Este espaço é reservado para troca de textos e informações sobre a História do Brasil em nível acadêmico.

sábado, 18 de dezembro de 2010

** ARMANDA ÁLVARO ALBERTO

 

Uma vida dedicada à educação






"Mate com angu" é uma expressão famosa na Baixada. Batiza estabelecimentos comerciais e até mesmo um cineclube. Mas sua origem está em 1921, ano de inauguração da Escola Proletária de Meriti (que ficava em Duque de Caxias), uma das primeiras no Brasil a servir merenda. A ideia foi de sua fundadora, Armanda Álvaro Alberto, que lutou pela democratização do ensino e criou um colégio gratuito e aberto à comunidade, numa época em que a população da região, em sua maioria analfabeta, era devastada pela malária.
A expressão foi cunhada pelo delegado Filinto Müller, que perseguiu Armanda durante a ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas, como conta a escritora Dalva Lazaroni no livro "Mate com angu, a história de Armanda Álvaro Alberto", lançado pela editora Europa (R$ 49,90), na Biblioteca Leonel Brizola no último dia 7.
— A pressão contra a escola era tão grande que ela teve que mudar o nome da unidade da Escola Regional de Meriti. Achavam que a palavra "proletária" era vinculada ao comunismo — explica Dalva, que foi aluna de Armanda.
A escritora explica que a expressão "mate com angu" tinha um tom pejorativo:
— Mas, com o tempo, caiu no gosto da população. Armanda era acusada de subversiva e de fazer da escola um grande restaurante, mas argumentava: "Dá para aprender com fome? E com fome dá para viver?"
A trajetória de Dona Armandinha, como era chamada por seus alunos, é contada ao longo de 590 páginas. A obra é resultado de 20 anos de pesquisas sobre cerca de seis mil documentos. Nas pesquisas, Dalva conseguiu a ilustração de um projeto de construção da segunda sede da escola, asssinado por Lúcio Costa em 1928. Além disso, o livro traz fotografias da família de Armanda: a mãe, Maria Teixeira da Mota e Silva; o pai, o cientista Álvaro Alberto da Silva, um dos precursores do estudo da pólvora no país; e o único irmão de Armanda, o oficial da Marinha Álvaro Alberto Motta da Silva, pioneiro no estudo da energia atômica, e que dá nome à usina nuclear de Angra dos Reis.



RESUMO DE MATÉRIA DO CADERNO ELA- O GLOBO- P.3 DE 18/12/2010

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Atividade nos últimos dias:
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    ** ARTIGO - 110 anos de Gilberto Freyre. A contribuição de Freyre para a historiografia brasileira

     

    110 anos de Gilberto Freyre.
    A contribuição de Freyre para a historiografia brasileira

    Jocemar Paulo de Lima*
    Daniel Luciano Gevehr**



    INTRODUÇÃO – Ao completar 110 anos do nascimento de Gilberto Freyre, pretende-se através deste artigo analisar este intelectual do inicio do século passado como um estudioso adiante de seu tempo. Suas teorias, suas abordagens foram bastante reconhecidas em vários países, levando o mesmo a receber diversas vezes o prémio de Honóris Causa em várias universidades europeias e norte-americana. Assim como as relações raciais, a visão positiva do autor sobre a colonização foi interpretada por seus críticos como um esvaziamento do conflito entre colonizador e colonizado. Outros autores, como Sergio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, obra contemporânea à de Freyre, viram na colonização portuguesa seu aspecto violento e predatório. Sendo este, o grande diferencial da ótica sobre as relações servis do Brasil Colônia e Império.
    O pernambucano Gilberto Freyre retratou em Casa-grande & senzala as relações sociais e o cenário do Brasil colonial a partir de sua terra natal, sob a influência da antropologia cultural norte-americana, sua formação acadêmica. Estudou as características socioculturais dos povos formadores da sociedade brasileira sob a ótica do relativismo, valorizando a mestiçagem, antes, depreciada e a contribuição do negro, antes ignorada. Através da exteriorização da intimidade da sociedade colonial, revelou o contexto em que foram criados os antagonismos que compõem a ordem social no Brasil de hoje.

