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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

** Para Além do Nilismo

 


Para Além do Nilismo


                                                                                                                                                                                                                                                                        Sérgio São Bernardo

Acabo de ler o livro Nilismo e Negritude do Camaronês Celestin Mongá. Acho uma boa leitura para os nossos continuados dias de diáspora e busca de sentido identitário e emancipatório.  Um debate que aparecerá num futuro próximo face aos novos caminhos trilhados por nós mesmos nos últimos anos.

Mongá traça um relato muito singular e amplo de sua visão sobre a África moderna. Uma desmontagem propositada das perspectivas essencialistas, culturalistas e desenvolvimentistas que povoam a África e a diáspora nas últimas décadas. Citando Senghor, Mongá faz seu acerto de contas sobre a sua África: ousa a refletir sobre uma herança frágil e cética fundada na afirmação da negritude e na negação ao colonialismo; admite precisar entender este momento pós-revolucionario e buscar o modo como os de sua geração devem seguir e conquistar a vida digna a partir desse lugar. Um lugar amplo e diverso que não sintetiza a África unida que pensamos existir; de uma superação de um nilismo ascético desumano e festivo quem tem nos proporcionado em alguns momentos traços de quietude e conformação. 

Em Nilismo e Negritude, Mongá fala com destreza e abrangência filo-antropológica de uma África contemporânea por meio de uma viagem ao cotidiano. Divaga sobre a auto-estima, as heranças coloniais, a culinária, a ética, a religião e a sexualidade. E ainda comenta acidamente sobre as responsabilidades dos governos despóticos e programas autoritários que têm perpetuado altos índices de miserabilidade na África pós revolucionária sustentada por uma elite negra, esclarecida e rica. Entretanto, o autor aprende com suas próprias contradições e acaba por aceitar de modo paradoxal os ensinamentos sobre a economia do casamento, do uso do corpo e da morte como substratos legítimos de uma África reinventada pelos africanos da atualidade.

Aqui nos trópicos, muita coisa tem acontecido e revelado consistências e fragilidades, aberturas e fechamentos. A história de luta e resistência é plasmada em recorrentes abandonos da identidade e da incapacidade de homogeneização ideológica. Algo que podemos chamar de um nilismo negro brasileiro. Cada um traça, em suas individualizadas dezenas de partidos, grupos e subtendências, a osmótica partilha do programa salvacionista e os transformam em poderes os mais distintos e valorativos.

Ninguém está errado. Até porque, parte do que fizemos na episteme da luta emancipatória no Brasil tem nos trazido mais vitórias do que derrotas. Então, o caminho histórico não é de todo desprezível. Temos um debate que precisa ser refeito permanentemente para além de onde nos encontramos agora, num fosso intranqüilo em face dos discursos da identidade nacional, da miscigenação e da cordialidade corroborado por altos índices de pobreza e violência. Parece que estamos lá adiante, entretanto, nosso irmão está lá atrás e não sabemos se o esperamos ou continuamos avançando.

Na diáspora nacionalista afro-brasileira todos ostentam gestos e valores pensando estar dando mais um passo para algo que seja grandioso e que servirá a todos. Outros simulam jogos e negociam interesses, os mais plurais, aliados às identidades não necessariamente sócio-raciais e/ou emancipatórias.  Tenho ouvido e presenciado muitas opiniões que se confrontam na tática e, depois, se dialetizam na estratégia e vice versa. Existe uma persistência romântica de que tudo que fazemos deva ser homogêneo e universalista. Do mesmo modo, a nossa herança metafísica e imanente agora tem nos dado, provisoriamente, um ar de resistência e protagonismo político frente a um Estado que teima em não saber a distinção preconizada por Chateau Mouffe de que uma coisa é o diálogo entre o Estado e a Igreja, outra é o diálogo entre política e religião. Esta quadratura dicotômica tem sido o novo cenário da luta política na América Ibérica e nós estamos usando.

