Este espaço é reservado para troca de textos e informações sobre a História do Brasil em nível acadêmico.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

GEHB **BOLETIM TEMA LIVRE 05: Difusor acadêmico e cultural

 





BOLETIM TEMA LIVRE – 05
Difusor acadêmico e cultural
Nº 05 – Julho de 2010
 
1.      a) Concursos: Universidades
 
Na seção "Bolsas, concursos e oportunidades" a Revista Tema Livre informa sobre concursos:
 
- Rio de Janeiro
- UFRJ
(Diversas áreas – História, Sociologia, Antropologia, Ciência Política, Filosofia, Letras, Belas Artes, Música, Comunicação, Educação, Arquitetura, Administração, Contábeis, Direito, Psicologia, Serviço Social...)
- UFRRJ
História da América – Assistente
Didática e Ensino de Letras: Habilitação em Português e Literatura
Geografia/Geografia, Turismo e Meio Ambiente
Política e Organização da Educação
(Dentre outras áreas)
 
- Paraná
- FAFIUV (História, Letras, Filosofia, Educação, Matemática e Química)
 
- Rio Grande do Sul
- UFRGS (História da África)
 
- Mais informações em:
 
 
2.     a) Eventos Acadêmicos
 
- VIII Encontro Regional da ANPUH-ES
Inscrições abertas
 
- Seminário Histórico-Cultural no MAM
Av. Infante Dom Henrique, 85, Rio de Janeiro
Inscrições abertas (Ouvintes)
 
- UFF: Debate Brasil - "O uso da energia nuclear no mundo. Fins pacíficos ou não?"
Com entrada franca, o debate conta com a participação dos professores Williams Gonçalves, do Departamento de História da UFF; Eurico de Lima Figueiredo, titular de Relações Internacionais e Estudos Estratégicos e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFF; e Paulo Gomes, do Departamento de Física da UFF e especialista em Física Nuclear.
No encontro serão discutidos assuntos como a importância do uso desse tipo de energia para o desenvolvimento mundial, os acordos de cooperação técnica e científica entre os países, e o uso de energia nuclear na medicina.
O debate será transmitido ao vivo pelo canal de televisão Unitevê e pelo site www.uniteve.uff.br.
Dia 28 de julho, às 18h.
Auditório Macunaíma do Instituto de Letras, no Campus do Gragoatá, São Domingos, Niterói.
 
- Chartier na UERJ
TEXTOS MANUSCRITOS E TEXTOS IMPRESSOS NA EUROPA MODERNA (XVI-XVIII): Minicurso com o Prof. Dr. Roger Chartier.
 
Dias 05, 06 e 09 de agosto das 14 às 18h.
Auditório dos Progamas de Pós-Graduação do IFCH.
Auditório 9043 Bloco F.
Inscrições abertas: R$10,00 (Vagas Limitadas - Local de Inscrição: UERJ - 9º andar, Sala 9024, bloco B)
 
b) Eventos Culturais
 
Emoção e Poesia: O Cinema de Yasujiro Ozu
Retrospectiva completa de Yasujiro Ozu, aclamado como um dos diretores mais importantes da história do cinema. Ozu era considerado o cineasta mais japonês do cinema, até pelos próprios nipônicos, que o achavam "japonês" demais para o gosto ocidental – o que talvez explique a descoberta tardia deste excepcional cineasta no ocidente somente na década de 1960.
Curadoria: Ardnt Roskens e Tatiana Leite.
De 27 de julho a 22 de agosto de 2010.
De terça a domingo, das 10h às 21h
CCBB: Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro
Telefone: (21) 3808-2007
Classificação indicativa: Livre
 
NENY HOTEL INN 
Texto e Direção: Hermano Leitão. Elenco: Alexandre Vargas, Roger Rodrigues, Hermano Leitão, Luana Martins, Neiva Maria, Claudiane Carvalho, Franklin Medeiros, Eiki Sasaki, José Mônaco e Tiago Malta. Comédia: Num hotel inaugurado em Fortaleza, a recepcionista e amante do deputado Renan é assediada pelo auditor da CNN, que faz vistoria no local em meio a tráfico de drogas e correio de dólares nas malas. Teatro Bibi Ferreira, Rua Brigadeiro Luiz Antonio, 931, Bela Vista. São Paulo, SP. Sexta-feira às 21:30h, sábado às 21:00h, domingo às 20:00h. Até 31/07/2010.
 
