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quinta-feira, 21 de março de 2013

49 anos do golpe de 1964




49 anos do golpe de 1964

Bentley transmitiu o golpe ao vivo para Washington






31 de março de 2013, 49 anos do golpe de 1964: é possível dizer alguma coisa de novo sobre a derrubada de Jango?



A historiografia avançou muito: conhecemos, em detalhes, as motivações, episódios e consequências do golpe. Mas, como é natural, o público – sobretudo o mais jovem – praticamente ignora a importância desse evento.



Não me refiro apenas ao fato óbvio de que o golpe inaugurou uma ditadura que duraria 21 longos anos: penso no significado do golpe em si. Por que a imprensa, a igreja católica e boa parte da sociedade o apoiaram? Isso, algumas vezes, é esquecido porque consolidou-se a imagem do regime militar como a de um confronto entre mocinhos e bandidos, vítimas e repressores, sociedade versusmilitares.



Quem chamou minha atenção para a importância do golpe foi minha colega Jessie Jane Vieira de Sousa: ele foi o episódio-chave do regime militar. De fato, não podemos esquecer que a "opinião pública", estimulada pela propaganda política, posicionou-se contra os modestos avanços populares que o governo Goulart preconizava, ecoando não apenas o tradicional autoritarismo da sociedade brasileira (de então?), mas também a tremenda hesitação das elites e das classes médias diante da chamada "justiça social" (lembrei-me da música Haiti, de Caetano Veloso, que fala em "pânico mal dissimulado" das elites diante de qualquer "ameaça de democratização"...)



Um avanço significativo é a compreensão de que devemos falar de golpe "civil-militar" (como recomenda Daniel Aarão Reis Filho), não apenas "militar", já que a ação de políticos civis foi decisiva – mesmo que, depois, tenha se instaurado uma ditadura tipicamente militar, que excluiu, inclusive, os civis que apoiaram o golpe.



Um outro aspecto importante é a abertura dos arquivos, pela qual lutamos tantos anos. Há, por exemplo, no Arquivo Nacional, esperando por pesquisas detalhadas, a documentação relativa aos primeiros inquéritos abertos ainda em 1964.



Como eu já estudo esse assunto há muitos anos, dou-me ao luxo, hoje, de pensar nos aspectos mais burlescos, aquilo que os historiadores chamam de "história de bastidores". Há muitos casos curiosos envolvendo o golpe de 64.



Um deles é a história de Robert Bentley: ele era um jovem diplomata da embaixada dos EUA no Brasil e tinha a incumbência de acompanhar a vida dos parlamentares da UDN (partido que fazia oposição a Goulart). Desde 29 de março de 1964, ele permaneceu dia e noite no Congresso. Na madrugada de 2 de abril, com o golpe consumado, ele foi levado pelo futuro chefe da Casa Civil de Castelo Branco, Luís Vianna Filho, à posse de Ranieri Mazzilli como "presidente". O Palácio do Planalto estava às escuras, foi preciso acender fósforos. Bentley conseguiu um telefone, ligou para a embaixada, que tinha uma linha direta com a Casa Branca, e transmitiu "ao vivo" para Washington a posse do presidente da Câmara – espécie de "presidente tampão", como Mazzilli ficaria conhecido.



Outro episódio patético, na mesma madrugada, foi a reação de Darcy Ribeiro ao adesismo do comandante da 11a Região Militar e do Comando Militar de Brasília, Nicolau Fico (não é meu parente!). O militar titubeava entre defender o governo constitucional e aderir aos golpistas. Darcy deve ter lembrado a imagem dos militares como "gorilas", cara a Leonel Brizola, e acusou Nicolau: "Macaco traidor! Estou vendo os pelos crescendo em seu corpo!" Não satisfeito, disparou: "Você não honra o saiote de Iracema!" Nunca entendi esta frase, mas ela é ótima!



Curiosidades à parte, vamos torcer para que novas pesquisas sobre o golpe de 1964 tragam mais luzes sobre esse "episódio-chave". Também é indispensável que a educação básica veicule a boa historiografia acadêmica que já está disponível. O mais importante, creio eu, é que as chaves desse episódio já parecem ter enferrujado: o autoritarismo e o elitismo da sociedade brasileira debilitaram-se. Ou estou sendo otimista demais? Com certeza, não há mais espaço para golpes militares no Brasil. Mas, certamente, ainda há muito o que fazer em direção a uma sociedade mais democrática e justa.



Fabrício Augusto Souza Gomes
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