    METODOLOGIA – Esta pesquisa está centrada na biografia e nas analises histórica, sociológicas e antropológicas que Gilberto Freyre realizou em suas principais obras: Casa-Grande e Senzala, 1933 e Sobrados e Mucambos em 1936. Se Casa-Grande e Senzala, tem como fio condutor o encontro entre culturas na origem da nação, a partir das características gerais da colonização portuguesa e da formação da família brasileira, realçando as influências culturais e o problema da miscigenação, em Sobrados e Mucambos, a narrativa gilbertiana se concentra na decadência do patriarcado rural. Destacamos ainda, nesse segundo volume que Gilberto Freyre focaliza o crescimento do pólo urbano brasileiro, pontuando-o com antíteses culturais, o viés sempre presente em todas as suas descrições da formação da nossa sociedade. De impacto forte nesse outro Brasil do século XIX, o processo modernizador descrito por Freyre é apresentado nas mudanças dos hábitos de vestir, de leitura, de consumo, Assim como em Casa-Grande e Senzala o patriarcalismo é chave explicativa da natureza da nossa formação social, da sua estruturação e mudanças, tal noção também é estratégica em Sobrados e Mucambos. No primeiro livro, a família é a unidade básica da sociologia freyriana, já que as instituições e o Estado português se encontravam distante da empresa colonial
    brasileira. Gilberto Freyre, como se sabe, torna esse conceito fundamento da sua explicação de questões tanto sociais como psicológicas que segregam, aproximam e tornam íntima a vida do homem brasileiro.
    Em Casa-Grande e Senzala, o autor mostra que o sistema das casas-grandes e senzalas acomodava relações sociais; em Sobrados e Mucambos, ele exibe com clareza as alterações das mesmas casas-grandes que se urbanizam em sobrados com requintes arquitetônicos europeus e passam a expressar novas relações de distanciamento entre ricos e pobres, brancos e gente de cor, casas-grandes e casas pequenas, conferindo grande importância à condição dos homens dentro de seu ambiente de moradia.
    RESULTADOS – Parte dos resultados desta pesquisa sobre a contribuição de Gilberto Freyre para a construção da pesquisa histórica do Brasil e as semelhanças entre a Nova História associada aos Annales e a história social, psico-história ou antropologia histórica de Gilberto Freyre; semelhanças que vão desde um interesse pela cultura material (alimentação, vestimenta e habitação) até um interesse pelas mentalidades e pela história da infância, temas que marcaram a publicação de Casa-grande & senzala. Estas semelhanças de abordagem foram reconhecidas tanto por Febvre como por Braudel quando descobriram a obra de Freyre no fim dos anos 30. Podemos destacar nesta breve pesquisa biográfica que Freyre aprendera seu estilo interdisciplinar na Universidade Columbia, um centro do movimento americano da 'nova história' no início do século.
    DISCUSSÕES E CONCLUSÕES – Contudo, pretendemos através deste artigo, destacar a grande contribuição de Freyre para a historiografia brasileira. O motivo desta pesquisa deu-se através da comemoração dos 110 anos do nascimento de Gilberto Freyre. Entendemos que já houve a superação da teoria da modernização da formação social brasileira, que fazia de Gilberto Freyre um teórico da "democracia racial", por ele descrever aquele processo de superação da condição do negro em mestiço embranquecido, inserindo-o na estrutura social. A nova valorização do pensamento gilbertiano, intrinsecamente relacionado com o realce conferido ao compartilhamento dos valores burgueses, vem trazendo uma nova apreciação da sua trilogia, dedicada ao estudo sobre a decadência do patriarcado rural e o desenvolvimento do urbano no Brasil. Se lermos Gilberto Freyre de Casa-Grande e Senzala e também de Sobrados e Mucambos, veremos que se trata de dois textos encadeados, mas bastante diferenciados: o primeiro, focalizando a miscigenação e sua relação com o processo de democratização social e o segundo, voltado para o tema da modernização social do Brasil.
    Graças á mudanças do olhar marxista, Gilberto Freyre estudioso da Antropologia histórica, está sendo aproximado à história das mentalidades. Esta justamente veio situar-se no ponto de junção entre o indivíduo e o coletivo, o longo tempo e o cotidiano, o inconsciente e o intencional, o estrutural e o conjuntural, o marginal e o geral.
    Contudo, este ensaio é uma tentativa de investigar um paralelo que não recebeu a merecida atenção, o paralelo entre a chamada "nova história" pregada e praticada na França a partir da década de 60 e a história que Gilberto Freyre escreveu a partir da década de 30.

    *Graduando em História pelas Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT
    **Professor do curso de História das Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT. Doutor em História pela Universidade do Vale dos Sinos - UNISINOS.
    REFERÊNCIAS
    CARDOSO Ayres, M. Bandeira. Carlos Leão e Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: Record, 2002, 892 p.
    Estudos Sociedade e Agricultura, 18, abril, 2002: 191-196.
    FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos. Rio de Janeiro. Editora Record. 9ª edição. 1996.
    ___________ Ordem e progresso: processo de desintegração das sociedades patriarcal e semipatriarcal no Brasil sob o regime de trabalho livre, aspectos de um quase meio século de transição do trabalho escravo para o trabalho livre e da monarquia para a república. Lisboa: Livros do Brasil, s.d. 2v.
    ____________ CASA-GRANDE & senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Lisboa: Livros do Brasil, [1957].
    ____________ Brasis, Brasil e Brasília: sugestões em torno de problemas brasileiros de unidade e diversidade e das relações de alguns deles com problemas gerais de pluralismo étnico e cultural. Lisboa: Livros do Brasil, 1960.
    HOLLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

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      sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

      ** Revista Histórica - edição 45 ª

       

      Revista Histórica – edição 45 ª

      Informamos a publicação da 45ª edição da revista Histórica – publicação on-line do Arquivo Público do Estado de São Paulo. 



      Submissão de artigos para a próxima edição:


      Edição 46 – Fevereiro 
      Tema: As experiências das Áfricas no Brasil 
      Prazo de envio: 10 de Janeiro 

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      ** [Carta O BERRO] Correção dos vídeos sobre o filme "O Velho", no artigo da companheira Anita Leocádia Prestes.

       
      Carta O Berro..........................................................repassem



                  UMA ESTRATÉGIA DA DIREITA: ACABAR COM
                OS "MITOS" DA ESQUERDA
      ( A propósito do filme documentário "O Velho - A História de Luiz Carlos Prestes") *


       Anita Leocadia Prestes**


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      *   Os conceitos de "direita"  e  "esquerda" são empregados conforme BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda: razões e significados de uma distinção política. S.P., EDUSP, 1995.
      ** Anita Leocadia Prestes é doutora em Economia e História Social, professora de História do Brasil na UFRJ e autora dos livros A Coluna Prestes (Ed. Brasiliense,1991, 3ª ed.) e
      Os  Militares e a Reação Republicana (As Origens do Tenentismo) (Ed. Vozes, 1994).

