Este espaço é reservado para troca de textos e informações sobre a História do Brasil em nível acadêmico.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Imperialismo e América Latina



Imperialismo e América Latina
Do USP Online
Entre 11 de abril e 4 de junho, o Centro Ángel Rama, ligado à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da USP, promove o ciclo de aulas-debate Imperialismo, América Latina e Brasil. O tema será abordado sob diferentes perspectivas, conforme a programação no link.
Os eventos serão gratuitos e dispensam inscrições, pois os Anfiteatros comportam grande número de pessoas. Serão fornecidos certificados mediante presença em 85% das aulas (presença em 7 aulas, registrada em folha de presença a cada aula). Os Anfiteatros estão localizados na Av. Prof. Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária, São Paulo.
Mais informações: http://fflch.usp.br/angelrama

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Atividade nos últimos dias:
        **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

                                                                                                        Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
     
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    quinta-feira, 4 de abril de 2013

    Lançada ArtCultura: Revista de História, CUltura e Arte, n. 24


     


                
                 Prezados(as) colegas,
                Já está disponível a mais nova edição da ArtCultura: Revista de História, Cultura e Arte, vinculada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia e editada sob a chancela da Edufu, CNPq, Capes e Fapemig. Neste n. 24, o destaque fica por conta do dossiê História & Música Popular, que reúne um time de colaboradores do Brasil e do exterior.
                Na seção Tradução, temos a satisfação de acolher uma contribuição, até então inédita em português, do historiador francês François Hartog. Ao longo das 246 páginas dessa edição, agora em cores, apresentamos ainda as seções Documentos, Artigos e Resenhas, e tornamos público nosso agradecimento aos 113 pareceristas que, entre julho de 2004 e junho de 2012, desempenharam um papel de extrema relevância com vistas à manutenção da qualidade dos textos publicados.
                 Quem desejar adquirir a versão impressa da ArtCultura 24 pode entrar em contato conosco via e-mail artcultura@inhis.ufu.br. O exemplar avulso sai a R$ 15,00. Já a assinatura anual, que dá direito ao recebimento de duas edições, custa R$ 20,00. Para maiores informações sobre a revista, basta acessar www.artcultura.inhis.ufu.br. A propósito, a ArtCultura 25, já fechada, incluirá um dossiê (Cultura Histórica & Cultura Historiográfica) e dois minidossiês (História & Censura no Mundo das Artes e História & Rádio).
                  
                  Adalberto Paranhos e Kátia Rodrigues Paranhos, editores.
    V. 14, n. 24
    Dossiê: História & Música Popular
    Organizador: Adalberto Paranhos




    Sergio Pujol



    Adalberto Paranhos



    Leandro Barsalini



    Mariana Barreto


    Silvano Fernandes Baia



    Rubén López Cano
    Tradução


    François Hartog
    Documentos


    Iara Lis Schiavinatto
    Artigos


    Daniela Lucena



    Evelyn Furquim Werneck Lima




    Angélica Ricci Camargo

    Adriano Luiz Duarte

    Fábio Henrique Lopes

    Juliana Pereira Ramalho
    Resenhas


    Jean Luiz Neves Abreu



    Ana Paula Spini



    Miliandre Garcia

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    Chamada de artigos: História Oral: desafios metodológicos e éticos.


    História Oral: desafios metodológicos e éticos.



    A Revista Tempos Históricos, periódico científico semestral do Programa de Pós-Graduação em História e do Curso de Graduação em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, publicada nas versões impressa e eletrônica , vem a público comunicar chamada de artigos referente a 2013:

    Tema do dossiê do volume 17, n.2: "História Oral: desafios metodológicos e éticos" - correspondente ao 2º semestre de 2013. Coordenação: Coordenação da Profª Drª Méri Frotscher (UNIOESTE) e Prof. Dr. Robson Laverdi (UNIOESTE/UEPG). Data limite para recebimento de colaborações: 30 de agosto de 2013.


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    terça-feira, 2 de abril de 2013

    Arquivo Público do Estado publica acervo do Deops na internet


    Documentos produzidos pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo e outros órgãos de vigilância, em duas ditaduras brasileiras, são digitalizados e disponibilizados em site (Mauricio Rummens/GESP) 
     

