Este espaço é reservado para troca de textos e informações sobre a História do Brasil em nível acadêmico.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História de Alexandre Vannucchi Leme -VI-


Carta O Berro..........................................................repassem
 Assassinato de Alexandre Vannucchi Leme Gerou protestos da sociedade


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Revista da Adusp nº34, maio de 2005
Por Marina Gonzalez


Em 1973, Alexandre Vannucchi Leme tinha 22 anos e cursava o quarto ano de Geologia na USP. Era um ótimo aluno, foi o primeiro colocado no vestibular, participava do movimento estudantil e militava no grupo clandestino Ação Libertadora Nacional (ALN). Na manhã de 16 de março, foi preso por agentes do II Exército, pertencentes ao Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). Até hoje não se sabe ao certo como e onde Alexandre foi capturado, mas o fato é que sobreviveu por pouco mais de 24 horas nas mãos dos torturadores do DOI-Codi.
A confirmação de sua morte veio somente uma semana depois, com a publicação de um comunicado policial. A versão oficial sustentava que Alexandre morrera a caminho do hospital, depois de ser atropelado por um caminhão. Ele teria sido conduzido pelos órgãos de segurança até o bairro do Brás, para mostrar onde tinha um "ponto" com um companheiro de grupo, e teria tentado fugir.
Note-se que a mesma explicação já havia sido usada para justificar o assassinato de Antonio Benetazzo, preso em 28 de outubro de 1972 e morto dois dias depois. No final da década de 1960, Benetazzo era estudante de Arquitetura, presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Filosofia e professor em cursos pré-universitários. Diferentemente de Alexandre, abandonou a USP para se dedicar à luta armada contra o regime militar, e desde 1969 vivia na clandestinidade.

A morte de Alexandre, apelidado "Minhoca" pelos colegas, teve repercussão imediata. Outros estudantes também haviam sido presos e era preciso tomar alguma atitude. O Conselho de Centros Acadêmicos declarou luto na USP e os alunos pressionaram por uma intervenção do então reitor Miguel Reale que, num ofício à Secretaria de Segurança Pública do Estado, solicitou informações sobre a morte de Alexandre "aos órgãos competentes". A resposta, porém, conteria as mesmas informações já divulgadas pelos jornais.
Também partiu dos estudantes a idéia de convidar dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo, para realizar uma missa em memória do colega assassinado. A celebração na Sé, marcada para o dia 30 de março, transformou-se na primeira grande manifestação pública de oposição à Ditadura desde as manifestações de 1968.
Centenas de pessoas que estiveram na missa foram levadas ao DOPS, a maioria libertada em seguida. Panfletos assinados pelo fictício "Movimento dos Estudantes Democráticos", provavelmente obra da repressão política, condenavam o suposto exagero das manifestações, pois o pesar pela perda de Alexandre estaria "se transformando numa crítica acintosa e ilegal ao governo", "o 'Minhoca' (…) por suas ligações com bandos subversivos armados teve um triste fim".
Partiu dos estudantes a idéia de convidar dom Paulo Arns para celebrar missa na Sé em memória de Alexandre, em 30 de março de 1973, primeiro grande ato de oposição à Ditadura desde 1968
Até a Divisão de Segurança e Informações (DSI) do Ministério de Minas e Energia, sediada na então Guanabara, via nas repercussões do caso o "recrudescimento de atividades esquerdistas" e a "profundidade do trabalho comunista no meio universitário" do Estado de São Paulo. O Informe 30/008, de 10 de maio de 1973, afirma que esse problema espalha-se não só na capital mas em diversas cidades do interior, e que o clero associou-se às manifestações. De fato, não faltam panfletos de centros acadêmicos do interior e relatos de agentes sobre missas em cidades como Sorocaba (onde moravam os pais de Alexandre), Botucatu, São Joaquim da Barra e Ribeirão Preto, em homenagem ao jovem assassinado.
O jornalista Caio Túlio Costa, au tor do livro Cale-se (São Paulo, ed. A Giraffa, 2003), que relata as atividades do movimento estudantil na USP no período compreendido entre a morte de Alexandre e o show de Gilberto Gil na Escola Politécnica em maio de 1973, lembra que o momento da prisão do estudante permanece desconhecido porque não houve testemunhas. As dúvidas sobre as circunstâncias de sua morte são ainda maiores porque não se tem acesso aos arquivos do DOI-Codi, órgão em cujas dependências ele teria sido assassinado: "Faltam-nos os documentos do DOI-Codi e também de outros órgãos como o SNI (Serviço Nacional de Informações) e o Cenimar (Centro de Informações da Marinha)."
Costa acredita tratar-se de relatórios e fotografias que poderiam ajudar a elucidar o caso. A documentação encontrada até o momento no acervo do DOPS em poder do Arquivo do Estado refere-se a episódios posteriores à morte de Alexandre, como a ida de José de Oliveira Leme ao DOPS, em busca de notícias do filho, o atestado de óbito, os relatos de missas e os impressos produzidos pelos centros acadêmicos da USP com a finalidade de denunciar o crime praticado pela repressão política.
Contudo, os papéis do DOPS ainda podem conter surpresas. Em 2004, o jornalista Mário Magalhães localizou ali laudos, do Instituto Médico-Legal e da Divisão de Identificação Civil e Criminal da Polícia, que confirmaram de modo irrefutável que outro militante da ALN, Virgílio Gomes da Silva, o "Jonas", foi assassinado sob tortura em 1969.
Alexandre Vannucchi Leme foi enterrado como indigente. Os restos mortais foram entregues à família em 1983, dez anos após o seu assassinato.
Em 1976, os estudantes da USP criaram, em assembléia, o Diretório Central dos Estudantes-Livre Alexandre Vannucchi Leme.
"Subversivo tenta fugir mas morre atropelado"
Assim o jornal O Globo deu título à notícia da morte de Alexandre Vannucchi Leme, dias após o ocorrido. "Os órgãos de segurança revelaram que o terrorista Alexandre Vannucchi Leme, conhecido como 'Minhoca', morreu atropelado por um caminhão quando tentava fugir ao ser levado por agentes a um encontro com outro terrorista, no cruzamento das ruas Bresser e Celso Garcia".
Nada menos do que três pessoas teriam testemunhado o atropelamento, segundo o jornal: "Três testemunhas contaram que presenciaram o acidente em que morreu o motorista". Uma delas, "Alcino Nogueira de Souza, empregado de balcão da Confeitaria Santa Cruz (…), chegou a servir uma cerveja ao terrorista. Viu quando ele olhou para um lado e para o outro, atravessou correndo a rua e foi colhido pelo caminhão".
O excesso de nomes e detalhes (inclusive a chapa do suposto caminhão atropelador) é pouco usual em casos de acidentes de trânsito, fazendo supor que a matéria de O Globo foi preparada em estreita colaboração com os órgãos de segurança. O texto afirma também que "com base em informações" de Minhoca foi possível "identificar" outros integrantes da ALN, o que é outra operação típica da repressão: sugerir que a pessoa assassinada delatou companheiros.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

