Este espaço é reservado para troca de textos e informações sobre a História do Brasil em nível acadêmico.

domingo, 7 de agosto de 2011

** Brizola e os 50 anos da Campanha da Legalidade (Folha de S.Paulo, 07.08.2011)

 
HISTÓRIA

Barricadas radiofônicas

Brizola e os 50 anos da Campanha da Legalidade


RESUMO

A crise que se sucedeu à renúncia de Jânio Quadros, em 1961, levou o então governador gaúcho, Leonel Brizola, a liderar a Campanha da Legalidade, mobilização que pretendia garantir a posse do vice, João Goulart. Difundida pelo rádio e com forte participação popular, a campanha adiou um golpe militar até 1964.


ELEONORA DE LUCENA


A RENÚNCIA DE JÂNIO
Quadros, em 25 de agosto de 1961, deixa o país perplexo. João Goulart, o vice-presidente eleito, está em viagem oficial à China. Os militares não aceitam a posse do vice e anunciam que prenderiam Goulart quando desembarcasse no Brasil. O golpe está armado.

Em Porto Alegre, o governador Leonel Brizola (1922-2004) resolve resistir. Com metralhadora e microfone em mãos, passa a transmitir pelo rádio discursos contra os golpistas e pela legalidade da posse de Jango. O comandante do 3º Exército, do Sul, recebe ordem para bombardear o Palácio Piratini -e não a cumpre.


Uma multidão vai para a praça da Matriz, onde fica a sede do governo estadual. Estudantes arrancam bancos de cimento e fazem barricadas. Sargentos se rebelam. Armas são distribuídas a voluntários civis. O Exército no Sul apoia a campanha. O golpe é contido -ou, melhor, adiado.


Jango volta e toma posse em 7 de setembro, sob um recém-implantado parlamentarismo.


REBORDOSA


A história completa 50 anos e ainda está viva na memória de Carlos Bastos, 77, então repórter da "Última Hora". Lembra que a renúncia provocou uma "rebordosa": "Fiquei morando no palácio por 12 dias. Só ia para casa para tomar banho e trocar de roupa. Recebi um revólver".


A 2.000 km dali, Almino Affonso, 32 anos, líder do PTB (partido de Jango) na Câmara dos Deputados, discursou logo após a renúncia -que, diz à
Folha, "na minha opinião, de forma intuitiva, era um golpe que Jânio tinha tentado fazer através do gesto" (leia a íntegra em folha.com/ilustrissima).

A mesma visão tem Luiz Alberto Moniz Bandeira, autor de livros sobre o período. Na época repórter do "Diário de Notícias" carioca, cobriu a campanha eleitoral de Jânio. "Ele manifestava inconformismo por ter de governar dentro dos marcos legais; queria poderes extraordinários", avalia, em entrevista à
Folha (leia a íntegra em folha.com/ilustrissima).

Jânio não obteve apoio para voltar com poderes ditatoriais. Desagradava à direita, em razão de sua política externa independente, e à esquerda, que protestava contra a sua política econômica. Autor de "Raízes do Golpe" [Marco Zero, 1988], Almino recorda que a Campanha da Legalidade "levantou o Rio Grande do Sul, com Brizola tendo um apoio fantástico, com o povo nas ruas. O país inteiro acompanhava. Meus pais moravam em Porto Velho e ouviam pelo rádio e me narravam depois".


ONDAS CURTAS


O governo federal tinha fechado três rádios por divulgarem os manifestos de Brizola. O governador então mandou transferir para os porões do Piratini os estúdios da rádio Guaíba, com os transmissores protegidos pela Brigada Militar (a PM gaúcha). Outras 15 rádios do país e do exterior se incorporaram à Cadeia da Legalidade. Por ondas curtas, os discursos e despachos eram traduzidos para várias línguas.


No "porão da legalidade" do Piratini, Erika Kramer era uma das poucas mulheres. Tinha 23 anos e estudava jornalismo. Conta que foi incumbida de fazer a redação e a locução em alemão das transmissões da rádio. Filha de imigrantes de Hamburgo, ela aprendera a língua com os pais, que produziam aspargos e frutas em Pelotas. "Fiquei 12 dias fazendo noticiário, na base de cafezinho e sanduíche. Fazíamos pelo civismo", afirma.


A situação ficou mais tensa quando um radioamador interceptou uma mensagem com a ordem de que a Força Aérea e o 3º Exército bombardeassem o Piratini. Ninhos de metralhadoras foram instalados no alto do palácio e na vizinha catedral. Carros, jipes, sacos de areia e bancos defendiam o lugar. O comandante militar da região, general José Machado Lopes, pediu um encontro com Brizola, que de metralhadora em punho, pegou o microfone no porão do palácio e fez um célebre discurso. Alguns trechos:


"Não nos submeteremos a nenhum golpe. Que nos esmaguem. Que nos destruam. Que nos chacinem nesse palácio. Chacinado estará o Brasil com a imposição de uma ditadura contra a vontade de seu povo. Esta rádio será silenciada. O certo é que não será silenciada sem balas. Resistiremos até o fim. A morte é melhor do que a vida sem honra, sem dignidade e sem glória. Podem atirar. Que decolem os jatos. Que atirem os armamentos que tiverem comprado à custa da fome e do sacrifício do povo. Joguem essas armas contra este povo. Já fomos dominados pelos trustes e monopólios norte-americanos. Estaremos aqui para morrer, se necessário. Um dia, nossos filhos e irmãos farão a independência de nosso povo."


O jornalista Bastos, que estava no Piratini, afirma: "Quando Brizola começou a falar, havia umas 5.000 pessoas na praça da Matriz. Cinquenta minutos depois, quando ele acabou, eram mais de 50 mil". A massa esperava a chegada do comandante do 3º Exército.


BRIZOLA


Leonel Brizola era filho de pequenos agricultores do interior gaúcho. Seu pai tinha morrido na guerra civil gaúcha de 1923. Pobre, foi engraxate, vendedor de jornais, operário. Chegou a Porto Alegre só com o dinheiro da passagem. Formou-se engenheiro e entrou para a política.


Governador a partir de 1959, ampliou a rede de escolas, fez um programa de moradias populares, encampou empresas estrangeiras (telefonia e eletricidade). Joaquim Felizardo, no seu sintético "A Legalidade, Último Levante Gaúcho" [UFRGS, 1988], chama a atenção para o fato de Brizola ser, naquele momento, um tipo novo de liderança, deixando para trás os tradicionais grandes proprietários de terras e superando o legado de Getulio Vargas.