    Arquivo Público do Estado publica acervo do Deops na internet

    02/04/2013
    Por Frances Jones
    Fonte: Agência FAPESP – O Arquivo Público do Estado de São Paulo lançou oficialmente na segunda-feira (01/04) uma parte importante do seu acervo digitalizado na internet, no site "Memória Política e Resistência". O material inclui mais de 274 mil fichas e 12,8 mil prontuários produzidos pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops), pelo Departamento de Comunicação Social e pelo Dops de Santos ao longo de um período que abrangeu duas ditaduras brasileiras.
    O projeto teve apoio da FAPESP, que auxiliou a compra de equipamentos para a digitalização, do Ministério da Justiça (projetos "Marcas da Memória") e da Casa Civil da Presidência da República (projeto "Memórias Reveladas").
    O Deops-SP, denominado Delegacia de Ordem Política e Social em sua origem e, posteriormente, como última denominação, Departamento Estadual de Ordem Política e Social, foi criado em 30 de dezembro de 1924, por meio da Lei nº 2.034/24, que visava reorganizar a polícia do Estado.
    "O órgão tinha como objetivo prevenir e reprimir delitos considerados de ordem política e social contra a segurança do Estado. Para isso, desenvolveu um grande aparato para monitoramento das atividades de pessoas e grupos considerados potencialmente perigosos à ordem vigente. Um dos principais instrumentos utilizados por essa vigilância foi a documentação: o acervo Deops-SP foi constituído, ao longo dos anos, pela documentação produzida por esse órgão e também de documentos apreendidos pelos órgãos de repressão. Sendo assim, podemos entendê-la como um espelho da forma de funcionamento das estruturas repressivas no Estado de São Paulo", destacam os organizadores do site.
    O acervo do Deops é composto por quatro conjuntos principais: Ordem Social, Ordem Política, Dossiês e Prontuários. Também conta com publicações como os Livros de Portaria do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo e Livros de Inquéritos.  
    "O esforço de digitalização e publicação dos documentos do Deops, assim como nosso trabalho de gestão documental, garante o acesso da população às informações que lhe dizem respeito", disse o coordenador do Arquivo Público do Estado, Carlos Bacellar.
    Lauro Ávila Pereira, diretor do Departamento de Preservação e Difusão do Acervo, lembrou outro aspecto da publicação online desses documentos. "Esta iniciativa pode ajudar a identificação daqueles agentes públicos que, durante a época da ditadura, cometeram violações dos Direitos Humanos. Temos que lembrar que o Brasil é um dos poucos países da América do Sul onde esse tipo de crime jamais foi punido", disse. Pereira ressaltou também a importância didática do acervo na internet, que pode ser utilizado pelos professores em sala de aula com mais facilidade. 
    O governador Geraldo Alckmin participou da cerimônia de lançamento. "As pessoas podem ter acesso de casa, não tem nenhuma senha, é tudo público. É muito importante no sentido de transparência e de informação para as famílias das vítimas do período da ditadura", disse.
    Projetos Temáticos
    Entre 1924 e 1983, o Deops vigiou pessoas, instituições e movimentos políticos e sociais, funcionando como um dos principais braços da repressão do Estado brasileiro, em especial durante o primeiro governo Vargas (1930-1945) e do regime militar de 1964 a 1985.
    O site é a segunda etapa de um projeto maior iniciado pelo Proin - Projeto Integrado Arquivo do Estado/Universidade de São Paulo (USP) em 1999. O material sobre o órgão foi liberado para consulta pública apenas em 1994, quase dez anos após o fim da ditadura. Os documentos, no entanto, eram de difícil acesso. "Não havia ainda uma base de dados que facilitasse a busca de processos por cidadãos fichados e/ou presos por crime político", disse a pesquisadora Maria Luiza Tucci Carneiro, professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, pioneira no estudo do material.
    Depois de desenvolver entre 1995 e 1996 com outros seis pesquisadores um projeto financiado pelo Instituto Goethe sobre a presença de nazistas e refugiados judeus no Brasil depois da 2ª Guerra Mundial, Tucci Carneiro obteve apoio da FAPESP por meio da modalidade Projetos Temáticos para a criação de um arquivo virtual dos documentos do Deops – contribuindo com um inventário para o site que foi lançado agora.
    O trabalho desenvolvido ao longo de cerca de oito anos pode ser conferido no site do Proin, que ainda hoje publica os resultados de suas pesquisas. Sob a orientação de Tucci Carneiro, uma equipe de 30 pesquisadores digitou a partir de 1999 as mais de 185 mil fichas da delegacia. "Na época não tínhamos equipamentos nem uma base de dados capazes de efetuar uma busca avançada junto às fichas policiais", disse a coordenadora do projeto.
    Desde o ano 2000, as fichas nominais dos prontuários podem ser consultadas pela internet, com a identificação do nome do "prontuariado" e o número do processo.
    Além disso, foram digitalizadas e colocadas no site as primeiras páginas dos jornais, panfletos e livros confiscados durante os autos de busca nas residências dos suspeitos ou das associações. Sob a coordenação do professor Boris Kossoy, da Escola de Comunicação e Artes da USP, o Proin desenvolveu ainda um inventário de fotografias confiscadas dos álbuns de família ou produzidas pelo Laboratório de Fotografia do Gabinete de Investigação/Deops, que eram anexadas aos prontuários.
    "Através do projeto de digitalização do Fundo Deops entre 1999-2010, conhecemos não apenas o documento/artefato, mas também conseguimos recuperar a lógica da polícia naquela época", disse.
    Além de Tucci Carneiro e Kossoy, participaram do projeto do Proin as professoras Elizabeth Cancelli (FFLCH-USP), Priscila Perazzo (Universidade Santo André), Regina Pedroso (Universidade Mackenzie), os professores Carlos Alberto Boucault, Pádua Fernandes e Álvaro Andreucci (Uninove).  Outro projeto temático com apoio da FAPESP foi desenvolvido por Maria Aparecida Aquino, hoje da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que mapeou a série Dossiês/Deops.
    Nos prontuários, tem-se acesso a ficha policial, relatórios de investigação, ordens de prisão, relação de impressos apreendidos (livros, jornais, panfletos), tudo o que ajudasse a "provar" que a pessoa vigiada era criminosa, incluindo fotos de álbuns de família e as produzidas pela própria polícia. "Os prontuários têm documentação valiosíssima", disse Tucci Carneiro.
    Se na primeira etapa as fichas foram digitadas e apenas parte do material digitalizado, agora o prontuário poderá ser consultado online na íntegra, facilitando o trabalho de pesquisadores.
    O material já rendeu muitas dissertações de mestrado e teses de doutorado, além de livros, como A Imprensa Confiscada pelo Deops, 1924-1983, escrito por Tucci Carneiro em coautoria com Boris Kossoy (Ateliê Editorial; Imprensa Oficial e Arquivo do Estado, 2003), que foi premiado com o Jabuti em 2004, na categoria Ciências Humanas. Dois novos inventários estão prestes a ser lançados, sob a organização de Tucci Carneiro:"Panfletos sediciosos" e "É proibido ler: livros e as bibliotecas proibidas".
    Agora, o material está sendo disponibilizado na íntegra, mas por partes. Calcula-se que o conteúdo que já está no ar forma 10% do que virá a ser disponibilizado.


