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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História de IARA IAVELBERG -XX-

Carta O Berro..........................................................repassem

IARA IAVELBERG
Militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8)

Nasceu em 07 de maio de 1944, na cidade de São Paulo, filha de David Iavelberg e Eva Iavelberg. Psicóloga e professora universitária.

Foi morta no dia 20 de agosto de 1971, aos 27 anos, em circunstâncias ainda não esclarecidas.
Da militância ao amor clandestino

Iara Iavelberg, psicóloga e professora da USP, participou de quatro organizações clandestinas de combate à ditadura militar: Polop, VAR-Palmares, VPR e MR-8. Panfletava em porta de fábrica e pichava muros. Nas reuniões clandestinas, ajudava na cozinha.

Iara e o ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, que desertara em 24 de janeiro de 1969 levando armas do quartel em que servia, se conheceram na VPR e se transferiram juntos para o MR-8. Além das dificuldades óbvias de dois clandestinos se encontrarem, o namoro foi tumultuado pelo ciúme dele dos ex-namorados dela e pelo sentimento de culpa de estar traindo a mulher, Maria Pavan, que mandara com os filhos pequenos para Cuba.

Escondida num apartamento na Praia de Pituba, em Salvador, Iara foi vista com dois revólveres por um menino, que avisou à mãe, trazendo de volta a polícia, que já terminara a batida no prédio, em 23 de agosto de 1971. Aos 27 anos, Iara suicidou-se, segundo a versão do Exército, ou foi assassinada, a tiros de metralhadora, pelo sargento do Corpo de Fuzileiros Navais Rubem Otero, já falecido. O laudo do Instituto Médico-Legal da Bahia desapareceu e a família foi proibida pelo Exército de abrir o caixão.

Iara se casara aos 16 anos com Samuel Haberkorn, de 25 anos. Cinco anos depois, continuava virgem. A decepção de descobrir que Samuel tinha outra mulher a fez livrar-se da rígida educação moralista. Entre seus ex-namorados estão o hoje presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), e o economista Luciano Coutinho.

Sua vida está contada no livro "Iara", de Judith Patarra, lançado em 1992, e, em parte, no filme "Lamarca", de Sérgio Rezende, que estreou em 1993.

Corpo de guerrilheira segue para exames após exumação Família de companheira de Lamarca quer provar que Iara não cometeu suicídio

Jornal do Brasil 23/09/03

Há duas versões sobre a morte de Iara. Uma delas diz que teria sido morta após rápido tiroteio com policiais do DOI/CODI-RJ, deslocados a Salvador para prendê-la. Consta que Iara teria se refugiado no banheiro de uma casa vizinha à sua, na tentativa de escapar à perseguição dos policiais, ocasião em que teria sido localizada, tendo se matado com um tiro na cabeça. Esta é a versão oficial, conforme nota divulgada na época pelos órgãos de segurança.

A outra versão é colocada por alguns de seus companheiros, baseados nos testemunhos de populares que assistiram à prisão e/ou morte de Iara. Segundo o apurado, Iara teria sido presa, e levada para a sede do DOPS local. Vários presos que se encontravam naquele estabelecimento no mesmo período, ouviram os gritos de uma mulher sendo torturada, identificando tais gritos como sendo de Iara.

O Relatório do Ministério da Marinha diz que ela foi "morta em Salvador/BA, em ação de segurança", o relatório do Ministério da Aeronáutica "suicidou-se em Salvador/BA, em 06 de agosto de 1971, no interior de uma residência, quando esta foi cercada pela polícia".

A certidão de óbito dá sua morte, em 20 de agosto de 1971, tendo sido firmada pelo Dr. Charles Pittex e informando que Iara foi sepultada por sua família no Cemitério Israelense de São Paulo.

Jornal "O Golbo " 05/05/02

Corpo de mulher de Lamarca vai ser exumado

Evandro Éboli

BRASÍLIA. A família de Iara Iavelberg, última companheira do guerrilheiro Carlos Lamarca, obteve uma histórica vitória. Desde 1998, briga na Justiça para que o corpo de Iara seja exumado, e que um exame pericial determine as reais causas de sua morte. Na semana passada, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a exumação.