 
4) Pós-Graduação
- UFF (Universidade Federal Fluminense)
Estão abertas as inscrições para o Curso de Pós-Graduação lato sensu em História do Rio de Janeiro.
Período de inscrição: 19-07-2010 até 20-09-2010Mais informações pelos telefones 2629-2932 ou 2629-2927
 
- UPF (Universidade de Passo Fundo)
Estão abertas as inscrições para o Mestrado em História, com área de concentração em História Regional
Período de inscrição: 15-06-2010 até 26-07-2010
http://www.upf. br/posgraduacao/inscricoes.php
 
5) Publicações
Revista do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) na internet:
O IHGB disponibilizou, de modo integral, suas revistas em seu site. O endereço para visualizá-las é: www.ihgb.org.br/rihgb.php
 
6) Convite à comunidade acadêmica
a)      A REVISTA TEMA LIVRE está aceitando artigos para a edição n°15. Para mais detalhes, ver:
 
b)      Os organizadores/realizadores interessados em anunciar seus eventos acadêmicos (Simpósios, lançamento de livros, defesas de teses...) e culturais (Mostras, exposições...) de forma inteiramente gratuita no Boletim Tema Livre, favor enviar os respectivos dados para eventual publicação: boletim@revistatemalivre.com
 
 
O envio do anúncio não significa a obrigatoriedade da publicação do mesmo no Boletim Tema Livre. Por fim, os eventos que forem publicados no Boletim Tema Livre são de inteira responsabilidade dos realizadores dos eventos, sendo o Boletim Tema Livre mero veículo informativo e difusor acadêmico e cultural.

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Atividade nos últimos dias:
        **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

                                                                                                        Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
     

    GEHB **[Amigos-Historia-e-Cia] ENC: V Semana de História Política UERJ

    Repassando...Cartaz em anexo...

    Prezados pesquisadores,

    Estão abertas as inscrições para participação na V Semana de História Política da UERJ. As informações estão disponíveis no endereço eletrônico 
    O prazo final das inscrições com apresentação de trabalho: 20 de agosto de 2010
    Qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail: 
    contato@semanahistoriauerj.net

    Atenciosamente,
    Comissão da V Semana de História Política da UERJ


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    *C L A R I N D O
    AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL
    (21)  9765-6038
    *






    www.semanahistoriauerj.net 
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    Atividade nos últimos dias:
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                                                                                                          Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
       

      GEHB ** [Caminhada Azoany] Primeira faculdade do Brasil

       

      Fundada por dom João 6º logo depois da família real portuguesa desembarcar em Salvador (BA), a Fameb (Faculdade de Medicina da Bahia) simboliza o início da independência cultural do Brasil.

      A chegada da família real portuguesa no Brasil foi fundamental para a criação da faculdade. Antes disso, Portugal não permitia a criação de nenhuma faculdade em suas colônias. Nas possessões espanholas, existiam universidades desde o século 16.

      A primeira escola de ensino superior do país foi inaugurada no dia 18 de fevereiro de 1808, oito dias antes da partida da família real para o Rio de Janeiro. Ela foi instalada no Hospital Real Militar, que ocupava as dependências do Colégio dos Jesuítas, no Largo do Terreno de Jesus.

      "Os primeiros professores da faculdade foram médicos militares. Só depois vieram os médicos civis", diz o médico Lamartine Lima, professor honorário da Faculdade de Medicina da Bahia, que hoje pertence à UFBA (Universidade Federal da Bahia).

      Naquela época, a cidade contava cerca de 50 mil habitantes e havia deixado de ser a capital da colônia há 45 anos.

      Depois de fundar a Fameb, dom João fez o mesmo no Rio de Janeiro no dia 5 de novembro daquele mesmo ano. Nascia a Escola de Anatomia, Cirurgia e Medicina, a atual UFRJ (Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro).



      À frente do tempo

      A Faculdade de Medicina da Bahia sempre saiu na frente. Além de ser a primeira faculdade do país, foi em sua sacada que foi acesa a primeira luz elétrica em Salvador, no dia 2 de julho de 1844.

      A primeira médica brasileira diplomada em território nacional, Rita Lobato Velho Lopes, se formou na Fameb em dezembro de 1887.