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    segunda-feira, 1 de abril de 2013

    A Corrupção na ditadura militar

     


    A Corrupção na ditadura militar


    Maluf, Gaspari, Cesar Civita, Victor Civita, João Figueiredo e Augusto Nunes
    Moralismo capenga

    O combate à corrupção foi palavra de ordem durante a ditadura. Nos porões do regime, porém, a ilegalidade prevaleceu.


    Combater a corrupção e derrotar o comunismo: esses eram os principais objetivos que fermentavam os discursos nos quartéis, às vésperas do golpe que derrubou o governo João Goulart, em março de 1964. A noção de corrupção dos militares sempre esteve identificada com uma desonestidade específica: o mau trato do dinheiro público. Reduzia-se a furto. Na perspectiva da caserna, corrupção era resultado dos vícios produzidos por uma vida política de baixa qualidade moral e vinha associada, às vésperas do golpe, ao comportamento viciado dos políticos diretamente vinculados ao regime nacional-desenvolvimentista.
    Animado por essa lógica, tão logo iniciou seu governo, o marechal Castello Branco (1964-1967) prometeu dar ampla divulgação às provas de corrupção do regime anterior por meio de um livro branco da corrupção – promessa nunca cumprida, certamente porque seria preciso admitir o envolvimento de militares nos episódios relatados. Desde o início o regime militar fracassou no combate à corrupção, o que se deve em grande parte a uma visão estritamente moral da corrupção.
    Essa redução do político ao que ele não é – a moral individual, a alternativa salvacionista – definiu o desastre da estratégia de combate à corrupção do regime militar brasileiro, ao mesmo tempo em que determinou o comportamento público de boa parte de seus principais líderes, preocupados em valorizar ao extremo algo chamado de decência pessoal.
    Os resultados da moralidade privada dos generais foram insignificantes para a vida pública do país. O regime militar conviveu tanto com os corruptos, e com sua disposição de fazer parte do governo, quanto com a face mais exibida da corrupção, que compôs a lista dos grandes escândalos de ladroagem da ditadura. Entre muitos outros estão a operação Capemi (Caixa de Pecúlio dos Militares), que ganhou concorrência suspeita para a exploração de madeira no Pará, e os desvios de verba na construção da ponte Rio–Niterói e da Rodovia Transamazônica. Castello Branco descobriu depressa que esconjurar a corrupção era fácil; prender corrupto era outra conversa: "o problema mais grave do Brasil não é a subversão. É a corrupção, muito mais difícil de caracterizar, punir e erradicar".
    A declaração de Castello foi feita meses depois de iniciados os trabalhos da Comissão Geral de Investigações. Projetada logo após o golpe, a CGI conduzia os Inquéritos Policiais-Militares que deveriam identificar o envolvimento dos acusados em atividades de subversão da ordem ou de corrupção. Com jurisdição em todo o território nacional, seus processos obedeciam a rito sumário e seus membros eram recrutados entre os oficiais radicais da Marinha e da Aeronáutica que buscavam utilizar a CGI para construir uma base de poder própria e paralela à Presidência da República.
    O Ato Institucional n.º 5, editado em 13 de dezembro de 1968, deu início ao período mais violento e repressivo do regime ditatorial brasileiro – e, de quebra, ampliou o alcance dos mecanismos instituídos pelos militares para defender a moralidade pública. Uma nova CGI foi gerada no âmbito do Ministério da Justiça com a tarefa de realizar investigações e abrir inquéritos para fazer cumprir o estabelecido pelo Artigo 8º. do AI-5, em que o presidente da República passava a poder confiscar bens de "todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública".
    Para agir contra a corrupção e dar conta da moralidade pública, os militares trabalharam tanto com a natureza ditatorial do regime como com a vantagem fornecida pela legislação punitiva. Deu em nada. Desde 1968 até 1978, quando foi extinta pelo general Geisel, a CGI mancou das duas pernas. Seus integrantes alimentaram a arrogante certeza de que podiam impedir qualquer forma de rapinagem do dinheiro público, através da mera intimidação, convocando os cidadãos tidos como larápios potenciais para esclarecimentos.
    A CGI atribuiu-se ainda a megalomaníaca tarefa de transformar o combate à corrupção numa rede nacional, atuando ao mesmo tempo como um tribunal administrativo especial e como uma agência de investigação e informação. Acabou submergindo na própria mediocridade, enredada em uma área de atuação muito ampla que incluía investigar, por exemplo, o atraso dos salários das professoras municipais de São José do Mipibu, no Rio Grande do Norte; a compra de adubo superfaturado pela Secretaria de Agricultura de Minas Gerais e as acusações de irregularidades na Federação Baiana de Futebol. Entre 1968 e 1973 os integrantes da comissão produziram cerca de 1.153 processos. Desse conjunto, mil foram arquivados; 58 transformados em propostas de confisco de bens por enriquecimento ilícito, e 41 foram alvo de decreto presidencial.
    Mas o fracasso do combate à corrupção não deve ser creditado exclusivamente aos desacertos da Comissão Geral de Investigações ou à recusa de membros da nova ordem política em pagar o preço da moralidade pública. A corrupção não poupou a ditadura militar brasileira porque estava representada na própria natureza desse regime. Estava inscrita em sua estrutura de poder e no princípio de funcionamento de seu governo. Numa ditadura onde a lei degradou em arbítrio e o corpo político foi esvaziado de seu significado público, não cabia regra capaz de impedir a desmedida: havia privilégios, apropriação privada do que seria o bem público, impunidade e excessos.
    A corrupção se inscreve na natureza do regime militar também na sua associação com a tortura – o máximo de corrupção de nossa natureza humana. A prática da tortura política não foi fruto das ações incidentais de personalidades desequilibradas, e nessa constatação reside o escândalo e a dor. A existência da tortura não surgiu na história desse regime nem como algo que escapou ao controle, nem como efeito não controlado de uma guerra que se desenrolou apenas nos porões da ditadura, em momentos restritos.
    Ao se materializar sob a forma de política de Estado durante a ditadura, em especial entre 1969 e 1977, a tortura se tornou inseparável da corrupção. Uma se sustentava na outra. O regime militar elevou o torturador à condição de intocável: promoções convencionais, gratificações salariais e até recompensa pública foram garantidas aos integrantes do aparelho de repressão política. Caso exemplar: a concessão da Medalha do Pacificador ao delegado Sérgio Paranhos Fleury (1933-1979).
    A corrupção garantiu a passagem da tortura quando esta precisou transbordar para outras áreas da atividade pública, de modo a obter cumplicidade e legitimar seus resultados. Para a tortura funcionar é preciso que na máquina judiciária existam aqueles que reconheçam como legais e verossímeis processos absurdos, confissões renegadas, laudos periciais mentirosos. Também é necessário encontrar gente disposta a fraudar autópsias, autos de corpo de delito e a receber presos marcados pela violência física. É preciso, ainda, descobrir empresários dispostos a fornecer dotações extra-orçamentárias para que a máquina de repressão política funcione com maior precisão e eficácia.
    A corrupção quebra o princípio da confiança, o elo que permite ao cidadão se associar para interferir na vida de seu país, e ainda degrada o sentido do público. Por conta disso, nas ditaduras, a corrupção tem funcionalidade: serve para garantir a dissipação da vida pública. Nas democracias – e diante da República – seu efeito é outro: serve para dissolver os princípios políticos que sustentam as condições para o exercício da virtude do cidadão. O regime militar brasileiro fracassou no combate à corrupção por uma razão simples – só há um remédio contra a corrupção: mais democracia.