"O governador era uma espécie de tribuno da plebe", escreve o historiador, ao explicar as razões da adesão popular à Campanha da Legalidade. Citando o historiador Décio Freitas, Felizardo ressalta que os gaúchos estavam incomodados também pelo rearranjo de poder no país: "A crescente hegemonia do capital monopolista instalado no Sudeste solapava as bases tradicionais da economia sul-riograndense e acentuava a desigualdade do desenvolvimento econômico". Alguns mais radicais previam que o Estado viraria um "outro Nordeste".


Nesse contexto, crescia o movimento tradicionalista e a proverbial valentia gaúcha era acalentada. O lema da Revolução de 30 ("Rio Grande, de pé pelo Brasil") valia em 61. Bombachas e chimarrão eram os símbolos daqueles "indignados" de 50 anos atrás. "Brizola foi o último porta-voz dessa referência cultural. Soube apelar para os valores do inconsciente coletivo", analisa Felizardo. Anos mais tarde, Moacyr Scliar captaria as contradições do momento no romance "Mês de Cães Danados - Uma Aventura nos Tempos da Legalidade" [L&PM, 1977]. Na trama vigorosa, a tradicional família gaúcha encara a miséria e a sarjeta. Naquele 61, Erico Verissimo finalizara o seu épico "O Tempo e o Vento".


MILITARES


Na Matriz, os militares chegam para falar com Brizola no palácio. Há quem ache que o governador pode ser preso. O historiador Jorge Ferreira, autor de "João Goulart, uma Biografia" [Civilização Brasileira, 2011], em entrevista à
Folha, relata: "Machado Lopes e os generais chegaram num jipe. Nas escadarias do palácio, diante deles, havia cerca de 100 mil pessoas. O silêncio era enorme. Quando eles subiram as escadas (permitindo que a população os visse), alguém começou a cantar o Hino Nacional. Machado Lopes e os generais pararam, viraram-se para o povo, botaram a mão no peito e também cantam o hino. Milhares de pessoas choraram nesse momento" (leia a íntegra em folha.com/ilustrissima).

No palácio, Machado Lopes comunica oficialmente a Brizola que os generais do 3º Exército "decidiram, por maioria de votos, que só aceitam a solução para a crise dentro da Constituição; por conseguinte, com a posse do vice-presidente". O 3º Exército aderia à legalidade e desafiava a junta militar golpista. Lá fora, a multidão festeja.

Aos 61 anos, Machado Lopes comandava a maior força militar brasileira: 120 mil homens no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, anotam os jornalistas Paulo Markun e Duda Hamilton na detalhada narrativa de "61, Que As Armas Não Falem" [Senac, 2001]. O general não era um esquerdista infiltrado: ao contrário, foi um opositor do tenentismo, da Coluna Prestes e lutara contra os comunistas em 1935.

Moniz Bandeira aponta a existência de distintas tendências nas Forças Armadas, com maioria para os legalistas. Para ele, a Guerra Fria alterou o quadro: "Os EUA modificaram sua estratégia e passaram a incentivar a participação dos militares na política interna de seus países." O objetivo era conter o avanço do comunismo. "Na Campanha da Legalidade, pela primeira vez a cisão nas Forças Armadas se expressou publicamente".


"1961 foi um desastre para o Exército", resumiu Golbery do Couto e Silva, ideólogo da ditadura, citado por Amir Labaki em "1961, A Crise da Renúncia e A Solução Parlamentarista" [Brasiliense, 1986].


Nelson Werneck Sodré, no seu "História Militar do Brasil" [Expressão Popular, 2010], enfatiza o ineditismo da resistência de Brizola. "Pela primeira vez, pagava-se para ver. Os golpistas precisavam enveredar para a luta ou recuar. Ora, golpe em recuo não existe", constata. A junta tentou começar a armar o seu esquema, mas a coisa degringolou. "Começaram a surgir as resistências, as dissensões, as negativas, culminando com generalizada desobediência."


AVIÕES

Foi o que aconteceu na Base Aérea de Canoas, nos arredores de Porto Alegre, cujo comandante era fiel à junta golpista. Lá, os sargentos se rebelaram, esvaziaram os pneus dos jatos, desarmaram os aviões e se deram as mãos na pista de decolagem, formando uma barreira humana a impedir a saída dos voos para o bombardeio ao palácio.

Porto Alegre tinha 635 mil habitantes; em apenas cinco dias, 45 mil deles se inscreveram para participar da resistência e entraram em filas para receber armas e treinamento. Um antigo arsenal da Brigada, comprado no início dos anos 30 para um eventual confronto com Getulio, foi distribuído. "Brizola armou a população em Porto Alegre. No interior, o trabalho foi feito pelos Centros de Tradições Gaúchas, com armas artesanais, como lanças e facões", diz o historiador Ferreira, emendando: "É interessante que, ao final da crise, todos os que receberam as armas as devolveram".


Emílio Neme, 85, que era então subchefe da casa militar de Brizola, fala à
Folha. "Fui à fábrica da Taurus e requisitei 300 revólveres para distribuir para os que estavam no palácio." Hoje, reconhece: "Fiz coisa errada. Não pedi os revólveres de volta. Ficaram de recordação para as pessoas".

Havia comitês de apoio de estudantes, bancários, intelectuais, ferroviários, artistas. Tradicionais rivais, Grêmio e Internacional suspenderam o jogo de domingo e declararam apoio à campanha. Para Sereno Chaise, 83, que era líder do PTB na Assembleia Legislativa, a legalidade foi o movimento cívico que produziu a maior unidade na história do Sul.


Em "Vozes da Legalidade" [Sulina, 2011], Juremir Machado da Silva mostra que a campanha até hino teve, composto "no improviso, no calor do combate" pelo ator Paulo César Pereio e pela escritora Lara de Lemos, com melodia que misturava a Marselhesa e o hino brasileiro. A inspiração não foi intencional, lembra ele, que na época tinha 20 anos e fazia parte do comitê de resistência democrática do grupo Teatro de Equipe. "Era muito heroísmo", disse Pereio à
Folha.