Mongá fala, citando Mudimbe, que a invenção da África forçou um diálogo inexistente entre um essencialismo identitário e um universalismo racionalista. Isso o levou a admitir que o futuro planetário, o papel do continente africano e sua diáspora ainda estão por ser empreendidos. Uma parte do mundo emergente está mesmo usando este jargão e revisitando a África do futuro. Uma odisséia afropolitana que ainda não chegou. Hall insiste na idéia de que o etnocentrismo nos coloca no fosso da afirmação fundamentalista da diferença, naturalizando-a.  Como se exstivessémos esperando um projeto em andamento, algo próximo da inexorável historicidade redentora em nossos olhos de ver o passado. E ao citar Octávio Paz, traz um "senão" de que o que nos distingue não é a originalidade, e sim a originalidade de nossas criações.

O nilismo negro reina na diáspora, numa África reinventada e real. Algo do que Mongá reflete está acontecendo aqui conosco. Diversas modalidades de representações e manifestações têm estimulado a construção de vagões que trafegam em trilhos ora de um essencialismo pragmático, ora de um culturalismo estatizante. Todavia, paradoxalmente, temos ocupado mais espaços públicos e privados. Certos arranjos existenciais e mecanismos de defesa - ou seja, uma estratégia Jeje/Banto/Nagô que nos mantém preservados - dialogam com uma dose de afirmação identitária para além do sagrado e do profano que nos semantizou. Uma parafernália simbólico/material que nos fez alargar as opções táticas e hoje, mesmo que queiramos, não saberemos sair disso sem dissensões. Entretanto, o mundo nos olha com olhos de quem soube sair do pior e escolheu modos singulares de continuarmos vivos.

Temos um dilema ético político: como falar para todos os negros sendo seus representantes? E não sendo seus representantes, quais acordos possíveis para representar a todos ou a sua maioria? E representando a poucos, como querer um projeto para muitos? Qual o papel dos negros que estão no governo ou que são de partido político? Qual o papel dos que estão fora, ou são de ONGs, ou outras organizações independentes? Existe uma fenda gramsciana que pode nos dar uma saída para um projeto que integre ação política por dentro e uma ação política por fora? Qual o papel político das religiões teogônicas afro-brasileiras? Qual o papel do marxismo na luta negra brasileira? Qual o sentido estratégico da lutas dos quilombolas, empresários e empreendedores negros, mulheres e juventude no Brasil de hoje. Estas são as nossas perguntas. 

No entanto, o nilismo negro tem feito muitos estragos e êxitos, e à revelia da tradição etnocêntrica que nos orienta, muitos estão ocupando espaços na sociedade e estão assumindo seu niilismo negro nas faculdades nas empresas, no sexo, nas periferias, no governo, na religião, na cultura e em dezenas de outras atividades da vida pública e privada. Decidindo ao seu gosto, a cara da esfera publica e seus representantes no cenário político. Ainda estamos por saber qual será o nosso caminho: se um socialismo negro, uma sociedade multicultural de caráter maximalista ou uma sociedade liberal de convivência integracionista. 

Creio que a nossa luta política ainda seja a de superar o nilismo e buscar referências, as mais grandiosas e eficazes que possam nos levar para horizontes e lugares ( não ouso dar nomes ) de justiça, democracia, liberdade e alcance equitativos de comida, dinheiro, solidariedade e felicidade. Busquemos, então, a originalidade em nossas criações.

Mongá, Celestin,  Nilismo e Negritude,  Martins Fontes, 2010.

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    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.


                                                                                                    Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
 
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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

**Revista de Sociologia e Política

 
Caros colegas:

O n. 37 da Revista de Sociologia e Política está disponível no ar, no seguinte endereço:


Abraços e boas leituras,

Gustavo.

