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sábado, 29 de janeiro de 2011

** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História do sargento Manoel Raimundo Soares -XXI-

Carta O Berro..........................................................repassem


Vida, luta e martírio do sargento Manoel Raimundo Soares
História
Mário Maestri e Helen Ortiz   
TorturaFundada há quase 400 anos na boca do Amazonas, a cidade de Belém domina o norte brasileiro. Hoje, sua região metropolitana supera os dois milhões de habitantes, vivendo em condições que lembram as que ensejaram, há mais de 160 anos, a luminar revolta social cabana. Em fins dos anos 1930, Belém mantinha seu perfil colonial, com seus suntuosos casarões e as mangueiras que, ao longo das ruas centrais, esforçavam-se para amainar o calor equatorial opressivo. Na época, possuiria pouco mais de cem mil moradores, em geral de pele morena, herdada dos antigos senhores dessas regiões.

Em 15 de março de 1936, Etelvina Soares dos Santos pariu Manoel Raimundo, possivelmente em sua residência humilde. Como tantas outras mulheres paraenses fortes, criou o menino e seus dois irmãos desejando-lhes um futuro melhor como trabalhadores dignos. Manoel Raimundo mostrou-se logo menino muito inteligente e de fibra. Após concluir o primário no Grupo Escolar Paulino de Brito, cursou estudos técnicos no Instituto Lauro Sodré, enquanto trabalhava em oficina mecânica.

Em 1953, com apenas 17 anos, Manoel Raimundo abandonou a pacata Belém para morar com conhecidos na capital federal, então grande palco dos fortes confrontos políticos e sociais que dilaceravam o Brasil. Por se envolver neles, mais e mais, com a galhardia dos velhos guerreiros cabanos, o menino de dona Etelvina conheceria a morte, na luta por seus ideais, aos trinta anos, distante de sua terra natal, nas águas geladas do rio-estuário da capital do Brasil meridional.

A crise do nacional-desenvolvimentismo

Em 1950, três anos antes de Manoel Raimundo chegar ao Rio de Janeiro, o rio-grandense Getúlio Vargas elegera-se presidente da República, com 48,7% dos votos, pelo PSD, PTB e PSB, propondo continuar a industrialização nacional autônoma, apoiada no mercado interno. Durante a campanha eleitoral, atacara a "velha democracia liberal e capitalista" e defendera o "industrialismo" e os "direitos trabalhistas". Seu governo seria varado por graves conflitos e contradições.

A valorização do cruzeiro e a desvalorização do preço das matérias-primas no mercado internacional deprimiam o valor das exportações, exigindo o controle governamental das remessas de lucros e de dividendos, necessário à compra de tecnologia, de equipamentos, de petróleo etc. Como no Estado Novo, o getulismo expressava, sobretudo, a burguesia industrial e os proprietários agropastoris voltados para o mercado interno, e, agora, secundariamente, o operariado fabril, mantido na subordinação social, política e ideológica.

O governo Vargas iniciou-se com orientação nacional-desenvolvimentista moderada, oferecendo abertura aos capitalistas estrangeiros, desde que associados aos nacionais e respeitosos aos "interesses do país". Então, o Brasil tinha 52 milhões de habitantes. As classes industriais, médias e operárias haviam se fortalecido grandemente em relação ao Estado Novo, enquanto decrescera o poder dos exportadores, organizados, sobretudo, na UDN, que expressava igualmente o imperialismo e o capital financeiro.

Nova relação de forças

O novo governo Vargas ampliou a intervenção do Estado na economia que levara, no Estado Novo, à criação da Companhia Siderúrgica Nacional e da Companhia Hidroelétrica do Vale do São Francisco. Foram fundados os bancos da Amazônia e do Nordeste; o BNDE e a Eletrobrás. Em 1951, ditou-se o monopólio estatal sobre o petróleo e minerais radioativos. Em 1953, a fundação da Petrobrás galvanizou os sentimentos nacionalistas da população e, a seguir, restringiu a hemorragia das contas públicas com as importações do petróleo.

A estreiteza do mercado interno e da poupança nacional emperrava o nacional-desenvolvimentismo. O mercado urbano era limitado e o rural, menor. Os salários fabris aproximavam-se ao mínimo necessário à subsistência. O prosseguimento do padrão nacional-desenvolvimentista burguês exigia maiores investimentos e maior consumo, através do fim do latifúndio (sem indenização), da generalização das leis trabalhistas, da elevação dos salários, de maior participação estatal na economia etc.

Essas medidas democrático-burguesas sequer interessavam aos industrialistas ligados ao governo, pois fortaleceriam o mundo do trabalho e quebrariam o pacto agrário-industrial, que assegurava a manutenção do latifúndio. Em agosto de 1954, o suicídio de Vargas assinalou o fim da capacidade e disposição do capital industrial nacional de garantir ao país desenvolvimento capitalista tendencialmente autônomo. Nesse momento, ele já abandonara maciçamente a política populista, com a qual subordinara os trabalhadores industriais urbanos aos seus interesses.

Rápida progressão

Em 1955, meses após a comoção nacional causada pelo suicídio de Getúlio Vargas, Manoel Raimundo Soares, com 19 anos, alistou-se no Exército, alcançando o posto de segundo sargento, após quatro promoções. Em 20 de setembro do mesmo ano, após namoro de apenas três meses, casou-se com a jovem Elisabeth Chalupp, mineira de origem humilde, criada por família estranha, trabalhando no Rio de Janeiro como operária industrial. Manoel Raimundo gostava de chamar a esposa de Betinha e Beta.

Falta-nos ainda informação mais precisa sobre a precoce e destacada participação do jovem sargento paraense nos conflitos vividos pela sociedade e, junto com ela, pelas Forças Armadas, nesses anos em que o país foi fortemente tensionado por iniciativas golpistas conservadoras, com destaque para a tentativa de deposição de Goulart, em 1961. Ensaio golpista derrotado que transformou o jovem governador sulino Leonel Brizola no principal líder popular-nacionalista e grande referência para o movimento dos suboficiais do Exército, Marinha e Aeronáutica.

Desde o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), Manoel Raimundo começara a despontar como militante de vanguarda da luta pela organização sindical e política dos suboficiais do Exército. Araken Vaz Galvão, seu companheiro de farda e de luta, assinala que, por volta de 1958, ele vivia em Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e servia, como escrevente, no Batalhão Escola de Saúde, em Magalhães Bastos.

Nesse então, Manoel Raimundo exercia o que Araken definiu como "liderança suave, relacionada com os problemas" dos sargentos discutidos no Clube da classe, transformando-se, logo, em um dos "principais fundadores" do "Movimento dos Sargentos", assim batizado por ele. Além de outras reivindicações sindicais e democráticas, os suboficiais do Exército mobilizavam-se pelo direito de progressão ao oficialato; pelo direito de casamento civil, sem autorização do Exército; pela estabilidade após cinco anos de serviço; pela elegibilidade ao parlamento dos suboficiais.

Por sua cultura, inteligência e decisão, Manoel Raimundo era referência para seus companheiros de farda. O ex-subtenente pára-quedista do Exército Jelsi Rodrigues descreve-o como homem de estatura baixa e corpo franzino, "cabeçudo", de "bigodinho", de pele levemente morena, habitual do paraense, muito culto e sobremaneira corajoso. O ex-sargento Araken Galvão, seu particular amigo, lembra que era um "grande orador" e "neurótico por cultura", tendo procurado intelectuais como o sociólogo Vinícius Caldeira Brant, o filósofo Álvaro Vieira Pinto, entre outros, para ampliar os horizontes do movimento dos sargentos. Antes mesmo do golpe, Manoel Raimundo interessava-se pela literatura marxista, lendo e divulgando Marx, Engels, Lênin.

