao parlamentarismo entregam a Tancredo Neves a tarefa de ir a Jango e ganhar dele a posição final. Eu digo a eles: não tem sentido que vá um emissário da tese parlamentarista e não vá um emissário da tese contrária. Mando uma carta a Jango em que eu me oponho e dou as razões. Eu dizia: atravesse a fronteira presidente, venha em marcha batida e aí faremos o governo com as transformações sociais etc.
            O sr. se alinha a Brizola?

            O Brizola não tinha a imagem tão contraditória como eu acho que teve depois. Sim, nesse caso tinha uma posição rigorosamente igual a do Brizola.
            A campanha da legalidade, a posição de Brizola e do 3º Exército impediram o golpe?

            Eu diria que sim, porque se não tivesse prevalecido o sistema parlamentarista, contra o qual eu lutei, e prevalecesse a tese de que o Jango não poderia tomar posse, quem tomaria posse? Quem tivesse armas para poder chegar lá.
            Essa crise apenas adiou o golpe de 64?

            Eu acho que sim. Mas essas perguntas são sempre pão-pão-queijo-queijo. Todas elas têm um sim e um não e suas variantes. Estou escrevendo um livro sobre isso, estou pela metade. Até o final do ano fica pronto. Com depoimentos, fatos que eu vivi. Vai se chamar "João Goulart, uma revisão da história". Eu estava no cerne, no lugar, na hora. Parlamentarismo cresce e eles concordam que eu mande um emissário. Eu designo o deputado Wilson Fadul [que depois foi ministro da Saúde de Goulart]. Ele vai para o aeroporto na hora combinada, mas o Tancredo já tinha voado. Tenho enorme admiração pelo Tancredo, mas esse não foi um gesto correto. Não tivemos condições de subsidiar o Jango lá em Montevidéu. Por telefone era impossível. Minhas cartas não chegaram a Jango e ele acaba aceitando a tese de transição. Um setor do PTB que passou a apoiar o parlamentarismo conseguiu um termo de acordo das forças que apoiavam o parlamentarismo: estabelecer no ato adicional do parlamentarismo uma norma que previa um plebiscito. Isso foi uma conquista da parte da banca trabalhista que apoiou o parlamentarismo. Há uma reunião histórica da bancada que eu presidi. Fico emocionado ao lembrar. San Tiago fez o discurso a favor do parlamentarismo. Ganhamos com a maioria, mas não a totalidade. Pelas regras da bancada só poderíamos fechar a questão com maioria absoluta. Não conseguimos. A solução era tolerar aqueles que quisessem votar no parlamentarismo. Eu assumi o comando contra e San Tiago a favor do parlamentarismo na bancada.
            Tudo isso e Jango em Montevidéu. Quando foi para Porto Alegre não discursou, por causa do acerto com Tancredo, e foi vaiado. Houve muita frustração em Porto Alegre?

            Sim, a massa na rua, a decepção quando Jango chega e não adere à tese da luta armada.
            A ideia era fazer uma nova Revolução de 30, marchar para o centro do país?

            Exatamente. Era ir marchando como Getulio fez. Por que Jango não aceitou? O Jango --e isso eu ouvi dele mais de uma vez porque fomos companheiros de exílio, em Buenos Aires e no Uruguai, 12 anos de exílio-- dizia para si próprio: "Eu vou para uma guerra civil em nome de eu assumir o poder? Não quero isso".
            Foi a posição que ele teve também em 64, não?

            Exatamente. Quando eu disse que era favorável que ele viesse marchando, hoje eu penso diferente. Acho que ele teve o bom senso. Alguns dizem que foi frouxo. Eu digo, não. Foi um gesto de grandeza, de quem diz: "Eu quero, sim, assumir o poder, porque é legítimo, porque eu fui eleito duas vezes vice- presidente". Ele tinha legitimidade para assumir, mas não queria o sangue e eu acho isso nobre. Na época eu tinha 32 anos. Hoje eu tenho 82 e é razoável que eu pense mais suavemente.
            Qual o significado da Legalidade 50 anos depois?

            Mostra como ainda estávamos numa etapa democrática muito pobre a ponto de não poder aceitar a normalidade institucional. O presidente renuncia, tem o vice para assumir. Por isso tem vice presidente. É normal. Não souberam fazer isso por um conjunto de fatores que vem de longe: de divisões internas no meio militar. Na crise do Getulio, em 54, houve uma tentativa de golpe, impedindo até a candidatura JK. [Henrique] Lott liderou. A UDN só na linha do antigetulismo. Não tínhamos uma maturidade política para aceitar que a normalidade institucional prevalecesse. A minha tristeza é que eu não acho que nós tenhamos evoluído tanto. Apesar dos vários anos de retomada democrática, a partir da Constituição de 88, há varias questões que continuam pobres. Por exemplo, os partidos políticos não têm vida democrática. Sem exceção. Não têm democracia interna, não têm militância política. São os caudilhos com nomes diferentes. São eles que vão à TV e falam em nome do partido.
            Antes a dinâmica era diferente?

            Não era perfeita, mas tínhamos núcleos de debate no PTB. Eu me elegi duas vezes líder do partido contra a vontade do presidente da República e que era presidente do partido, o Jango. Havia uma luta interna democrática. Havia núcleos com divergências. Havia uma experiência de democratização partidária. Havia esse contraditório interno. Hoje a minha ficha está no PMDB, mas não vale nada para mim. Não tem democracia interna. É uma crítica que eu faço a todos os partidos. Isso é uma lição do passado que quem sabe poderia ser renovada. É só observar hoje como está a discussão da reforma política.
            E a mobilização popular da Legalidade?

            Tivemos depois essa mobilização na campanha das Diretas.


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            Fabrício Augusto Souza Gomes

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