      Com as modificações ocorridas, a partir de 1991,  na situação internacional, a direita tem adotado novos métodos para combater as forças de esquerda. A autora analisa a nova estratégia da direita - de acabar com os "mitos" de esquerda -, principalmente, no exemplo do filme documentário "O Velho - A História de Luiz Carlos Prestes".



      Se concordamos com Norberto Bobbio, quando ele afirma que "esquerda" e "direita" constituem a "grande divisão", hoje "mais viva do que nunca" na "história da luta política na Europa do último século" [1] , temos um ponto de partida para tentar explicar as novas estratégias da direita atual. Visando defender de maneira mais eficaz  os interesses dos setores sociais que representa - principalmente o grande capital internacionalizado -, a direita dos anos noventa apela para novos expedientes, mais adequados aos tempos de hoje, ou seja, ao período histórico caracterizado por Eric Hobsbawm como o fim de uma era e o início de outra.[2] 
      Vivemos um momento histórico, em que, dada a derrota sofrida pelo "socialismo real", em particular no Leste europeu, os interesses do grande capital internacionalizado passaram a dominar o mundo de maneira indivisível, sem ter quem lhe possa oferecer uma resistência eficaz. Como é assinalado por James Petras, "o Ocidente está fazendo anexações e ocupações político-militares de longo prazo de uma forma nunca vista desde a era colonial".[3]  Haja vista a Guerra do Golfo, em 1991, levada adiante contra o Iraque pelas grandes potências imperialistas.
       A direita mundial  sente-se com as mãos livres, em condições de impor, em grande medida, sua hegemonia ideológica, através de meios de comunicação extremamente poderosos, eficientes e sofisticados, como a humanidade jamais, antes, conhecera. Seus "intelectuais orgânicos" -  para usar o conceito proposto e teorizado por Antônio Gramsci - trabalham de maneira intensa, consciente ou inconscientemente, com o objetivo, em geral habilmente encoberto, de justificar os interesses do grande capital internacionalizado, ou seja das corporações multinacionais. A tão propalada "globalização", sob a égide desse grande capital, é apresentada como o ápice do desenvolvimento humano, como a única alternativa  possível  para o século XXI.
      Nesse mundo  "pós-moderno", para que a ordem dita néoliberal  possa ser mantida, evitando as sempre temidas convulsões sociais, é necessário, entre as muitas medidas a serem adotadas, visando a sua  permanência e reprodução, sepultar os chamados  "mitos" da esquerda. Trata-se, na verdade, de apagar,  na memória de grande parte das pessoas, não só a crença num futuro de justiça social, no qual  venham a imperar valores como a igualdade e a liberdade para milhões e milhões de homens e mulheres em nosso planeta, como também a admiração e o respeito cultivados  por muitas dessas pessoas em relação àqueles que deram suas vidas ou contribuíram de maneira decisiva para que tais ideais se tornassem realidade. Torna-se imperativo, pois, acabar com os heróis e com a exaltação de seus feitos e de suas vidas. O heroismo dos revolucionários, dos comunistas e dos antifascistas é batizado de "mito" para melhor poder ser destruído. O exemplo daqueles que lutaram por um mundo melhor e mais justo é desqualificado com uma simples penada: afirma-se que seus propósitos foram derrotados e, portanto, sua luta teria sido inglória.[4] Às gerações atuais restaria conformar-se com  a "globalização" e seus valores marcadamente "consumistas".
      Podemos, hoje, observar duas táticas distintas de uma mesma estratégia  desenvolvida pela direita, visando combater e destruir os supostos "mitos"  da esquerda. Em contraposição aos velhos e desgastados expedientes  dos tempos da  "guerra fria", quando se acusava abertamente os comunistas de comerem criancinhas assadas na brasa e o regime soviético de "socializar" ou "coletivizar" as mulheres e acabar com a instituição da família, no momento atual, adota-se o silêncio a respeito de fatos, acontecimentos e pessoas, que se tornaram incômodos aos interesses dominantes, ou, quando isso não é possível, recorre-se à  descaracterização, ou melhor dito, à deturpação da história, visando torná-la aceitável a esses mesmos interesses dos grupos dominantes. O que, entretanto, não quer dizer que, em alguns momentos, os "intelectuais orgânicos" a serviço da direita não possam apelar  aos velhos e surrados expedientes, sempre na tentativa desesperadora de sepultar "mitos" inconvenientes.
      Neste último sentido, citarei apenas dois exemplos. Em 1991, ano marcado pelo simbolismo da "queda do muro de Berlim", o conhecido jurista Saulo Ramos veio a público para lançar contra Luiz Carlos Prestes, já falecido e sem possiblidade, portanto, de defender-se, acusação inusitada e surpreendente: Prestes teria, em 1964, denunciado à polícia os nomes de inúmeros de seus companheiros e amigos.[5]  Semelhante calúnia - desprovida de qualquer possibilidade de comprovação - não havia sido, até então,  levantada sequer pelos mais ferrenhos inimigos  de Prestes.
       Dois anos depois, em 1993, o jornalista W. Waack afirmava, em seu livro Camaradas, que Prestes teria comprado seu ingresso na Internacional Comunista com o dinheiro recebido de Getúlio Vargas para realizar a Revolução de 30.[6] Outra calúnia, lançada sem nenhuma prova, a respeito de episódio que o próprio Prestes tornara público, durante seu julgamento no Superior Tribunal Militar, em setembro de  1937. Naquela oportunidade, ele demonstrara com documentos[7] que o dinheiro utilizado na preparação dos levantes de novembro de 35 não viera de Moscou, mas lhe fora entregue, em 1930, por Vargas, que o obtivera como resultado da venda à Light, pelo governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, de uma usina elétrica de Belo Horizonte. Prestes, ao romper com os "tenentes", em maio de 30, e ao denunciar o caráter  oligárquico e antipopular do movimento liderado por Vargas, decidira destinar esses recursos à realização do que ele considerava a verdadeira revolução brasileira - a "revolução agrária e antiimperialista", defendida pelo Partido Comunista. A afirmação difamante de W. Waack, além de mentirosa, constitui uma deturpação grosseira  das práticas vigentes na Internacional Comunista, pois é amplamente sabido que a escolha dos dirigentes dessa organização era feita de acordo com critérios de mérito revolucionário e jamais a partir de uma suposta "compra" de ingresso.
      Tais exemplos de ataques diretos aos "mitos" da esquerda tendem, contudo, a tornarem-se menos frequentes.  A tática do silêncio revela-se aparentemente mais eficaz. Na Alemanha atual, pós queda do muro de Berlim, atinge  proporções preocupantes a tendência, insistentemente promovida pela direita, de apagar a memória dos comunistas e antifascistas, a memória de todos aqueles que lutaram  contra o fascismo, pela democracia e pelo socialismo. Semelhante processo é particularmente visível no território da antiga República Democrática Alemã, onde os heróis da luta revolucionária pelo socialismo e da resistência antinazista eram  lembrados e cultuados. Hoje procura-se retirar seus nomes de ruas, praças, escolas e demais lugares publicos e instituições;  fecham-se museus - antigos campos de concentração -, para dar lugar aos modernos templos da sociedade de consumo - os supermercados e shopping centers.