      O primeiro Museu Médico-Legal e Antropológico do Brasil foi criado no térreo daquela escola em abril de 1900.
      E é justamente a Faculdade de Medicina que acontecerá o Seminário Azoany.
      Você não vai ficar fora dessa, vai?!

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      Atividade nos últimos dias:
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        quarta-feira, 28 de julho de 2010

        GEHB ** A Revolução de Maio de 1810 (1)

         

        A Revolução de Maio de 1810 (1)



        1. O Vice-Reinado do Prata: a luta pela hegemonia
         
        As relações de subordinação com o capital mercantil e comercial europeu, primeiro espanhol e a seguir inglês, determinaram fortemente a história e a conformação das nações independentes que surgiram na bacia do rio da Prata. O próprio vice-reinado do rio da Prata fora fundado, em 1776, para facilitar a administração e sobretudo a percepção das rendas e dos impostos devidos à metrópole ibérica, nos imensos territórios das atuais Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.
         
        Em inícios do século 19, quando da crise do regime colonial, não havia na América Hispânica base material para uma revolução nacional unitária. Nesse escolho naufragaram os sonhos americanistas de Simon Bolívar (1783-1830) e de José de San Martin (1778-1850). O império colonial espanhol foi estraçalhado pelas tendências centrífugas das suas distintas regiões geoeconômicas, em torno das quais emergiram no geral as repúblicas hispano-americanas.
         
        Por necessidade e por interesses, as classes dominantes de algumas regiões da colônia hispano-americana esforçaram-se para unificar em seus proveitos importantes regiões periféricas. Esse foi o caso das oligarquias pastoril e, principalmente, comercial de Buenos Aires, que se desdobraram para manter a unidade territorial e política do antigo vice-reinado do Prata, e com ela os privilégios da cidade-porto, agora sob a direção, autoridade e proveito das classes dominantes crioulas locais.
         
        Litoral & Interior
         
        Em 1810, quando do movimento pela independência, os couros eram a principal exportação do vice-reinado do rio da Prata, expedidos através do porto de Buenos Aires e, secundariamente, de Montevidéu. Eles eram extraídos na Banda Oriental e no outro lado do Prata nas províncias de Buenos Aires e do litoral. As províncias do interior possuíam produção doméstica, artesanal e pequeno-manufatureira relativamente protegida pela dura imposição alfandegária ibérica. Era importante o fabrico de tecidos do Norte; de solas em Salta; de barcos em Corrientes; de aguardente em Cuyo; de vinho em Mendonza; de carretas no Sul. Boa parte dessa produção chegava a Buenos Aires para ser consumida e distribuída.
         
        Durante o período colonial, a oligarquia comercial de Buenos Aires fora dominada por espanhóis natos, articulados com o capital mercantil metropolitano. Ela se enriquecera intermediando o export-import do vice-reinado, sobre o qual possuía direitos monopólicos, compartilhados com o porto de Montevidéu. Na luta pela defesa e extensão do exclusivismo portuário, a oligarquia comercial crioula de Buenos Aires defendeu ferreamente o livre-câmbio. Ao contrário, proprietários e plebeus do interior eram comumente protecionistas. Eles defendiam a rústica produção artesanal e pequeno-manufatureira das importações, melhores e mais baratas. A expansão do comércio dos couros e das carnes golpeava as formas tradicionais gauchas de vida.
         
        Ao romper a dependência às autoridades metropolitanas e inaugurar o livre comércio, a Revolução de Maio de 1810 assentou poderoso golpe na frágil articulação entre as províncias de Buenos Aires, do litoral e do interior vigente no período colonial. A Inglaterra locupletou-se fortemente com a independência da região, pois passou a servir-se do grande porto como ponta de lança para a literal invasão do Prata por suas mercadorias. E isso sem necessitar impor o domínio territorial tentado sem sucesso nos anos anteriores. Mais tarde, a França se apoiaria no porto de Montevidéu para ensaiar igual penetração-controle comercial da região. Em José Hernandez y la Guerra del Paraguay, de 1954, o historiador marxista argentino Enrique Rivera lembrava: "La separación de España [...] cortó la corriente nacional en la que se operaba este comercio, determinando que su lugar fuese ocupado, principalmente, por Inglaterra, cuya industria, mucho más adelantada, exigía la apertura de todas las zonas precapitalistas para sus artículos y para proveerse de materias primas."
         