** NOTICIAS ANPUH PR - JANEIRO 2011 n 2

 
Veja no site da Anpuh PR http://www.pr.anpuh.org/

Iphan oferece bolsa de pesquisa na área de Patrimônio Ferroviário
Universidade de Columbia oferece bolsa para pesquisador visitante
Chamada de Artigos - Revista NUPEM - Fecilcam

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Atividade nos últimos dias:
    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.


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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

** Universidade de Columbia oferece bolsa para pesquisador visitante

 

Universidade de Columbia oferece bolsa para pesquisador visitante

Fonte: A TARDE On Line
A Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e a Comissão para o Intercâmbio Educacional entre os Estados Unidos da América e o Brasil (Fulbright) oferecem a bolsa Dra. Ruth Cardoso para professores brasileiros com interesse em exercer atividades de docência e pesquisa na instituição norte-americana.


Até a próxima segunda-feira, 17, podem se candidatar pesquisadores brasileiros com comprovada experiência nas Ciências Humanas e Sociais, com ênfase em História do Brasil, Antropologia, Ciência Política e Sociologia. De acordo com as exigências do edital (acesse aqui), o candidato também deve ter concluído o doutorado antes de 2007, não pode possuir nacionalidade norte-americana, deve ter 10 anos de experiência profissional e acadêmica qualificadas na área, além de estar credenciado como docente e orientador em programa de pós-graduação reconhecido pela Capes.


O pesquisador selecionado terá direito a bolsa mensal de US$ 5.000, por até nove meses, auxílio-instalação de US$ 2.000, seguro-saúde e passagem aérea de ida e volta.

O programa tem o objetivo de destacar no meio universitário e de pesquisa dos EUA a atuação de cientistas brasileiros em instituições do país nas áreas de Ciências Humanas e Sociais.


Mais informações no site da Fulbright (acesse aqui).



Conheça nosso perfil no Faceboock
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** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História de Isis Dias de Oliveira -V-


Carta O Berro..........................................................repassem


Isis Dias de Oliveira (1941-1972)
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Direito à verdade e à memória: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. 2007