      Na Alemanha, certamente, há forças sociais e políticas que resistem  aos propósitos da direita de silenciar  não só a respeito do passado nazista do país como também da luta dos homens e mulheres que resistiram ao fascismo, inclusive dentro dos próprios campos de concentração. A Galeria Olga Benario, em Berlim,  com sede no tradicional bairro  operário de Neukölln, pode ser citada como exemplo desse tipo de resistência. Seus jovens organizadores desenvolvem há anos um esforço gigantesco para, entre outras atividades sociais, políticas e culturais, resgatar  a memória  dos revolucionários que dedicaram suas vidas à luta pelo progresso social, pela democracia e pelo socialismo.[8] A tendência dominante nos meios de comunicação ideologicamente controlados pelos donos do poder é, contudo,  a de silenciar  o passado de luta  desses revolucionários e antifascistas.
      O Chile, hoje, pode ser considerado um outro exemplo da tática do silêncio, adotada pela direita atual.  O cineasta chileno Patrício Guzman rodou há alguns meses, em seu país, o documentário A memória obstinada,  em que revela  o quase total desconhecimento, pelos jovens de hoje, da história recente de sua pátria, ou seja, dos acontecimentos relacionados com  o governo democrático da Unidade Popular, dirigido por Salvador Allende, e a sua trágica deposição pelo golpe militar comandado por Augusto Pinochet. Relata Guzman que muitos jovens lhe disseram: "Eu não sabia que as coisas haviam acontecido desta maneira...", quando lhes foi exibido um documentário anterior do mesmo cineasta - A batalha do Chile (1973-1979) -, sobre o governo Allende e o golpe militar.[9]  Desta forma,  a direita  no Chile  tenta  apagar  da memória das novas gerações desse país o seu passado recente de grandes lutas e conquistas democráticas e os nomes de  heróis, como Salvador Allende, que deram suas vidas por um futuro melhor para o  seu povo.
      No Brasil, a direita, durante os vinte anos da ditadura militar inaugurada em 1964, adotou a tática do silêncio, particularmente em relação a Luiz Carlos Prestes,  embora em períodos anteriores também  houvesse recorrido a semelhante expediente. Nas condições atuais do país, de existência de uma relativa liberdade de imprensa - ainda que  aliada a uma crescente manipulação da opinião pública -, não sendo mais possível manter silêncio absoluto a respeito de Prestes, procura-se  hoje desenvolver formas sutis de, sem recorrer ao ataque direto, descaracterizar a sua figura. Na virada para o século XXI, é necessário apelar para a criatividade dos "intelectuais orgânicos" a serviço da burguesia para encontrar meios mais eficazes de convencimento das pessoas e de construção de um consenso social, capaz de assegurar sua hegemonia política.
      Em junho de 1991, decorrido apenas  um  ano do falecimento de Prestes, o Ministério do Exército declarava anistiado o antigo general da Coluna Invicta, promovendo-o ao posto de coronel e concedendo à sua família o direito de receber pensão militar[10], por considerá-lo na reserva, desde que atingira a idade-limite para permanecer na ativa. O aparente reconhecimento dos méritos de Prestes não passava, contudo, de uma hábil  tentativa de enquadrá-lo no sistema dominante, de descaracterizar sua figura de revolucionário e comunista, de torná-lo inofensivo perante as novas gerações. Certamente, não foi casual o fato de essa medida ter sido adotada após o desaparecimento de Prestes: enquanto viveu, ele jamais admitiu voltar às fileiras da corporação da qual, na juventude,   se demitira duas vezes e fora posteriormente expulso. Contando com a lamentável colaboração de uma parte da família de Prestes[11], os atuais donos do poder  tentaram, desta forma, apropriar-se do legado de uma vida dedicada inteiramente à revolução social e à contestação da ordem vigente, cuja manutenção é garantida por esse mesmo Exército, que o promoveu a coronel. Temos aí  um exemplo das formas sutis empregadas atualmente pela direita para acabar com os supostos "mitos"  da esquerda.
      Outros exemplos poderiam ser citados: todos corroborando a utilização de uma imagem "fabricada" de Prestes, útil aos intentos dos políticos necessitados de conquistar alguma simpatia popular. Sem abandonar a repetição de conhecidas e surradas calúnias contra os comunistas e, em particular, contra Prestes, procura-se difundir uma nova imagem do Cavaleiro da Esperança - a de um homem "puro e ingênuo",[12]  indiscutivelmente honesto (é difícil duvidar de sua honestidade), um bom pai de família, até mesmo um amante das flores e cultivador de roseiras, mas um militar rígido (evita-se lembrar seu reconhecido talento como estrategista, revelado durante a Marcha da Coluna Prestes), incapaz de compreender as nuanças da política. Sua vida política, portanto, não teria passado de uma lamentável sucessão de erros e fracassos - um exemplo desastroso, que não merece ser seguido pelos jovens de hoje, uma vez que se trata de lhes incutir a visão de que só devem ser adotados os "modelos" vitoriosos. Desta forma, é "fabricada" uma imagem "domesticada"  ou "pasteurizada"  de Luiz Carlos Prestes - a de uma personalidade que merece muito mais compaixão pelos sofrimentos por que passou do que admiração pelo seu heroismo, pela dedicação sem limites à causa da libertação do seu povo de todo tipo de dominação e exploração, pela firmeza na defesa das convicções revolucionárias assumidas. O herói, o revolucionário, o patriota, o comunista convicto são silenciados, para criar-se uma imagem de um Prestes inofensivo para os dominadores e exploradores de hoje.
      Este é o tipo de tratamento da imagem de Prestes apresentado no filme documentário "O Velho - A História de Luiz Carlos Prestes", de autoria de Toni Venturi. Embora o diretor do filme tenha afirmado que não pretendia fazer História, mas somente cinema[13], ao  produzir um documentário sobre um personagem histórico como Luiz Carlos Prestes está, na realidade, fazendo História e levando aos espectadores uma determinada versão da história. Como disse o cineasta chileno Patrício Guzman, "o documentarista é um testemunho que toma partido, que se envolve plenamente com o que conta e isto é bom", acrescentando:
                              "O documentário não é um olho ou uma janela, sim uma                                                    representação da realidade. O único documentário objetivo está                            nas imagens das câmeras de vídeo dos bancos ou de controle do                                      trânsito."[14]

