CRÍTICA BIOGRAFIA
Obra expõe conceitos políticos e ambiguidades da época
DE SÃO PAULO
JOÃO GOULART, UMA BIOGRAFIA
AUTOR Jorge Ferreira
EDITORA Civilização Brasileira
QUANTO R$ 69,90 (714 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
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Obra expõe conceitos políticos e ambiguidades da época
DE SÃO PAULO
Houve no Brasil uma geração que defendeu o nacionalismo e a necessidade de mudanças profundas nas estruturas sociais e econômicas.
João Goulart (1919-1976) foi um expoente dela. Achava que poderia fazer as reformas de base a partir de pactos numa coalizão multiclassista.
Não conseguiu. Com esse pano de fundo, Jorge Ferreira constrói com vivacidade a biografia de Jango, que há 50 anos chegava à Presidência no olho de um furacão político, militar e econômico. Trata das ambiguidades do personagem, enfatizando o contexto daqueles tempos polarizados.
Jango entrou na política conversando com Getulio Vargas. Eram vizinhos perto da fronteira oeste do extremo Sul do país, em São Borja. Getúlio estava no ostracismo.
Jango já era um rico estancieiro, exímio negociante de gado. Encampou o "queremismo" e o trabalhismo.
Advogado, levado ao centro do poder por Getulio, aos 34, virou ministro do Trabalho. Segundo Ferreira, sua atuação nesse cargo chocou a elite: incentivou a ação de sindicalistas, aproximou-se da esquerda e pressionou pela duplicação do valor do salário mínimo. A direita, que o enxergava apenas como um playboy, passou a classificá-lo como um agitador.
Getulio deixou com Jango uma cópia da carta-testamento. Com essa herança, ele "revigorou o trabalhismo", agregando um perfil mais ideológico, na avaliação do historiador.
"Getulio foi um nacionalista; Jango, um progressista". Foi vice de Juscelino Kubitschek (com mais votos). Depois, vice do traumático Jânio Quadros.
Com a renúncia, tomou posse na turbulenta implantação do parlamentarismo no país. Foi amparado pela surpreendente campanha da Legalidade de Leonel Brizola, que cindiu as Forças Armadas de forma inédita.
Um dos méritos do livro é expor muitos outros traços de Goulart, que teve sua história sempre encapsulada nos meses cruciais que antecederam a ditadura. Para ele, Jango "não propunha rompimentos, mas patrocinava compromissos". No ápice da crise, não reagiu por temer uma guerra civil.
Trazendo visões divergentes, o autor derrama os detalhes das articulações e pressões daquele momento: as atuações dos militares, das esquerdas, dos sindicalistas, dos empresários e dos EUA.
Trata das radicalizações. Das esquerdas embriagadas com a perspectiva de poder. Das insurreições militares. Das tramas arquitetadas por civis. Da atuação do governo norte-americano na derrubada da democracia.
"O medo do comunismo unificou as elites", escreve Ferreira. E levanta questões.
A acumulação capitalista precisava ali de autoritarismo? A esquerda estava à altura do desafio histórico? O golpe era inevitável? Por que o alardeado "dispositivo militar" não funcionou? Quais foram as diferenças do golpe de 64 em relação às outras rebeliões anteriores?
Para além do debate de fundo, Ferreira relata histórias da vida pessoal de Jango: a família, seus casos amorosos, o sucesso nos negócios, a depressão no exílio, a amargura por não ter um passaporte brasileiro (ganhou um paraguaio). Há passagens curiosas.
Numa delas, a mulher, Maria Thereza, conta como ficou surpresa ao preparar, na sua cozinha no apartamento em Montevidéu, carne mal passada para Jango e seu arqui-inimigo Carlos Lacerda. O político, que incentivara o golpe e se viu abatido por ele, procurou Jango para traçarem uma estratégia conjunta. "Como o mundo dá voltas", era o seu pensamento. (ELEONORA DE LUCENA - FOLHA DE S.PAULO)
João Goulart (1919-1976) foi um expoente dela. Achava que poderia fazer as reformas de base a partir de pactos numa coalizão multiclassista.
Não conseguiu. Com esse pano de fundo, Jorge Ferreira constrói com vivacidade a biografia de Jango, que há 50 anos chegava à Presidência no olho de um furacão político, militar e econômico. Trata das ambiguidades do personagem, enfatizando o contexto daqueles tempos polarizados.
Jango entrou na política conversando com Getulio Vargas. Eram vizinhos perto da fronteira oeste do extremo Sul do país, em São Borja. Getúlio estava no ostracismo.
Jango já era um rico estancieiro, exímio negociante de gado. Encampou o "queremismo" e o trabalhismo.
Advogado, levado ao centro do poder por Getulio, aos 34, virou ministro do Trabalho. Segundo Ferreira, sua atuação nesse cargo chocou a elite: incentivou a ação de sindicalistas, aproximou-se da esquerda e pressionou pela duplicação do valor do salário mínimo. A direita, que o enxergava apenas como um playboy, passou a classificá-lo como um agitador.
Getulio deixou com Jango uma cópia da carta-testamento. Com essa herança, ele "revigorou o trabalhismo", agregando um perfil mais ideológico, na avaliação do historiador.
"Getulio foi um nacionalista; Jango, um progressista". Foi vice de Juscelino Kubitschek (com mais votos). Depois, vice do traumático Jânio Quadros.
Com a renúncia, tomou posse na turbulenta implantação do parlamentarismo no país. Foi amparado pela surpreendente campanha da Legalidade de Leonel Brizola, que cindiu as Forças Armadas de forma inédita.
Um dos méritos do livro é expor muitos outros traços de Goulart, que teve sua história sempre encapsulada nos meses cruciais que antecederam a ditadura. Para ele, Jango "não propunha rompimentos, mas patrocinava compromissos". No ápice da crise, não reagiu por temer uma guerra civil.
Trazendo visões divergentes, o autor derrama os detalhes das articulações e pressões daquele momento: as atuações dos militares, das esquerdas, dos sindicalistas, dos empresários e dos EUA.
Trata das radicalizações. Das esquerdas embriagadas com a perspectiva de poder. Das insurreições militares. Das tramas arquitetadas por civis. Da atuação do governo norte-americano na derrubada da democracia.
"O medo do comunismo unificou as elites", escreve Ferreira. E levanta questões.
A acumulação capitalista precisava ali de autoritarismo? A esquerda estava à altura do desafio histórico? O golpe era inevitável? Por que o alardeado "dispositivo militar" não funcionou? Quais foram as diferenças do golpe de 64 em relação às outras rebeliões anteriores?
Para além do debate de fundo, Ferreira relata histórias da vida pessoal de Jango: a família, seus casos amorosos, o sucesso nos negócios, a depressão no exílio, a amargura por não ter um passaporte brasileiro (ganhou um paraguaio). Há passagens curiosas.
Numa delas, a mulher, Maria Thereza, conta como ficou surpresa ao preparar, na sua cozinha no apartamento em Montevidéu, carne mal passada para Jango e seu arqui-inimigo Carlos Lacerda. O político, que incentivara o golpe e se viu abatido por ele, procurou Jango para traçarem uma estratégia conjunta. "Como o mundo dá voltas", era o seu pensamento. (ELEONORA DE LUCENA - FOLHA DE S.PAULO)
JOÃO GOULART, UMA BIOGRAFIA
AUTOR Jorge Ferreira
EDITORA Civilização Brasileira
QUANTO R$ 69,90 (714 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
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**Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente HISTÓRIA DO BRASIL. Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.
Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
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