JANGO


Enquanto isso, Goulart fazia sua viagem de volta da China, passando por Paris, Nova York, Lima, Buenos Aires, Montevidéu. "Jango", filme de 1984 de Silvio Tendler, começa com imagens curiosas da visita ao presidente Mao e mostra o desenrolar da crise, que desaguaria no golpe de 64.

Em 61, no epicentro das negociações em torno do parlamentarismo, estava Almino Affonso, contrário à mudança. "Chamei de golpe branco, porque a Constituição não poderia ser emendada num clima de convulsão política. Era ilegal." Mas, no próprio PTB, surgiram os apoiadores à tese de acomodação. A saída negociada foi acertada por Tancredo Neves, futuro primeiro-ministro, conversando com Jango em Montevidéu.


Para a capital uruguaia, com um grupo de jornalistas, foi Lucídio Castelo Branco. Tinha 23 anos e queria entrevistar Jango. "Ele me chamou por volta da meia-noite e disse que, a partir daquele momento, eu ia ser o seu secretário de imprensa e que precisava comunicar que não haveria entrevista. Quase apanho dos colegas", diz.


Com Jango, embarcou para Porto Alegre num Caravelle da Varig e viveu momentos de pavor. "O comandante disse que o voo era de emergência, viajava na escuridão completa. Na descida, embicou de um jeito que eu morri de medo. Fiquei apalermado. Só consegui sair do avião 15 minutos depois do pouso."


No Piratini, por imposição de Tancredo, Jango não discursa. Como faria em 1964, evita o confronto e o risco de guerra civil. Num misto de vitória e frustração, a multidão vaia um Jango silencioso.


Brizola ainda pede que Jango não aceite o parlamentarismo e marche com o 3º Exército até Brasília. Em entrevista a Markun e Hamilton, em 2001, Brizola asseverou: "Nós venceríamos facilmente. Tropas do Sul se juntariam a outras por toda parte. A resistência seria localizada num nucleozinho. Seria uma marcha vitoriosa para uma mudança no país".


Moniz Bandeira discorda: "A marcha sobre Brasília não seria simples passeata. Haveria luta armada. Carlos Lacerda, governador [do então Estado] da Guanabara, tinha apoio militar e estava envolvido no golpe". Almino, que agora escreve outro livro sobre o período ("João Goulart, Uma Revisão da História"), defendeu, naquele momento, a marcha, assim como Brizola. Hoje, pensa diferente. "Acho que Jango teve um gesto de grandeza. Tinha legitimidade para assumir, mas não queria sangue. Acho isso nobre."


O jornalista Jayme Keunecke, então com 26 anos, acompanhou Goulart na volta a Brasília. À
Folha, recorda o temor de que uma chamada "operação mosquito", de militares golpistas, derrubasse o Caravelle da Varig. Mas o voo foi tranquilo. "Jango fumava muito e tomava muito chimarrão", lembra o repórter.

LEGADO


Ministro da Defesa do governo Lula, Waldir Pires, 84, era deputado naqueles tempos tumultuados. Para ele, "o grande legado da legalidade foi o impedimento do golpe. Mas a lição não foi aprendida, porque depois houve 1964. O golpe foi simplesmente adiado".Pires conecta a tentativa de golpe de 61 com a de 55, uma tentativa de impedir a posse de JK. "Brizola foi em 61 o que [Henrique] Lott foi em 55", compara.


Já Almino pensa que não se deve avaliar o episódio como apenas um veto dos militares a Jango. Para ele, Goulart no poder significava "a volta do Getulio de 1950", e "muitas lideranças militares eram contra o monopólio estatal do petróleo e queriam maior participação do capital internacional".


"Ainda estávamos numa etapa democrática muito pobre", afirma Almino. Em contraponto, Ferreira argumenta que o legado do movimento foi mostrar que a sociedade era apegada à democracia. "A junta militar apertou o botão do golpe, mas a sociedade reagiu e não concordou. Golpes não dependem da vontade de generais; exigem apoio social", declara.


Naqueles dias, o governador de Goiás, Mauro Borges, aderiu à campanha. Várias entidades civis pelo Brasil também apoiaram. Uma mobilização que, para Almino, reapareceu nas "Diretas-Já", em 1984. Mas ele desabafa: "Minha tristeza é que não acho que tenhamos evoluído tanto. Apesar da retomada democrática, os partidos, sem exceção, não têm democracia interna e militância política. São caudilhos com nomes diferentes".


Na praça da Matriz, em setembro de 61, a chuva dispersou a multidão. O "porão da legalidade" foi desativado. Agora, 50 anos depois, vai virar museu.


No RS, Brizola resiste à investida militar com metralhadora e microfone em mãos, transmitindo pelo rádio discursos contra os golpistas


A situação ficou mais tensa quando um radioamador interceptou uma mensagem com a ordem de bombardear o Palácio Piratini

"Pela primeira vez, pagava-se para ver. Os golpistas precisavam enveredar para a luta ou recuar", observou em livro Nelson Werneck Sodré

"Apesar da retomada democrática, os partidos não têm democracia interna e militância política. São caudilhos com nomes diferentes" - Almino Affonso


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Fabrício Augusto Souza Gomes

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    sábado, 6 de agosto de 2011

    ** Lançamento do livro "Imagens da Clausura na ditadura de 1964: informação, memória e história"

     
    convite para o lançamento do livro "Imagens da Clausura na ditadura de 1964: informação, memória e história", organizado pela Profa. Dra. Icéia Thiesen (UNIRIO) e que reúne o resultado de pesquisas sobre a luta política e a  experiência prisional durante a ditadura militar iniciada em 1964. Haverá uma mesa-redonda debatendo o tema, conforme descrito no convite.