      O filme "O Velho" não só está repleto de erros factuais grosseiros, revelando de parte de seus autores um desconhecimento total da história da época e, em particular, da vida de Prestes, como incorre em graves deturpações e distorções em relação ao período histórico supostamente retratado com imparcialidade. Na verdade, o que se percebe no filme é a repetição - embora de forma mais sofisticada - de conhecidas calúnias e inverdades, que a direita sempre lançou contra os comunistas e, em especial, contra Luiz Carlos Prestes.
       Como seria possível concordar com a opinião do júri do festival intitulado "É tudo verdade", que premiou "O Velho",  quando afirma que o documentário retratou com fidelidade a história do Cavaleiro da Esperança, se a cada passo do filme nos deparamos com erros escandalosos e imperdoáveis? O célebre Manifesto de Maio de 1930, lançado por Prestes em Buenos Aires, foi parar no mês de julho. A foto de Clotilde Prestes é mostrada como sendo de sua mãe, Leocadia Prestes. O filme mostra cenas da mãe de Prestes recebendo cartas supostamente por ele enviadas durante a Marcha da Coluna, algo totalmente impossível de ter acontecido, pois os rebeldes, ao marcharem pelo interior do Brasil, careciam de qualquer meio de comunicação com as grande cidades e a capital do país.
      Da mesma forma, os acontecimentos de 1930, quando Prestes rompeu com os "tenentes"  (e não com Vargas, como se diz no filme), estão invertidos em sua ordem cronológica, tornando-os incompreensíveis. O general Miguel Costa é citado como chefe da Revolta tenentista de 1924 em S.Paulo e como presidente da Aliança Nacional Libertadora em 1935, o que, em ambos os casos, não corresponde à realidade. Afirma-se que Prestes não teria sabido, na prisão, do falecimento da mãe, o que também não é verdade. Omite-se inteiramente a intensa atividade desenvolvida por Prestes na Europa, durante os anos 70, em solidariedade aos presos e perseguidos políticos no Brasil, criando uma imagem deturpada de sua vida política nesse período. Etc. etc. Trata-se, pois, de uma sucessão de erros, imprecisões e deturpações grosseiras da vida do personagem supostamente retratato, assim como do período histórico em que ele atuou.
      Mais uma vez, são repetidos os estereótipos criados pela direita e consagrados pela História Oficial sobre a suposta "Intentona Comunista" - na realidade, um movimento de caráter antifascista, antiimperialista e antilatifundista, que jamais pretendeu implantar o comunismo no Brasil, conforme a versão difundida pelos donos do poder. Mais uma vez, repetem-se as calúnias contra os comunistas e, em particular, contra  Luiz Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, de que seriam meros "agentes de Moscou", empenhados em deflagrar uma revolução comunista no Brasil, falsificação grosseira da história e total deturpação do efetivo caráter das relações que imperavam entre os partidos comunistas, no seio da Internacional Comunista.
      Embora os autores de "O Velho"  tenham adotado uma postura de aparente imparcialidade, na medida em que entrevistaram  as mais variadas pessoas, seja de direita seja de esquerda, na realidade, o filme revela uma linha político-ideológica definida e apresenta uma mensagem  de caráter anticomunista bastante evidente. O principal  analista  dos acontecimentos de 1935, sintomaticamente, é o jornalista W. Waack, cuja "interpretação" da história  não passa de uma grotesca e caricata manipulação dos documentos por ele consultados nos arquivos de Moscou.[15]
      Da mesma forma, a análise da Coluna Prestes é feita por Eliane Brum, jornalista que se distinguiu pela maneira irresponsável  e tendenciosa  como tratou a memória desse importante episódio da nossa história, numa série de reportagens de péssima qualidade, surpreendemente publicadas posteriormente em livro.[16] Segundo E. Brum, a Coluna não teria passado de um grupo de bandidos e estupradores, que percorreram o Brasil cometendo todo tipo de desatinos contra as populações do interior do país - tese que não consegue sustentar-se diante da evidência dos fatos hoje amplamente conhecidos.[17]
      Em contrapartida, o papel destinado, no filme de T. Venturi, aos entrevistados de esquerda é claramente subalterno. Os historiadores Nelson Werneck Sodré e Marly Vianna ficaram com os seus depoimentos prejudicados pelos cortes frequentes e abruptos, que não permitem ao espectador acompanhar devidamente a exposição de suas idéias e os argumentos por eles apresentados. As entrevistas de intelectuais como Oscar Niemeyer e Ferreira Gullart, em que são externadas opiniões favoráveis a Prestes e aos comunistas, aparecem ligeiramente e sem o destaque dado aos depoimentos de seus inimigos ou adversários.