Dados pessoais

Número do processo 104/96
Filiação Felícia Mardini de Oliveira e Edmundo Dias de Oliveira
Data e Local de nascimento 29/08/1941, São Paulo (SP)
Organização política ou atividade ALN
Datal e local do desaparecimento 30/01/1972, no Rio de Janeiro
Data da publicação no DOU Lei nº 9.140/95 — 04/12/95
Militantes [Ísis Dias de Oliveira e Paulo César Botelho Massa] da ALN que residiam na mesma casa no Rio de Janeiro, Ísis e Paulo César foram presos no dia 30/01/1972, pelo DOI-CODI/RJ.
Seus nomes integram a lista de desaparecidos políticos anexa à Lei nº 9.140/95.
Ísis nasceu e cresceu em São Paulo, iniciando os estudos no Grupo Estadual Pereira Barreto. Fez o ginasial no Colégio Estadual Presidente Roosevelt e o curso clássico no Colégio Santa Marcelina. Estudou piano e fez curso de pintura e escultura na Fundação Álvares Penteado. Falava inglês, que estudou na União Cultural Brasil-Estados Unidos, dominando também o francês e o espanhol. Trabalhou como secretária bilíngüe na Swift. Em 1965, iniciou o curso de Ciências Sociais na USP e passou a morar no CRUSP — o conjunto residencial da Universidade. Trabalhou no Cursinho do Grêmio da Faculdade de Filosofia e se casou, em 1967, com José Luiz Del Royo, também integrante da ALN na fase de sua fundação, e que foi eleito em 2006 senador na Itália. Isis freqüentou o curso de Ciências Sociais até o 3º ano e, segundo informações dos órgãos de segurança, esteve em Cuba participando de treinamento de guerrilha em 1969. Já separada de Del Royo, retornou clandestinamente ao Brasil e se estabeleceu no Rio de Janeiro a partir de meados de 1970.
No dia 4 de fevereiro, Aurora Maria Nascimento Furtado, colega da USP e militante da ALN, que também seria morta sob torturas dez meses depois telefonou a Edmundo, pai de Ísis, avisando da prisão da amiga. "Ela corre perigo, tratem de localizá-la", disse-lhes. E foi o que tentaram com persistência: impetraram cinco habeas-corpus através da advogada Eny Raimundo Moreira, todos negados. Foram a todas as unidades do Exército, Marinha e Aeronáutica do Rio de Janeiro e São Paulo onde imaginassem poder ter notícias de Ísis. Vasculharam os arquivos dos cemitérios do Rio de Janeiro, Caxias, Nilópolis, São João de Meriti, Nova Iguaçu, São Gonçalo. Sem falar das muitas cartas escritas com a letra miúda da mãe ao presidente da República, às autoridades civis e religiosas. Dezenas de pastas guardam os documentos da família na busca por Ísis. Trechos do depoimento de Felícia, que com mais de 90 anos ainda espera alguma notícia sobre o que aconteceu com a filha, retrata a luta dos familiares:
(…) Nós chegamos à triste conclusão que todas essas séries de desinformações serviam a um objetivo específico, que era de confundir-nos e fazer-nos reaver, a cada sinal, uma esperança. Cartas: foram escritas muitas. Eu as escrevia, com sacrifício, para poupar meu marido que havia sofrido um grave enfarte do miocárdio. Com o passar do tempo, fui vendo que os destinatários eram os mesmos, a quem as outras famílias de desaparecidos escreviam: Presidente da República, Ministros das três armas, Comandante do I e do II Exércitos, OAB, OEA, ONU, Anistia Internacional, Arcebispos do Rio de Janeiro e de São Paulo. Foram tantas as cartas e inúteis que não gosto de lembrar. Só não esquecerei uma em especial, pelo trabalho e pela satisfação que me deu.
Nós, familiares dos presos políticos desaparecidos, pedíamos informações ao Governo, sobre o destino dos nossos parentes. Quando o Ministro da Justiça, através do líder José Bonifácio, vem de público enumerar uma série de delitos praticados por eles. Eu não me conformei com aquelas informações. Achei que era o fim de tudo. Nós queríamos saber o paradeiro deles e não o que eles haviam praticado. Escrevi uma carta de contestação. Mas, como publicar minha carta? A censura não respeitava nem o malote dos deputados. Não tive dúvidas. Fui pelo caminho mais longo, mas o que me pareceu seguro. Viajei 20 horas até Brasília para entregar minha carta ao deputado Lisâneas Maciel. O deputado Lysâneas não se encontrava em Brasília, entreguei então a minha carta em mãos do deputado Fernando Lira. Mais 20 horas de volta. No meio do caminho, em uma parada de ônibus, comprei um jornal 'O Estado de São Paulo'. Lá estava a minha carta publicada. Valeu-me uma grande satisfação no momento. Mas foi só. Porque até hoje estou esperando saber o que eles fizeram com minha filha Ísis (…).
Oficiosamente, Felícia e Edmundo souberam que Ísis esteve nos DOI-CODI do Rio de Janeiro e de São Paulo, que em março esteve hospitalizada com uma crise renal, que passou pela base aérea de Cumbica, pelo Cenimar e pelo Campo dos Afonsos. No dia 13/4/1972, a assistente social Maria do Carmo de Oliveira, lotada no Hospital da Marinha, no Rio, informou-lhe que Ísis estava presa na Ilha das Flores. Felícia estava acompanhada de Sônia, sua sobrinha. No dia seguinte, Maria do Carmo, Felícia e Sônia foram intimadas a comparecer ao I Exército, onde um coronel as recebeu com a notícia de que tudo não passava de um lamentável engano.
Em matéria do jornal Folha de S. Paulo, em 28/1/1979, um general de destacada posição dentro dos órgãos de repressão confirmou a morte de Ísis e Paulo César, dentre outros 10 desaparecidos. No Arquivo do DOPS/PR, em uma gaveta com a identificação: "falecidos" foi encontrada a ficha de Ísis. A única prova concreta obtida em todos esses anos de busca foi dada pelo ex-médico Amílcar Lobo, que servia ao DOI-CODI/RJ e que reconheceu a foto de Ísis dentre os presos que lá atendeu, sem precisar a data, numa entrevista publicada pela IstoÉ de 8/4/1987. Os órgãos de segurança do regime militar acusavam a ambos de participação em ações armadas, inclusive do assalto à Casa de Saúde Dr. Eiras, já mencionado na apresentação do caso anterior, que resultou na morte de três vigilantes de segurança.

** Falece historiadora Katia Mattoso

 


É com pesar que noticiamos o falecimento de Kátia Mattoso.
Anpuh-PR
11/01/2011 às 14:52
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Autoridades lamentam morte de Kátia Mattoso

A TARDE On Line
Autoridades lamentaram a morte da historiadora e cientista política Kátia Mattoso, 78 anos, que aconteceu na manhã desta terça-feira, 11, em Paris, França. Em nota, o governador do Estado da Bahia, Jaques Wagner, declarou: ?Foi com pesar que tomamos conhecimento da morte de Kátia Mattoso. Dona de uma percepção privilegiada do processo histórico, vinculando habilmente o regional e o conjuntural, a historiadora soube, como poucos, investigar e compreender as origens da Bahia que somos hoje. Seu legado será duradouro?.
Já o diretor da Fundação Pedro Calmon, Ubiratan Castro de Araújo, amigo e orientando da professora Kátia Mattoso, lamentou o falecimento da intelectual, que para ele foi a grande formadora de pesquisadores e de professores de história na Bahia.
Kátia era especialista em história social da escravidão no Brasil, Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia e Professora Emérita aposentada da Universidade de Paris V ? Sorbonne. Autora, entre outras obras, de Ser Escravo no Brasil (1982) e Bahia Século XIX ? Uma Província no Império (1992).
Segundo familiares, o corpo de Kátia Mattoso será enterrado na Grécia, país em que ela nasceu. 






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** Revista EM DEBATE - Chamada de artigos

 

EM DEBATE N. 5: PRAZO PARA SUBMISSÕES

Por decisão dos editores, apenas trabalhos submetidos até 1º/02/2011 serão enviados para avaliação e, caso aprovados, serão publicados no número 5. Após esta data os trabalhos com parecer pela publicação aguardarão a edição de n.6 da revista, com publicação prevista para setembro de 2011.



No 4 (2010)

2º semestre 2010


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** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História de João Leonardo da Silva Rocha (1939 - 1975) - IV-

Carta O Berro..........................................................repassem

 



João Leonardo da Silva Rocha (1939 – 1975)

João Leonardo da Silva Rocha era filho de Maria Nathália da Silva Rocha e Mário Rocha. Nasceu a 04 de agosto de 1939, na cidade de Salvador, Bahia. Perteceu à organização política denominada Movimento de Libertação Popular (Molipo), da qual foi dirigente, e seu nome integra hoje a lista de desaparecidos políticos brasileiro anexa à lei nº 9.140/95 que reconhece como mortas pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas no período de 02 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979.