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Revista de Sociologia e Política
versão impressa ISSN 0104-4478


Sumário
Rev. Sociol. Polit. vol.18 no.37 Curitiba out. 2010
Editorial


        · texto em português     · pdf em português
 Dossiê Relações Internacionais: Novos Temas e Agendas
·  Apresentação


        · texto em português     · pdf em português
·  Regime internacional para refugiadosmudanças e desafios
Rocha, Rossana ReisMoreira, Julia Bertino

        · resumo em português | inglês | francês     · texto em português     · pdf em português
·  A questão da representação no Mercosulos casos do Parlasul e do FCCR
Medeiros, Marcelo de AlmeidaLeitão, NatáliaCavalcanti, Henrique SérgioPaiva, Maria EduardaSantiago, Rodrigo

        · resumo em português | inglês | francês     · texto em português     · pdf em português
·  Discípulos de Rawls em busca de uma concepção cosmopolita de justiça distributiva internacional
Cepaluni, GabrielGuimarães, Feliciano de Sá

        · resumo em português | inglês | francês     · texto em português     · pdf em português
·  Acordos internacionais e controle parlamentar no Brasil
Diniz, SimoneRibeiro, Cláudio

        · resumo em português | inglês | francês     · texto em português     · pdf em português
·  A queda do muro de Berlimum estudo com fontes brasileiras
Ávila, Carlos Federico Domínguez

        · resumo em português | inglês | francês     · texto em português     · pdf em português
 Artigos
·  Individualismo metodológico, racionalidade e ação instrumentala proposta cognitiva de Raymond Boudon
Carvalho, Bruno Sciberras de

        · resumo em português | inglês | francês     · texto em português     · pdf em português
·  O Estado em Durkheimelementos para um debate sobre sua sociologia política
Oliveira, Márcio de

        · resumo em português | inglês | francês     · texto em português     · pdf em português
·  Max Weberdemocracia parlamentar ou plebiscitária?
Sell, Carlos Eduardo

        · resumo em português | inglês | francês     · texto em português     · pdf em português
·  Posições e divisões na Ciência Política brasileira contemporâneaexplicando sua produção acadêmica
Leite, Fernando Baptista

        · resumo em português | inglês | francês     · texto em português     · pdf em português
·  Accountability em listas abertas
Miguel, Luis Felipe

        · resumo em português | inglês | francês     · texto em português     · pdf em português
·  A delegação aos líderes partidários na Câmara dos Deputados e no Senado Federal
Miranda, Geralda Luiza de

        · resumo em português | inglês | francês     · texto em português     · pdf em português
 Ensaio Bibliográfico
·  O campo de estudos sobre associações de classe de São Paulo de 1910 a 1945
Loss, Hugo

        · resumo em português | inglês | francês     · texto em português     · pdf em português
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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

** DIA 10/12 PRAZO FINAL PARA INSCRIÇÕES DE PROPOSTAS DE SIMPÓSIOS TEMÁTICOS - ENABED V

 
Prezados, lembramos que dia 12 de dezembro é o último dia para a inscrição de propostas de Simpósios Temáticos para o V Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa a se realizar em Fortaleza no período de 08 a 10 de agosto de 2011.
Cordialmente.




Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED)

V Encontro Nacional (ENABED V)
Fortaleza, de 8 a 10 de agosto de 2011

"Democracia, Defesa e Forças Armadas"


EDITAL GERAL
CHAMADA DE TRABALHOS E INSCRIÇÕES


Prezado associado.

A atual  diretoria  da  ABED  introduziu  algumas  mudanças  nos  procedimentos  para inscrições em nosso Encontro Anual.

I.      Anuidades. Para propor trabalhos, os associados deverão estar com a anuidade de 2011 quitada. Este é um aspecto fundamental, pois é com as anuidades que a ABED mantém seus  trabalhos de secretaria, tesouraria, website, serviços de contabilidade, material de trabalho, etc.


II.      Inscrão  para  o  Evento.  Haverá  cobrança  de  inscrições  para  o  Encontro Nacional.  A  cada  ano que  passa,  tem  crescido a  participação no  evento e, consequentemente,  os   custos  da  infraestrutura  e  da  realização  também aumentam.  Para  não  sobrecarregar  ningm,  a  inscrição  corresponde à efetivação do trabalho aprovado. Isto é, o associado quite com a anuidade de
2011 propõe o trabalho. Este será avaliado pelos coordenadores de simpósios
temáticos e, somente se aprovado, o associado deverá pagar a inscrição para efetivar sua participação no evento.