Na ante-sala do golpe

No mínimo desde 1963, Manoel Raimundo preocupava-se com a necessidade de organizar resistência ao golpe militar, que se aproximava, tendo procurado preparar as condições para resistência, na Serra do Mar, nas proximidades do Rio de Janeiro, possivelmente inspirado na experiência cubana. O que lhe ensejou inquérito no Exército, por desvio de armas e cooptação de sargentos.

Devido à manifestação de sargentos do Exército, em 11 de maio de 1963, no Sindicato dos Comerciários, no centro do Rio de Janeiro, Manoel Raimundo sofreu pena disciplinar e foi transferido, do Rio de Janeiro para Campo Grande, no Mato Grosso, o mesmo ocorrendo com seus companheiros, promotores da reunião, do Comando Geral dos Sargentos, enviados para o mesmo estado e para outras destinações.

Do manifesto de posições muito duras lido quando da manifestação, faria parte frase de autoria de Manoel Raimundo que dizia: "O martelar das oficinas, o ribombar dos tambores confundir-se-ão com o choro das crianças famintas. O instrumento de trabalho dos sargentos é o fuzil". A repressão afastou da capital da República grande parte do núcleo central do Comando Geral dos Sargentos.

O golpe de Estado de 1964

Em 1964, as burguesias industrial e financeira nacionais romperam com o projeto nacional-desenvolvimentista autônomo, para impor padrão de acumulação de capitais através de maior integração ao capital mundial; super-exploração do trabalho; orientação do consumo aos segmentos ricos nacionais e ao comércio mundial etc. O golpe iniciou em Minas Gerais, em 31 de março, chefiado por militar ex-integralista, com o apoio dos EUA, que preparou intervenção no Brasil, caso houvesse resistência - Operação Brother Sam.

Em Porto Alegre, Leonel Brizola tentou reviver a Legalidade, apoiado pelo comandante do 3º Exército, pela Brigada, pelos suboficiais do Exército e da Aeronáutica, por populares. Em 2 de abril, já na capital sulina, João Goulart negou-se a chefiar a resistência, permitindo que o golpismo se instalasse praticamente sem oposição. João Goulart viajou para uma sua estância em São Borja e, dali, para o Uruguai. O PCB, única organização de esquerda com força sindical e popular, subordinara a oposição ao golpismo à direção de Goulart e ao esquema militar organizado em torno de altos membros das forças golpistas.

Políticos e historiadores defenderam e defendem a negativa de João Goulart de opor-se ao golpe como ato que impediu "derramamento de sangue" no Brasil, tese proposta pelo próprio ex-presidente. A imposição da ditadura sem resistência ensejou a maior derrota histórica que o mundo do trabalho e da democracia jamais viveu no Brasil, com gravíssimas conseqüências para o país, para a América Latina e para o mundo, que se mantêm até hoje.

Golpismo em marcha

Após o golpe e o "Ato Institucional" n.º1, de 9 de abril, ao qual seguiriam outros, a alta oficialidade militar interveio nas associações sindicais e profissionais, no legislativo, no executivo e no judiciário; expurgaram, prenderam, torturaram opositores, que abandonaram comumente o país, quando puderam, sobretudo pelo Uruguai, onde se encontravam João Goulart e Leonel Brizola, com as relações políticas e pessoais cortadas.

O golpe militar, apoiado pelas classes proprietárias do Brasil, objetivava relançar o padrão de acumulação de capital, a partir de bases distintas das nacional-desenvolvimentistas, que exigiam, como visto, reformas estruturais não aceitas mesmo pelo capital industrial nacional. A ditadura militar expressava também a necessidade dos capitais externos, sobretudo estadunidenses, de intervenção mais direta no país, onde haviam conquistado maiores posições.

Sob a direção do general Castelo Branco, expressão do capital financeiro e imperialista, o governo implementou política liberal e recessiva, que estendeu a seguir o descontentamento até mesmo a setores que haviam apoiado o golpe, com destaque para as classes médias, ensejando a primeira tentativa de reunificação de oposição anti-ditatorial política superestrutural, a fracassada Frente Ampla, de 1966, promovida sobretudo por Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart.

A sub-oficialidade nacionalista

A frustração ensejada pela derrota sem resistência e o crescente descontentamento popular levaram a que suboficiais nacionalistas de esquerda das forças armadas, em especial do Exército e da Marinha, presos e reformados em grande número, tenham sido o setor social que se disponibilizou prontamente para a luta antiditatorial direta, no contexto prático e político próprio ao mundo castrense, organizando-se em torno de Leonel Brizola, que seguia no Uruguai disposto a lutar pelas forças das armas pelo fim da ditadura.

Manoel Raimundo teve a prisão decretada em abril, e foi expulso do Exército em junho de 1964. Para não ser preso e poder integrar-se à luta antiditatorial, apenas estourou o golpe, desertou de seu quartel em Campo Grande, junto ao sargento Araken Galvão, também destacado no Mato Grosso. Manoel Raimundo e Araken viajaram para Juiz de Fora e, a seguir, para o Rio de Janeiro, de onde partiram, mais tarde, para o Rio Grande do Sul. Manoel Raimundo teria declarado à polícia que viajou para Porto Alegre em 26 de janeiro de 1965 à procura de emprego, retornando ao Rio de Janeiro em 6 de março. Em 29 de setembro teria voltado ao Sul, sob promessa de trabalho feita pelo suboficial Leony Lopes, que lhe teria igualmente apresentado Edu Rodrigues, civil pretensamente oposicionista, mas nos fatos informante da polícia, como veremos.

Mais de 20 sargentos teriam viajado, como Manoel Raimundo, do Rio de Janeiro a Porto Alegre para integrar-se à resistência. Uma transferência mais do que compreensível, pois desde 1964 o Rio Grande do Sul tornara-se a principal via para alcançar ou manter contatos com o Uruguai, então centro anti-ditatorial. Em 1965, haveria mais de 2.000 brasileiros refugiados naquele país. De 1964 a 1966, o ex-governador Leonel Brizola depositou grande esperança na possibilidade de sublevar Porto Alegre e o Rio Grande do Sul apoiado em oficiais e suboficiais constitucionalistas, nacionalistas e de esquerda ainda em serviço.

A primeira resposta armada à ditadura

Foi precisamente do Uruguai, em 20 de março de 1965, que o coronel do Exército Jéferson Cardin de Alencar Osório e o sargento da Brigada Militar Alberi Vieira dos Santos ingressaram no Rio Grande do Sul para organizar coluna de pouco mais de 20 homens. O grupo armado, após tomar a cidade sulina de Três Passos, em 25 de março, dirigiu-se ao oeste do Paraná, onde no dia 27 foi dispersado após combate desigual com as forças da ditadura. No combate morreu um sargento das forças repressivas. O objetivo da coluna do Movimento Nacionalista Revolucionário, ligado a Leonel Brizola, era sublevar militares oposicionistas no Rio Grande do Sul e a seguir no Brasil.

