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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

** Nota da ANPUH: O STF não sabe o que é História

Fonte: JC e-mail 4424, de 26 de Janeiro de 2012.
Nota da ANPUH: O STF não sabe o que é História




Segue abaixo manifestação da Associação Nacional de História (ANPUH) sobre a Resolução 474 do STF.

O Ministro Cezar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), promulgou, em 29 de novembro de 2011, a Resolução Nº 474 que "estabelece critérios para atribuição de relevância e de valor histórico aos processos e demais documentos do Supremo Tribunal Federal". O documento causa perplexidade aos historiadores e a todos aqueles que, minimamente, tem acompanhado o desenvolvimento da historiografia contemporânea, em especial por duas razões: por procurar estabelecer "por decreto" o que é ou não histórico e por apontar como subsídios para essa classificação critérios considerados ultrapassados há, pelo menos, um século.

Por esse motivo, a Associação Nacional de História (ANPUH), entidade que congrega os profissionais de história atuantes no ensino, na pesquisa e nas entidades ligadas ao patrimônio histórico-cultural, não poderia deixar de trazer ao público a sua inconformidade com a referida Resolução.

Apesar de seus precursores mais remotos (como os gregos Heródoto e Tucídides), o conhecimento histórico só se estabeleceu como disciplina autônoma e com pretensões científicas no século XIX, acompanhando o processo de surgimento e/ou consolidação dos Estados nacionais. Naquele momento era importante alicerçar em uma narrativa fidedigna, ancorada em provas documentais, a história desses Estados, comprovando sua existência ao longo do tempo e reforçando os laços de identidade entre seus habitantes, com base em uma presumida origem comum.

Não é à toa que, justamente nesse período, surgiram os Arquivos Nacionais, inclusive no Brasil, como forma de reunir e conservar os documentos oficiais que dissessem respeito à "biografia" das jovens nações. Muitos historiadores, por seu turno, voltavam sua atenção aos ditos "acontecimentos consagrados", aos "grandes personagens", aos "fatos marcantes" da história de seus países; acontecimentos, personagens e fatos esses, diga-se de passagem, em geral ligados às elites políticas, econômicas, culturais, militares e intelectuais a quem se atribuía o "fazer da História".

Ora, desde ao menos o final da década de 1920, tal visão do que é ou não histórico foi fortemente contestada pelas principais correntes contemporâneas da historiografia por seu caráter limitado e elitista. Desde então, se sabe que nenhum documento possui "relevância" ou "valor" histórico em si, mas somente a partir das perguntas que o historiador dirige ao passado.

Por exemplo: por muito tempo, não se deu valor às experiências das mulheres na história, ou apenas quando elas participavam de espaços tradicionalmente masculinos como a política e a guerra. Hoje uma das áreas mais desenvolvidas da historiografia brasileira e mundial é, justamente, a história das mulheres, que, para se desenvolver, precisou se utilizar de documentos antes considerados "não históricos" (talvez por envolver mulheres pouco famosas), como registros policiais e documentos judiciais referentes a, por exemplo, violência doméstica, guarda de crianças, brigas entre vizinhos, etc. Neste sentido, um exemplo entre muitos outros é o livro da consagrada historiadora Maria Odila Leite da Silva Dias "Quotidiano e poder no século XIX" cuja leitura indicamos aos ministros do STF, que apresenta as lutas femininas em São Paulo naquele período e as estratégias de sobrevivência de mulheres pobres, talvez "sem valor histórico" na visão desses magistrados, como lavadeiras, quitandeiras, escravas, forras, entre outras.

Enfim, no âmbito do conhecimento histórico contemporâneo, é realmente um equívoco legislar sobre que documentos são históricos ou não, pois, em primeiro lugar, a própria noção do que é histórico também é histórica, variando no tempo e em diferentes sociedades e, em segundo lugar, porque, potencialmente, todo vestígio do passado pode ser uma fonte histórica, dependendo do que queremos conhecer desse passado. O desconhecimento destas idéias pelo órgão superior de nosso Poder Judiciário é estarrecedor.