O motivo da ação é religioso. Iara está enterrada na ala dos suicidas no Cemitério Israelita de São Paulo, perto de um muro, de costas para a área central e longe do túmulo do pai, Davi Iavelberg. Ela morreu em Salvador, durante uma ação do Exército, em 20 de agosto de 1971. O relatório oficial da Operação Pajussara diz que Iara suicidou-se após o cerco dos policiais.

A família contesta a versão. O suicídio é considerado um dos mais graves crimes pela lei judaica. O judaísmo prega que ninguém tem o direito de se matar. Por isso, a cova de Iara fica isolada das demais, numa ala destinada aos suicidas. Se provarem que ela foi assassinada, os Iavelberg conseguirão levá-la para perto do túmulo do pai.

— O suicídio é considerado uma desonra pelas leis judaicas — diz Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista.

Exumação já havia sido tentada em 1996

Pela primeira vez em processos movidos por parentes de vítimas da repressão, o motivo da ação não é pedido de indenização nem de pensão. A família Iavelberg já tentou na Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, do Ministério da Justiça, a indenização a que dizia fazer jus. Mas o pedido foi negado por falta de provas da participação dos militares em sua morte.

Em setembro de 1996, antes de entrarem com a ação, Samuel, Raul e Rosa Iavelberg, irmãos de Iara, pediram à Sociedade Chevra Kadisha, que controla o cemitério, a exumação do corpo, com base na publicação de versões de que Iara poderia ter sido assassinada pela ditadura militar. O pedido foi negado. Os judeus só permitem a exumação em casos de transferência dos restos mortais para Israel, para enterro próximo a parentes ou se a sepultura for profanada.

Iara integrou a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e, depois, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). O relatório oficial da operação do Exército afirma que "a fim de evitar sua prisão e sofrendo ação de gases lacrimogêneos, Iara suicidou-se".

O corpo de Iara foi entregue embalsamado pelos militares aos parentes um mês depois de sua morte, num caixão lacrado. Os militares proibiram que ele fosse aberto.


SÃO PAULO - Foi exumado, em São Paulo, o corpo da companheira do guerrilheiro Carlos Lamarca, Iara Iavelberg, e levado para a Faculdade de Medicina da USP, onde será periciado. Ela morreu em 20 de agosto de 1971, durante a invasão de seu apartamento, em Salvador, cercado por forças da repressão.

A versão do regime militar é a de que ela teria cometido suicídio. Irmão da guerrilheira, Samuel Iavelberg afirma que a família pediu a exumação para tentar provar, numa perícia, que ela teria sido assassinada pela polícia. Disse que a família não pretende pedir indenização ao Estado caso essa versão seja comprovada.

Além disso, diz Samuel, a família quer mudar a forma como o corpo foi enterrado, caso seja confirmado o crime.

Seguindo a tradição judaica, por ter supostamente cometido o suicídio, a guerrilheira foi sepultada ''com desonras'', em solo não-consagrado e ''de costas'' para o restante do Cemitério Israelita do Butantã, ou seja, com os pés - em vez da cabeça - próximos à lápide.

A exumação foi determinada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, dia 4 de novembro do ano passado, a partir de recurso impetrado pela família, após a Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo conseguir, em primeira instância, impedir que o corpo fosse desenterrado para exames.

Segundo Abrão Bernardo, assessor da instituição judaica, exumá-la é contra aquela religião por representar ''uma violação do corpo, que é sagrado''.

Semana passada, porém, o juiz Alexandre Alves Lazzarini, da 16ª Vara Cível de São Paulo, determinou a imediata exumação. Como informara o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), advogado da família, o Instituto Médico Legal marcara para ontem a data da exumação.

Ao meio-dia, entretanto, o mesmo juiz determinou a suspensão do procedimento, ao aceitar a argumentação dos advogados do cemitério.

- Não fomos notificados e não tivemos condição de nos preparar - disse Bernardo.