      Tanto os autores do documentário quanto os membros do júri que o premiaram revelaram, no mínimo, um total desprezo  pela verdade, que o referido festival pretendia retratar. Ao incluir o documentário citado na mostra "É tudo verdade", e, mais ainda, ao premiá-lo, os organizadores do festival e o seu júri, da mesma forma como aqueles órgãos de divulgação que se mostraram empenhados em sua propaganda, estão, na prática, contribuindo para a desinformação do público e para que os estereótipos fartamente propalados pelo anticomunismo dos tempos da "guerra fria" continuem presentes, influindo na formação das novas gerações que, dessa forma, ficarão ainda mais distantes do conhecimento de nossa história contemporânea.
      Com  o filme "O Velho", temos mais um exemplo  edificante  de como se  fabrica e se difunde  a HISTÓRIA  OFICIAL - aquela que contribui para assegurar a hegemonia  dos donos do poder -, num período histórico de  avanço da chamada "globalização", ou seja,  de derrota, no cenário internacional, das forças  alinhadas com a perspectiva socialista e de progresso e justiça social. Para quem se interessa seja pela história do Brasil seja pela vida de Luiz Carlos Prestes,  parece oportuno lembrar estas questões.
      Com o filme "O Velho", assistimos a mais uma tentativa empreendida pelos "intelectuais orgânicos"  comprometidos, consciente ou inconscientemente, com a direita de acabar com os "mitos"  da esquerda. Neste caso, trata-se, principalmente, de  desmoralizar, desgastar, banalizar e tornar  inofensiva, para  os donos do poder, a figura de Luiz Carlos Prestes. Da mesma forma, procura-se acabar com outro "mito", que na última década conquistou os corações e as mentes de milhões de pessoas, tanto no Brasil quanto no exterior, através do livro Olga de Fernado Morais[18] - a figura da  revolucionária e comunista Olga Benário Prestes, tragicamente assassinada numa câmera de gás de um campo de concentração da Alemanha nazista, para onde fora ilegalmente deportada pelo governo de Getúlio Vargas.
      A tática da deturpação histórica  vem se tornando cada vez mais generalizada, utilizando-se os seus mentores dos atuais meios de comunicação de massa, extremamente poderosos e sofisticados. Dentre eles, o cinema adquire uma importância capital, na medida em que, através da imagem, torna-se possível  exercer uma influência muito maior junto ao grande público. Parece sintomático que, no mesmo momento em que é lançado o documentário "O Velho", também  se dê a estréia  do filme de longa metragem "O que é isso companheiro?" de Bruno Barreto. Temos um novo exemplo de manipulação da história recente do país, quando os episódios relacionados com o sequestro do embaixador norte-americano no Brasil, em 1969, são apresentados de maneira a condenar a violência dos jovens sequestradores - que lutavam contra a ditadura militar, embora se possa discordar dos métodos por eles utilizados, - e a sutilmente desculpar a violência da ditadura; chega-se ao extremo de procurar "amenizar" o horror da tortura institucionalizada durante os "anos de chumbo". Desta forma, adota-se uma postura conciliatória com a ditadura militar que dominou o país por mais de vinte anos,  na tentativa de afastar os jovens de hoje de qualquer simpatia  por atitudes de rebeldia ou contestação à ordem vigente. Procura-se, assim, acabar com o "mito" das esquerdas no Brasil.
      A manipulação da memória histórica pelos donos do poder não é nova. Já no caso do tenentismo, tivemos um exemplo de como, a partir da vitória do movimento de 30,  os "intelectuais orgânicos" ligados ao poder, procuraram utilizar-se do prestígio dos jovens "tenentes"  da década de vinte para justificar as políticas implementadas pelos setores dominantes.[19]  A novidade atual reside na intenção declarada de alcançar, através de expedientes cada vez mais elaborados e sutis  - quando a tecnologia avançada dos dias de hoje é colocada a serviço dos desígnios das forças de direita -, a "desmitificação"   seja dos acontecimentos seja dos personagens que ainda provocam admiração e respeito  junto a setores significativos da sociedade. Este é o caso, no Brasil, de Luiz Carlos Prestes - personalidade respeitada e admirada até mesmo por seus adversários políticos, personagem símbolo da luta revolucionária no país, da luta pelo socialismo no Brasil. Este é o caso, também, de Olga Benario Prestes - personagem heróica das esquerdas tanto no Brasil quanto no cenário mundial, imortalizada nas páginas comoventes do livro Olga. Este é o caso dos jovens revolucionários que lutaram e tombaram tragicamente na luta contra a ditadura implantada no país em 1964. Este será o caso de muitos outros acontecimentos e personagens de esquerda, enquanto essa estratégia "desmitificadora" da direita não for neutralizada e derrotada.