Em Porto Alegre, desde começos de 1965, como assinalado, o sargento Manoel Raimundo, companheiros seus do Comando Geral dos Sargentos e outros resistentes locais participaram ativamente da organização de dois levantes de quartéis da Brigada e do Exército da capital. O primeiro contaria com "entre 40 e 70 pessoas prontas para fazer a insurreição", "espalhadas por aparelhos em Porto Alegre", e mais outros suboficiais que chegariam do Rio de Janeiro. O plano teria desandado devido à prisão de Araken Vaz Galvão.

Em fevereiro-março de 1966, após o fracasso da chamada "Guerrilha de Três Passos", um segundo projeto de levante em Porto Alegre não prosperou, devido à denúncia do plano ao comandante Osvino Ferreira Alves, um dia antes da sua eclosão por capitão da Brigada Militar envolvido no movimento, com a prisão de oficiais, suboficiais, trabalhadores, estudantes etc. O fracasso do segundo levante fortaleceu a proposta da organização da luta antiditatorial através de focos armados rurais, desejada pelos suboficiais do Exército e Marinha, e à qual Leonel Brizola resistia.

A queda de Manoel Raimundo

Às 17h35 da tarde de 11 de março, Manoel Raimundo foi preso ao entregar entre 500 e 2.000 panfletos, possivelmente por ele escritos, com os dizeres "Abaixo a ditadura militar", contra a chegada naquele dia a Porto Alegre do general-ditador Castelo Branco, e a Edu Rodrigues, um civil alcagüete, em frente ao auditório Araújo Viana. Na distribuição dos manifestos estariam envolvidos funcionários da Carris, empresa pública com antiga tradição de luta sindical e política. Conhecido pelo serviço de informação do Exército como uma das principais lideranças do movimento dos sargentos e, possivelmente, por seu envolvimento nos movimentos de resistência em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, Manoel Raimundo era uma presa valiosa para a repressão, já que, se vergado, causaria baixas duríssimas entre seus companheiros de luta e no movimento de resistência à ditadura.

A documentação conhecida assinala que, quando da sua prisão, Manoel Raimundo militava em pequeno grupo reunindo, principalmente, remanescentes da "Guerrilha de Três Passos", denominado Movimento Revolucionário 26 de Março (MR-26). A denominação seria uma homenagem ao primeiro combate armado com a ditadura, quando da chamada "Guerrilha de Três Passos". Praticamente toda a escassa informação disponível publicada sobre Manoel Raimundo reafirma essa militância.

Jelsi Rodrigues, companheiro de Manoel Raimundo no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, lembra que, naquele então, os suboficiais resistentes reconheciam-se como membros do Comando Geral dos Sargentos. Quando muito, Manoel Raimundo se compreenderia como parte do Movimento Nacionalista Revolucionário, organizado pelos suboficiais do Exército e da Marinha, em associação com Leonel Brizola e seguidores. Jelsi Rodrigues sequer tem conhecimento do MR-26. Araken Galvão, com participação destacada na primeira tentativa de levante em Porto Alegre e um dos companheiros mais próximos de Manoel Raimundo, declarou: "Ao que eu saiba, Soares nunca militou no MR-26. Aliás, nem sei que movimento foi esse (...)".

Companheiros de farda

Manoel Raimundo foi preso no dia 11 de março por dois militares à paisana, da 6ª Companhia da Polícia do Exército, Carlos Otto Bock e Nilton Aguiadas, sem qualquer determinação judiciária, ao arrepio das próprias leis então reconhecidas pela ditadura, devido à denúncia do informante Edu Rodrigues, como visto. A ordem de prisão teria partido de Darci Gomes Prange, capitão da referida companhia. Era o início do longo calvário do jovem paraense, nas mãos dos torcionários do Exército e da Polícia Política.

Manoel Raimundo foi levado em um táxi DKV verde à sede da Polícia do Exército, onde, sem delongas, sofreu as primeiras sevícias infligidas por ex-colegas de farda, o sargento Pedroso e os tenentes Nunes e Glênio Carvalho de Sousa. A seguir, foi transferido para o mais experiente Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), no Palácio de Polícia na avenida João Pessoa, para ser duramente torturado e espancado, por longos dias, agora pelos delegados Enir Barcelos da Silva, Itamar Fernandes de Souza, José Morsch, entre outros.

Na época, especialmente no Rio Grande, a tortura não se transformara ainda em prática institucionalizada, sobretudo nas forças militares. O ódio acumulado por oficiais golpistas e direitistas contra o destacado líder do Comando dos Sargentos e sua importância na resistência antiditatorial talvez expliquem a violência com que foi interrogado. Sem qualquer resultado. Ainda hoje, os companheiros de Manoel Raimundo lembram-se emocionados da decisão com que o jovem enfrentou o interrogatório, não raro cantando o Hino Nacional e a Marselhesa, sem jamais se dobrar, não revelando sequer um nome de companheiros e depósitos de armamentos, prontamente transferidos após a sua queda.

Depoimentos incontornáveis

Possivelmente a improvisação da repressão na época e a importância e galhardia de Manoel Raimundo ao enfrentar seus algozes tenham ensejado a paradoxal exposição pública das duras torturas a que foi submetido, realidade que se procurou manter sob sigilo, mesmo quando do fechamento do regime, após o Ato Institucional n.º 5, em fins de 1968. São precisas, abundantes e concordantes as declarações de outros presos políticos sobre os maus-tratos sofridos pelo jovem paraense na semana em que permaneceu no DOPS.

Em depoimento publicado no jornal gaúcho Zero Hora, de 17 de setembro de 1966, Antônio Giudice, detido no DOPS, de 10 a 15 de março de 1966, relatou "que conversou com Manoel Raimundo, vendo "os hematomas e cicatrizes das torturas que vinha sofrendo", pois "era diariamente, torturado, colocado várias vezes no pau-de-arara, sofrendo choques elétricos, espancado e queimado por pontas de cigarros". O pau-de-arara é haste de pau ou ferro, para suspender o prisioneiro durante a tortura, com os pés e as mãos amarrados para trás, de cabeça para baixo.

Aldo Alves Oliveira, funcionário da Companhia Carris, preso na DOPS desde 10 de março, testemunhou ter conhecido Manoel Raimundo, que "mostrava vários sinais de sevícias". Na ocasião, viu, quando o ex-sargento "estava sentado no corredor" de "acesso à cela", "sem camisa", "as marcas de queimaduras" e sinais de violência. Tão forte fora o espancamento que ele "não podia engolir alimentos sólidos, razão pela qual" Aldo e outros presos forneciam-lhe "alguma porção" do "leite que lhes era enviado por familiares".

As noites e os dias

Aldo Alves relatou igualmente que, durante o tempo que esteve preso, "percebia que, quase todas as noites, pela madrugada, o ex-sargento Manoel Raimundo Soares era torturado, o que podia ser comprovado pelos gritos da vítima e também pelo aspecto físico que apresentava quando era trazido de volta a sua cela e passava defronte a porta em que se encontrava o depoente [...]".

Também presa no DOPS em março de 1966, a advogada Élida Costa afirmou que, ao ouvir "gritos, urros de dor e ruídos de coisas que caíam", um "agente policial" lhe explicara que "se tratava de uma festa em [um] outro andar". Ao deparar-se com "uns seis ou oito presos, todos da Carris", quando ia ao banheiro, ela contou-lhes o que passava, "e o risco que todos (eles) corriam".