Na foto, 13 dos 15 presos políticos libertados em troca do embaixador americano Charles Elbrick, que foi solto em 07/09/1969. João Leonardo é o primeiro abaixado, de branco, escondendo as algemas com o casaco.

João Leonardo fez o curso primário em Amargosa, Bahia, onde morava com seus pais. Estudou o primeiro ano do curso secundário no Colégio dos Irmãos Maristas, em Salvador, ingressando, a 29/02/1952, no Seminário Católico de Aracaju, onde permaneceu até 1957. Em 1959, aprovado em concurso público, tornou-se funcionário do Banco do Brasil em Alagoinhas (BA), cidade em que seus pais passaram a residir. Naquele mesmo ano começou ensinar Português e Latim no Colégio Santíssimo Sacramento e Escola Normal e Ginásio de Alagoinhas.

No início de 1962, João Leonardo da Silva Rocha muda-se para São Paulo, ainda como funcionário do Banco do Brasil, onde também passou a ensinar Latim e Português em colégios da região do ABC paulista. Era considerado excelente poeta e contista. Ingressou, logo depois, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP, época em que passou participar da militância política. Foi diretor da Casa do Estudante, localizada na Av. São João, que abrigava alunos de sua Faculdade. Vem de uma testemunha inesperada – o filósofo e articulista Olavo de Carvalho – o depoimento de que, nessa época da Casa do Estudante, João Leonardo realizou excelentes duetos musicais com Arno Pires, que foi morto em fevereiro de 1972 e também pertencia ao Molipo.

João Leonardo cursava o último ano de Direito e já integrava a ALN (Agrupamento Comunista de São Paulo) quando foi preso pelo DOPS, no final de janeiro de 1969, no fluxo de prisões de militantes da VPR que mantinham contato com a organização de Marighella. O mesmo Olavo de Carvalho já escreveu mencionando as brutais torturas a que foi submetido o seu amigo daquela época. Os órgãos de segurança acusavam João Leonardo de participar do Grupo Tático Armado dessa organização guerrilheira, tendo participado a 10/08/1968 do rumoroso assalto a um trem pagador na Ferrovia Santos/Jundiaí, bem como de outras operações armadas. Foi, inclusive, indiciado no inquérito policial que apurou a execução do oficial do Exército norte-americano Charles Chandler, a 12/10/1968, embora não seja apontado como participante direto do comando que realizou a ação.

Em setembro de 1969, com o seqüestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, João Leonardo foi um dos 15 presos políticos libertados e enviados ao México, oficialmente banidos do País. Transferiu-se para Cuba e recebeu treinamento militar naquele País, onde se alinhou com o grupo dissidente da ALN que gerou o Molipo. Retornou ao Brasil em 1971, se estabelecendo numa pequena localidade rural de Pernambuco, São Vicente, que era Distrito de Itapetim, sertão do Pajeú, quase divisa com a Paraíba. Raspou totalmente a cabeça e era conhecido como Zé Careca. Tornou-se lavrador, tendo adquirido um pequeno sítio onde trabalhava. Gostava muito de caçar e era exímio atirador. Era muito querido na região e, como tinha habilidades artesanais, fazia brinquedos com que presenteava as crianças.


Chegada dos ex-presos políticos ao México, em 1969. No detalhe, Flávio Tavares (carregando objetos), o grande Gregório Bezerra (cabelos brancos), e  - segurando uma caixa - , João Leonardo da Silva Rocha

Foi um dos poucos sobreviventes entre os militantes que tentaram construir bases rurais do Molipo, entre 1971 e 1972, tanto no Oeste da Bahia quanto no Norte de Goiás, território atual do Tocantins. Quando pressentiu que podia ser identificado na região de São Vicente, mudou-se para o interior da Bahia, onde terminaria sendo localizado e morto em junho de 1975, ano em que o Molipo e ALN já não existiam mais e João Leonardo buscava sobreviver e trabalhar. Num choque com agentes policiais que, ainda hoje, é recoberto por densa camada de mistério e informações desencontradas, foi executado por agentes da Polícia Militar da Bahia em Palmas de Monte Alto, município entre Malhada e Guanambi, no Sertão Baiano, margem direita do Rio São Francisco, divisa entre Bahia e Minas.

Seu caso foi o último episódio a confirmar a existência de uma verdadeira sentença de pena de morte extra-judicial, decretada pelos órgãos de segurança para todos os banidos que retornassem ao Brasil com a intenção de retomar a luta contra a Regime. (Texto do livro "Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a Partir de 1964").


O Molipo

O
Movimento de Libertação Popular (Molipo) foi um dos grupos que deflagraram a guerrilha urbana no Brasil entre 1968 e 1973. Surgiu em 1971 como uma dissidência da Ação Libertadora Nacional (ALN) que, por sua vez, teve origem no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e era comandada por Carlos Marighella, antigo dirigente do Partidão. Dissidência armada do PCB, a ALN surgiu em 1967.