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      Artigo publicado na revista Cultura Vozes, n° 4, volume 91, Petrópolis (RJ), julho-agosto de 1997, p.51- 62.




      [1]  BOBBIO, Norberto. Op. cit., p. 24.
      [2]  HOBSBAWM. Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. S.P., Comp. das                                  Letras,1995, p. 15.
      [3]  PETRAS, James. Ensaios contra a Ordem.S.P., Ed. Scritta, 1995, p. 55.
      [4]  Cf., por exemplo, WAACK, William. Camaradas: nos arquivos de Moscou: a história secreta        da revolução brasileira de 1935. S.P., Comp. das Letras, 1993, p. 11.
      [5]  Cf. RAMOS, Saulo. "Entrevista", EXAME VIP, Nº 9, 2/10/91, P. 24-31.
      [6] Cf. WAACK, W. Op. cit., capítulo 2.
      [7]  Documentos que se encontram no processo movido contra L.C. Prestes pelo Tribunal de Segurança Nacional, hoje depositados no Arquivo do STM, sediado em Brasília.
      [8]  Sobre a Galeria Olga Benario, cf. EHRENFORT, Petra, "A Galeria Olga Benario em Berlim  'Queremos fazer um trabalho do qual Olga se orgulhasse!'", in  STRAUSS, Dieter (org.)                          Não Olhe nos Olhos do Inimigo: Olga Benario e Anne Frank. R.J., Paz e Terra, 1995, p. ll5-                   118.
      [9]  Cf. SANTOS, Elza Fernandez, "Chile revê o seu passado", Jornal do Brasil, R.J., "Caderno B",    6/5/97, p.2.
      [10]  A autora deste artigo, filha de L.C. Prestes, recusou a pensão de coronel do Exército do seu  pai, assinando termo de renúncia, encaminhado oficialmente ao Ministério do Exército, datado de 10/08/92.
      [11]  A víuva de Prestes, contrariando a vontade por ele expressa em vida, solicitou  ao Ministério do  Exército a reintegração de Prestes no Exército e a pensão militar, que  foi concedida às suas  filhas mulheres.
      [12]  Cf., por exemplo, CONY, Carlos Heitor, "Prestes teve o ímpeto dos puros e ingênuos", Folha de S. Paulo, "Folha Ilustrada", S.P., 11/04/97, p. 19.
      [13]  Cf. Folha de S.Paulo, "Folha ilustrada", 23/04/97.
      [14]  Cf. SANTOS, Elza Fernandes. Op. cit.
      [15] Cf. WAACK, W. Op. cit.
      [16] Cf. BRUM, Eliane. Coluna Prestes: o Avesso da Lenda. Porto Alegre, Artes e Ofícios, 1994.
      [17] Cf. PRESTES, Anita Leocadia. A Coluna Prestes. 3ª ed. S.P., Brasiliense, 1991.
      [18]  MORAIS, Fernando. Olga. S.P., Ed. Alga-Omega, 1985.
      [19]  Cf. PRESTES, Anita Leocadia. "70 anos da Coluna Prestes: a história oficial ontem e hoje", Cultura Vozes, nº 5, setembro-outubro/1994, p. 67-76.
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      quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

      ** Vasco é autor da revolução que profissionalizou o futebol

       
      Vasco é autor da revolução que profissionalizou o futebol


      O estádio lotado no jogo do Vasco contra o Fluminense, em 1923
      O Vasco da Gama foi um time que transformou a história do futebol brasileiro. Segundo o historiador João Manuel Casquinha Malaia Santos, a caminhada do clube entre os anos 1915 e 1934 definiu as características do esporte no Brasil. Graças ao Vasco, o mundo do futebol percebeu que conceber o esporte como negócio poderia produzir grandes espetáculos, lotar estádios, gerar renda para os clubes, dar prestígio aos dirigentes e sócios e até abrir meios para que pessoas das camadas menos abastadas do Rio de Janeiro conquistassem relativa e aparente visibilidade. A ascensão do time também significou para os portugueses a reafirmação de sua identidade na sociedade brasileira.
      Malaia pesquisou o tema em sua tese Revolução Vascaína: a profissionalização do futebol e inserção sócio-econômica de negros e portugueses na cidade do Rio de Janeiro (1915-1934), realizada pelo Programa de Pós-Graduação em História Econômica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O estudo foi baseado em análises de documentos dos acervos de times cariocas e europeus, de documentos da Biblioteca Nacional, e da documentação do Arquivo Nacional.
      De acordo com o pesquisador, até que o Vasco iniciasse o que ficou conhecido como Revolução Vascaína, o futebol praticado entre os clubes da principal liga do Rio de Janeiro, A Liga Metropolitana de Desportes Terrestres (LMDT), era quase uma exclusividade dos membros da elite carioca. Segundo o pesquisador, "A Revolução Vascaína colaborou para a transformação desse quadro".
      "Iniciada pelo português Raul Campos, presidente do clube em 1919, ela foi o conjunto de medidas introduzidas pelo clube que culminaram no desenvolvimento do esporte como profissional no país, transformando o futebol no mais conhecido espetáculo de massa do Brasil."
      A pesquisa mostra que os times que faziam parte da LMDT eram formados, em sua maioria, por jogadores brancos, alfabetizados e que exerciam profissão não braçal. Ou seja, representavam os membros das classes mais abastadas da sociedade.
      As análises de Malaia revelaram que, contrariando a maré, Raul Campos percebeu que poderia utilizar o talento de homens pobres, oriundos do subúrbio do Rio de Janeiro, aliado a suas necessidades financeiras, para montar uma equipe de jogadores dedicada integralmente aos treinos e aos jogos. O Vasco passou então a contratar essas pessoas, mesmo que por debaixo dos panos, pagando-os para jogar. "O valor do salário era melhor que o pago por um serviço braçal fora dos campos, mesmo que muito baixo em relação ao que o clube começou a ganhar com o sucesso da equipe", revela o historiador.