Também causa espanto a nomeação, pela Resolução, de quem pode atribuir relevância histórica aos documentos do Supremo e quais são os critérios para tal atribuição. Não se menciona nunca a participação de historiadores nesse processo; profissionais que, ao longo de sua formação, espera-se, tomam conhecimento dos debates teóricos e metodológicos antes esboçados. A "atribuição de relevância" caberia, segundo o documento, ao ministro-relator do processo, ao presidente do STF, ao diretor de Secretaria (quando se tratar de processo administrativo) e ao presidente da Comissão Permanente de Avaliação de Documentos - CPAD (quando se tratar de processo arquivado e encaminhado à deliberação da Comissão), ou seja, profissionais que certamente são extremamente qualificados no métier jurídico, mas que também certamente não conhecem, nem têm obrigação de conhecer, as metodologias da pesquisa histórica e as discussões atuais da historiografia.

Não se quer, com isso, criar uma "reserva de autoridade" para os historiadores na atribuição de valor histórico aos documentos. Ao contrário, é saudável e democrático que tal atribuição seja fruto de múltiplos olhares e, no caso do Poder Judiciário, inclua a participação daqueles que o constituem, ou seja, magistrados e servidores. Porém, não se pode liminar essa tarefa a eles, desconsiderando o saber específico dos profissionais de História. Afinal, sem o olhar "treinado" do historiador, como será possível avaliar os processos "cujo assunto seja considerado de grande valor para a sociedade e para o STF", conforme quer a Recomendação? Se cabe aos magistrados determinarem o valor histórico de documentos, será que um dia os historiadores serão chamados a julgar nos tribunais?

Posteriormente afirma-se que a "Coordenadoria de Gestão Documental ou Memória Institucional - CDOC poderá encaminhar sugestão à CPAD para atribuição de relevância em processo enviado para arquivamento definitivo", mas não se informa que profissionais compõem essa comissão. Estarão historiadores entre eles? E mais, caso haja historiadores, eles terão alguma autonomia para fazer valer o seu saber específico ou terão apenas que respaldar, com base, talvez, no medo de perderem funções gratificadas, decisões tomadas por profissionais de outra área?

Sobre isso, diz-se no máximo que a CPDA "PODERÁ [grifo] convocar servidores e profissionais especializados [quais?] para auxiliar nos trabalhos de seleção dos processos e demais documentos de potencial histórico". Que grande concessão! Talvez assim os historiadores possam ser ouvidos! Mas certamente de forma tímida, pois a eles cabe, no máximo, auxiliar quando os doutos magistrados não tiverem certeza se determinado documento é ou não histórico.

Quando a Recomendação lista critérios para determinar documentos "de potencial histórico", a desatualização de quem a elaborou torna-se ainda mais flagrante. Fala-se então de acontecimentos, fatos e situações que tiveram "grande repercussão nos meios de comunicação", como se os fatos com pouca repercussão não possam se revelar, no futuro, extremamente importantes historicamente; e em documentos referentes "à nomeação, posse, exercício e atuação dos ministros do STF" e "personalidades de renome nacional e internacional", numa volta espetacular ao século XIX e sua idealização dos "grandes personagens", evidenciando, mais uma vez, o desconhecimento das transformações vividas pela historiografia. Depois, são invocados como "relevantes" os documentos referentes à história institucional do Tribunal, relacionados à sua "modernização e reforma na estrutura orgânica", ao seu "planejamento estratégico", as "suas atividades anuais", aos "acordos, tratados, convênios, programas e projetos com pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras de relevância para o Poder Judiciário" e aos seus "atos normativos". Ora, será que ao STF só cabe conservar os documentos referentes à sua própria história, desconsiderando que neles estão contidos dados relevantes para a história da sociedade brasileira como um todo? Mais uma vez, a Justiça isola-se e, em um exercício narcísico, parece se considerar importante por si mesma.

Por fim, listam-se como potencialmente relevantes documentos relacionados a "revoluções, rebeliões e demais movimento sociais no Brasil e no exterior" e a "problemas fronteiriços entre os Estados da Federação". Nenhuma objeção do ponto de vista histórico desde que se considere que tais movimentos e problemas não esgotam a história brasileira, que muitos "pequenos movimentos" e "pequenos problemas", muitas vezes quotidianos e envolvendo pessoas comuns, fizeram e fazem a nossa sociedade, determinaram e determinam quem somos e quem podemos ser.