        Unitários e Federalistas
         
        Em poucos anos, a produção artesanal e pequeno-manufatureira da província de Buenos Aires estava arrasada, impedindo que os segmentos pequeno-burgueses e plebeus se constituíssem como força política efetiva minimamente autônoma. O domínio comercial pleno do Interior seria mais demorado e mais conflituoso. Lembra igualmente Enrique Rivera: "El comercio libre, implantado por el gobierno de Buenos Aires, provocó la desaparición, en corto número de años, de las industrias del interior; las necesidades de la lucha contra los realistas, obligaron a las provincias a sacrificios cuantiosos de sus bienes, así como a distraer brazos de las ocupaciones productivas, con destino a los ejércitos revolucionarios [...]."
         
        Comprando em Buenos Aires os produtos platinos exportáveis, com enorme destaque para os couros, e enviando suas mercadorias para o interior, os comerciantes ingleses cortaram os laços entre o centro exportador litorâneo e a produção artesanal e pequeno-manufatureira local e regional. As províncias do interior foram lançadas na estagnação e na regressão, enquanto Buenos Aires e suas classes proprietárias prosperavam. A cidade crescia com uma verdadeira excrescência, de costas voltadas para as regiões do interior. Por décadas, o controle do porto de Buenos Aires e de suas rendas aduaneiras constituiu o centro das tensões regionais. As rendas portuárias eram a quase única garantia real para a emissão de moeda; para a obtenção de empréstimos; para a organização do aparato estatal etc.
         
        Por longos anos, o confronto político platino organizou-se fortemente em torno da maior ou menor liberalização do comércio e, sobretudo, do controle das políticas e das rendas alfandegárias do porto de Buenos Aires. As últimas eram tidas pelos unitários como propriedade exclusiva da oligarquia comercial e pastoril portenha e bonaerense. Por sua vez, os federalistas defendiam sua distribuição entre as províncias, pois eram produzidas por todas elas. Quando da Revolução de Maio, em 1810, essa contradição expressou-se no projeto das classes proprietárias portenhas e bonaerenses de emancipar o vice-reinado da Espanha e submetê-lo a Buenos Aires, se possível como nação unitária
         
        2.  Fernando 7º e o fim do Império Americano
         
        Em 1810, e ainda durante anos, os revolucionários de Buenos Aires sequer proclamaram o rompimento com Fernando 7º, prisioneiro de Napoleão. Preocuparam-se prioritariamente em apoderar-se das rédeas do poder regional, deslocando a burocracia e os comerciantes espanhóis. Mesmo após o rompimento com Espanha, a Revolução de Maio não modificou essencialmente o regime social e produtivo, mantendo a ordem econômico-social dos tempos coloniais. O único segmento social imediatamente extinto foi a burocracia ibérica, defenestrada junto com o vice-rei Baltazar Hidalgo de Cisneros (1755-1829). A Revolução de Maio constituiu fenômeno sobretudo político. Os revolucionários portenhos lutaram principalmente para manter o monopólio comercial de Buenos Aires sobre o Prata e as relações sociais de produção então vigentes.
         
        Nomeado pela Junta de Sevilha, em junho de 1809, Cisneros concedera em inícios de novembro a liberdade comercial ao porto de Buenos Aires, para a tristeza dos comerciantes espanhóis e o gáudio dos mercadores crioulos, dos exportadores de couros e especialmente dos comerciantes ingleses. Em de 17 de maio, com a chegada de navio inglês, o vice-rei soube da queda da Junta de Sevilha e do domínio francês sobre a quase totalidade da Espanha. Quando a notícia vazou, lançou proclamação sobre a consulta aos homens bons do vice-reinado, no respeito à orientação a seguir, para anteceder-se a mote autonomista. Na ocasião, o vice-rei não foi informado da conformação de governo espanhol na península.
         
        Em 18 de março de 1808, no contexto de profunda crise nacional ibérica, nascida em boa parte da derrota naval espanhola em Trafalgar, em 21 de outubro de 1805, o rei espanhol Carlos 4º abdicara em favor do primogênito Fernando, pressionado por sublevação popular instigada pelo príncipe herdeiro, no dia anterior (motim de Aranjuez). Carlos 4º ensaiara ao subir ao trono tímido movimento reformista − seu filho Fernando, representante do partido aristocrático e absolutista espanhol, envolvera-se anteriormente em complô contra o pai.
         