    Onde? Arquivo Nacional
    Quando? 16 de agosto, às 14h



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    Fabrício Augusto Souza Gomes

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      ** BUROCRACIA E SOCIEDADE NO BRASIL COLONIAL


      São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011 

      CRÍTICA HISTÓRIA

      Livro pioneiro do historiador Schwartz ganha nova edição

      Estudo de 1973 aponta as contradições da burocracia no Brasil colonial

      RONALDO VAINFAS
      ESPECIAL PARA A FOLHA

      "Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial" é livro datado de 1973, na versão inglesa, e traduzido para o português em 1979.
      Integra a vasta obra do historiador Stuart B. Schwartz, especialista na história ibero-americana, em particular a luso-brasileira. 
      Entre seus livros encontram-se "Segredos Internos" (1988) -obra sobre a economia e a sociedade escravistas na Bahia colonial- e o recente "Cada um na Sua Lei" (2009), sobre a tolerância religiosa no mundo ibérico. 
      O livro em causa permanece incrivelmente atual após 40 anos. Diria mesmo que se rejuvenesceu, pois, nos anos 70, os estudos sobre o período colonial no Brasil privilegiavam as interpretações gerais de tipo socioeconômico. 
      Na vanguarda das discussões destacava-se a polêmica que opunha a teoria dos modos de produção coloniais (Ciro Cardoso, Jacob Gorender) à do antigo sistema colonial (Fernando Novais). 
      O foco do debate residia em definir o caráter da economia colonial escravista: se integrava um "sistema" cuja lógica era determinada pelo capitalismo comercial europeu ou se possuía uma dinâmica própria, parcialmente autônoma em relação ao exclusivo mercantil metropolitano. 
      Os estudos vinculados a instituições de governo eram escassos, não raro associados a uma história tradicional.

      PROBLEMA INSTIGANTE
      Schwartz foi ousado ao lançar seu "Burocracia e Sociedade" naquele contexto, um estudo monográfico sobre o Tribunal da Relação da Bahia -órgão máximo do aparelho judiciário colonial-entre 1609 e 1751. 
      Desde o início o livro teve boa recepção entre os especialistas, pois o autor imprimiu abordagem muito original ao tema.
      Longe de apenas reconstituir a máquina judiciária colonial, Schwartz pôs em causa um problema instigante: o de como uma instituição régia incumbida de arbitrar as disputas e os delitos no foro judicial pôde se adaptar à sociedade colonial. 
      Uma sociedade baseada na escravidão e naquilo que Gilberto Freyre chamou de "privatismo senhorial", como sistema de poder, face à debilidade das instituições estatais.
      O livro de Schwartz foi pioneiro no estudo de uma questão que, somente a partir dos anos 1990, passou a interessar aos pesquisadores.
      Em sua tese central, o autor demonstra o "abrasileiramento da burocracia" por meio dos enlaces familiares entre os desembargadores e as elites baianas, comprovando a mescla entre o exercício da alta magistratura e os interesses privados, não obstante os conflitos de praxe.
      Estudos mais recentes sobre as instituições de governo na colônia têm realçado a descentralização do poder metropolitano, inspirados no modelo de Antônio Hespanha: um Estado polissinodal vigente no próprio reino. 
      O livro de Schwartz não embarca nessa viagem. Ainda bem. 
      Aposta na centralização, embora matize essa tendência, ao reconstituir a fusão entre as elites burocráticas e coloniais -prova cabal da mistura entre o público e o privado nas raízes do Brasil.
      RONALDO VAINFAS é professor de história moderna da UFF.

      BUROCRACIA E SOCIEDADE NO BRASIL COLONIAL
      AUTOR Stuart B. Schwartz
      EDITORA Companhia das Letras
      TRADUÇÃO Berilo Vargas
      QUANTO R$ 59,50 (416 págs.)
      AVALIAÇÃO ótimo

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        quarta-feira, 3 de agosto de 2011

        ** Revista de História da Biblioteca Nacional Edição 71

         

        Boletim eletrônico do site da Revista de História da Biblioteca Nacional

        Arqueologia: descobertas surpreendentes

        Como anda o mercado de trabalho para os arqueólogos? Quais são os campos de estudo? A reportagem principal e a galeria de achados e modalidades [na íntegra no site] da edição de agosto [71] da Revista de História da Biblioteca Nacional tentam responder a essas questões. Além disso, é possível conferir artigos sobre a origem do homem no continente americano, os usos da arqueologia industrial, da subaquática e um texto que mostra a relação dos botocudos com os paleoíndios. Por fim, uma entrevista - no site, na íntegra - com o arqueólogo Walter Neves, que aborda os seus estudos sobre o crânio de Luzia. [Confira]

        Cultura, opulência e polêmica

        Na seção "Leituras", um especial com dois artigos sobre o clássico "Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas", de André João Antonil, que, no século XVIII, chegou a ser liberado Santo Ofício, pelo Ordinário e pelo Paço, mas ficou retido por ordens do Conselho Ultramarino. Saiba mais sobre essa história e conheça quem foi o padre João António Andreoni que assumiu o nome de Antonil. [Confira]

        Um carinho chinês

        O Almanaque, nossa seção de Humor e curiosidades da RHBN [na íntegra no site], fala que o cheiro, aquele curioso afago muito popular no Nordeste, pode ter origem chinesa. Há também citações a Machado de Assis, Gilberto Freyre e Juscelino Kubitschek. [Confira]

         História interativa

        Publicamos a primeira participação de um leitor que nos enviou um artigo via História interativa, nossa área colaborativa. Nessa seção, é possível contribuir com artigos, reportagens e textos em geral, além de imagens, que tenham ligação, direta ou indireta, com a história do Brasil e a historiografia - basta estar logado em nosso site (se você não tiver um login, se cadastre aqui). O texto tem tratamento editorial, com edição de formato e conteúdo, e o resultado passa pela aprovação do seu autor, que tem a responsabilidade por sua publicaçã o. O pesquisador escreveu sobre a segregação residencial, ontem e hoje. [Confira]

        Hitler exigiu que se bombardeasse o Brasil

        O professor Francisco Carlos Teixeira contou, durante o Biblioteca Fazendo História, que em suas pesquisas descobriu que o ditador nazista deu ordens para os alemães atacarem o Brasil. Adler Homero Fonseca de Castro, que compôs a mesa, contou como houve conflitos na época da Independência, acabando com o mito de que a transição havia sido pacífica. [Confira]
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        ** História Oral

         
        História Oral
        As inscrições para a nona edição do Encontro Regional Sudeste de História Oral estão abertas e vão até o dia 12 ou até o preenchimento total das vagas. O evento acontece na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP entre os dias 16 e 18. O tema desta edição é "Diversidade e Diálogo".
        Haverá conferências e debates com diversos profissionais de todo o país e do exterior, três diferentes minicursos sobre o trabalho com história oral e memória, além de comunicações orais, pôsteres, lançamentos de livros e apresentações musicais.
        A taxa de inscrição custa R$ 50,00 e garante participação em todas as atividades, material de apoio e certificado. Os minicursos têm taxa extra de R$ 30,00 e vagas limitadas. Inscrições são feitas pelo site do Encontro. O evento acontece no prédio dos Departamentos de Geografia e História da FFLCH, na Av. Lineu Prestes, 338 Cidade Universitária, São Paulo.
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        terça-feira, 2 de agosto de 2011