    Heloisa Maria Murgel Starling é professora de História da Universidade Federal de Minas Gerais e co-autora de Corrupção: ensaios e críticas (Editora da UFMG, 2008).

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    terça-feira, 26 de março de 2013

    A formação econômica e social do Brasil sob nova ótica

    A formação econômica e social do Brasil sob nova ótica

      Fonte: PRAVDA.ru Em Portuguese 26.03.2013
    A formação econômica e social do Brasil sob nova ótica. 18018.jpeg
    A historiografia econômica brasileira marcou-se pela elabo­ração, ainda na primeira metade do século XX, de uma interpre­tação acerca do processo de for­mação econômica e social do Brasil assentada na ênfase posta na produção para exportação.
    Iraci del Nero da Costa *
    José Flávio Motta **
    1. O modelo de Caio Prado Júnior

    A historiografia econômica brasileira marcou-se pela elabo­ração, ainda na primeira metade do século XX, de uma interpre­tação acerca do processo de for­mação econômica e social do Brasil assentada na ênfase posta na produção para exportação. Assim, em Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia, publi­cado em 1942, Caio Prado Júnior explicitava o sentido da colonização, conceito fundamental a embasar a aludida in­terpretação: "No seu conjunto, e vista no plano mundial e internacional, a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta em­presa comercial, mais completa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sentido da colonização tropical,de que o Brasil é uma das resultantes: e ele explicará os elementos funda­mentais, tanto no econômico como no social, da formação e evolução históricas dos trópicos americanos. {...} Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamantes; depois, algodão, e em seguida café, para o comércio europeu. Nada mais que isto. E com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse  daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura, bem como as atividades do país." (PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia. 17a. ed., São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 31-32).
      É sabida, e indiscutível, a im­portância do modelo interpreta­tivo proposto por Caio Prado Júnior para a compreensão de nossa formação histórica. To­davia, ainda que tenha sido inegável a relevância ímpar, nas etapas colonial e imperial da história brasileira, das ativi­dades direcionadas à expor­tação, sedimentava-se na histo­riografia um viés exportador, que passava a nortear os traba­lhos produzidos na área.[i] Em outras palavras, no modelo pradiano ao se "{...} pensar a constituição da economia brasileira como uma mera pro­jeção  imediata  do  capital comercial no plano da pro­dução {...} perde-se de vista, assim, o que hodiernamente chamaríamos 'Brasil real' e se privilegia desmesuradamente o 'Brasil exportacionista', vale dizer, o segmento econômico voltado para os mercados mundiais." (COSTA, Iraci del Nero da. Repensando o modelo interpretativo de Caio Prado Júnior. Cadernos NEHD, n. 3. São Paulo: NEHD-FEA/USP, 1995, p. 3-4).[ii] Paten­teiam-se, dessa forma, as limi­tações características do modelo em questão, pois, neste Brasil real, "{...} as articulações presentes na sociedade brasileira sobrepujavam largamente um mero empreendimento dirigido pelo capi­tal comercial e imediatamente voltado para o mercado mundial e dele totalmente dependente. Neste sentido tratava-se de urna economia com expressivos traços de integração endógena e que comportava uma gama diversifi­cada de atividades produtivas votadas para o atendimento de suas próprias necessidades, dando-se, também, processos in­ternos de acumulação. Disto decorria a geração, na órbita doméstica, de condições que per­mitiam um espaço econômico re­lativamente autônomo vis-à-vis a economia internacional e o capital comercial, espaço econômico este ao qual, ademais, deve-se atribuir expressivo contributo no que tange à formação da renda e do produto." (COSTA, op. cit., 1995, p. 20).