        Abdicação de Bayonne
         
        Fernando 7º não esquentou o trono, após abiscoitá-lo, defenestrando sem piedade o progenitor. Aclamado como soberano pelo esperançoso povo de Madrid, cidade já sob controle militar do aliado francês, foi convidado por Napoleão para encontro na localidade de Bayonne, no sudeste da França, próximo à fronteira espanhola. Sem que Fernando soubesse, o poderoso e perigoso sócio na luta contra os ingleses convocara para a reunião igualmente seu pai, que perdera o trono, havia pouco, para o filho ambicioso. Tratou-se de verdadeira emboscada dinástica.
         
        Em 6 de maio de 1808, pressionado pelo Imperador, Fernando devolveu a coroa ao pai, sem saber que o progenitor cedera a Napoleão o que achava que já não possuía, secretamente, no dia anterior. Tudo sob a promessa de forte recompensa econômica. Concluindo a complexa urdidura, o imperador dos franceses terminou com a coroa espanhola em suas mãos. Completando a apropriação dinástica formalmente legal, Napoleão abdicou à coroa espanhola em favor de seu irmão mais velho, em 6 de junho de 1808, coroado a seguir como José I, rei dos espanhóis.
         
        Após as chamadas Abdicações de Bayonne, com as rédeas da Espanha nas mãos, Napoleão convocou os notáveis do reino espanhol àquela localidade, para apresentar-lhes projeto de Constituição, promulgada em 8 de julho de 1808. A primeira carta constitucional da Espanha era clerical, estabelecia enormes poderes ao rei e instituía os principais direitos burgueses. Ela procurava aproximar da nova ordem os liberais espanhóis, em forte contradição com o absolutismo real. Também devido a ela, a resistência à ocupação francesa dar-se-ia fortemente sob o signo do liberalismo espanhol.
         
        Um reino curto
         
        José I jamais conseguiu reinar plenamente sobre uma Espanha sublevada, que abandonou em 1813. Em defesa da independência, impulsionada pela resistência militar semi-espontânea da população das cidades e dos campos, formou-se a Junta Suprema Central (Junta de Sevilha), em 25 de setembro de 1808, formada por representantes das juntas provinciais. Anteriormente, em 11 de agosto, o Conselho de Castela, órgão máximo do reino, inferior em poder apenas ao soberano, declarara nulas as abdicações e confirmara Fernando 7º como rei da Espanha. Sob a forte influência da nobreza e dos grandes proprietários fundiários, a Junta de Sevilha jamais convocou uma constituinte, enquanto José Bonaparte I implementava reformas liberais no país, ainda que em um viés fortemente conservador.
         
        A Junta de Sevilha comandou a resistência militar ao invasor, até a fragorosa derrota de Ocaña, em 19 de novembro de 1809, em Toledo, em confronto que antepôs cem mil combatentes. Após a derrota, desprestigiada, a Junta dissolveu-se, dando lugar ao Conselho de Regência da Espanha e das Índias (1810-1814), sediado na ilha de León, na Andaluzia, no pouco que restava de Espanha livre. Cercada pelos franceses e defendida pela marinha inglesa, o novo governo convocou as cortes gerais, dando a Espanha sua primeira Constituição não outorgada, em 1812, em Cádiz, de perfil liberal.
         
        Fernando foi guardado em prisão dourada, no castelo de Valençay, no interior da França, durante a guerra de independência espanhola. Acreditando na estrela de Napoleão e sem qualquer confiança na força da resistência do povo espanhol, o rei engambelado manteve correspondência áulica e obsequiosa com o Imperador, requerendo favores e reconhecendo, reiteradas vezes, José Bonaparte como soberano espanhol. Na sua pusilanimidade, expressava o caráter historicamente anacrônico do absolutismo ibérico, em uma Europa estremecida pelos ventos liberais e revolucionários inaugurados pela Revolução Francesa.
         
        Bon vivant e servil
         
        Apesar de seu desbragado servilismo, devido à sua situação de prisioneiro, e à inexistência de fortes classes burguesas e plebéias modernas na Espanha, Fernando 7º manteve o apoio da população, que teimava em ver nele apoio para a defesa da independência e para o renascimento social do reino e da nacionalidade. Com as vitórias dos exércitos ingleses em Portugal e na Espanha e a derrota francesa nas estepes da Rússia, Fernando 7º acordou com Napoleão o retorno ao status quo anterior, em troca da neutralidade espanhola na guerra continental, em dezembro de 1813.
         