Ao final, poder-se-ia perguntar: então todos os documentos produzidos por uma sociedade e por uma instituição como o STF devem ser permanentemente arquivados? Certamente que não, pois guardar tudo não significa permitir um conhecimento completo da história. Além disso, deve-se levar em conta o investimento de recursos materiais e humanos necessário a esse arquivamento. Porém, não é determinando por decreto o que é ou não um documento histórico, sobretudo a partir de critérios reconhecidamente ultrapassados, que se faz essa seleção. Tal processo deve ser encaminhado por comissões multidisciplinares, formadas por profissionais competentes e com um mínimo de independência, das quais participem com voz ativa historiadores com experiência na pesquisa histórica e conhecimento dos debates historiográficos contemporâneos.

Essas comissões devem implementar mecanismos de gestão documental orgânicos e sistemáticos que levem em conta especialmente a importância do patrimônio documental, do direito à história e à memória, componentes fundamentais da cidadania, e não a disponibilidade de recursos. Esses, no caso do Poder Judiciário, que muitas vezes desloca somas vultuosas à construção de prédios suntuosos, certamente não vão faltar, se a escala de prioridades orçamentárias sofrer modificações. Será que não vale a pena investir mais em arquivos capazes de prover as informações históricas necessárias aos pesquisadores e a sociedade em geral do que em gabinetes luxuosos?

Com base nessas considerações, rogamos ao STF que revogue a Resolução Nº 474, pelo bem da memória nacional, da pesquisa histórica, da cidadania, e, por que não, da imagem já tão desgastada de nosso Judiciário.

Diretoria da ANPUH - Associação Nacional de História
Gestão 2011-2013 





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    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Livro e site resgatam a história da divulgação científica brasileira


Versão digital da obra que narra a rotina de produção do antigo suplemento de ciência do Jornal do Commercio já está disponível.
 

Livro e site resgatam a história da divulgação científica brasileira

20/01/2012
Fonte: Agência FAPESP – A versão digital do livro Um gesto ameno para acordar o país – A ciência no Jornal do Commercio (1958-1962) já está disponível no site www.museudavida.fiocruz.br/

A obra de 74 páginas relembra a história da seção dominical de ciência do jornal carioca, criada em 1958. De sua equipe, participou o então estudante Leopoldo de Meis, hoje cientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O livro foi organizado pelo próprio Meis, em parceria com as jornalistas Luisa Massarani e Claudia Jurberg. O time localizou a coleção quase completa do suplemento de ciência. O último exemplar encontrado foi de 12 de agosto de 1962.
Cinco textos integram a publicação. O primeiro, de Maurício Dinepi, diretor-presidente do Jornal do Commercio, traz um histórico do periódico. Em seguida, Meis conta detalhes da rotina de produção do suplemento em entrevista a Marina Verjovsky e Claudia Jurberg.
Bernardo Esteves enumera algumas das iniciativas de divulgação científica de que se tem notícia na imprensa brasileira entre a segunda metade da década de 1940 e o início dos anos 1960, com destaque para o suplemento dominical Ciência para Todos, publicado no jornal carioca A Manhã entre 1948 e 1953.
Ildeu de Castro Moreira e Luisa Massarani, por sua vez, analisam a página dominical do Jornal do Commercio à luz do contexto político da época. Marina Verjovsky, Tainá Rêgo e Claudia Jurberg dedicam-se a analisar todas as notícias de saúde publicadas pelo periódico nesse período.
No evento de lançamento do livro, realizado em novembro, também foi divulgado o site Brasiliana, que busca reconstruir a história da divulgação científica no Brasil e reunir as diversas iniciativas nesse campo desde o século 19 até os dias de hoje.