    2. Algumas críticas ao modelo pradiano
    As críticas ao modelo de Caio Prado Júnior, que marcam o evolver da historiografia a partir de meados dos anos 1960 e, so­bretudo, no decênio de 1970, não obstante as discrepâncias, muitas vezes de fundo, que as diferenciam umas das outras, apresentam a característica comum de defenderem a neces­sidade, para um melhor entendi­mento do processo de formação econômica e social do Brasil, de se voltar a atenção, essencialmente, para o universo colonial, propugnando-se uma efetiva in­flexão "para dentro" da economia brasileira. Compondo as criticas aludidas, destacam-se as inter­pretações de Antônio Barros de Castro, Ciro Flamarion S. Car­doso e Jacob Gorender.
    Para Castro, mais além da finalidade de servir aos interesses do comércio europeu, punha-se à estrutura socioeconômica estabelecida na colônia brasileira a tarefa de reproduzir-se a si mesma: "A produção em massa de mercadorias cria raízes no Novo Mundo, objetivando-se sob a forma de um complexo aparato produtivo. O 'objetivo' maior desta realidade - o seu 'sentido' se se quiser - lhe é agora ine­rente: atender as suas múltiplas necessidades, garantir a sua re­produção. Em tais condições o comércio é estruturalmente recolocado e os interesses mercantis - bem como os da Coroa - terão necessariamente de ter em conta as determinações que se estabelecem no nível da produção. Em outras palavras, a forma pela qual os interesses ex­ternos atuam sobre a colônia passa a depender 'primeiramente da sua solidez e da sua estrutura interna'. O 'projeto' co­lonial e/ou mercantilista subsiste, sem dúvida; o seu raio de incidência - especialmente em conjunturas adversas - fica no entanto severamente limitado pelo surgimento na colônia de uma estrutura socioeconômica, com seus elementos de rigidez, suas regularidades, seus interesses e, por último, mas também importante, pelos conflitos que lhe são próprios."  (CASTRO, Antônio Barros de. A economia política, o capitalismo e a escravidão. In: AMARAL LAPA, José Roberto do (org.). Modos de produção e realidade brasileira. Petrópolis: Vozes, 1980, p. 88-89). 3
    Proposição semelhante é evocada por Gorender: "Focalizando agora a linha de interpretação que se concentrou no mercado e dele fez a chave explicativa da economia colonial, constatamos um resultado invariável desse procedimento metodológico: a so­breposição da esfera da circu­lação às relações de produção. {...} A desobstrução metodológica impõe a inversão radical do enfo­que: as relações de produção da economia colonial precisam ser estudadas de dentro para fora, ao contrário do que tem sido feito, isto é, de fora para dentro." (GORENDER, Jacob. O escravismo colo­nial. 4a. ed. São Paulo: Ática, 1985, p. 6-7). Como corolário da  "inversão radical" por ele proposta, Goren­der desenvolve o conceito de modo de produção escravista colonial, com o qual pretende dar conta do processo de for­mação econômica da colônia brasileira. Na mesma direção - e com anterioridade - caminha a critica de Ciro Flamarion Cardoso ao circulacionismo e à chamada "teoria do capitalismo comercial": "el carácter de uma formación económica y social debe buscarse básicamente en la esfera de la producción". Para Cardoso, ademais, a re­jeição à ênfase desmedida na esfera da circulação, aliada à crítica igualmente contundente ao  dogmatismo  presente  no esquema stalinista de evolução das sociedades, implica a espe­cificidade do regime colonial: "en mi opinión, la especificidad de las estructuras internas coloniales y de su génesis histórica {...} impone la elaboración de uma teoria de los modos de producción coloniales, partiéndose del principio que dichas estructuras son  específicas y dependientes." (CARDOSO, Ciro Flamarion S. Severo  Martínez Peláez y el caráter del régimen colonial. In: ASSADOURIAN, Carlos Sempat et alii. Modos de producción en América Latina. 3a.ed. Córdoba: Cuadernos de Pasado y Presente, Buenos Aires: Siglo XXI, 1975, p. 86).