Greenhalgh recorreu ao juiz e conseguiu fechar um acordo com a necrópole para a exumação prosseguir.

Abrão Bernardo afirma que a entidade aceitou a versão oficial de suicídio porque ''o óbito veio dessa forma''.

Samuel garante que a Sociedade Cemitério Israelita é uma ''entidade ultraconservadora e com tendências direitistas''.

- No fundo, é uma questão política. Eles não querem que se afronte a versão militar - afirmou.

Bernardo, no entanto, afirma que não teriam ''como agir de forma diferente naquela época''.

Um mistério de 32 anos

A psicóloga Iara Iavelberg, mulher de Carlos Lamarca (do MR-8), morreu em 20 de agosto de 1971, aos 27 anos, num apartamento em Salvador (BA). A versão oficial é que, quando a polícia invadiu o apartamento, ela estaria armada e que, para não ser presa, teria se suicidado com um tiro. Lamarca foi morto pouco depois, em 17 de setembro, na Bahia.

Segundo o jornalista Elio Gaspari relata no livro A Ditadura Escancarada, o corpo de Iara ficou numa gaveta do necrotério de Salvador por mais de um mês, para atrair Lamarca. Depois, foi levado para São Paulo, num caixão lacrado. A família não pôde abri-lo.

Em 9 de julho de 1996, irmãos de Iara pediram a exumação do corpo à Federação Israelita de São Paulo. O pedido foi negado. No mês seguinte, o médico Lamartine Lima disse ter ouvido do militar Rubem Otero a confissão de que ele teria matado Iara. Suspeita-se que Iara tenha resistido à prisão e foi atingida por uma rajada de metralhadora. Três tiros teriam atingido a cabeça e o tórax.

Iara Iavelberg é exumada, 32 anos depois

O Globo 23/09/03

Soraya Aggege

SÃO PAULO. 32 anos depois de sua morte, e após uma longa batalha judicial de sua família contra a sociedade Chevra Kadisha, responsável pelo Cemitério Israelita de Butantã, em São Paulo. Peritos da Universidade de São Paulo (USP) vão tentar apurar se Iara se matou ou se foi assassinada por órgãos de repressão do regime militar.

A exumação ficou suspensa por sete horas ontem porque a sociedade judaica recorreu à Justiça para suspender a medida, sem sucesso. A família de Iara só recorreu à Justiça para garantir a exumação depois que a sociedade se recusou a desenterrar o corpo dizendo que isso é proibido pela religião judaica.

Segundo as tradições judaicas ortodoxas, o corpo estava sepultado na ala dos suicidas (junto ao muro, de costas para os outros túmulos) e Iara foi enterrada sem que seu corpo fosse lavado e envolto em lençol.

Família de militante não quer indenização do Estado

A família de Iara não quer indenização do Estado e diz que a Chevra Kadisha tem uma orientação de direita.

— Eles sempre acharam que não era bom lutar contra a ditadura. E alegam preceitos religiosos para barrar a apuração da história. Há 13 anos tentamos exumar o corpo e eles nos impedem. Há uma divisão de opiniões na comunidade judaica, mas esse grupo é afinado com a direita — disse o jornalista Samuel Iavelberg, irmão de Iara.

O advogado da sociedade, Márcio Pollet, afirmou que a entidade não fora informada com antecedência sobre a decisão da Justiça. Além disso, ele alegou que esta semana é sagrada para os judeus e que, por isso, seria difícil encontrar um rabino para acompanhar a exumação:

— Não temos nada contra a produção de provas. Só queremos o cumprimento mínimo da tradição judaica. Os jornalistas não podem fazer festa em solo sagrado.

Segundo o advogado da família de Iara, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), a sociedade judaica queria que a exumação só fosse concluída em 8 de outubro, após o ano novo judaico:

— Se chove, acaba a possibilidade de fazer a análise. E eles também não queriam que a família de Iara acompanhasse a exumação.