O Molipo tinha contingente reduzido e, segundo o livro Brasil Nunca Mais, "foi extinto com a execução sumária ou sob torturas da maioria dos seus membros, entre os quais se destacaram líderes estudantis paulistas como Antônio Benetazzo, José Roberto Arantes de
  Almeida e Jeová Assis Gomes". José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil do Governo Lula e ex-presidente do PT foi um dos seus integrantes.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História do Padre Henrique - III-

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Os pernambucanos trucidados pela ditadura militar de 1964 -


Padre Henrique

Responsável pelo setor da Arquidiocese de Olinda e Recife que prestava assistência à juventude, o padre Henrique mantinha encontros inclusive com estudantes cassados e, em várias ocasiões, recebeu ligações telefônicas com ameaças de morte. A maioria delas partidas da organização denominada Comando de Caça aos Comunistas (CCC). O padre não se curvou às ameaças e pagou um alto preço por isso.
O padre Henrique foi seqüestrado na noite de 26 de maio, no bairro de Parnamirim,  depois de participar de uma reunião com um grupo de jovens católicos. De acordo com uma testemunha, ele acabava de sair do local do encontro, quando foi abordado por três homens armados que o levaram em um veículo de marca Rural, de cor verde e branca. Às 10 horas do dia seguinte, o corpo seria encontrado num matagal da Cidade Universitária.
À época, o governo ainda não havia instituído formalmente a censura à imprensa, mas, mesmo assim, os jornais foram proibidos de noticiar o assassinato do padre. A notícia só foi dada pelo Boletim Arquidiocesano (um informativo mimeografado da Igreja) e lida pelos padres de todas as paróquias recifenses. Mesmo sem notícias na imprensa, cerca de 20 mil pessoas acompanharam o enterro, numa caminhada entre igreja do Espinheiro e o cemitério da Várzea.

"Sei quem matou meu filho e nada posso fazer"
O assassinato do padre Henrique não funcionou para calar Dom Hélder Câmara, que continuou denunciando as injustiças sociais e lutando por liberdade, mas destruiu praticamente toda a família do sacerdote. Em depoimento ao extinto semanário recifense Jornal da Cidade, a 24/07/1981,dona Isaíras Pereira da Silva, mãe do padre, narraria o que se seguiu ao crime:

"Depois de assassinarem meu filho, começaram as perseguições. Um dia depois do enterro, o meu marido foi preso e, sob ameaça de tortura, foi obrigado a relatar nomes de pessoas que vinham aqui em casa e que eram amigas de Antônio Henrique.

Adolfo, meu segundo filho, que na época havia sido aprovado no concurso de oficial da Polícia Militar, passou a exercer dentro da PM funções de servente, sendo depois transferido para a Polícia Rodoviária, coisa que não tinha nada a ver com o concurso a que foi submetido. Fizeram o possível para sujar o seu nome, até que o ex-agente Wilson Maciel o envolveu com uns roubos de imagens sacras. Passou 11 meses preso e foi absolvido por falta de provas.
 

  Antonio Henrique Pereira Neto nasceu no Recife, a 28 de outubro de 1940, filho de José Henrique Pereira da Silva Neto e Isaíras Pereira da Silva. Era sociólogo e professor. No depoimento a seguir, prestado ao Grupo Tortura Nunca Mais, que organizou o Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos na Ditadura Militar de 1964,Dona Isaíras fala um pouco do filho:
"Padre Henrique era o meu filho primogênito, muito alegre e brincalhão. Escolheu sua missão de sacerdote aos 16 anos e tomou várias iniciativas na profissão escolhida: não cobrava para fazer batizados, celebrar casamentos, porque, dizia ele, "a palavra de Deus não tem preço".

Tinha muitos amigos, era professor de três colégios e com o salário ajudava as pessoas realmente carentes. Não gostava de conflitos, nem de ver pessoas sofrendo. Por isso, quando balearam, por questões políticas, o estudante Cândido Pinto, Henrique procurou os grupos de estudantes que planejavam violências e sugeriu-lhes que pedissem ajuda aos governantes. Começaram daí os telefonemas ameaçadores que se identificavam como CCC (Comando de Caça aos Comunistas); mas Henrique dizia que aquilo não passava de piadas, porque "se eles tocassem num fio de cabelo de um padre, o mundo os derrubaria".

E as ameaças foram aumentando (...), até metralharam a sala onde ele trabalhava no Giriquiti, gritando, segundo testemunhas, "Viva o CCC!"

Mas Henrique não temia (...) até que no dia 26 de maio de 1969, após uma reunião com famílias amigas, quando Henrique voltava para seu lar, uma rural verde e branca com policiais armados levaram-no do Parnamirim até a Cidade Universitária e depois de várias horas de torturas (das 10 às 4 da madrugada), segundo um morador de um barraco de tábuas, mandaram ele se ajoelhar e dispararam, à queima-roupa, três tiros na cabeça do padre indefeso. Para que não fosse identificado, tiraram-lhe os documentos e iam enterrá-lo como "cadáver desconhecido". Porém, um rapaz desconhecido passou e disse: "Não é um desconhecido. É o padre Henrique".

Prenderam o rapaz, mas muita gente que havia escutado o comentário espalhou a notícia e não dava mais para esconder.

Padre Henrique, depois de passar pelo IML, foi levado para a Igreja do Espinheiro, onde foi velado por milhares de pessoas. No dia seguinte, foi levado em passeata até o Cemitério da Várzea, onde, no percurso, muitas pessoas foram presas como comunistas.

Ao chegarmos em casa, após o sepultamento, levaram preso o meu marido José Henrique, para que ele identificasse num álbum de fotografias os comunistas que freqüentavam a nossa casa (...) e, como ele dizia que não sabia, foi também torturado e, às 11 da noite, quando chegou em casa, estava vomitando sangue e não conseguiu recuperar-se: depois de várias hemorragias, também faleceu.

E eu, continuei perseguida (...) até que, com a prescrição do crime, cessaram as ameaças".


Os supostos matadores e mandantes

Sob o título Sepultamento do Insepulto, o Blog Metropolitano – O Lado Positivo da Notícia, do jornalista Ernesto Neves e dos empresários
Pouco tempo depois, um outro roubo de objetos sacros ocorrido em Natal foi motivo para que o meu filho ficasse mais um tempo preso. No terceiro, o da imagem do Carmo em 1979, Wilson Maciel tenta culpá-lo e, como não consegue, o ameaçou de morte. Por conta disso, teve que viver foragido com a mulher e filhos.
Justo Henrique, um outro filho, foi preso três vezes como subversivo, porque na época era seminarista e isso tinha muito a ver com o irmão. Tanto fizeram que atualmente ele vive no exterior e, por medida de segurança, não mantemos nenhuma comunicação.
Existe um quarto filho que usa nome falso por ter fugido da prisão. Sofreu torturas e, para castigá-lo, eles disseram que meu filho andava espalhando por aí que ia se vingar.
Meu marido, com os aperreios, morreu com uma úlcera gástrica. E eu, eu sou o palhaço da história. Sei quem matou meu filho e nada posso fazer."