Élida passou a noite temendo "que o mesmo poderia lhe suceder". Temor acrescido quando, de madrugada, "viu, com os próprios olhos, um rapaz que, pelo estado de seu corpo, que estava inclinado para frente, ia sendo carregado por dois homens". Na ocasião, "ouviu dizer" que o preso estava ferido, sangrava e se encontrava em "coma" e que "fora recolhido a uma cela fechada à chave". Mais tarde, o ex-sargento "foi levado", com dificuldades, "pelos presos", até a advogada, que ouviu do mesmo se chamar Soares.

Na ilha do Presídio

Por não se dobrar às exigências dos algozes, Manoel Raimundo foi torturado em forma incessante, por mais de uma semana pelos torcionários à procura de informação sobre seus companheiros de luta e de ideal, sendo recolhido apenas em 19 de março de 1966, nove dias após sua prisão, à ilha do Presídio, no rio Guaíba, destinada desde o golpe militar também ao encarceramento de presos políticos. A ilha contaria com guarnição de mais de 30 policiais.

A pequenina ilha do Presídio, com uns 150 metros de comprimento por 30 a 80 de largura, destaca-se por suas grandes pedras de granito, a pouco mais de dois quilômetros da costa de Guaíba. Conhecida inicialmente como ilha das Pedras Brancas, fora ponto estratégico de ataque-defesa de Porto Alegre na Guerra dos Farrapos. Passara a ser denominada de ilha da Pólvora, ao receber duas construções para armazenar munição, em 1857. De 1956 a 1973 e de 1980 a 1983 funcionara como presídio, o que lhe assegurou sua última denominação.

A ilha do Presídio, caracterizada pela forte umidade, era local onde os prisioneiros políticos encontravam-se relativamente protegidos das torturas policiais, devido à estreiteza das instalações, ao elevado número de detidos, às dificuldades dos inquisidores de se deslocarem até ela. Para serem interrogados, os prisioneiros eram habitualmente levados de volta a Porto Alegre, onde ficavam entregues à violência e ao arbítrio dos militares e policiais torturadores. Hoje, as instalações da ilha encontram-se abandonadas e depredadas.

Em 1966, o guarda civil Selço José Muller dos Santos permaneceu encarcerado na ilha por dez dias. Mais tarde, declarou que, na ocasião, auxiliou Manoel Raimundo a se mover "até sua cela", pois se encontrava "bastante ferido", com "dificuldade para locomover-se". À noite, Selço preparava "salmoura para passar nas costas e pernas de Manoel", partes do corpo muito feridas devido aos espancamentos, segundo relatou o próprio Manoel. Selço teria aconselhado ao sargento que "pusesse água com açúcar" em "uma espécie de hematoma" que tinha no olho. Devido a ferimento propiciado pelo tenente Nunes durante a tortura, Manoel Raimundo perdera parcialmente a visão de um olho.

Cartas do cárcere

Elizabeth, esposa de Manoel Raimundo, vivera com ele por algum tempo em Porto Alegre, abandonando a seguir a capital rio-grandense para retornar a Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Logo que pôde, Manoel Raimundo arranjou-se para retomar contato com ela através de correspondência. Em 15 de abril de 1966, em carta que chegou às mãos de sua esposa, relatava que fora preso para "averiguações": "Finalmente acabei sendo preso. Caí em uma cilada de um 'dedo-duro' chamado Edu e vim parar nessa ilha-presídio. Fui preso às 16:50 do dia 11 de março, sexta-feira, em frente ao Auditório Araújo Viana. Fui levado para o quartel da PE (Polícia do Exército), onde fui 'interrogado' durante duas horas e depois fui levado para o DOPS. Estou bem. Nesta ilha (do Presídio) me recuperei do 'tratamento' policial. Até o dia em que fui preso estava dormindo em hotéis e pensões variadas".

Manoel Raimundo seguia: "Não sei como vou me arranjar no dia em que eu for solto, pois o Leo (possivelmente o já citado sargento Leony Lopes), único amigo que eu tinha em Porto Alegre, perdi o contato com ele e eu não sei o endereço. Espero que você esteja bem e que se mantenha em calma. Isto passa. Nos dias seguintes ao que eu for solto, teremos uma nova lua de mel em uma cidade bonita qualquer".

No inverno, sem sapatos

Manoel Raimundo pedia à esposa que enviasse, se pudesse, "algum dinheiro" através da agência de Porto Alegre do Banco Nacional de Minas Gerais, onde tinha conta, pois precisava de coisas como "aparelho de barba, um sapato 38, escova de dentes, roupa de frio e coisas de comer". O prisioneiro lembrava ter deixado "na gaveta da mesa de cabeceira do Hotel onde dormi a última noite antes da prisão todo o dinheiro que tinha". O fato de ser filho de família humilde, sem relações no Sul, dificultava a já difícil situação do prisioneiro, preocupado igualmente com a sorte de sua esposa.

Na mesma carta, Manoel Raimundo avançava sugestão para a esposa: "Você NÃO precisa vir aqui. Isto não ajudará NADA e você não conseguirá ver-me. Não permitirão". Possivelmente temia envolvimento da esposa com a repressão. Pedia também para que ela mantivesse a "calma", "pois, nestas horas só a calma ajuda". Sobretudo, instruía a esposa a procurar "o Dr. Sobral Pinto, à rua Debret nº. 39", no Rio de Janeiro, para providenciar "pedido de habeas no Superior Tribunal Militar".

Em 5 de maio de 1966, em um momento em que o verão já se despedia do Sul, fazendo a temperatura cair rapidamente, Manoel Raimundo escreveu a quinta carta à esposa, a segunda que ela recebia. Na correspondência, refere-se às suas condições de aprisionamento e às torturas que recebera. "Em meu corpo ficaram gravadas algumas das medalhas com que me agraciaram. Aqui estou sem sapatos, sem roupas de frio, sem cobertas, usando unicamente uma camisa de Nylon e uma calça de lã preta. [...] Não sei bem, mas creio que estou preso à disposição do III Exército. Por isto, só um 'habeas-corpus' do Superior Tribunal Militar poderá libertar-me".

Sentimento e esperança

A carta era igualmente momento de tentar estreitar sentimentos pela esposa fortalecidos pelo sofrimento: "Como vês o papel está acabando, por isto aproveito para lembrar-te que meu pensamento é só para ti; durante todas as horas destes últimos dias não sais do meu pensamento. O banquinho da cozinha, os beijos nos olhos, tudo aquilo que liga meu corpo a tua alma (ou espírito que é mais certo). Recebe mil beijos e um caminhão de abraços do teu Manoel".

Manoel Raimundo permaneceu durante cinco meses na ilha do Presídio, incomunicável, privado de notícias da família e do mundo, passou fome e certamente muito frio, ao qual estaria pouco habituado. Nas suas primeiras cartas conhecidas, dos primeiros meses de cárcere, registra sua calma e esperanças. Pensava no futuro, fazia planos de viagem com a mulher amada. Intensificando-se o martírio e a solidão, tentou fortalecer-se, centrando-se também no sentimento que nutria pela esposa.

O ex-sargento acreditava que seria posto em liberdade em pouco tempo. Na época, a instituição do habeas corpus ainda vigia. Não sabia que dois pedidos de libertação impetrados junto ao Superior Tribunal Militar (STM) haviam sido negados, já que, em falsas declarações, as autoridades militares e policiais afirmavam que não estava preso.

Mais tarde, o Exército tentaria negar sua responsabilidade na prisão ilegal e assassinato de Manoel Raimundo, afirmando que respondera ao STM que não tinha Manoel em seu poder, sem informar, logicamente, que ele fora entregue pela Polícia do Exército ao DOPS. Quando o terceiro habeas corpus estava para ser julgado, os torturadores já haviam dado fim a sua vida.