        A tibieza de Fernando 7º em enfrentar o poder napoleônico em eclipse registrava a vontade de combater seu verdadeiro inimigo − as forças liberais e populares espanholas.
         
        Em maio de 1814, apoiado por tropas militares realistas, Fernando pôs fim à Constituição de Cádiz, de 1812, restabeleceu o antigo regime, perseguiu os liberais patriotas que haviam lutado pela independência espanhola e os afrancesados, que tinham colaborado com os invasores. Ao retornar a Madrid, foi novamente aclamado pela população, sempre esperançosa na estrela do soberano venal.
         
        Em 1820, sublevação das tropas destinadas a reconquistar as colônias americanas rebeladas lançou o processo que levaria a três anos de regime constitucional, seguidos de década de repressão antiliberal. Enquanto confrontavam-se na Espanha os grandes proprietários monarquistas e absolutistas e os liberais, burgueses e populares, dissolvia-se literalmente o império hispano-americano. Nas Américas, as colônias ibéricas ficariam reduzidas ao domínio das ilhas de Cuba e de Porto Rico, devido ao temor das classes crioulas regionais de comprometer, com a independência, a ordem escravista reinante naqueles territórios. Fernando 7º morreu em 1833.
         
        Mário Maestri é historiador e professor do programa de Pós-Graduação em História da UPF.

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        Erik C. G.
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          terça-feira, 27 de julho de 2010

          GEHB ** Skate, judeus e projetos pedagógicos inovadores

           
          Boletim eletrônico da Revista de História da Biblioteca Nacional
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          Skate: uma velha polêmica

          Rafael Mascarenhas, 18 anos, morreu atropelado no Rio de Janeiro quando andava de skate em um túnel fechado para manutenção. O acidente reabriu o debate em relação à prática do esporte nas ruas da cidade. Confira o artigo da revista sobre a história do skate, já chamado de esporte assassino. [ leia mais ]

          Pequenos historiadores

          O Colégio Pedro II foi inaugurado em Realengo, em 2004. Nessa época, a instituição funcionava provisoriamente em uma escola municipal da região. Dois anos mais tarde, passou a ocupar quase todos os prédios tombados de uma antiga fábrica de cartuchos. Para resgatar a memória do bairro, nascido naquele espaço, o departamento de História do colégio propôs criar o “Centro de Memória e Documentação”.[ leia mais ]

          Debate religioso

          Com público de mais de 150 pessoas, o Biblioteca Fazendo História discutiu a importância dos judeus no país. Os historiadores Ângelo Adriano Faria Assis e Fábio Koifman abordaram questões relevantes do tema. “A presença judaica no Brasil é muito antiga, começou junto com a história do país”, disse Ângelo Faria, um dos debatedores. [ leia mais ]

          100 anos de História

          Denominado Lauro Muller (Gamboa), o trecho inicial do cais do Porto do Rio de Janeiro foi inaugurado em 20 de julho de 1910. Com 800 metros de extensão, o local foi a matriz de onde começou a ser definida a vida urbana da cidade, bem como sua estrutura econômica e cultural. O primeiro navio a atracar no porto foi o de bandeira inglesa Horace, com mercadorias provenientes de Lisboa. No início do século XIX, com a chegada da corte portuguesa ao Brasil, a Zona Portuária passou a ser considerada área nobre. Hoje, o Porto oscila entre o abandono e planos ambiciosos para as Olimpíadas de 2014. [ leia mais ]

          E mais...

          Roubo de um Portinari Uma tela do pintor brasileiro Cândido Portinari (1903-1962) foi furtada do Museu de Arte Contemporânea de Olinda e ainda está desaparecida. [ leia mais ]
          Adeus a um mestre da música Nos palcos ou nos salões, Paulo Moura, deixou um legado para a música popular e clássica . [ leia mais ]
          Morte natural ou assassinato? Nova edição de um clássico da historiografia discute a polêmica sobre como morreu o presidente João Goulart.[ leia mais ]
          House historiador Um personagem de TV de sucesso que pode ser visto historicamente. [ leia mais ]
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            GEHB ** Curso de HISTÓRIA POPULAR DO BRASIL REPÚBLICA

             
            5º CURSO DE:

            HISTÓRIA POPULAR DO BRASIL REPÚBLICA
            Objetivos: Proporcionar aos participantes o conhecimento sobre o período republicano, através de uma análise da participação popular na construção histórica. Contribuir para uma reflexão sobre o período e as diferentes formas de manifestações do povo brasileiro na busca de uma sociedade mais justa e igualitária.