        ** Saeculum 23 no ar! [Dossiê História e Memória]

        Sæculum 23
        [Qualis B2 na área de História]

        Saeculum 23
        Dossiê: História e Memória

        Organizadoras: Telma Dias Fernandes e Vilma de Lurdes Barbosa


        • A Pedra que Arde: o direito à memória contra a sedução do esquecimento
          Marta Gouveia de Oliveira Rovai (Doutoranda em História Social - USP)  
        • Biografias históricas e práxis historiográficas
          Arrisete C. L. Costa (UFAL)
        • Memórias de velhos no Nordeste brasileiro
          Alarcon Agra do Ó (UFCG)
        • De como lembrar o Semiárido e esquecer o Sertão
          Maria Lucinete Fortunato (UFCG)
          Mariana Moreira Neto (UFCG)

        • O folclórico Bar Palácio e os tempos da memória gustativa
          Mariana Corção (Doutoranda em História - UFPR)
        • Limites e contribuições da história oral: a memória e a história nas interseções entre o individual e o coletivo
          Willian Eduardo Righinni de Souza (Mestrando em Ciência da Informação - USP)
          Giulia Crippa (USP) 

        • Cultura histórica, memória e comemorações: o centenário de nascimento do Presidente João Pessoa na Paraíba em 1978
          Genes Duarte Ribeiro (SEC-PB)
        • Entre a memória histórica e a prática cívica: os calendários culturais do MEC (1969-1974)
          Tatyana de Amaral Maia (USS - RJ)
        • Acervos privados: indivíduo, sociedade e história
          Rejane Silva Penna (IHRGS)
          Cleusa Maria Graebin (UNISINOS - RS) 


        • O uso de memórias como fonte de pesquisa para a História da Educação da população negra em São Paulo
          Surya Aaronovich Pombo de Barros (UFPB)
        Resenhas
        • História e memória dos Vikings
          Resenha de: La saga de Fridthjóf el valiente y otras sagas islandesas; texto anônimo da tradição nórdica, traduzido para o espanhol por Santiago Ibáñez Lluch (Madrid: Miraguano, 2009, 365 p.).
          Johnni Langer (UFMA) 
        • Entre a História e a memória dos mitos e lendas celtas
          Resenha de: Contos e lendas da mitologia celta; de Christian Léourier, traduzido por Monica Stahel (São Paulo: Editora WMF/ Martins Fontes, 2008, 224 p.).
          Luciana de Campos (UFMA)
        • "O mosaico falhado da memória": composições da infância e da guerra
          Resenha de: Minha guerra alheia; de Marina Colasanti (Rio de Janeiro: Record, 2010, 286 p.).
          Alômia Abrantes (UEPB)
        Entrevista
        • Trajetórias de vida, trajetórias de ofício
          Entrevista com Regina Beatriz Guimarães Neto (UFPE)
          Entrevistadoras: Telma Dias Fernandes e Vilma de Lurdes Barbosa
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        Acesse a revista em:
        http://www.cchla.ufpb.br/saeculum/

        segunda-feira, 1 de agosto de 2011

        ** Convite - Lançamento do livro "A batalha eleitoral de 1910" (10/08/11, 18h30 - Museu da República - Catete/RJ)

         
        Convite para o lançamento do livro "A batalha eleitoral de 1910", de Vera Lucia Bogéa Borges. Dia 10/08, às 18h30, na Livraria Museu da República. 
        Saudações históricas,






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        Fabrício Augusto Souza Gomes

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        Atividade nos últimos dias:
            **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

                                                                                                            Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
         
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        ** Proibir tráfico de escravos foi só para inglês ver (Folha de S.Paulo, 31/07/2011)

         
        HISTÓRIA

        O negreiro e a letra morta


        Como a lei que tentou proibir o tráfico, há 180 anos, foi só "para inglês ver"

        RESUMO
         
        Em 1831, sob pressão inglesa, o Brasil aprovou lei para proibir o tráfico negreiro, que, no entanto, ainda vicejou por décadas no país, sob os auspícios de cafeicultores, traficantes e do Estado. No Brasil, em Cuba, nos EUA e no Haiti, o comércio de escravos prosperou, simbolizado pelo navio negreiro, misto de feitoria e prisão.







        ELEONORA DE LUCENA
        ilustração BRUNO DUNLEY

        O Brasil foi o campeão mundial da escravidão moderna, a dolorosa base de construção do capitalismo. Na véspera da Independência, em 1820, dois terços da população eram de escravos; de 1790 a 1830, eles representaram dois terços de todas as importações brasileiras.
        Só nesse período, desembarcaram no Rio 700 mil africanos. Em 1840, mais escravos foram traficados no mercado do Valongo --cujas ruínas foram descobertas no início deste ano, durante as obras no porto carioca-- do que em todos os mercados de Nova Orleans juntos. O Rio de Janeiro foi a maior cidade escravista do mundo desde a Roma antiga.
        Neste ano se completam 180 anos da lei que proibiu o tráfico de escravos. Letra morta, ela passou para os livros como a que foi feita para "inglês ver" e virou expressão nacional.
        Quatro novos livros, de historiadores brasileiros e norte-americanos, cruzam as histórias de Brasil, EUA e Cuba para dissecar essa história violenta. Mostram um mundo em transformação, no qual os interesses da acumulação capitalista entram em conflito com as insurreições e as contradições da formação do mercado consumidor.
        As batalhas ocorreram nos mares, nos rios africanos, nos parlamentos, nas senzalas e nos jornais; entre seus pontos cruciais estão o movimento abolicionista, a revolta que criou o Haiti, os canhões ingleses e a guerra civil nos EUA.