    3. A produção historiográfica recente
    A década de 1970, além dos de­senvolvimentos teóricos referidos no item 2 acima, colocou-se igualmente como marco inicial de produção de um vasto material historiográfico assentado na integração de fontes primárias de variados tipos. Essa produção - na qual se inserem com destaque os trabalhos realizados no campo da demografia histórica 4 - evidenciou, à sacie­dade, a relevância dos processos econômicos que se davam na ór­bita  interna da economia brasileira e, por essa via, corroborou, com farto em­basamento empírico, a insufi­ciência da "visão exportacionista" à la Caio Prado. Mais ainda, essa mesma produção historiográfica, amiúde de caráter monográfico, ao ilustrar, cabal e inequivocamente, a multiplici­dade e a complexidade defini­doras do universo colonial, tor­nou igualmente evidentes as limitações postas no plano teórico em decorrência da utili­zação do conceito de modo de produção colonial.
    Assim, por exemplo, como lidar, no âmbito de um modo de pro­dução escravista colonial, com o largo segmento formado pelos indivíduos não-proprietários de cativos? Afinal, tais indivíduos, conforme verificado por Iraci Costa (COSTA, Iraci del Nero da. Arraia-miúda: um estudo sobre os não-pro­prietários de escravos no Brasil. São Paulo: MGSP, 1992), dominavam amplamente a produção de mantimentos (ar­roz, feijão, milho, mandioca), de algodão e a pesca; eram, em suma, "{...} participes ativos do mundo produtivo. Faziam-se pre­sentes em todas as culturas, mesmo nas de exportação, vincu­lavam-se às lidas criatórias, ao fabrico e/ou beneficiamento de bens de origem agrícola e com­pareciam com relevo nas atividades artesanais. Suas apou­cadas posses, é evidente, limitavam e condicionavam sua presença, a qual, não obstante, não pode ser negada nem deve ser subestimada."   (COSTA, op. cit., 1992, p. 111).

    4. O "mosaico de formas não-capitalistas de produção"
    Tornou-se, portanto, patente, a dificuldade de integrar, às inter­pretações vigentes acerca de nossa formação econômica e so­cial, a complexidade e riqueza características da realidade Colo­nial brasileira. Essa realidade não se via apreendida pelas análises centradas quase exclusivamente nas atividades de ex­portação; de outra parte, dita realidade "vestia", com evidente desconforto, a camisa-de-força representada pelo conceito de modo de produção.
    Os anos 1990 trouxeram à luz duas importantes tentativas de superar o impasse vivenciado pela historiografia. Em uma de­las, explicitada no trabalho de Fragoso (FRAGOSO, João Luís Ribeiro. Homens de grossa aventura: acumulação e hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1992), a crítica aos modelos explicativos tradicionais é acompanhada da ênfase no conceito de formação econômico-social, trazido ao cerne da análise com o intuito de superar as limi­tações postas pela noção de modo de produção. O avanço historiográfico das últimas décadas é incorporado pelo autor enquanto compondo um "mosaico de formas não-capitalistas de produção", manifesto na produção escravista de ali­mentos no Rio de Janeiro, no complexo agropecuário que se estabelece na região das Minas Gerais, com base no trabalho de escravos e camponeses e dire­cionado para o abastecimento interno, nas fazendas de criação e na agricultura de alimentos presentes em São Paulo e, por fim, na região sul, na produção camponesa de alimentos, na charqueada escravista e nas estâncias gaúchas.
    Nas palavras de Fragoso: "a existência de um mercado doméstico e de segmentos produtivos para ele voltados introduz um novo elemento na lógica de funciona­mento da formação colonial - referimo-nos à possibilidade de reproduções endógenas. {...} o processo de reprodução desses segmentos se dá em meio ao mercado interno, constituindo-se, assim, em movimentos de acu­mulações introversas na eco­nomia colonial. Disso infere-se uma maior possibilidade de re­tenção do sobretrabalho na própria economia colonial e, por­tanto,  de  autonomia  dessa última, diante de flutuações externas. {...} Em realidade, a possibilidade de se apreender os movimentos de acumulação endógena à economia colonial prende-se à compreensão dessa última   enquanto formação econômico-social. Desse modo, aquela acumulação resultaria, a princípio, da interação mercantil dos processos de reprodução do escravismo colonial com os setores produtivos ligados ao mer­cado doméstico." (FRAGOSO, op. cit., 1992, p. 131-132).
    A interpretação proposta por Fragoso apresenta-se passível de crítica em dois aspectos funda­mentais. Em primeiro lugar, o entendimento da economia colonial enquanto formação econômico-so­cial encobre, mas não resolve, a impropriedade presente na utilização do conceito de modo de produção ("problema" que Fragoso, aliás, compartilha com Ciro Cardoso e Jacob Gorender): "A impropriedade está, justamente, em conceber abstra-tamente o conjunto de cate­gorias 'modos  de produção'. Segundo nossa visão, os distintos modos de produção identificados por Marx devem ser entendidos como um continuum do qual o capitalismo ê o ponto culminante, e o é porque, a partir de sua efetivação, a ­história, além de se fazer univer­sal, conhece uma mudança qualitativa, de sorte que se torna impossível dissociar as distintas sociedades ou áreas do planeta - a solidariedade que as une é dada e explicada pelo capital e ­pelo capitalismo. Disto se infere, ­em primeiro, a impossibilidade de emparelharmos os distintos ­modos de produção - ao fazê-lo operamos uma abstração -; em segundo, a impertinência de 'procurarmos' novos modos de ­produção depois de fundada, ­pelo capitalismo, a história universal. Posta esta e, correlatamente, o mercado mundial,  persiste, apenas, o modo de pro­dução capitalista - que a tudo ilu­mina, parafraseando a imagem clássica. Segundo nossa leitura de Marx, a superação 'deste' modo de produção significa a superação da própria categoria, a pré-história devirá história; o homem, até então pressuposto, devirá sujeito." (COSTA, Iraci del Nero da. Nota sobre a não existência de modos de produção coloniais.   São Paulo: IPE/USP, 1985, p. 3). 5
    O segundo dos aspectos fundamentais da interpretação de Fragoso que deve ser sopesado diz respeito à radicalização da crítica ao modelo de Caio Prado Júnior mediante a defesa de uma reprodução autônoma da economia brasileira. Há, aqui, que reproduzir o seguinte ques­tionamento, de Ciro Cardoso: "Tendo combatido por muitos anos as posturas que enfatizam unilateralmente as relações metrópole-colônia ou centro-periferia, a extração de excedentes, o capital mercantil (hipostasiado em 'capitalismo comercial') e mais em geral a circulação de mercadorias como locus explicativo privilegiado, só posso me regozijar com esses novos e sólidos argumentos {dos estudos preo­cupados em evitar o viés expor­tador - INC/JFM}.  Desde que, também neste caso, não se ceda à tentação de mais uma ênfase unilateral. {As análises que in­corporam tais argumentos­ INC/JFM} não estarão esquecendo exageradamente, empurrando um tanto para fora do horizonte, a dependência colonial e neocolo­nial - e as determinações e condi­cionamentos que ela sem qualquer dúvida implicava (ainda que tais análises tenham demonstrado que algumas das determinações imputadas a fatores externos eram falsas)? Fique como questão a ser pensada esta minha dúvida." (CARDOSO, Ciro Flamarion S. et alii. Escravidão e abolição no Brasil: novas perspectivas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988, p. 58).