      Em 1922, o time foi campeão da série B da primeira divisão
      Os negócios de Campos


      No início da presidência de Campos, que Malaia chama de "o verdadeiro business man português", o Vasco ainda não era um dos grandes times do futebol carioca. "Mas a dedicação exclusiva dos jogadores, incentivada pelos salários, os capacitou para produzir os maiores 'shows' que os campos poderiam receber até então. E, além da inegável habilidade diferenciada dos jogadores, os jogos do Vasco começaram a contar com uma torcida cada vez maior", diz o pesquisador. "O povo no campo atraía o povo na arquibancada, e logicamente o Vasco e os outros clubes passaram a perceber isso", completa. "Inclusive, a partir do momento em que o futebol se torna um espetáculo, os casos de violência aumentam, mas existiam desde o início do futebol", afirma.
      A ascensão do time formado por negros e pobres preocupou a elite que "achava que o futebol era dela", afirma o autor do estudo. Mesmo com todo o talento evidenciado nos jogos, o clube dos portugueses e suburbanos enfrentou muitas dificuldades para participar tanto da LMDT quanto da mais tarde Associação Metropolitana de Esportes (AMEA), uma liga criada em 1924 praticamente para excluir os jogadores vascaínos do futebol dos grandes clubes. "Os vários episódios com os quais o Vasco se deparou, como a restrição que determinava que sem estádio próprio o time não participava da liga, revelam a montagem da sociedade naquela época. Negros e pobres não tinham o mesmo espaço que os membros da elite tinham na comunidade carioca".
      Mas foi a própria lógica capitalista que mudou tal situação. De acordo com o estudo, em 1927, a construção do Estádio do São Januário, considerado na época o maior estádio de futebol da América Latina, mostrou a força do time e tornou seu sucesso ainda mais inegável. "O estádio foi o resultado da mobilidade da comunidade dos sócios, como nunca visto antes na história de um clube. Ele foi totalmente construído com doações dos vascaínos, com os melhores materiais e melhor arquitetura", salienta o pesquisador.




      Os jogadores vascaínos celebram a inauguração do São Januário, o maior estádio da América Latina naquela época
      Com o estádio próprio, a renda do clube era cada vez maior. Essa situação fez com que, para a principal Liga, ter o Vasco como um dos componentes passasse a ser até uma questão de necessidade. Afinal, como diz o historiador, "a venda de ingressos faz o capital circular no universo dos clubes, e isso é muito do que uma liga deseja". "Os jogos do Vasco eram com certeza os que mais vendiam ingresso", complementa Malaia.
      Profissionalizado, mas não valorizado
      Apesar da luta pela profissionalização dos jogadores, da popularização dos campos e das arquibancadas, a diretoria e os sócios do clube continuavam elitizados. No período entre o final da República Velha e o início da Era Vargas, os jogadores vascaínos, "verdadeiros artistas, responsáveis pela ascensão do time no Brasil e do futebol brasileiro até mesmo na Europa, não tinham seu espetáculo traduzido em suas contas bancárias", diz o pesquisador.
      Segundo Malaia, essa não valorização do jogador do Vasco, assim como aconteceu também em outros clubes, reflete que a inserção do negro, morador do subúrbio, no universo do futebol se limitava aos campos e estava inserida na própria lógica capitalista. "Com a profissionalização, isso ficou mais evidente. O jogador torna-se empregado, e não sócio, abrindo espaço para que a discriminação continuasse mesmo no cotidiano do próprio clube".
      Além disso, o pesquisador aponta que diversos episódios revelavam o descuido e desleixo que o clube tinha para com os jogadores, caso esses se machucassem em campo ou tivessem qualquer outro problema de saúde que os impedisse de jogar. Dessa forma, o aumento de ingressos vendidos não significava, para "empregados do clube", melhoria das condições de trabalho, ou mesmo de salário. Malaia conta que essa situação fez surgir, em meados da década de 1930, algumas tentativas de formação de sindicatos, por parte dos jogadores. "Isso não se consolidou porque o Brasil estava mergulhado no contexto da presidência de Getúlio Vargas, com seus sindicatos pelegos, controlados pelo Estado", explica.
      A orientação do trabalho foi da professora Esmeralda Moura. A defesa aconteceu no dia 07 de junho de 2010 .
      As imagens foram obtidas pelo pesquisador no acervo do Centro de Memórias do C. R. Vasco da Gama, no acervo do Centro de Memória do Fluminense Football Club e na página online da Biblioteca Nacional.
      Mais informações: (21) 8116-3664, email jmalaia@gmail.com
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