        NAVIO Um dos lançamentos mais interessantes é "O Navio Negreiro - Uma História Humana", de Marcus Rediker [trad. Luciano Machado, Companhia das Letras, 464 págs., R$ 64]. Professor de história marítima da Universidade de Pittsburg (EUA), Rediker mescla cifras, análise política e depoimentos de atores do que foi a maior migração forçada da história.
        Nos 400 anos de história do tráfico (do fim do século 15 ao fim do século 19), Rediker contabiliza 12,4 milhões de embarcados em navios negreiros. Destes, 1,8 milhão morreu durante a viagem e foi jogado ao mar.
        O rigor com as estatísticas não esconde os dramas por trás delas, como o caso do navio Zong, que, em 1781, levava 470 escravos para a Jamaica quando uma doença se espalhou, matando 60 africanos e sete tripulantes.
        O capitão Luke Collingwood calculou: se os escravos tivessem morte natural, a perda seria dos traficantes; se fossem jogados ao mar, o prejuízo seria da seguradora. Não hesitou: atirou ao mar 122 cativos; dez se suicidaram. O caso foi parar na Justiça e atiçou o abolicionismo.
        Rediker ancora a narrativa no navio: sua construção (por mãos escravas), sua tecnologia (das mais avançadas), sua tripulação (jovens pobres endividados), seu comando (despótico e cruel), sua carga (amontoada), sua rotina (doenças, motins, estupros, suicídios, assassinatos). Não raro, tubarões seguiam as embarcações atrás de cadáveres.
        Não é uma leitura leve, admite o próprio autor. Às vezes faz lembrar "Coração das Trevas", de Joseph Conrad (1857-1924), ou evoca a imagem da instalação de Emanoel Araújo sobre um navio negreiro exposta no Museu AfroBrasil, em São Paulo.

        DESESPERO Dicky Sam, pseudônimo de um escritor de Liverpool --base britânica do tráfico e palco de revoltas--, descreveu assim o negreiro: "O capitão brutaliza os homens, os homens torturam os escravos, o coração dos escravos se afoga em desespero".
        Rediker enfatiza que o navio negreiro foi uma peça fundamental para a ascensão do capitalismo. Ajudou a tomar terras e a expropriar milhares de pessoas, deslocando-as para explorar minas de ouro e prata, cultivar tabaco e cana-de-açúcar. Também foi vital para o desenvolvimento do comércio de longa distância e para a acumulação de riquezas e de capitais de forma inédita.
        O barco era uma feitoria e uma prisão. A violência estava no seu cerne. As mortes faziam parte de um negócio que, se tudo corresse bem, podia garantir aos traficantes um lucro de 100%.
        Outro estudioso do tráfico, Gerald Horne, cita uma estimativa de Henry Wise (1806-76), que foi governador da Virgínia e atuou como principal diplomata dos EUA no Brasil: o lucro com o tráfico de escravos variava de 600% a 1.200%.
        O destino mais lucrativo para os negreiros era o Brasil, diz Horne, que teve seu "O Sul Mais Distante - Os Estados Unidos, o Brasil e o Tráfico de Escravos Africanos" [trad. Berilo Vargas, Companhia das Letras, 488 págs., R$ 59,50] incluído na recente fornada de livros sobre o assunto.
        Professor da Universidade de Houston, Texas, Horne lembra que, de 1500 a 1800, chegaram às Américas mais africanos do que europeus. De 1600 a 1850, 4,5 milhões de escravos desembarcam no Brasil, dez vezes a quantidade levada para a América do Norte.
        O autor enfatiza que a maior parte da riqueza dos grandes países da Europa e da América do Norte foi acumulada graças à escravidão: a fase mais intensa e lucrativa do tráfico foi financiada por capitais dos EUA, em navios norte-americanos, com tripulação e bandeira ianques.

        BRASIL E EUA O grande mérito do livro de Horne é descrever como as relações diplomáticas, comerciais e políticas entre Brasil e EUA se entrelaçavam e aproximavam escravocratas de lá e de cá. Juntos, os dois países chegaram a abrigar 67% dos escravos das Américas.
        Os EUA eram o principal mercado para os cafeicultores brasileiros, que, por sua vez, eram os maiores compradores de escravos. Se o norte dos EUA lucrava com a construção de navios e com o tráfico, o sul via no Brasil uma possível válvula de escape para a economia escravocrata.
        Mesmo antes da eclosão da Guerra Civil Americana (1861-65), uma parcela mais conservadora dos confederados acalentou planos de transferência de proprietários sulistas (e de sua escravaria) para a Amazônia e outras regiões do Brasil. Enxergavam em d. Pedro 2º um aliado, mas não conseguiram um esperado engajamento brasileiro na guerra contra o norte.
        Grupos de derrotados da Guerra de Secessão chegaram a aportar por aqui; a maioria voltou desiludida. No entanto, em Santa Bárbara do Oeste e Americana, ambas no interior paulista, os confederados ficaram.
        Horne traz relatos pavorosos da vida no Brasil escravocrata. Durante a corrida do ouro para a Califórnia, os navios contornavam o cabo Horn, no extremo sul da América, e chegavam ao Rio, onde os viajantes viam corpos pelo chão, sangue no porto, escravos sujos, maltrapilhos, doentes.
        Numa época em que abolição era palavra maldita, foram os estrangeiros que verbalizaram os temores de revoltas. O reverendo Robert Walsh, impressionado, achava que os africanos "descobrirão a força que têm". Previa que o Brasil viraria um Haiti, palco de radical revolta escrava.
        Walsh descrevia a situação dos cativos como "revoltante para a humanidade". Andavam nus, com a pele criando cascas "como as do elefante"; até cavalos e mulas desfrutavam de "situação muito superior à dos negros".