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domingo, 15 de janeiro de 2012

** Chegança do Almirante Negro na Pequena África






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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Seminário Nacional de História da Aviação Brasileira

Prezados colegas historiadores,
Solicito a colaboração de todos, no sentido de divulgar este evento (maiores informações consultar a página da UNIFA: www.unifa.aer.mil.br).
Grata pelo apoio,

Ten. Cel. Profª Drª Maria Luiza Cardoso
.
Centro de Memória do Ensino Militar
Universidade da Força Aérea


www.unifa.aer.mil.br/seminariohistoriadaaviacao/img/semhistoria2.jpg



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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

** Obra de Elis Regina exibe criação e fortalecimento da MPB

Obra de Elis Regina exibe criação e fortalecimento da MPB

Cantora morreu por overdose de cocaína, o que chocou o país na época

No próximo dia 19, o aniversário de morte da cantora Elis Regina completará 30 anos. Uma pesquisa recente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP investigou sua trajetória musical durante os anos 60 e 70. Conduzido pela historiadora Rafaela Lunardi, Em busca do "Falso Brilhante". Performance e projeto autoral na trajetória de Elis Regina (Brasil, 1965-1976) mostra como a artista mudou de perfil ao longo de sua carreira, transformando-se em símbolo do discurso ideológico ao final dos anos 70. Além disso, de acordo com a pesquisadora, Elis contribuiu para o estabelecimento do gênero MPB (Música Popular Brasileira): "Nos anos 60, ela foi uma espécie de porta-estandarte da música brasileira, e posteriormente, uniu o samba, o baião, a bossa nova e a marcha ao pop, o rock e o soul, passando por todas as fases e dialogando com as diversas demandas do mercado de música no Brasil".
Orientada pelo professor Marcos Napolitano, Rafaela baseou-se em todos os discos de Elis (álbuns completos, compactos simples e duplos), materiais audiovisuais (DVDs e vídeos disponíveis na internet), artigos de imprensa (jornais, revistas e web) para compor seu trabalho sobre a cantora. "Busquei o maior número de gravações da época, além de ter feito uma ampla pesquisa em arquivos da cidade de São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Porto Alegre e Curitiba por matérias escritas sobre ou por Elis, ou de eventos de que tenha participado", conta.


"Dois na Bossa" resulta das gravações de "O Fino da Bossa"

O Fino
Elis começou sua carreira como cantora de rádio, ainda menina, no Rio Grande do Sul, na década de 1950. A primeira guinada de sua carreira foi em 1964, quando chegou ao Rio de Janeiro e cantou no famoso Beco das Garrafas, em Copacabana. No ano seguinte, já era uma das maiores estrelas do país, graças ao programa O Fino da Bossa, da TV Record, que apresentava junto com Jair Rodrigues. "Nessa fase, Elis seguia uma linha mais 'vozeirão', cantando em alto volume, abusando de efeitos e ornamentos vocais, acompanhada de arranjos orquestrais com metais proeminentes e com repertório mais ligado às questões do morro e do sertão", explica Rafaela.
Na época, a cantora era muito criticada por nomes como Augusto de Campos e Júlio Medaglia. "Ambos, adeptos da modernidade musical e tributários da Bossa Nova, afirmavam que Elis ajudava a promover o subdesenvolvimento da música popular brasileira ao cantar e apresentar-se de forma muito entusiástica, ao estilo carnavalesco".



"Em Pleno Verão", de 1970, marcou a guinada pop de Elis
Em Pleno Verão


No final dos anos 60, Elis procura mudar seu estilo, trafegando entre vários gêneros musicais, como o pop, o rock e o soul, chegando até a cantar Beatles e Roberto Carlos, ícones de um ritmo que combatera anos antes, com a Marcha contra a Guitarra Elétrica. A partir de 1971, porém, a cantora vai assumir um tom mais engajado, com uso de instrumentos eletroacústicos e maior controle vocal, além de abrir espaço para compositores como Belchior, Ivan Lins e a dupla João Bosco & Aldir Blanc. Trata-se da fase do encontro com Cesar Camargo Mariano, pianista e arranjador que foi seu marido no período.
"Surpreendeu-me muito perceber que a Elis Regina que cresci ouvindo e que continua tocando nas rádios é aquela da fase final de sua vida e carreira, a Elis engajada na luta contra a Ditadura Militar, da luta pela Anistia, de "Como nossos pais" e "Romaria". Essa é, sobretudo, a memória que se guarda da cantora nos dias de hoje, pela qual tornou-se icônica e monumentalizada.", diz a historiadora. "Outras fases de sua carreira acabam sendo esquecidas. A não ser os contemporâneos a Elis, poucos conhecem, por exemplo, sua fase pop-rock, cantando Beatles".



