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quinta-feira, 17 de março de 2011

** Pesquisa Fapesp: Não escrever em inglês limita pesquisas brasileiras (e francesas e alemãs)

 

Pesquisa FAPESP
Edição 181 - Março 2011
Política de C & T > Cienciometria
Código sagrado
Estudo mostra que pesquisadores da França e da Alemanha também perdem influência quando não publicam em inglês
Fabrício Marques

A proverbial barreira do idioma, responsável pela baixa repercussão da produção científica escrita em qualquer língua que não seja o inglês, não atrapalha apenas os pesquisadores de países emergentes como o Brasil. Um estudo liderado pelo físico Anthony van Raan, diretor do Centro para Estudos de Ciência e Tecnologia da Universidade de Leiden, na Holanda, mostrou que o problema também prejudica potências europeias da ciência como França e Alemanha, que só estão atrás de quatro rivais – Estados Unidos, China, Reino Unido e Japão – no ranking das nações que mais publicam artigos científicos. Ainda assim, cientistas franceses e alemães amargam um impacto mais modesto de sua produção científica quando a divulgam em seus idiomas maternos.

Anthony van Raan, especialista em cienciometria, a disciplina que busca gerar informações para estimular a superação dos desafios da ciência, é um dos responsáveis pelo Ranking Leiden, coleção de dados gerados pela universidade holandesa que busca analisar a produção científica de países e instituições de pesquisa e ensino superior. Na mais recente edição do ranking holandês, a Universidade de São Paulo (USP) despontava na 15ª posição na lista de universidades com maior volume de produção científica (ver reportagem na página 35). O estudo sobre a barreira do idioma debruçou-se sobre uma lista das principais 500 universidades do mundo, ranqueadas de acordo com o impacto obtido por seus artigos científicos na base de dados Web of Science (WoS), da empresa Thomson Reuters. O fator de impacto é medido pela quantidade de citações de um artigo em outros trabalhos científicos. O pesquisador holandês havia observado que o desempenho modesto de várias universidades francesas e alemãs em rankings estava descolado do prestígio acadêmico de que elas desfrutam. Para fazer um exercício de comparação, produziu uma segunda lista, na qual apenas a produção científica publicada em revistas em inglês foi considerada e os artigos em idioma local foram desprezados. Van Raan constatou que a performance das universidades alemãs e francesas era superior no rankingapenas com artigos em inglês, pois o impacto desses trabalhos era maior do que o dos artigos divulgados em idioma nativo.

A Universidade de Nantes, por exemplo, aparece na 106a posição no ranking dos artigos em inglês – e em 201o lugar na lista que considera artigos também em outras línguas. As universidades alemãs de Heidelberg e LMU de Munique aparecem, respectivamente, em 109º e 114º lugares no ranking do impacto baseado apenas nos artigos em inglês, mas caem para a 150ª e a 166ª posições quando se contam todos os artigos. "Encontramos um efeito dramático e subestimado nas medidas de impacto", afirmou Van Raan. "Os artigos não publicados em inglês diluem o impacto médio de países como Alemanha, Áustria e França. Isso acontece particularmente com campos aplicados, como a medicina clínica e a engenharia, e também com as ciências sociais e as humanidades. Como a medicina representa uma parte considerável da ciência de um país, esse efeito influencia a posição da universidade."

Ferramenta – A preocupação de Van Raan refere-se ao uso de indicadores bibliométricos vinculados a fatores de impacto. Como as citações têm um peso importante emrankings de universidades, como o da Times Higher Education e o da Universidade Shanghai Jiao Tong, da China, o pesquisador sugere cautela ao analisar essas listas e propõe uma alternativa polêmica para remover o viés: levar em conta, para efeito de comparação, apenas a produção científica em inglês das instituições, desprezando os artigos em outros idiomas. "Calcular os indicadores baseados apenas em publicações em inglês é o único procedimento justo", afirma.
Não há novidade alguma em afirmar que a proficiência no inglês é ferramenta indispensável para pesquisadores de todos os campos do conhecimento. Isso já era verdade nos anos 1930, quando pesquisadores alemães publicaram, em seu próprio idioma, um estudo que relacionava o consumo de cigarro à incidência maior de câncer no pulmão. Devido à barreira do idioma, os dados mantiveram-se praticamente desconhecidos até os anos 1960, quando britânicos e norte-americanos chegaram à mesma correlação. Atualmente, lutar contra a supremacia do inglês na ciência é contraproducente, diz Sonia Vasconcelos, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de uma tese de doutorado sobre a barreira do idioma defendida em 2008 (ver Pesquisa FAPESP nº 162). "Os países em que o inglês é o principal idioma levam grande vantagem, mas existe uma mobilização internacional por parte de instituições de pesquisa e editores científicos de vários países não anglofônicos para reduzi-la. No caso do Brasil, é preciso treinar cada vez mais os nossos pesquisadores, particularmente nas áreas de ciência e tecnologia, para escrever bem em inglês e desenvolver alguma independência para se comunicar com seus pares em contextos internacionais", afirma. "Hoje, na Alemanha, há cursos de pós-graduação ministrados em inglês, o que ajuda os estudantes a quebrar essa barreira. Isso acontece também na França, que sempre cultivou – e continua cultivando, porém com uma atitude estratégica em relação ao inglês – seu idioma no cenário acadêmico. Já o Brasil não tem uma estratégia articulada para enfrentar esse desafio", diz.