            LOCAL – ESCOLA MUNICIPAL MONTEIRO LOBATO – RUA LUIZ DE LIMA, S/N – NOVA IGUAÇU – CENTRO – AO LADO DA VILA OLÍMPICA.

            Carga Horária: 74 horas/aula – aos sábados das 09h às 13h - CERTIFICADO EMITIDO PELO SINPRO-BAIXADA. Parceria com o Centro de Memória Oral da Baixada Fluminense (cemobafluminense - CNPJ: 05.383.467/0001-81).

            Investimento: R$ 90,00 (ou 3 X R$ 30,00). Sindicalizado R$ 75,00 (ou 3 X R$ 25,00). Período de Inscrições (aos sábados de agosto (07/14/21/28) das 9h às 13h na ESCOLA MUNICIPAL MONTEIRO LOBATO – ao lado da Vila Olímpica de Nova Iguaçu.
            Início das aulas 04 de SETEMBRO – Término 27 de NOVEMBRO de 2010.

            MÓDULOS
            04/09 - A FORMAÇÃO do PROLETARIADO BRASILEIRO: TRABALHO, ABOLIÇÃO E CIDADANIA.
            – Professor RAFAEL MAUL – Doutorando em História - UFF
            11/09 - PAI DOS POBRES ou MÃE DOS RICOS? "O GOVERNO GETÚLIO VARGAS" – Professor JOSÉ LUIZ OLIVEIRA -Mestre em História UFRJ.
            18/09 – "VERTENTES do PENSAMENTO NACIONALISTA AUTORITÁRIO BRASILEIRO (1920-1940)" – Professor NÉLIO GALSKY – Mestre em História UFF
            25/09 - A ORGANIZAÇÃO PARTIDÁRIA PÓS-1945 – Professor FREDERICO FALCÃO - Doutor em Serviço Social – UFRJ.
            09/10 – POLÍCIA POLÍTICA e CAÇA aos COMUNISTAS: REPRESSÕES e PRESSÕES SOBRE o MOVIMENTO OPERÁRIO no RIO DE JANEIRO (1945 - 1964) – Professora LUCIANA LOMBARDO COSTA PEREIRA – Doutora em Antropologia Social – UFRJ.
            16/10 - A QUESTÃO AGRÁRIA no GOVERNO JOÃO GOULART - Professora LÚCIA NAEGELE – Professora de Geografia e Autora de livros.

            23/10 - O GOVERNO JOÃO GOULART: CONTEXTO INTERNACIONAL, POLÍTICA EXTERNA e POLÍTICA INTERNA –Professor ADRIANO FREIXO – Doutor em História – UFRJ e Professor ÁLVARO SENRA – Doutor em Ciências Sociais - UFRJ.
            06/11 – DE RETIRANTE à GUERRILHEIRO: VIRGÍLIO GOMES, a ALN e seu RESGATE HISTÓRICO – Professor EDSON TEIXEIRA –Doutor em História – UFF.
            13/11 - APOGEU DA REPRESSÃO: DO MILAGRE BRASILEIRO À CRISE ECONÔMICA - Professor RUBIN S. LEÃO DE AQUINO – Professor de História e autor de livros.
            27/11 - JOÃO CÂNDIDO: O CENTENÁRIO DA REVOLTA DA CHIBATA – JOÃO BATISTA DAMASCENO – Cientista Político (PPGCP-UFF) e Membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD.)
            __________________________________________________________
            VISITE NOSSO SITE: www.cemobafluminense.com.br

            APOIO CULTURAL:

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            Atividade nos últimos dias:
                  **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

                                                                                                                  Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
               
              Visite o Blog do nosso Grupo:http://www.grupohistoriadobrasil.blogspot.com

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              GEHB ** III Seminário Nacional de Pós-graduandos em História das Instituições - Divulgação

               

              Estão abertas as inscrições para o III Seminário Nacional de Pós-graduandos em História das Instituições.