"Ainda estou vivo"

As duas últimas cartas que Elisabeth recebeu do marido foram escritas em 10 de julho de 1966. Na primeira, afirmava: "Ainda estou vivo. Espero de todo o coração que você tenha recebido as cartas que remeti anteriormente. Esta é a oitava. Nunca pensei que o sentimento que me une a você chegasse aos limites de uma necessidade. Nestes últimos dias, tenho sido torturado pela idéia de que estou impedido de ver teu rosto ou de beijar teus lábios. Todas as torturas físicas a que fui submetido na PE e no DOPS não me abateram. No entanto, como verdadeiras punhaladas, tortura-me, machuca, amarga, este impedimento ilegal de receber uma carta, da mulher, que hoje, mais do que nunca, é a única razão de minha vida".

Manoel Raimundo contava: "(...) já tenho escova de dente, sabonete e até roupas e sapatos fizeram chegar até aqui. Mas, nada disso pode aliviar a dor que me causa o fato de não poder receber cartas de minha Beta. Acredito que minha situação ainda não mudou muito. Até hoje (amanhã completam-se quatro meses), não fui ouvido em IPMs (Inquéritos Policial-Militares) e desde que mandaram-me para esta ilha não mais saí". Portanto, após os duros primeiros tempos de tortura na Polícia do Exército e no DOPS, o prisioneiro conhecera tranqüilidade relativa na ilha.

Mais adiante, insistia com a esposa na necessidade do pedido de habeas corpus perante o Superior Tribunal Militar para libertá-lo e desabafava: "Apesar do sofrimento espiritual a que estou submetido, ainda assim recomendo que você mantenha a calma. (...) Acredito que agora, você já poderia tentar visitar-me aqui em Porto Alegre. O que você acha disto? Espero que você não tenha estado em dificuldades em matéria de dinheiro. Isto seria para mim pior do que a pior coisa que pudesse me acontecer. Não podendo abraçá-la com a força do bem que te desejo, deixa que em forma espiritual, te beije ardentemente, este que é até morrer, o teu Manoel."

Última carta

A segunda das duas cartas escritas por Manoel Raimundo, em 10 de julho, foi a quarta e última que a esposa recebeu. Ele iniciou com a mesma afirmação, que à leitora deveria causar alívio e esperança, mas que parece registrar a consciência do prisioneiro da ameaça sob a qual vivia: "Ainda estou vivo". Em seguida, relatava: "A saúde que havia chegado ao meu corpo, partiu, deixando a normalidade que você tão bem conhece. Fígado, intestinos e estômago. Espero de todo o coração que você tenha recebido as cartas anteriores. Esta é a de número nove. Penso que a estas horas você deve estar chorando. Não quero isso. A jovem senhora, valente, das respostas desconcertantes, deve agora substituir a moça ingênua e humilde com quem tive a felicidade de casar.".

Manoel Raimundo seguiu falando de seu amor: "Nestes últimos dias tenho sido torturado pela realidade de estar impedido de ver o rosto da mulher que amo. Eu trocaria se possível fosse, a comida de oito dias, por oito minutos junto ao meu amor, ainda que fosse só para ver. Tenho uma fé inabalável de que, os adversários não conseguirão destruir nosso amor. Sei hoje que você tinha razão em muitas de nossas discussões sobre nosso tipo de vida".

Manoel Raimundo retomava temas passados, em seu dilacerante diálogo com a esposa distante: "Você ganhou. (...) Tudo passará. A política, a cadeia, os amigos; só uma coisa irá durar até a morte: o amor que tenho por essa mulherzinha que é hoje a única razão de querer viver deste presidiário (...) Só agora avalio o que é estar junto da mulher amada. Com a tranqüilidade da certeza de que apesar de tudo ainda mereço o teu amor remeto um caminhão de beijos, com o calor dos dias mais felizes de nossa vida. Do sempre teu Manoel".

Novo interrogatório

Em 13 de agosto de 1966, pouco mais de um mês depois de escrever a última carta recebida pela esposa, Manoel Raimundo foi retirado da ilha do Presídio para ser levado outra vez ao DOPS, para novo interrogatório e tortura, agora sob as ordens dos tenentes-coronéis Átila Rochester e Luiz Carlos Menna Barreto, chefe do DOPS. Não sabemos as razões precisas para o novo e violento inquisitório de Manoel Raimundo, após longos meses na prisão. Em depoimentos concedidos recentemente, seus companheiros de luta relatam que ele teria escrito clandestinamente também para o Superior Tribunal Militar sobre sua detenção e torturas em Porto Alegre e, com a concessão de habeas corpus, fora subtraído da prisão para revelar, sob tortura, os carcereiros que eventualmente teriam facilitado a correspondência clandestina.

Em agosto de 1966, prosseguiam febrilmente os preparativos do MNR para implantar colunas combatentes em Goiás-Maranhão, no Mato Grosso, e em Caparaó, entre o Espírito Santo e Minas Gerais. Um quarto foco armado deveria nascer no norte do Rio Grande do Sul e sudoeste de Santa Catarina. Nos fatos, tratava-se de ambiciosa articulação anti-ditatorial, envolvendo argentinos, paraguaios e bolivianos. Quando a pequena coluna do MNR instalou-se no alto da serra de Caparaó, em fins de 1966, Che Guevara e seus companheiros organizavam-se também na selva da Bolívia. Manoel Raimundo participara ativamente da preparação desses movimentos, após o fracasso do segundo levante em Porto Alegre. Teria escrito até mesmo um "decálogo do guerrilheiro" para as operações.

Há alguma divergência sobre as razões do abandono da frente armada no Brasil meridional. Flávio Tavares propõe que a desistência deveu-se à prisão, "no inverno de 1965", do "seu subcomandante, o ex-sargento Manoel Raimundo Soares". Segundo a informação confirmada por Jelsi Rodrigues Correa, envolvido diretamente na iniciativa, apesar da notícia da queda, continuaram os planos para o estabelecimento do núcleo armado na serra do Mar, em Santa Catarina, inclusive com a compra de propriedade e transporte de armas. A desconfiança de camponeses com a perambulação de estranhos na região e a prisão de dois militantes, sob suspeita de assalto a banco, teriam levado ao abandono da proposta.

Dos quatro núcleos guerrilheiros planejados pelo MNR, em associação com outras organizações clandestinas nacionais e internacionais, prosperou apenas o de Caparaó, instalado em outubro de 1966 e desbaratado em inícios de 1967, ensejando com esse tropeço o abandono de Leonel Brizola do projeto de resistência militar à ditadura, insurrecional ou guerrilheira. A seguir, o MNR dividir-se-ia, confluindo seus militantes em outras organizações armadas, como a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), a VAR-Palmares etc., nas quais os ex-suboficiais desempenharam papel fundamental.

Mãos amarradas

Talvez a vontade de arrancar rapidamente informações de Manoel Raimundo sobre apoios na ilha do Presídio ou sobre os atos em cursos de seus companheiros tenha levado seus torturadores a transportá-lo, na mesma noite de 13 de agosto, em um jipe do Exército, até ao rio Jacuí, para ser submetido a falsos afogamentos. Essa é uma tortura sobremaneira aterrorizadora, especialmente quando praticada em um rio isolado, de águas revoltas e geladas, sob a ameaça de afogamento definitivo. Nos últimos anos, tal forma de tortura conheceu destaque na imprensa mundial ao ser legalizada pelas autoridades estadunidenses como recurso a ser usado pela CIA nos interrogatórios de prisioneiros políticos.