Uma versão na imprensa

Em 1975, o Jornal da Cidade, veículo recifense da chamada imprensa alternativa, reconstituiu o episódio assim:

"A corda aperta-lhe o pescoço e o homem dobra as pernas, semi-asfixiado e cai de joelhos. Uma pancada de faca ou canivete no rosto e o sangue escorre, grosso, molhando o dorso nu e as calças.

Os vultos, ao seu redor, começam a se tornar ainda mais difusos e ele sente um impacto na face e, certamente, não sente o segundo, à queima-roupa, pouco acima da orelha. Dois tiros de mestre, convergindo para um só ponto do cérebro. O homem estende-se em meio à pequena clareira aberta no matagal e, nos últimos estertores da morte, agarra, com a mão direita, crispada, um tufo de capim.

Passava da primeira hora da madrugada de 27 de maio de 1969 e não era chegada, ainda, a terceira hora. Os olhos do homem estavam abertos, como abertos e cheio de espanto estavam os olhos do vigia Sérgio Miranda da Silva, quando o encontrou, estirado no chão, às seis e meia da manhã.

Antes das dez, o corpo estava identificado: era do padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto, 28 anos de idade, visto com vida, pela última vez, por uma testemunha, quando era obrigado a entrar numa rural verde e branca.

No final da tarde, a igreja do Espinheiro, no Recife, estava abarrotada de gente para assistir à missa de corpo presente, celebrada por 40 sacerdotes. Durante toda a noite houve vigília e, no dia seguinte, a pé, por mais de 15 quilômetros, uma multidão de 20 mil pessoas acompanhava o enterro até um cemitério próximo à Cidade Universitária, a mesma região onde aconteceu o crime."

Silêncio no cemitério
Em 1989, numa entrevista para a emissora de televisão estatal de Pernambuco, Dom Hélder Câmara revelaria que, além de assassinar o Padre Henrique, a ditadura militar também proibiu toda e qualquer manifestação de protesto contra aquela violência:
- Quando nós chegávamos ao cemitério, eu recebi um aviso de que, se no cemitério houvesse a menor palavra contra os militares, a palavra de ordem era reagir de vez. Aí, quando terminou o enterro, eu disse: meus irmãos, tudo o que nós poderíamos fazer aqui na terra pelo nosso irmão Padre Henrique, nós já fizemos. Vamos rezar mais um Pai Nosso e, depois, vamos fazer uma experiência que nunca foi feita aqui em nossa terra: vamos oferecer a homenagem do silêncio, vamos sair do cemitério sem uma palavra, silêncio profundo!... Nunca eu ouvi um silêncio tão impressionante. Era um silêncio que gritava.


O Padre Henrique por Dona Isaíras

Fábio Lira e Nellyann Carneiro, veiculou o seguinte texto sobre os autores do assassinato do Padre Henrique:

"O Padre Henrique Pereira da Silva, trucidado em novembro de 1969 e cujo cadáver foi abandonado no Campus da UFPE, nunca teve os seus assassinos revelados e ninguém foi responsabilizado pelo ato. Apesar de seu cadáver ter sido sepultado, por conta disso, simbolicamente, continuava insepulto. Ontem, durante as discussões sobre o Centenário de Nascimento de Dom Hélder Câmara, o editor do Blog Metropolitano, jornalista Ernesto Neves, narrou as informações de domínio da imprensa nacional e que, até hoje, nunca foram esclarecidas.

Logo após a morte do então secretário do Arcebispo de Olinda e Recife, que trabalhava na recuperação de dependentes químicos, surgiu a informação que sua morte significava a morte simbólica de Dom Hélder, uma forma de fazê-lo recuar das denúncias que fazia nos principais fóruns de todo o mundo. A informação dava conta de que a decisão de executar o Padre Henrique nasceu no DOI/CODI e concretizada pelo DOPS da Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco, que tinha como coordenador o delegado Moacir Salles, sobrinho de Apolônio Salles, fundador da Chesf.

A ordem foi dada aos policiais Rivel Rocha, Henrique Pereira Silva, conhecido por X9, e Rogério Matos do Nascimento, que serviu como isca para atrair o Padre Henrique, o fazendo entrar numa rural verde e branca e só reaparecendo morto no Campus da UFPE. Nenhum dos supostos matadores ou mandantes sofreu qualquer punição. A poetisa Isaíras Pereira da Silva, mãe do sacerdote morto, faleceu sem ver a punição dos culpados. O crime prescreveu e os criminosos se beneficiaram pela omissão da polícia e da justiça. A revelação dos supostos responsável pelo menos sepulta o cadáver do insepulto Padre Henrique".
 
Auxiliar direto de Dom Hélder Câmara – que, à época os militares rotulavam de arcebispo vermelho –, o padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto foi torturado até a morte, no Recife, entre a noite e a madrugada de 26 e 27 de maio de 1969. O crime, nunca esclarecido até a prescrição do processo aberto para apurar os fatos, teve o objetivo claramente político de tentar barrar, através da violência física, o arcebispo nas suas ações e pregações em defesa da liberdade.

A macabra lógica dos torturadores era esta: se a eliminação do próprio Dom Hélder não era recomendável porque repercutiria internacionalmente, deixando o governo brasileiro em situação delicada, o caminho era o assassinato de um auxiliar direto da Arquidiocese. Desta forma, deduziam eles, o arcebispo recuaria e o crime não teria grande repercussão porque a vítima, digamos assim, era "menos importante".