III.      Simpósios teticos. Os associados quites com a anuidade 2010, com titulação de Doutor, poderão propor Simsios Teticos (ST) conforme suas áreas de investigação  e  interesse.   O  objetivo  da  diretoria  da  ABED  é  incentivar  a comunidade  de  pesquisadores  a  propor   espontaneamente,  além  de  seus trabalhos individuais, simpósios temáticos que aprofundem  ou revelem novas áreas de investigação.  As propostas devem ser apresentadas por, no nimo, dois pesquisadores (doutores) de instituições diferentes e serão avaliadas pela diretoria e pelo comitê científico do evento quanto à adequação à temática do Encontro,   consistência  e  viabilidade  (dado  o  limitado  número  de  salas). Eventualmente, a diretoria e a comissão organizadora poderão sugerir fusão de propostas similares. Uma vez aprovadas as propostas, os simpósios temáticos

2


serão divulgados no portal da ABED na Internet e serão abertas as inscrições de trabalhos.  A  realização  do  ST  dependerá  de  um  número  nimo  de  cinco inscritos. A seleção dos trabalhos inscritos, a organização e a coordenação de cada  simpósio  temático  ficarão  a   cargo  dos  respectivos  proponentes.  A diretoria e a comissão organizadora apenas  repassarão os resumos, indicação do local e a programação geral do evento. A eventual aprovação de um ST não implica  o  financiamento  de  seus  participantes.  As  propostas   deverão  ser encaminhadas por dois associados efetivos da ABED pertencentes a instituições diferentes                     até   o          dia       10  de     dezembro       de        2010                     para  enabedv@gmail.com   As  propostas  devem  ser  encaminhadas  conforme  o modelo abaixo:

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 V Encontro Nacional da ABED
Proposta de Simpósio Temático

A)        Título

B)        Identificação dos dois proponentes (nome, titulação, e-mail, instituição).
C)       Ementa detalhando a proposta com no mínimo 300 palavras.

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Observações:
1 As propostas aprovadas somente serão efetivadas após o pagamento da inscrição no evento.
2 O simpósio temático somente ocorrerá durante o ENABED V mediante a quitação da  anuidade de 2011, que pode ser paga a partir de janeiro próximo.

3


IV.      Cronograma de inscrões:

ATIVIDADE
DATAS LIMITE
2010
Apresentações de propostas de Simpósios Temáticos
11 de novembro a

10 de dezembro
Reunião de Diretoria para avaliação das propostas e parecer da Comissão Científica.
13 de dezembro
Divulgação das Propostas de Simpósios Temáticos
Aceitos
20 de dezembro
2011
Inscrições de trabalhos nos Simsios Temáticos
2 de janeiro a

30 de março
Avaliação e seleção dos trabalhos inscritos nos Simpósios Temáticos, feitas pelos coordenadores (com eventuais sugestões de remanejamentos ou junções).
31 de março a

15 de abril
Divulgação dos trabalhos aceitos nos Simpósios Temáticos. Envio pelos coordenadores da programação de trabalhos, já considerados os remanejamentos. Emissão de Cartas de Aceite
16 de abril
Divulgação do Programa Final
30 de junho
Envio do trabalho escrito
30 de julho

Observação. A partir de 20 de dezembro divulgaremos as instruções específicas para inscrições de trabalhos nos Simpósios Temáticos pelos pesquisadores.




V.       Valores para o ENABED V

ENABED V

Anuidade ABED 2011
(requisito para sócio propor trabalho)
Inscrição no ENABED V
(para poder apresentar no evento trabalho aceito)
Investimento
Total
Sócio (Profissional)
R$  120,00
R$ 50,00
R$  170,00
Sócio (Estudante Pós)
R$     40,00
R$ 50,00
R$     90,00
Não Sócio
(Profissional)

R$ 230,00
R$  230,00
Não Sócio (Estudante
Pós)

R$ 150,00
R$  150,00
Ouvintes

R$ 30,00
R$   30,00





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José Miguel Arias Neto
Secretário ABED

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