Possivelmente jamais saberemos se Manoel Raimundo escapou inadvertidamente das mãos dos seus torcionários ou foi abandonado às águas do Jacuí para morrer. Era habitual militares e policiais torturarem alcoolizados e drogados seus prisioneiros políticos. Até agora, o que sabemos de certo é que, 11 dias mais tarde, Manoel Raimundo foi encontrado, morto, boiando no rio, com os pés atados e as mãos atadas. O corpo de Manoel Raimundo Soares foi descoberto, por volta das 17 horas do dia 24 de agosto de 1966, boiando entre algumas taquareiras, por dois moradores da ilha das Flores, próxima a Porto Alegre, que informaram rapidamente as autoridades policiais. À noite, um guarda civil compareceu ao local para recuperar o cadáver, que foi amarrado com uma corda e rebocado até a ilha da Pintada.

Morte por afogamento

O policial responsável pela operação de resgate declararia que o cadáver tinha "as mãos amarradas às costas pela própria camisa que vestia, sendo as ataduras cobertas por um suéter banlon que a vítima trajava; os bolsos laterais das calças completamente repuxados para fora [...]; calças de cor escura; um pé calçado com um sapato marrom e outro descalço".

Na madrugada do dia 25, peritos do Instituto de Criminalística analisaram o corpo, determinando que a morte se dera por afogamento, devido à "ausência de lesões traumáticas", "aliada à conclusão do exame histopatológico, acusando a presença de elementos característicos do plâncton mineral no interior dos bronquíolos e raros elementos isolados nos alvéolos pulmonares", o que permitia "afirmar que a vítima respirou dentro da água e que, portanto, a causa imediata da morte foi afogamento".

Apesar da situação do cadáver, os peritos concluíram que a vítima estaria embriagada. Destaque-se que Manoel Raimundo era abstêmio, entre outras razões, por problemas com o fígado. Entretanto, mesmo que ele se encontrasse embriagado, quando de sua morte, não significa que se houvesse alcoolizado. Anos após o homicídio, em processo movido pela viúva, os defensores da União alegaram o estado de embriaguez do ex-sargento. Defesa rejeitada pelo juiz, que, irônico, lembrou que "seria realmente uma façanha de Manoel Raimundo Soares: amarrar as mãos às costas, e então embriagar-se. Ou então embriagar-se e amarrar suas mãos às costas".

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Mário Maestri é historiador, é doutor em História pela UCL, Bélgica, e professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul.
Helen Ortiz, historiadora, é mestre em História pela Universidade de Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

** Darcy Ribeiro e as perguntas que nunca fiz

 
Darcy Ribeiro e as perguntas que nunca fiz
O texto a seguir emocionou as 200 pessoas que participaram do lançamento da coleção Darcy de Bolso. Foi lido por seu autor, Eric Nepomuceno, jornalista, escritor e grande amigo de Darcy