    5. O capital escravista-­mercantil
    A segunda das interpretações trazidas à luz nos anos 1990 e que aqui se deseja salientar é aquela centrada no conceito de capital escravista-mercantil, elabo­rada por Costa & Pires. 6 Por um lado, preocupa-se em fugir à radicali­zação da crítica ao modelo pradiano. Dessa forma, ainda que se tenha em mente a complexidade da realidade colonial, cada vez mais esmiuçada pela historiografia no decurso dos últimos lustros, não se nega que a so­ciedade escravista moderna "{...} é a própria encarnação da dependência com respeito ao mundo exterior, seja quanto à colocação de parcela substantiva do produto gerado, seja no respeitante à sua própria manutenção no tempo, pois necessitava, crucialmente, do fornecimento externo de mão de obra cativa." (COSTA, op. cit., 1995, p. 25). 7
    Nessa perspectiva, a critica a Caio Prado assume o seguinte teor: a limitação que marca seu modelo "{...} deveu-se ao fato de ele haver transposto para o plano fenomênico, sem as necessárias e devidas mediações, elementos próprios do que considerou a essência de nossa formação e da sociedade aqui constituída. Reduzido, assim, o plano do con­creto, ao que se poderia entender ser seu determinante em última instância, a elementos de sua pretensa 'essência' - que não se exaure em tais elementos, diga-se com ênfase -, resta-nos um caricatura de vida econômica e social, desfigurada, rígida, des­carnada, apartada da experiência do dia a dia, perdem-se a especifícidade e as peculiari­dades do escravismo moderno {...} e se fica ás voltas com um 'sentido' abstrato, imaterial, que faz com que nos sintamos tão in­comodados, tão 'desconfortáveis' quando confrontamos  nossa visão daquela sociedade com a que derivamos da leitura dos escritos de Caio Prado Júnior." (COSTA, op. cit., 1995, p. 26).
    De outra parte, a categoria capi­tal escravista-mercantil substi­tui, na interpretação ora enfo­cada, o papel desempenhado pelo modo de produção (em Gorender e Ciro Cardoso) e pela formação econômico-social (em Fragoso): "Assim, no caso da colônia lusa em terras americanas, a criação da mais-valia decorria da ação do capital escravista-mercantil, vale dizer, embora isolado dos mercados externos e, portanto da órbita da circulação {...}, a esfera da produção interna colocava-se inteiramente em sua órbita e era dominada pelo capital escravista-mercantil. Tal dominância, que não deve ser entendida em termos absolutos, estendia-se à produção de mercadorias (exportáveis ou não), de valores de uso e de serviços, abarcando também a alocação de fatores e recursos e espraiando-se pela circulação interna. Afetava, ainda, a geração e distribuição da renda, a escala da produção, o tamanho das plantas instaladas, as técnicas utilizadas e os elementos afetos à qualificação da mão de obra. Enfim, sua pre­sença condicionava toda a economia colonial, bem como as relações estabelecidas no pro­cesso de produção, projetando-­se, ademais, na vida social e política da colônia. Disso deve-se inferir que os segmentos sociais e econômicos não vinculados ime­diatamente ao escravismo tam­bém se viam influenciados e, em larga medida, determinados {...} pelo capital escravista-mercantil {...} o qual só podia se comunicar com o mundo que lhe era externo medi­ante a intermediação do capital comercial." (PIRES, Julio Manuel & COSTA, Iraci del Nero da. O Capital Escravista-Mercantil e a escravidão nas Américas. São Paulo, EDUC/FAPESP, 2010, p. 21-22 e 23)
    A caracterização do capital escravista-mercantil - sua "onipresença" - sedimenta, outrossim, a crítica aos modelos interpreta­tivos que o antecederam, pois "{...} é justamente em tamanha dominância que se assenta o en­gano daqueles que pensam encontrar aqui o assim chamado 'escravismo capitalista' ou propugnam pela existência de um pretenso modo de produção colonial." (PIRES & COSTA, op. cit., 2010, p. 22). Adicionalmente, a riqueza e, ao mesmo tempo, "simplicidade" teórica do con­ceito capital escravista-mer­cantil evidencia o profícuo caminho trilhado pela histo­riografia, em termos da dis­cussão, sempre bem-vinda, do processo de formação econômica e social do Brasil, calcada agora em categorias originais e mais adequadas à nossa realidade, superando-se, assim, o vezo próprio dos que têm tentado explicar o aludido processo com base na utilização de um universo conceptual erigido, sobretudo, em termos do desenvolvimento histórico observado na Europa Ocidental.