        CAFÉ Os lucros do café, porém, ainda justificavam para a elite brasileira da época todo o horror da escravidão. A ação dos cafeicultores na política brasileira que a respaldava é o tema de Tâmis Parron no seu "A Política da Escravidão no Império do Brasil - 1826-1865" [Civilização Brasileira, 374 págs., R$ 49,90].
        Mestre em história social pela USP, Parron mostra como a expansão do cativeiro foi simultânea à formação do Estado nacional. O dinheiro do tráfico e dos senhores de escravos nutria o orçamento estatal e formatava a política. Foi com esse suporte que Pedro 2º, por exemplo, conseguiu abafar as revoltas regionais que eclodiram no século 19 (Farroupilha, Sabinada, Balaiada, Cabanagem).
        O historiador busca nos documentos a retórica que fundamentou a escravidão. Avalia que, de início, a norma de 1831 ("para inglês ver"), que tentou proibir o tráfico --atividade que chegou a estar concentrada em 29 famílias--, não foi tão inócua como se imagina: muitos a abandonaram para investir em imóveis no Rio.
        Montados em negócio tão lucrativo e central para o país, os escravocratas conseguiram bloquear a implantação da lei, que previa a libertação de escravos trazidos ilegalmente e punia fazendeiros e traficantes.
        O Estado incorporou a defesa dos interesses dos senhores de escravos, especialmente os do eixo Rio de Janeiro-vale do Paraíba-Minas Gerais, que, entre 1831 e 1850, concentrou 78% do contrabando negreiro.
        A percentagem é idêntica ao rol de petições no Congresso a favor do tráfico procedente de Minas e do Rio (87%, se somadas às do vale do Paraíba, que chegou a ser o maior produtor mundial de café). Um "caso bem raro em que a matemática da política coincide com a matemática do crime", escreve Parron, ao apontar como os interesses regionais do contrabando tomaram conta do Estado.
        Parron descreve as articulações políticas e as reações às revoltas escravas. Uma das mais importantes foi a dos malês, na Bahia, em 1835, quando cerca de 600 cativos se rebelaram: quase 70 foram fuzilados imediatamente. João José Reis, no seu "A Rebelião Escrava no Brasil" (Companhia das Letras), conta a história em detalhes.
        Antes dela, em 1833, em Carrancas (comarca do Rio das Mortes, MG), os cativos mataram nove membros da família do deputado e fazendeiro Gabriel Junqueira. Cinco escravos foram mortos de pronto e 12 foram enforcados na praça de São João Del-Rei.
        Houve ainda a rebelião de Vassouras (RJ), onde 70% da população era de africanos. Lá, em 1838, centenas de escravos fugiram para formar um quilombo. Foram caçados, e o líder, Manoel Congo, acabou enforcado. Parron mostra como os silêncios e os discursos no parlamento tentavam manipular os efeitos das revoltas.

        GRÃ-BRETANHA No front externo, a Grã-Bretanha fazia mais pressão. Eric Williams, no seu clássico "Capitalismo e Escravidão" (1964), explica as razões da potência escravista que se tornou abolicionista: a dinâmica da revolução industrial capitalista.
        Em 1850, o Brasil sucumbiu ao poder bélico britânico, aceitando interromper oficialmente o tráfico. Aprovou a Lei Eusébio de Queirós, parlamentar que manobrou para esconder a pressão externa, como mostra Parron.
        Os senhores de escravos tentaram resistir ao vendaval abolicionista criando novas fontes de abastecimento de mão de obra --escrava ou não. O fim do contrabando liberou capitais para investimento e provocou especulação com os preços das commodities.
        Reproduzindo debates parlamentares, às vezes de forma caudalosa, Parron relata como o país conviveu com a escravidão num contexto em que o liberalismo avançava no mundo inteiro. Ou como as ideias de liberdade e de soberania nacional foram usadas pelos escravocratas para rechaçar os abolicionistas, apontados como advogados de interesses externos, especialmente britânicos.
        O livro de Parron poderia ter a preocupação de proporcionar uma leitura mais fluida e didática. Mas acerta ao apontar a participação direta do Estado brasileiro, com seu arcabouço político e jurídico, no "mais volumoso contrabando ilegal de seres humanos de que se tem notícia na história ocidental".

        HAITI Com uma contextualização mais abrangente, o mesmo Tâmis Parron, com Márcia Berbel e Rafael Marquese, escreveu "Escravidão e Política - Brasil e Cuba, 1790-1850" [Hucitec, 396 págs., R$ 47]. Berbel e Marquese são professores da USP: ela, de história ibérica; ele, de história da América colonial.
        Os autores descrevem como os senhores de escravos impuseram seu projeto em meio ao colapso do sistema colonial, ao avanço do "internacionalismo abolicionista" e à expansão do mercado mundial decorrente da industrialização.
        A revolução escrava na colônia francesa de Santo Domingo, que resultou na criação do Haiti, Estado controlado por ex-escravos --"variável histórica inédita", ressaltam os historiadores--, é um ponto de virada nessa história.
        A colônia, que chegou a abastecer mais da metade do açúcar consumido na Europa, foi tomada por uma revolta iniciada em 1791. Os rebelados derrotaram as tropas de Napoleão e criaram um Estado independente, em 1804. O cubano Alejo Carpentier (1904-1980) escreveu um memorável romance inspirado nesses fatos: "O Reino Deste Mundo" (1948). A revolta haitiana foi o modelo para diversas rebeliões nas colônias britânicas, provocando a abolição na década de 1830.

        CUBA No Brasil e em Cuba, no entanto, "a ganância superou o medo", notam os historiadores. Ambos passaram a investir mais na escravaria para aumentar a produção, abocanhar o mercado deixado pela ex-colônia francesa e obter vantagens competitivas em relação às colônias britânicas. De 1820 a 1835, Cuba duplicou sua oferta de açúcar ao mercado, enquanto a produção de café brasileiro cresceu mais de 4,5 vezes.
        Os autores reconstituem o jogo parlamentar que, no Brasil e na Espanha, sustentava a escravidão. No caso brasileiro, enfatizam como alterações no sistema judiciário asseguraram a traficantes e escravocratas que o Estado jamais atentaria contra aquela propriedade "ilegal, fruto da pirataria, nascida do roubo mesmo".
        O núcleo da obra é a construção de paralelos entre Brasil e Cuba, mostrando como a Grã-Bretanha atuou nos dois casos. Se o império britânico jogou duro com o Brasil, levando a questão do tráfico à beira de um confronto militar aberto, em relação a Cuba houve suavidade.
        Para os historiadores, a hipótese de Cuba ser anexada aos EUA segurou o ímpeto inglês. Diferente era o caso brasileiro: "Para manter sua soberania política, o Estado imperial precisou repelir de modo terminante e irrevogável o contrabando negreiro".