Fonte: UnB Agência. -  Eric Nepomuceno -

Nunca perguntei a Darcy Ribeiro se ele costumava cochilar, mas posso assegurar que não. Mesmo breves, seus sonhos seriam profundos. Porque profundos e infinitos em sua ousadia foram seus sonhos. E não se sonha grande com cochilos leves.
Darcy não sonhou pequeno, nunca. E também não se limitou a sonhar um mundo melhor, mais justo e possível. Não ficou nos sonhos, jamais.
Foi à vida, foi ao mundo, para torná-los realidade. Conseguiu, algumas vezes. Fracassou em outras. Disse, muitas e muitas vezes, que sentia orgulho de ter sido derrotado lutando pelo que lutou, do que jamais conseguiria sentir se estivesse ao lado dos vencedores.
Nunca perguntei a Darcy se ele gostava de contas redondas. Volta e meia penso nisso, quando recordo que por poucos meses ele não chegou aos 75 anos de idade. Nasceu em outubro, morreu em fevereiro.
Nove meses separaram Darcy dos 75 anos completos. Curioso isso: nove meses. Uma gestação.
Às vezes o que mais me impressionava é a quantidade de coisas que Darcy Ribeiro fez e foi, e aí me parece curto demais o tempo que lhe foi dado para viver.
E seus quase 75 anos de vida ele foi ministro da Educação, ministro-chefe da Casa Civil, vice-governador do Rio de Janeiro, secretário da Cultura do Rio de Janeiro, secretário de Desenvolvimento Social de Minas Gerais. Foi, até o fim, senador da República. E ele, que se dizia e se sabia eterno, conseguiu ainda a proeza de morrer imortal – porque também teve tempo de sacudir o chão da Academia
Brasileira de Letras.
Escreveu romances, ensaios antropológicos, ensaios sobre educação, análises críticas da história do Brasil e da América Latina.
Só de artigos, conferências, palestras e ensaios que nunca foram reunidos em livro, há mais de uma centena.
Seus livros de antropologia, principalmente O Processo Civilizatório, As Américas e a Civilização, e acima de todos O Dilema da América Latina fizeram de Darcy Ribeiro, ao lado de Celso Furtado, o intelectual brasileiro mais respeitado e influente na América Latina da segunda metade do século XX.
Formaram gerações de intelectuais e acadêmicos do continente.
Escreveu histórias infantis e poemas eróticos. Foi indigenista, antropólogo, agitador, romancista, conspirador, mas gostava mesmo é de ser chamado de educador – coisa, aliás, que também foi.
Morreu senador. Darcy Ribeiro adorava ser senador da República.
Nunca perguntei a Darcy Ribeiro qual o fascínio que provocava nele o linho branco. Aquele mesmo linho que meu avô José Augusto usava e dizia ter mandado trazer do Panamá, linho 120.
Lembro que no dia em que foi eleito senador, Darcy Ribeiro vestiu um terno branco, de linho formidável, e ficou andando pela sala de seu apartamento em Copacabana, vendo o mar e falando sem parar.
Estava descalço.
Não consigo tirar da memória essa imagem: Darcy, em casa, em qualquer uma das muitas casas que teve pela vida e pelo mundo, sempre descalço.
Dizia que era por causa de seu sangue índio. Até hoje desconfio que na verdade ele andava descalço para sentir os pés no chão.
Naquele tempo, Chico Buarque ainda não havia escrito o verso que diz "é preciso pôr o chão nos pés".
Para mim, aquele andar descalço de Darcy de um lado a outro era mais ou menos a antecipação da imagem que Chico criaria anos depois, sem saber disso.
Nunca perguntei a Darcy Ribeiro se ele se considerava um intelectual peculiar. Não perguntei nem precisei perguntar: evidentemente Darcy era peculiar em tudo que fez, e sabia disso.
Jamais se recolheu aos claustros acadêmicos ou da burocracia oficial para de lá ficar olhando a vida ao longe, a realidade transformada em números e estatísticas, a vida como objeto de análise fria, calculada, distante, indolor.
Não: Darcy Ribeiro mergulhou fundo, participou de todas as maneiras que pôde da vida política deste país. E quando foi impedido de continuar participando aqui, engajou-se nos países por onde passou o exílio. No Uruguai, no Chile de Allende, no Peru, ao lado do general Velasco Alvarado, nas suas andanças pela Costa Rica, pelo México, pela Venezuela, Darcy Ribeiro não sossegou um só instante.
Não, não era homem de cochilos e sonos leves: sonhava grande.
Jamais foi homem de ficar na superfície. Acreditava no poder transformador da realidade. Acreditava na indignação.
Seu compromisso básico, o mais perene, chamava-se Brasil. Quis mudar a educação, criando escolas de qualidade para todos; quis salvar os índios, preservando suas culturas e protegendo suas terras; quis mudar a estrutura social que beneficia alguns às custas de todos os outros.
Perdeu.
Num de seus textos mais contundentes, lido quando ele recebeu o título de doutor honoris causa na Sorbonne, em 1978 – foi, aliás o primeiro brasileiro a receber essa honraria, e na época não gozava das glórias de nenhum cargo público ou as benesses das embaixadas: estava exilado – Darcy Ribeiro falou dessas perdas, dessas derrotas. Dizia ele:
Fracassei como antropólogo no propósito mais generoso que me propus: salvar os índios do Brasil. Sim, simplesmente salvá-los.
Fracassei também na realização da minha principal meta como ministro da Educação: a de pôr em marcha um programa educacional que permitisse escolarizar todas as crianças brasileiras.
Fracassei, por igual, nos dois objetivos maiores que me propus como político e como homem de governo: realizar a reforma agrária e pôr sob controle do Estado o capital estrangeiro de caráter mais aventureiro e amoral.
Terminou dizendo que "esses fracassos da minha vida inteira" eram também "os únicos orgulhos que tenho".
Anos mais tarde, um dos intelectuais latinoamericanos que ele mais influenciou, o escritor uruguaio Eduardo Galeano, escreveu:
"Estes são os seus fracassos. Estas são as suas dignidades".
No mundo destes tempos de culto ao individualismo, em que a ânsia de ter supera o sonho de ser, em que a generosidade é restrita às coisas e não se refere às pessoas, mais que nunca as dignidades de Darcy Ribeiro são necessárias. Tão desesperadamente necessárias.
Nunca perguntei a Darcy quais eram suas urgências, suas emergências além de viver até a última gota, é claro.
Porque Darcy era um homem de urgências permanentes, de emergências que se alongavam no tempo. Tinham raízes profundas. Eram perenes. Uma espécie de emergência contínua, num renovar incessante.
Havia, em sua maneira de olhar e pensar o Brasil, a América Latina e o mundo, um eixo nítido: o fato de não estarmos condenados a ser o que somos, a certeza de que não somos vítimas de um destino malvado, e sim de um sistema perverso.
O trabalho de Darcy Ribeiro – os sonhos que ele quis transformar em realidade – estava e está destinado a soprar o fogo dessa brasa adormecida, a incendiar a mansidão dos derrotados, a provar que somos sempre e acima de tudo um povo viável, digno de uma outra – e nova – realidade.
Para ele, o Brasil era um problema que só teria e só terá solução a partir de nós mesmos, de nossa capacidade de impulsionar e consolidar mudanças.
Nunca perguntei a Darcy Ribeiro se ele tinha idéia, por menor que fosse, do impacto que algumas das imagens que guardaria dele para sempre provocaram em mim. Convivemos lado a lado, não importando as distâncias, ao longo de 22 anos. E desse tempo todo, lembro agora de duas imagens, e de pelo menos uma certeza.
A certeza:
Foi o único amigo que nasceu no mesmo ano de meu pai e conseguiu ser, até o fim, mais jovem que meu filho.
Dele, ouvi certa vez uma frase que mudou minha vida e assim ficou. Dizia Darcy: "Na América Latina, só temos duas saídas: ser resignados, ou ser indignados. E eu não vou me resignar nunca."
A primeira imagem que guardo para sempre:
Alta noite do dia 31 de dezembro de 1995, e Darcy Ribeiro estava sentado na varanda do seu apartamento na Avenida Atlântica. Olhava a multidão espalhada pela praia e pelo asfalto e pelas calçadas da avenida. Das alturas daquele quinto andar, ele contemplava tudo com olhos de piloto atento, percorrendo as pessoas, as ondas do mar oceano, as embarcações iluminadas.
Quando faltava pouco para a virada do ano – a penúltima que ele iria ver – duas amigas chegaram na varanda, aproximaram-se da cadeira em que ele estava sentado e colocaram no chão um grande balde prateado, um desses baldes que são usados para esfriar garrafas de vinho.
No balde havia água do mar e areia da praia.
Quando viu o foguetório da meia-noite e do ano que se iniciava, ele mergulhou os pés no balde.
Darcy, naquela noite, adoentado – e muito – não podia ir até o mar. Pois deu um jeito de trazer o mar até ele. Até seus pés descalços. De pôr enfim o mar, a areia, o chão nos pés.
Assim quero me lembrar dele para sempre. Também assim.
A segunda imagem:
Certo fim de tarde de um sábado, poucos meses antes de nos deixar para sempre, ele saiu do escritório de Oscar Niemeyer, naquela mesma Avenida Atlântica.
Vestia um terno branco, e foi caminhando devagar pela calçada até o automóvel que esperava por ele.
Do mar, vinha uma brisa cálida. Visto lá do alto, o paletó branco esvoaçando, caminhando devagar, Darcy Ribeiro parecia um veleiro desafiando os ventos, rumo a um futuro – um porto – que só ele poderia adivinhar.
Guardo essa imagem e a certeza de que o porto, aquele porto, é preciso agora, mais do que nunca, merecê-lo.
Porque desta vez Darcy não perdeu, não foi derrotado.
Mudou de rumo.
E aonde quer que esteja, continua como sempre: indignado. E descalço.   


Todos os textos e fotos podem ser utilizados e reproduzidos desde que a fonte seja citada. Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.


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** Memorialística em tom de crônica

 

Memorialística em tom de crônica

Em seu recente livro, Boris Fausto recorda o próprio passado sem perder de vista o contexto histórico maior