"Elis", de 1977, exemplifica bem a fase com César Mariano

Esquecimento
Rafaela ressalta que, ainda que as músicas da cantora nunca tenham caído no esquecimento desde que faleceu, a biógrafa de Elis, Regina Echeverria, aponta que a memória da cantora esteve em ostracismo no decorrer da década de 1990 e passou por um momento de revalorização somente a partir dos anos 2000. "Visitei o túmulo de Elis Regina no Cemitério do Morumbi em setembro de 2010. O túmulo de Elis, diferente do de Ayrton Senna, que também está sepultado no mesmo cemitério, não estava decorado, nem possuía recados, faixas, coroas, cartas, bilhetes ou vasos de flores recém colocadas. De acordo com os coveiros do local e da floricultura do cemitério, seu túmulo é muito pouco visitado", exemplifica a pesquisadora.
Além disso, Rafaela também acredita que a cantora teve, durante muito tempo, sua história negligenciada pelo mundo acadêmico. "É de grande importância, então, que a sociedade brasileira conheça, valorize e não se esqueça dos indivíduos talentosos e que contribuíram para a conformação de nossa história, seja ela no setor artístico, político, econômico, científico. Espero que meu trabalho venha a contribuir nesse sentido", completa.
Imagens: Divulgação
Mais informações: e-mail rafa_lunardi@yahoo.com.br , com Rafaela Lunardi

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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

** RIO DE JANEIRO - CAIS DO VALONGO: PASSADO RESGATADO

 

Cais do Valongo: Porto Maravilha resgata passado do Rio

Descobertos restos de cais onde escravos desembarcavam.

 

Por Nelza Oliveira para Infosurhoy.com—19/05/2011

RIO DE JANEIRO – Enterrado há mais de um século, parte do passado do Rio de Janeiro – e da história do Brasil – começa a emergir.
Graças às escavações para as obras de revitalização de áreas da cidade pelo projeto Porto Maravilha, foram descobertas estruturas soterradas do chamado Cais do Valongo.
Os vestígios do passado brasileiro foram encontrados ao longo da Avenida Barão de Tefé, onde ficava o cais. Foi por esse cais que milhares de homens, mulheres e crianças capturados na África para trabalhar como escravos chegaram ao Brasil de 1818 a 1830. O complexo tinha mercados, depósitos, uma área para quarentena, cemitério e diversos outros estabelecimentos ligados ao comércio de escravos.
A partir de 1843, começou a ser construído o Cais da Imperatriz sobre o Cais do Valongo. As obras tinham por objetivo recepcionar a futura imperatriz Teresa Cristina, que veio da Itália para se casar com Dom Pedro II, o então imperador do país.
Diversas reformas urbanas nos séculos seguintes também seguiram apagando os vestígios do envolvimento do Brasil com a escravidão, agora sendo redescobertos. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, pediu que o projeto Porto Maravilha fosse refeito para preservar os achados arqueológicos do cais, que devem virar um memorial.
                        