        BASES FILOSÓFICAS Os historiadores também se debruçam sobre as bases filosóficas que tentavam justificar a escravidão, com argumentos como: a escravidão existe desde a Antiguidade e não é condenada pela Bíblia; era preciso converter os cativos ao cristianismo; era imperioso libertá-los de seus senhores africanos; a escravidão na América era melhor do que a vida na África; os negros seriam mais adaptados ao trabalho no clima dos trópicos etc.
        As ideias foram se modificando e surgiram até os que defendiam que os tipos humanos eram hierarquizáveis conforme características físicas e socioculturais. Basta assistir ao perturbador e intenso "Vênus Negra", filme de Abdellatif Kechiche, para começar a entender a que ponto chegou o preconceito travestido de ciência.
        Como no livro de Parron, "Escravidão e Política" poderia contextualizar melhor os discursos e documentos que reproduz. A leitura de defesas da escravidão, no entanto, não deixa de ter interesse.
        A mais curiosa talvez seja a do parlamentar e ministro Bernardo Pereira de Vasconcelos (1795-1850). Ao argumentar, em 1843, que "os africanos têm contribuído para o aumento ou têm feito a riqueza da América" e que "a riqueza é sinônimo de civilização no século em que vivemos", declarou: "A África tem civilizado a América". Para ele, a diminuição do número de escravos levaria os brasileiros à barbárie.
        Barbárie foi o termo que os abolicionistas usaram para descrever, já no final do século 18, a realidade do tráfico. Em panfletos, usaram o didático desenho do interior do negreiro Brooks, onde se espremiam 482 escravos. Eles eram amontoados "como colheres", nas palavras do médico Thomas Trotter, que viajou na embarcação.
        A imagem, que passou para os livros de história, mostra "o moderno sistema econômico em toda a sua terrível nudez, o capitalismo sem tanga", afirma Rediker.
        O historiador alerta para o silêncio sobre o tema. "O navio negreiro é um navio que viaja nas fímbrias da consciência moderna". Para ele, é preciso debater o legado da escravidão: "A reparação está na ordem do dia".
        Gerald Horne também se preocupa com o que chama de amnésia em torno de uma espécie de "genocídio insuspeitado e escondido". Pior: a questão continua.
        "Mesmo no século 21, existem alegações persistentes que indicam que não apenas o tráfico de escravos ainda existe mas que há mais escravos hoje do que havia no auge do tráfico de escravos africanos", afirma Horne.

        "No Brasil e em Cuba, "a ganância superou o medo", notam os historiadores. Ambos passaram a investir mais na escravaria"
        "De 1600 a 1850, 4,5 milhões de escravos desembarcam no Brasil, dez vezes a quantidade levada à América do Norte"
        "Alterações no sistema judiciário asseguraram a traficantes e escravocratas que o Estado não atentaria contra sua propriedade"
        "Numa época em que abolição era palavra maldita, foram os estrangeiros que verbalizaram os temores de revoltas"
        "O navio negreiro viaja nas fímbrias da consciência moderna", diz Rediker. Para ele, é preciso debater o legado da escravidão"

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        Fabrício Augusto Souza Gomes

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        domingo, 31 de julho de 2011

        ** Presentacion de la Revista Latinoamericana de Metodologia de la Investigacion Social



        Revista Latinoamericana de Metodología de la Investigación Social

        Revista Latinoamericana de Metodología de la Investigación Social
        Nº 1: "Abrir los Posibles"
        Invitamos a todos Uds. a visitar en nuestro sitio Web (relmis.com.ar) el número uno de la Revista Latinoamericana de Metodología de las Ciencias Sociales.
        Convencidos sobre la necesidad de establecer una mirada regional sobre los desarrollos en metodología de la investigación y el potencial crítico que se devela en el hacer de los procesos de indagación, es que este primer número intenta de alguna manera reflejar dicha intencionalidad.
        El título de este primer número, "Abrir los posibles" (en nuestro caso, centrado en la reflexión y práctica metodológica), remite a la expresión con la que Luce Giard define el desafío propuesto por −y en− los escritos de Michel De Certeau. En este sentido, "Abrir los posibles" supone que si la pluralidad y la complejidad son rasgos de las prácticas, todo aquel que pretenda conocerlas debe "abrir(se)" las posibilidades de cognoscibilidad.
        La Revista Latinoamericana de Metodología de la Investigación Social (ReLMIS) pretende contribuir en esta dirección, posibilitando espacios de publicación de las experiencias de trabajo de colegas en el continente; favoreciendo formas de conocimiento y de relación entre equipos de investigación y docencia en el área temática; generando espacios para compartir experiencias en este campo. En síntesis, la apuesta de poner en común las producciones tiene una doble finalidad: hacer más comprensible el mundo social desde las múltiples miradas referidas y contribuir en procesos de emancipación construidos colectivamente, mediante prácticas de transferencia de los modos de indagación y de extensión a las comunidades de referencia.
        El primer número de ReLMIS invita a volver la vista sobre las reflexiones y prácticas metodológicas existentes en ciencias sociales y "abrir los posibles" al porvenir de la investigación (sus procesos) en y desde América Latina. Invitación que reúne, en este caso, las colaboraciones de colegas de Chile, Argentina, Brasil y Perú, como primer gesto que intenta poner en el tablero la intencionalidad de las políticas académicas que atraviesan las diversas prácticas investigativas en nuestra actualidad. Voces que desde experiencias situadas, preparan el "espacio de movimiento" y sacuden los cimientos de un hacer metodológico en continua tensión y transformación.
        En el marco de lo expresado, invitamos a Uds. a participar de la presentación de ReLMIS a efectuarse en el contexto de las Jornadas de Sociología de la Facultad de Ciencias Sociales de la Universidad de Buenos Aires el día jueves 11 de Agosto a las 15 hs. en el Aula 401 de la sede de Marcelo T. de Alvear 2230, Ciudad Autónoma de Buenos Aires.
        La presentación contará con la participación de Néstor Cohen (UBA), Agustín Salvia (UBA-UCA-CONICET) y Adrián Scribano (CIES-CONICET), así como de las directoras de la publicación Eugenia Boito (CIES-CIECS-CONICET), Angélica De Sena (UBA-CIES) y Graciela Magallanes (UNMVA-CIES).
        Recordamos que se encuentra abierta de forma permanente la convocatoria para la presentación de trabajos originales que formarán parte de futuros números.

        Links relacionados:

        1) Revista Latinoamericana de Metodología de la Investigación Social – [ Visitar ]
        2) Normas de publicación para autores y condiciones para los envíos – [ Visitar ]
        3) "Programa de Acción Colectiva y Conflicto Social" (CIECS-CONICET) – [ Visitar ]
        4) Centro de Investigaciones y Estudios Sociológicos (CIES) – [ Visitar ]

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