29 de janeiro de 2011 |

Fonte: ELIAS THOMÉ SALIBA. - O Estado de S.Paulo

Historiadores nunca foram bons biógrafos de si mesmos. Foi esta a opinião do medievalista Georges Duby, ao final dos Ensaios de Ego-História - livro que reuniu histórias de vidas de sete importantes historiadores franceses, em 1987. Opinião polêmica, não compartilhada por muitos dos seus próprios colegas que acabariam se arriscando no pantanoso terreno memorialístico.
Se o livro anterior, Negócios e Ócios, já fora uma experiência bem-sucedida, no seu mais recente Memórias de Um Historiador de Domingo, Boris Fausto vem apenas reafirmar aquele raro talento de alguns historiadores para o gênero memorialístico. Gênero para o qual é bom que se diga não há regras nem receitas - e talvez a única certeza é que tais regras sejam completamente dispensáveis. Começando pelos primeiros anos da década de 1950 e chegando até a atualidade, Fausto consegue unir a força da recordação a uma narrativa estimulante e despretensiosa. Talvez porque sua narrativa não obedeça a uma estrita sequência cronológica - cada capítulo se parece mais com uma crônica, no qual relembra tópicos importantes de sua trajetória: a rotina de estudante da Faculdade de Direito, a curta experiência na advocacia comercial, a intermitente militância trotskista, a tardia graduação em História e a publicação de seus livros - muitos deles, hoje, considerados clássicos da historiografia brasileira. Num capítulo especial, o historiador reconstrói ainda a biografia de sua mulher, a educadora Cynira Stocco Fausto, fornecendo aos leitores detalhes pouco conhecidos da rigorosa formação católica feminina na década de 1950.
Uma vantagem que um historiador leva ao recordar o próprio passado é que, talvez por força de um tique profissional, ele nunca perde de vista o cenário histórico maior. A narrativa da atração de Fausto, ainda jovem advogado, pelo trotskismo pontilha algumas características gerais, que podem ser estendidas às trajetórias de vida de muitos dos seus contemporâneos: tratava-se menos de uma opção pela militância do que uma oportunidade rara para se discutir ideias - já que isto pouco existia nas escolas ou mesmo nas universidades. Também suas experiências partidárias - como membro do nanico Partido Operário Revolucionário, que se reunia numa salinha nos desvãos do edifício Martinelli - não podem ser vistas apenas do ângulo político, pois tornaram-se parte do processo de socialização e construção de identidades daquela geração. Ainda assim, há traços bastante singulares da biografia de Fausto, e até mesmo seu engajamento no trotskismo não se traduziu apenas por opções puramente intelectuais. "Minha história de vida me impeliu para a margem da margem, para começar, pela condição de judeu, apesar da não religiosidade e dos esforços bem-sucedidos de integração.(...) e o fator decisivo do sentimento de marginalidade foi a morte prematura de minha mãe e a forma como esse desastre foi tratado no âmbito familiar" - escreve o historiador, sem aquela autocomplacência tão comum aos memorialistas. Longe da aridez dos manuais, lá também aparecem, sutilmente delineados, os contextos políticos e culturais daquelas décadas decisivas para a história brasileira.
São recordações não destituídas de certa crueza - esta última atenuada com finas doses de autoironia, que pelo menos deixam o historiador bem longe do pecado da idealização do passado. O jovem historiador frustrou-se por não aprender a dançar e nem passar pelas famosas aulas de Madame Poças Leitão - mas compensou isto com duas paixões que o acompanharam desde a juventude: o futebol e o cinema. Julga, contudo, que a paixão pelo futebol - ainda mais acentuada por ser torcedor do Corinthians - abriu uma brecha de salutar irracionalidade na vida de um intelectual no qual o racionalismo sempre figurou em doses excessivas. Pertencente àquela geração imediatamente posterior aos grandes clássicos da ciência social brasileira, Boris Fausto começou a publicar suas principais obras num momento de questionamento das grandes interpretações do Brasil, no qual as "visões gerais" começavam a ceder seu espaço àquelas investigações mais pontuais e, ao mesmo tempo, mais especializadas e mais inovadoras.
De qualquer forma, escrevendo memórias, Fausto mostra-se mais a vontade e é mais bem-humorado do que quando escreve como historiador. Esboça rápidos e pitorescos retratos dos seus contemporâneos dos tempos da faculdade, dos colegas advogados, dos rituais forenses ou mesmo, de alguns mestres da Faculdade de Direito. Como Canuto Mendes de Almeida, de Direito Penal - que havia ensaiado ser cineasta na juventude - e que trocava citações eruditas por versos de Herivelto Martins, como: "Primeiro é preciso julgar/ pra depois condenar". Ou o professor Waldemar Ferreira, com sua indefectível gravata-borboleta, indicando aos alunos apostilas dos seus próprios textos escritos, permeada de frases empoladas, como "o comércio que por mar se faz, de marítimo o nome se lhe dá". Em cima desta última referência, aventa-se a hipótese - anedótica, é claro - de Jânio Quadros ter sido um dos alunos mais aplicados do referido mestre. Anedota que lembra uma daquelas espirituosas definições de "dívida flutuante" que o Barão de Itararé dava, na mesma época, nas suas impagáveis lições de economia política: "navio hipotecado". Mesmo ao narrar amargos episódios de sua prisão, por poucos dias, em 1964 e em 1971, e seus sombrios contatos com órgãos e personagens da repressão - incluindo a violência de uma coronhada no estômago -, Fausto consegue manter a bonomia e tom discreto do cronista. Como no seu depoimento num IPM em 1969, quando ao ser inquirido sobre o conteúdo das suas aulas de história discorreu longamente sobre o Tenentismo e a Revolução de 1930, dando uma verdadeira aula ao major que o interrogava - este último demonstrando inusitado interesse pela história do País.
Longe de um ensaio de ego-história, Memórias de Um Historiador de Domingo completa o volume anterior - e chega para ocupar um lugar promissor no memorialismo brasileiro, já que exercita, como uma chave mestra para destravar o passado, aquela virtude de todo grande memorialista, que é envolver a si mesmo no seu próprio universo da ironia.

ELIAS THOMÉ SALIBA É PROFESSOR DE TEORIA DA HISTÓRIA NA USP E AUTOR, ENTRE OUTROS, DE RAÍZES DO RISO (COMPANHIA DAS LETRAS)


 
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** Introdução à História Pública

 
Introdução à História Pública
Estão abertas, até o dia 05 de fevereiro, as inscrições para o Curso de Introdução à História Pública . O curso será realizado pelo Núcleo de Estudos em História da Cultura Intelectual, ligado à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, entre os dias 14 a 17 de fevereiro. As inscrições podem ser realizadas neste site.
O Curso pretende, em uma semana de oficinas, minicursos e palestras coordenadas por profissionais renomados de dentro e de fora da academia, oferecer pistas de como difundir o conhecimento histórico para amplas audiências de maneira responsável e integrada.
A programação é destinada a estudantes, historiadores, professores, pesquisadores, profissionais liberais e demais interessados de todas as áreas do conhecimento.
O curso custa R$200,00 para inscrições realizadas até 20 de janeiro; R$215,00, de 21 a 30 de janeiro; R$230,00, de 31 de janeiro a 05 de fevereiro. A realização da inscrição inclui direito a participação em todas as atividades; participação em brunch de confraternização; material de apoio; certificado emitido pela USP com registro, carga horária e descrição do conjunto das palestras e oficinas assistidas.
O curso será ministrado no prédio de Geografia e História da FFLCH, localizado na Avenida Lineu Prestes, nº 338, Cidade Universitária, São Paulo.
Mais informações: (11) 6623-1051, email historiaintelectualusp@gmail.com, site www.usp.br/historiaintelectual
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** Acervos do Museu Paulista

 
Acervos do Museu Paulista
Do USP Online


O Museu Paulista (MP) da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga, promove o curso Museu Paulista: histórico da formação dos acervos, ministrado pela professora Miyoko Makino.
O objetivo é apresentar os acervos do MP, introduzindo os participantes no conhecimento do histórico da Instituição e do edifício-monumento, como pontos importantes para conhecimento não somente da sociedade brasileira, mas principalmente da paulista, dos séculos 18 e 19. Ainda, mostrar a importância da preservação de bens culturais, para a pesquisa, produção e difusão de conhecimentos novos, e visitar as áreas expositivas como forma de identificação dos bens culturais que fazem parte do patrimônio da Instituição.
O curso é gratuito e terá 35 vagas, tendo com pré-requisito o ensino médio ou equivalente. As aulas ocorrerão de 16 de março a 11 de maio, às quarta-feiras, das 14 horas às 16h30. Os interessados devem entrar em contato através do telefone (11) 2065-8075 para mais informações sobre as inscrições, que vão de 14 de fevereiro a 15 de março.
O endereço do Museu é Parque da Independência, s/n, Ipiranga, São Paulo.
(Com informações da Assessoria de Imprensa do Museu Paulista)
Mais informações: (11) 2065-8075, email acadmp@usp.br
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