    * Professor Livre-docente aposentado da Universidade de São Paulo.
    ** Professor Livre-docente da Universidade de São Paulo.
     
     
    NOTAS


    [i] Caso, por exemplo, de FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 17a. ed., São Paulo: Na­cional, 1980 e de NOVAIS, Fernando Antônio. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema co­lonial  (1777-1808). São Paulo: Hucitec, 1979.

    [ii] Compondo igualmente este viés expor­tador, a própria população brasileira viu-se enfocada mediante a ênfase nos contingentes particularmente presentes na produção para exportação, isto é, a mão de obra escrava e o con­junto dos proprietários de cativos, relegando-se os demais à marginali­dade econômica e social. Dessa forma, assevera Prado Júnior: "Entre estas duas categorias {senhores e escravos - INC/JFM} nitidamente definidas e entrosadas na obra da coloni­zação, comprime-se o número, que vai avultando com o tempo, dos desclassi­ficados, dos inúteis e inadaptados; indivíduos de ocupações mais ou menos incertas e aleatórias ou sem ocupação alguma. {...} O número deste elemento indefinido socialmente, é avantajado {...} compreenderia com certeza a grande, a imensa maioria da população livre da colônia. Compõe-se, so­bretudo, de pretos e mulatos forros ou fugidos da escravidão: índios {...}; mestiços de todos os matizes e cate­gorias {...}; até brancos, brancos puros, e entre eles, {...} até rebentos de tron­cos portugueses ilustres {...}; os nossos poor white, detrito humano segregado pela colonização escravocrata e rígida que os vitimou." (PRADO JÚNIOR, 1981, p. 281-282).

    3 Saliente-se que a crítica de Castro é igualmente pertinente quando se toma o enfoque teórico de Fernando Novais acerca do sentido da coloni­zação: "{...} a colonização do Novo Mundo, na Época Moderna, apresenta-­se como peça de um sistema, instrumento da acumulação primitiva da época do capitalismo mercantil. Aquilo que {...} afigurava-se como um simples projeto, apresenta-se agora consoante com o processo histórico concreto de constituição do capitalismo e da sociedade burguesa. Completa-se, entrementes, a conotação do sentido profundo da colonização: comercial e capitalista, isto é, elemento consti­tutivo no processo de formação do capitalismo moderno" (NOVAIS, op. cit., 1979, p. 70). Sobre esta abordagem, escreve Castro: "Observe-se que, para efeitos da interpretação da estrutura econômico-social da colônia, o fato de que em Novais o 'sentido último' é dado pela 'aceleração da acumulação primitiva de capitais' {...}, e não pelos interesses do comércio europeu (como quer Caio Prado), em pouco ou nada os diferencia. A substituição do 'objetivo' pelo 'significado' apenas evita (ou melhor, oculta) a teleologia patente em Caio Prado" (CASTRO, op. cit., 1980, p. 88, nota de rodapé n.  74).

    4 Acerca da contribuição da demografia histórica à historiografia brasileira ver  MOTTA, José Flávio. Contribuições da demografia  histórica à historiografia brasileira. In: Anais do IX Encontro Nacional de Estudos Popu­lacionais. Belo Horizonte: ABEP, 1994, vol. 3, p. 273-295.

    5 Sobre o entendimento do capitalismo como forma superior e derradeira da existência natural da sociabilidade humana, ver MOTTA, José Flávio & COSTA, Iraci del Nero da. O fim da história, o inicio da história. Informações Fípe. São Paulo: FIPE, n. 172, p. 20-23, ja­neiro/1995 e MOTTA, José Flávio & COSTA, Iraci del Nero da. O fim da história, o inicio da história: um adendo. Infor­mações Fipe. São Paulo: FIPE, n. 174, p. 21-23, março/1995.

    6 Para uma visão pormenorizada da categoria "capital escravista-mercantil" veja-se:

    7 Este último elemento da dependência da sociedade escravista, cabe frisar, não se vê absolutamente negado quando, como o faz Fragoso, "{...} consideramos o tráfico atlântico, desde meados do século XVIII, como um negócio interno à economia do Sudeste brasileiro. E isso por uma boa razão: ele era controlado por negociantes residentes no Brasil. Esse fenômeno trans­formava tal negócio em uma operação integrada aos movimentos de acumulação interna à economia colonial" (FRAGOSO, op. cit., 1992, p. 131-132).

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