 

Peritos da Secretaria de Segurançaexaminam o veículo que teria  sido
usado pelos assassinos.
De processo controverso e volumoso (dezenas de volumes com milhares de páginas), o caso do assassinato do Padre Henrique foi arquivado e reaberto inúmeras vezes, sem que nada ficasse esclarecido até a prescrição do crime. Um único suspeito foi apontado, o estudante Rogério Matos do Nascimento (que, inclusive, esteve preso), mas as autoridades não chegaram a conclusão nenhuma. Foi mais um bárbaro crime impune.

No Departamento de Ordem Pública e Social (DOPS) de Pernambuco não há nenhum registro sobre o Padre Henrique, antes da sua morte. Os arquivos começam com o laudo técnico do Instituto de Polícia Técnica do Estado sobre o seu assassinato.

 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

** NOTICIAS ANPUH/PR - JANEIRO 2011

 


Noticias ANPUH/PR

Vejam na página da ANPUH-PR - http://www.pr.anpuh.org/:


Notícias da Nacional:
A pedido da Vice-Presidencia da ANPUH, convidamos a todos a assinarem a petição pela permanência do Arquivo Nacional permanecer junto à Casa Civil da Presidência. Em destaque – ANPUH-PR - http://www.pr.anpuh.org/
Informes da Presidencia da ANPUH  sobre a regulamentação da profissão – Em destaque ANPUH/PR - http://www.pr.anpuh.org/
Chamadas de artigos para 2011:
Confluenze. Rivista di Studi Iberoamericani
Revista Tempo e Argumento
Revista História e Ensino
Lançamentos:
Revista de Teoria da História – Quarto Número

Revista Expedições: Teoria da História e Historiografia
Cadernos do Tempo Presente - Novo Número
Revista de História Regional - Nova Edição
Publicações do Núcleo de Estudos das Américas – UERJ
Concursos:
Teste seletivo UNICENTRO
Eventos:
III Seminário de Educação Brasileira - Campinas, 28 de Fevereiro, 01 e 02 de Março de 2011
Curso de Introdução à História Pública
I Jornada Ditaduras e Direitos Humanos
VI Encontro Regional Sul de História Oral: Narrativas, Fronteiras e Identidades



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Atividade nos últimos dias:
    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.


                                                                                                    Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
 
Visite o Blog do nosso Grupo:http://www.grupohistoriadobrasil.blogspot.com

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** [Carta O BERRO] PARA NÃO ESQUECER JAMAIS! História de Fernando Santa Cruz - II -

Carta O Berro..........................................................repassem
Fernando Santa Cruz


  Fernando Santa Cruz, pernambucano, casado e pai de um filho, tinha 26 anos de idade e estudava Direito na Universidade Federal Fluminense quando foi declarado desaparecido político em 1974. Preso por agentes do DOI-CODI em Copacabana, junto com outro militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), Eduardo Collier Filho, foi torturado até a morte. A última pessoa que admitiu tê-lo visto com vida foi um carcereiro, de apelido "Marechal", logo desmentido pelo então ministro da Justiça, Armando Falcão. Foi longo o sofrimento de dona Elzita, mãe do estudante, que em vão apelou a dezenas de autoridades militares e civis na época, em busca de notícias do pai de seu neto Felipe. 

Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira nasceu em 20 de fevereiro de 1949, em Olinda, Pernambuco, sendo o quinto filho do médico-sanitarista Lincoln de Santa Cruz Oliveira e de Elzita Santos de Santa Cruz Oliveira.

Militante do movimento estudantil secundarista, foi preso em 1967, após participar de uma passeata, no Recife, contra o acordo MEC-USAID, projeto que enquadrava o ensino brasileiro nos moldes norte-americanos e que, segundo os estudantes, alienava a classe estudantil e extinguia o seu campo de participação.

Detido com o seu companheiro Ramirez Maranhão do Valle, passou uma semana no Juizado de Menores de Pernambuco, onde conheceu o drama dos menores marginalizados e perseguidos pela sociedade.

Após a saída da prisão, intensificou o seu processo de militância política, atuando ainda mais nas lutas estudantis. Foi um dos articuladores do movimento em Pernambuco, sendo um dos reestruturadores da Associação Recifense dos Estudantes Secundaristas (ARES).

Com o recrudescimento da repressão política no Brasil, através da promulgação do Ato Institucional Nº 5, Fernando se viu obrigado a sair do Recife. Já casado com Ana Lúcia Valença, partiu para o Rio de Janeiro, onde aliou o trabalho profissional na CHISAM, órgão da administração pública, subordinado ao Ministério do Interior, com o trabalho político.

Fez vestibular para o Curso de Direito na Universidade Federal Fluminense, obtendo aprovação. Na UFF, participou das lutas dos estudantes fluminenses, através do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito e do Diretório Central dos Estudantes, que hoje tem o seu nome.


Fernando Santa Cruz e um grupo de estudantes secundaristas de Pernambuco.


Em 1972, dois fatos marcantes aconteceram na vida de Fernando. Nasce o seu primeiro e único filho, Felipe, nome dado em homenagem ao companheiro Felipe, como era conhecido Humberto Câmara Neto, desaparecido após ser preso e torturado pela polícia carioca. O outro fato seria a mudança para São Paulo, onde foi admitido por concurso público na Companhia de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo.

Em 1974, Fernando e Ana Lúcia decidem passar o carnaval no Rio de Janeiro. Aproveitam o feriado para estabelecer contatos com companheiros de luta política pertencentes à Ação Popular Marxista-Leninista - APML, que, por força do terror implantado pela repressão, eram obrigados a viver na clandestinidade.

O primeiro encontro foi, justamente, com Eduardo Collier. Fernando saiu da casa do seu irmão Marcelo para o encontro marcado para às 16:00 horas daquele sábado de carnaval, marcando para às 18:00 horas o seu regresso.

No entanto nunca mais retornou.