Esses desenhos são prévia da modernização em execução no porto do Rio - o projeto "Porto Maravilha"
"Pretendo fazer uma praça como em Roma", disse Paes. "Estas são as nossas ruínas romanas. Além disso, construiremos um museu para colocar as peças e objetos encontrados nos dois antigos ancoradouros."
A equipe de 12 profissionais do Departamento de Antropologia do Museu Nacional que acompanha as obras sabia da existência do cais, mas tinha dúvidas se as estruturas haviam sido preservadas ou destruídas, diz a arqueóloga Tânia Andrade Lima, professora associada do dito departamento.
  Arqueóloga Tânia Andrade Lima
"Nosso principal interesse era encontrar o Valongo", contou Tânia. "Parece-nos bastante importante denunciar todas as situações de apagamento, de amnésia social, de esquecimento, que a dinâmica social imprime a determinados segmentos, principalmente o do [então] negro escravizado."
Entre os materiais encontrados e que estão sendo catalogados, estão partes de calçados, jogos de búzios para prática religiosa dos escravos e botões feitos com ossos pelos cativos. O que mais impressionou a arqueóloga foram as joias confeccionadas pelas escravas com piaçavas (espécie de fibra de palmeira). Os adornos eram usados nas cordas que as mantinham presas em um esforço para preservar sua feminilidade.
"[As joias] são de uma delicadeza que não parecem feitas de piaçavas", afirmou Tânia. "É comovente saber que, mesmo naquela situação degradante, elas buscavam formas de se enfeitar."

Passado do Rio emerge
Em 1996, durante obras de reforma em sua casa, na Rua Pedro Ernesto, Ana Maria Merced, 54 anos, se deparou com ossadas aparecendo entre o entulho retirado das escavações. Ana Maria reconheceu que eram ossadas humanas. Assustada, pensou que se tratava dos vestígios de uma chacina.
"Até que conversei com um senhor da associação de moradores da região que lembrou da história do cemitério", contou. "Procurei o Centro Cultural José Bonifácio, que fica aqui perto e é ligado à cultura afro-brasileira, e eles avisaram a prefeitura."
As ossadas sob a casa de Ana Maria eram restos mortais de escravos enterrados no Cemitério dos Pretos Novos.
No livro "À Flor da Terra: o cemitério dos pretos novos no Rio de Janeiro", o historiador Júlio César Medeiros da Silva Pereira conta que os escravos eram humilhados até depois da morte. Isso porque os enterros eram feitos em cova rasa, a um palmo de profundidade, com os corpos nus, envoltos e amarrados em esteiras, sem nenhum direito aos preceitos das culturas tradicionais africanas ou qualquer tipo de sacramento, explicou Pereira.
Os mortos eram jogados uns sobre os outros e queimados uma vez por semana, continuou Pereira. O Cemitério dos Pretos Novos funcionou de 1772 a 1830, dizem historiadores.
Para obter reconhecimento como nação independente de Portugal, em 1830 o Brasil firmou com a Inglaterra o compromisso de abolir o tráfico negreiro.
No registro de óbitos da Igreja de Santa Rita, entidade católica responsável pela administração do cemitério, constam 6.119 sepultamentos apenas nos últimos seis anos de existência do local, afirmou Pereira em seu livro.
A partir dos 5.563 fragmentos encontrados na casa de Ana Maria, a análise antropológica e biológica dos ossos permitiu identificar 28 corpos, com idades entre 3 e 25 anos e de ambos os sexos.

Rio terá passeio arqueológico
" Salve o navegante negro, que tem por monumento as pedras pisadas do cais"
Mas, em 1996, Ana Maria não obteve da então administração municipal qualquer incentivo para recuperar e preservar a história. Assim, ela resolveu preservar a história por conta própria.
Em 2005, sua família comprou dois imóveis do lado de sua casa e montou o Instituto dos Pretos Novos (IPN), atualmente um centro de referência sobre a cultura afro-brasileira. No ano passado, o IPN recebeu o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
O IPHAN também está patrocinando uma pesquisa para que o IPN possa delimitar a área original do cemitério. Todo o material encontrado na casa de Ana Maria está guardado no Instituto de Arqueologia Brasileiro (IAB).
Mas o IPN não será esquecido dessa vez, garantiu o arquiteto Washington Fajardo, subsecretário municipal de Patrimônio Cultural, responsável pelo novo projeto na área do Cais do Valongo e do Cais da Imperatriz.
"No plano está previsto uma atenção ao cemitério, por se tratar de outra ligação com a escravidão na área. Queremos fazer a integração dos dois locais como roteiro arqueológico", afirmou o subsecretário.
Vídeo relacionado: http://www.youtube.com/watch?v=czguVPF_FAA





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CLARINDO
Amigos do Patrimônio Cultural

(21) 9765-6038









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