A sugestão de Van Raan de ignorar a produção científica em língua nativa para aperfeiçoar as comparações internacionais poderia causar outro tipo de viés, causado pela ausência da contribuição em importantes campos do conhecimento. "A produção em língua local é parte indissociável do conhecimento gerado pelos países e não pode ser posto de lado", diz Abel Packer, da coordenação da biblioteca eletrônica científica SciELO Brasil. Packer lembra que há uma tradição no país de publicar em português em disciplinas como, por exemplo, as ciências da saúde e as agrárias, pois isso é importante para levar o conhecimento a profissionais dessas áreas. "A questão não envolve só os cientistas, que em geral conhecem o inglês, mas outros usuários da informação científica que não têm a mesma proficiência do idioma", diz. "O multilinguismo é parte da comunicação científica e tem suas raízes no fato de que a ciência é parte da cultura. A ciência não é feita em uma torre de marfim separada do resto da sociedade, mas é reconhecida com uma fonte de conhecimento para o desenvolvimento econômico e tecnológico. Se não existir esforço da comunidade científica nacional para criar semânticas na sua língua nativa, o país e a sua cultura não serão capazes de absorver ideias e conhecimento que na essência servem a sua sociedade".
Para Luiz Henrique Lopes dos Santos, coordenador adjunto de Ciências Humanas e Sociais, Arquitetura, Economia e Administração da FAPESP e professor do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a questão requer uma solução de compromisso, pois não se reduz à questão do impacto. "É também uma questão cultural", diz. "A língua é um elemento essencial da cultura de um país e ela se constitui e se enriquece na interação entre os seus usos mais ordinários e os mais sofisticados – como na literatura, na ciência, na filosofia. Nenhum país pode se dar ao luxo de abrir mão inteiramente de sua língua como veículo da produção do conhecimento."
Adicione-se ao debate, propõe Packer, o fato de estar crescendo a produção escrita em português no bolo de revistas indexadas. Até 2007, a porcentagem dos artigos publicados em português na base Web of Science era de 8,5%. Agora é de 22%. "Isso aumentou porque se ampliou o rol de revistas brasileiras indexadas. Eram 34 revistas em 2007 e hoje são 133. Assim, o Brasil subiu para o 13º no ranking da produção científica. Se não quisermos que revistas em português sejam consideradas, voltaremos para o 17º lugar", afirma.
Dado marcante – Também se deve considerar que escrever em inglês não é condição suficiente para garantir citações e prestígio. Um estudo publicado por Rogério Meneghini, coordenador científico da biblioteca SciELO Brasil, mostrou que mesmo artigos escritos em inglês, mas publicados em revistas brasileiras, produzem em média menos citações. Meneghini convidou nove cientistas brasileiros habituados a divulgar seus trabalhos em revistas internacionais a publicar um artigo original na edição de maio de 2008 dos Anais da Academia Brasileira de Ciências. A intenção era avaliar até que ponto esses autores seriam capazes de transferir seu prestígio para a revista brasileira, que é publicada em inglês. Dois anos após a publicação, observou- -se que o número de citações desses artigos superou o dos demais artigos da revista: foi 1,67 citação ante 0,76 dos outros. Já os 62 artigos publicados pelos mesmos autores em revistas internacionais em 2008 tiveram, em média, 4,13 citações cada um. Segundo Meneghini, a diferença pode ser atribuída ao fato de as revistas brasileiras terem menos visibilidade internacional, embora também haja uma tendência de os autores enviarem seus melhores artigos para o exterior. Mas um dado marcante foi a constatação de que os nove autores abstiveram-se de citar artigos de revistas brasileiras. Apenas 1,52% das citações feitas por eles em 2008 se referiam a trabalhos publicados nacionalmente. Meneghini sugere que citar revistas nacionais não dá prestígio. "Parece que os autores optaram por negligenciar citações em periódicos brasileiros assumindo que eles podem passar a impressão de que o artigo é falho", disse.
Tal contingência não ofusca o consenso de que é fundamental estimular a produção em inglês. "Quando um pesquisador se esforça para citar trabalhos de seu país, é frustrante ver que a referência não pode ser consultada no exterior porque o trabalho está disponível apenas em português", diz Sonia Vasconcelos. Para Abel Packer, da SciELO, a solução é investir na tradução de artigos escritos em português, tornando-os disponíveis também em inglês. "Isso exigiria investimentos pesados, mas não consigo ver outra saída para aumentar a visibilidade do conjunto da ciência brasileira", afirma Packer.
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