Uma morte misteriosa

Última companheira do guerrilheiro Carlos Lamarca, a psicóloga Iara Iavelberg tinha 28 anos e estava grávida quando morreu, em agosto de 1971, em Salvador. O laudo do IML sumiu e a família foi proibida pelo Exército de abrir o caixão. Há duas versões sobre sua morte. Oficialmente, ela teria se matado com uma bala no peito após tiroteio com policiais do DOI/Codi. No entanto, há depoimentos dizendo que Iara foi morta, a tiros de metralhadora, pelo sargento do Corpo de Fuzileiros Navais Rubem Otero, já falecido.

Folha de São Paulo 23/09/03

Corpo da mulher de Lamarca é exumado

Família pretende provar que Iara Iavelberg não se suicidou, contrariando versão dada pelo governo

DA REPORTAGEM LOCAL

Foi exumado ontem em São Paulo o corpo da mulher do guerrilheiro Carlos Lamarca, Iara Iavelberg, que morreu em 20 de agosto de 1971, após a polícia invadir o apartamento em que ela morava, em Salvador (BA).

A versão do regime militar para a morte de Iara é a de que ela teria cometido suicídio. O irmão da guerrilheira, Samuel Iavelberg, afirma que a família pediu a exumação para tentar provar, após perícia, que ela, na verdade, teria sido morta pela polícia. Ele disse que a família não pretende pedir indenização ao Estado caso essa versão seja comprovada.

Além disso, diz Samuel, a família quer, caso seja provado que Iara não cometeu suicídio, mudar a forma como ela está enterrada.

Seguindo a tradição judaica, por ter supostamente se suicidado, a guerrilheira foi sepultada "com desonras", em terreno não-consagrado e "de costas" para o restante do Cemitério Israelita do Butantã -ou seja, com os pés, em vez da cabeça, próximos à lápide.

A exumação foi determinada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo no dia 4 de novembro de 2002, a partir de recurso da família, após a Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo conseguir, em primeira instância, impedir que o corpo fosse desenterrado para a perícia.

Segundo Abrão Bernardo, assessor da presidência da entidade, exumá-la vai contra a religião judaica, por ser, ele diz, "uma violação do corpo, que é sagrado".

Paralisação

O juiz Alexandre Alves Lazzarini, da 16ª Vara Cível de São Paulo, cumprindo a decisão do Tribunal de Justiça, determinou que a exumação fosse realizada. Segundo o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), advogado da família no processo, o IML (Instituto Médico Legal) marcou para ontem a data da exumação.

Ao meio-dia de ontem, porém, o juiz mandou suspender o procedimento, aceitando argumentação dos advogados do cemitério. "Não fomos notificados e não tivemos condição de nos preparar", disse Bernardo.

Segundo Greenhalgh e Samuel, também teria sido argumentado incorretamente que se tratava de um feriado religioso para os judeus, o que impossibilitaria trabalhos no cemitério.

Greenhalgh recorreu ao juiz e conseguiu um acordo com a Sociedade Cemitério Israelita para que a exumação prosseguisse sem a presença da imprensa, o que, ainda segundo Greenhalgh, teria sido exigido porque representaria uma "profanação do túmulo".

O irmão de Iara conta que a família briga na Justiça, em outros processos, há 13 anos para conseguir exumar o seu corpo. Segundo ele, o enterro foi uma "operação militar", em que o caixão chegou lacrado ao cemitério, e que não foi permitido que as cerimônias tradicionais, como a lavagem do corpo, fossem realizadas.

Abrão Bernardo afirma que a entidade aceitou a versão oficial de suicídio porque "o óbito veio dessa forma".

Samuel diz que a Sociedade Cemitério Israelita é uma "entidade ultraconservadora e com tendências direitistas". "É uma questão política, no fundo. Eles não querem que se afronte a versão militar", afirmou.

"Não tínhamos como agir de forma diferente naquela época", disse Bernardo sobre as declarações de Samuel, negando qualquer motivação política.

Após ser exumado, o corpo foi levado para a faculdade de medicina da USP, onde será analisado.

(RAFAEL CARIELLO)

Psicóloga morreu em 1971 cercada pela polícia na BA





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