Logo depois, surgia a primeira evidência de sua prisão: o apartamento de Eduardo Collier, em Copacabana, era invadido por agentes de segurança. Sem se identificarem ao porteiro do prédio, reviraram todo o apartamento e apreenderam uma grande quantidade de livros de conteúdo ideológico, deixando claro que se tratava de uma ação repressiva de natureza política.

De imediato, começaram as buscas, ao mesmo tempo que teve início um sinistro jogo de empurra das autoridades militares para coma família e os advogados. Informações trocadas, dissimulações e mentiras generalizadas passaram a ser uma constante no procedimento das autoridades que eram procuradas para elucidar o caso.

A procura se estendeu pelos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, nos I e II Exércitos, respectivamente. A Igreja, através do Cardeal D. Paulo Evaristo Arns, juristas como Sobral Pinto, escritores como Alceu Amoroso Lima, todos tentaram investigar, pedir, colaborar, sem, contudo, obterem resultados concretos.

Igualmente inúteis foram os habeas-corpus impetrados pelos advogados junto à Justiça Militar. Nem a presença de militares insuspeitos como os marechais Juarez Távora e Cordeiro de Farias, muito menos o envolvimento direto de entidades internacionais como a O.E.A. e a Anistia Internacional, nada conseguiu surtir efeito ou sensibilizar as autoridades brasileiras.

Um ano mais tarde, pressionado pela opinião pública e pelos consecutivos pedidos de informações por parte da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da O.E.A., o ministro da Justiça Armando Falcão fez divulgar pelos veículos de comunicação uma seca nota oficial , na qual Fernando e Eduardo Collier, juntamente com mais 25 pessoas  desaparecidas, eram dadas como clandestinos e caçados pelas forças de segurança.

Imediatamente, a nota foi contestada pela família de Fernando, através de carta enviada ao ministro por Dona Ezita. Na carta, a farsa oficial era desmontada: Fernando não era clandestino, pois tinha, na época da prisão, residência e emprego fixos; não estava também foragido, já que não havia sido procurado por nenhum órgão de segurança.

Fernando Santa Cruz é, hoje, mais um nome na imensa lista de desaparecidos políticos no Brasil.


Carta enviada pela mãe de Fernando ao Ministro da Justiça:


"Exmo. Sr. Ministro Armando Falcão

Ministério da Justiça - Brasília, Distrito Federal

Olinda, Pernambuco, 7 de fevereiro de 1975

   Sou mãe de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira e fui surpreendida com a Nota Oficial do Ministério da Justiça, divulgada em 6 de Fevereiro pela imprensa falada e escrita, em que são prestadas informações sobre 27 pessoas dadas como desaparecidas com os respectivos registros constantes dos órgãos de segurança.

Entre as pessoas desaparecidas encontra-se meu filho, fato ocorrido no dia 23 de fevereiro de 1974, na Guanabara, quando se encontrava com o seu amigo Eduardo Collier Filho conforme alegações apresentadas pelos seus advogados ao Superior Tribunal Militar.

Iniciou-se para nós a partir de sua prisão uma verdadeira maratona em busca de informações por este Brasil afora, desde os presídios civis e militares até os ministérios, no sentido de localizá-lo e ter a certeza da autoridade responsável pela sua custódia, a fim de que fosse permitido o acesso de advogado e familiares.

Apesar das negativas das autoridades responsáveis, as informações, fatos e indícios que obtivemos junto a pessoas e instituições indicam a sua prisão. Fatos estes, que foram já relatados minuciosamente a sua Excia. Sr. Ministro Golbery do Couto e Silva, em entrevista mantida em 7 de agosto de 1974, promovida pelo arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns.

Quero informar-lhe Sr. Ministro que o teor da nota expedida por V. Excia no que se refere ao meu filho, perpetua a incerteza de seu destino, razão pela qual sinto-me na obrigação de assumir, na qualidade de mãe, sua defesa, já que ele não pode se manifestar. Mas faço também imbuída por princípios de justiça e de verdade que acredito serem postulados que devem nortear a conduta humana.

A afirmação 'encontra-se na clandestinidade' a ele atribuída nesta Nota Oficial é paradoxal e para contestá-la informo a V. Excia. que Fernando era funcionário do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo, residia à rua Diana, 698, no Bairro de Perdizes - SP; tendo, portanto, residência e emprego fixos e sendo responsável pelo sustento material de sua esposa e filho.

Para maiores esclarecimentos do que afirmo, junto a esta recibo de aluguel em seu nome e contra-cheque do último pagamento referente ao mês de janeiro de 1974, e inclusive poderá ser verificado na repartição que trabalhava o seu cartão de ponto, marcando a sua presença sempre pontual até a véspera do seu desaparecimento.

Sr. Ministro da Justiça, diante de tais esclarecimentos pergunto: que clandestinidade seria esta que, repentinamente, transformaria um filho, respeitoso, carinhoso e digno em um ser cruel e desumano, que desprezaria a dor de sua velha mãe, a aflição de sua jovem esposa e o carinho de seu filho muito amado? É fácil concluir que qualquer pessoa, mesmo perseguida, em qualquer lugar onde estiver terá como enviar uma palavra de calma e tranquilidade aos seus familiares. Ora, Sr. Ministro, por que Fernando não o faria?

Não posso aceitar pura e simplesmente o argumento de V. Excia, tendo em vista os fatos, indícios e informações já prestadas ao Exmo. Ministro Golbery e espero que não se dê por esgotado este episódio, mas que seja esclarecido o que realmente aconteceu ao meu filho para que possamos sair deste imenso sofrimento que nos encontramos: eu e todos os meus familiares.

Escrevo esta carta movida pela crença que sentimentos de justiça e de dignidade nortearão a conduta de V. Excia. e do Exmo. Sr. Presidente da República em relação a este fato. Nada peço ao Sr. para meu filho a não ser os esclarecimentos, que tenho direito, sobre o seu paradeiro, e justiça!

Disposta a qualquer esclarecimento que seja necessário, subscrevo-me

"Elzita Santos de Santa Cruz Oliveira."


Alunos do Ginásio Pernambucano Recife.

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