Pesquisa analisa a urbanização de SP por meio de seus sambas
Fonte: Agência USP Por Mariana Soares - nanacsoares@gmail.com
Publicado em 14/setembro/2011 | |
Publicado em 14/setembro/2011 | |
A classe trabalhadora paulistana das décadas de 1950 e 1960 vivenciou e testemunhou a urbanização da cidade de uma maneira particular, mas se integrando aos processos políticos e econômicos. Essa é uma das conclusões da tese de doutorado Debaixo do ’Pogréssio’: urbanização, cultura e experiência popular em João Rubinato e outros sambistas paulistanos (1951-1969), defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e de autoria do arquiteto e urbanista Marcos Virgílio da Silva.
Virgilio conta que sua pesquisa pretendia estudar a urbanização de São Paulo sob o ponto de vista dos “de baixo”, descobrindo como eles sentiram este processo. Fazer uma análise sob esse ponto de vista (até então, inédito) implica enfrentar uma série de dificuldades, incluindo a escassez de fontes bibliográficas. Isso explica a utilização das letras e melodias de música popular, que, segundo ele, são um material riquíssimo, embora nem sempre reconhecido academicamente como legítima fonte para estudos da urbanização. O arquiteto explica que seu interesse não estava nas pessoas artísticas dos sambistas e sim na vivência daqueles cidadãos com a cidade de sua época. Por esse motivo, vemos Adoniran Barbosa ser chamado, no estudo, de João Rubinato, entre outros exemplos. Virgilio ainda enfatiza a importância de se tratar a urbanização não como um processo impessoal, mas como uma experiência de vida.
Ao analisar os mais de 50 discos e diversas entrevistas, Virgilio concluiu que embora as classes subalternas fossem vistas como inarticuladas e passivas, não o eram, construindo uma rede social densa que resultou em projetos coletivos de expressão política, especialmente por causa das práticas autoritárias em relação ao exercício do samba e certa restrição de espaços para sua prática. Ou seja, houve um verdadeiro fechar de portas para o estilo, especialmente no final da década de 1960. Assim, os sambistas buscaram se articular para tentar institucionalizar sua prática. Dessas tentativas é que vem a formalização do Carnaval na cidade de São Paulo, em 1968, subsidiado pela Prefeitura. Tal ação foi tida como descaracterização do samba, mas, segundo Virgilio, “foi uma consequência natural e que só foi possível devido à ocupação do espaço feita por aquela população. Eles ocupavam o centro e percorriam as periferias, sendo uma apropriação diferente da usual”.
Nesse período de fechamento de portas, houve a descaracterização física de espaços importantes para o samba paulistano. O Largo da Banana, no bairro da Barra Funda , por exemplo, que é tido como um dos berços do samba na cidade, deu lugar a um viaduto. Os músicos responderam a isso com as temáticas de rememoração, saudosismo e perda. O pesquisador considera isso uma resistência do samba: “já que não tinham mais referência física, agora a faziam no campo simbólico. Eles reivindicavam continuar fazendo seu samba e continuar podendo usar a cidade para isso. Com a institucionalização do Carnaval, eles conseguem legitimar este processo, mas falam bastante da perda do lugar, o que significa que não aceitam totalmente esse confinamento numa única época do ano”, diz.
Mudanças
O estudo, orientado por Maria Lucia Gitahy, abrangeu as décadas de 1950 e 1960 pela importância da produção musical daquele momento e pelo o que aqueles anos, de intensa industrialização, representam para a história da cidade. Além disso, é uma época recém saida de uma ditadura e que desemboca em outra, tendo grande instabilidade política.
O estudo, orientado por Maria Lucia Gitahy, abrangeu as décadas de 1950 e 1960 pela importância da produção musical daquele momento e pelo o que aqueles anos, de intensa industrialização, representam para a história da cidade. Além disso, é uma época recém saida de uma ditadura e que desemboca em outra, tendo grande instabilidade política.
As décadas estudadas também presenciaram a formação e estruturação da indústria cultural brasileira, que permitiu a profissionalização de alguns sambistas, aumentando a possibilidade de trabalhar com música, mas ainda num processo instável. Com o crescimento e a popularização da MPB e do rock, por exemplo, diminuiu o interesse comercial no samba. Alguns sambistas que se profissionalizaram ainda funcionaram como ponte entre os sambistas amadores, gravando suas composições. É o caso de Osvaldinho da Cuíca e de Germano Matias.
O trabalho
Nos sambas paulistanos, assim como nos do Rio de Janeiro, a associação do sambista com a figura do malandro também acontece, do mesmo modo que há a figura do trabalhador. Ambas as figuras coexistem e não são necessariamente opostas. Virgílio acrescenta ainda que as referências a patrões e sindicatos não é comum, havendo uma relação mais direta com o trabalho em si. Mas, segundo ele, há um questionamento frequente da ideia de São Paulo como cidade do trabalho, mostrando que vários usos dela são possíveis, inclusive o lazer. Para analisar as canções, o pesquisador também trabalhou com outros aspectos além da letra, como a melodia, que destacou outros aspectos e deu outras ideias a respeito da abordagem de um tema em um samba
Nos sambas paulistanos, assim como nos do Rio de Janeiro, a associação do sambista com a figura do malandro também acontece, do mesmo modo que há a figura do trabalhador. Ambas as figuras coexistem e não são necessariamente opostas. Virgílio acrescenta ainda que as referências a patrões e sindicatos não é comum, havendo uma relação mais direta com o trabalho em si. Mas, segundo ele, há um questionamento frequente da ideia de São Paulo como cidade do trabalho, mostrando que vários usos dela são possíveis, inclusive o lazer. Para analisar as canções, o pesquisador também trabalhou com outros aspectos além da letra, como a melodia, que destacou outros aspectos e deu outras ideias a respeito da abordagem de um tema em um samba
O arquiteto destaca que é muito grande o número de canções que fazem referência à São Paulo, e que é um material que vale a pena ser estudado para pensar a história da cidade: “fala-se muito de reconhecimento político de diversas frações da sociedade, e que as pessoas não participam porque não sabem ou não querem participar. Mas na verdade elas estão sim se manifestando, mas não têm seu meio de manifestação reconhecido. “Os de baixo” tinham e ainda têm algo a dizer. Compreender que o modo de vida dessa população se expressa por meios diferentes dos oficiais é uma visão válida que dá ideias de como a cidade poderia ser mais inclusiva”.
Fotos: Reprodução
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