              Tendo em vista as iniciativas bem sucedidas dos mestrandos do PPGH da UNIRIO, que em duas edições do Seminário Nacional de Pós-Graduandos em História das Instituições reuniram diversos pesquisadores para a divulgação e o debate dos estudos que vem sendo feitos nesta área, apresentamos a terceira edição do evento, cujo tema é Historiografia e Instituições: caminhos possíveis de investigação.

              O III Seminário de Pós-Graduandos em História das Instituições ocorrerá entre os dias 22 a 26 de novembro de 2010 no Auditório Paulo Freire no Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCH) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

              As inscrições para comunicações serão aceitas até 30 de agosto de 2010.

              Para ter acesso às diversas mesas e modalidades de inscrições, acessar


              Saudações históricas,

              --
              "A História é o passado ressignificado"
              --
              Fabrício Augusto Souza Gomes


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              Atividade nos últimos dias:
                    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

                                                                                                                    Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
                 
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                GEHB ** O ENSINO DE HISTÓRIA NOS COLÉGIOS MILITARES

                 
                O ENSINO DE HISTÓRIA NOS COLÉGIOS MILITARES ( Rogério Guimarães Oliveira )




                A reação ao artigo primeiro de Urariano Mota, contada por ele agora, em seu segundo artigo, explica muito mais coisas do que o primeiro. Mostra, por exemplo, que sobrevive respirando e ainda intacto, em pleno ano de 2010, um resquício vivo da ditadura militar brasileira: a formação de quadros militares com visão ideológica distorcida sobre a história do país entre os anos 60 e 90. O arguto articulista tocou num "nervo exposto" que remete a algo bem mais sério.

                Fui aluno do Colégio Militar de Porto Alegre entre 1971 e 1979, bem no auge "duro" da ditadura. Filho de civil, aprovado no referido vestibulinho de ingresso, me recordo que, no meio da década de 70, a disciplina de História que me estava sendo ensinada parou, cronologicamente, no ano de 1960. Dali para a frente, silêncio do professor (quem sabe, obsequioso), bem como a omissão nos livros e nenhuma pergunta nas provas. De certa forma, pressenti, ainda adolescente, que a história do país acabava naquele ano de 1960 ou haveria algo mais, dali em diante, que não poderia ser ensinado num educandário.

                A dúvida me intrigou e me inspirou a sair em busca de respostas. A partir delas, abandonei o sonho comum de todo estudante de escolar militar de tornar-se militar por profissão. Ainda mais na época, em que ser militar era certeza de futuro pessoal promissor. Encerrado o 2.º Grau naquele colégio, segui para o estudo de Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, de onde abrecei a carreira de advogado.

                Anos depois, em 1995, por ocasião em que foi deferida uma indenização à família de ex-capitão Carlos Lamarca pela comissão federal que analisava casos de crimes praticados durante o golpe militar, o comando do Colégio Militar de Porto Alegre, onde estudara Lamarca, determinou que fosse fundida uma barra de ferro sobre o nome daquele ex-aluno na placa de formatura de sua turma, que encontra-se cimentada nos corredores do pátio do colégio. Estas placas de formatura são uma tradição antiga do colégio e estão em todas as paredes do educandário. O coronel-comandante do colégio, à época, em entrevista a um periódico local que interessou-se pelo evento em razão do interesse jornalístico despertado, declarou o seguinte, como justificativa para o bizarro ato, ao referir-se a Carlos Lamarca: "para todos os efeitos, ele nunca estudou aqui."

                Aquilo, lido no jornal, me soou como uma agressão à história do colégio onde eu estudara. Como assim, "nunca estudou aqui", se ele é e será sempre ex-aluno? E foi como ex-aluno que escrevi cartas ao então comandante (nunca respondidas), protestando contra aquela aberração, e me dei conta de que meu ato era solitário. Pior: alguns de meus ex-colegas, militares da ativa, aprovaram a medida. A correção só acabou anos mais tarde, com o retorno do nome de Lamarca à placa de bronze de sua turma de formatura.

                Por aí, o articulista Urariano pode perceber que as Forças Armadas, através dos colégios militares e, possivelmente, de suas academias de formação militar, mantêm ainda vivo este resquício da ditadura militar brasileira: conseguem passar para os alunos deste sistema militar de ensino uma versão absolutamente distorcida, fraudada, da real e efetiva história do país. A história lhes é repassada, desta forma, adulterada, às sucessivas gerações de militares. Pior que isto, trata-se de um trabalho de inoculação de conceitos defeituosos, de valores não democráticos, baseado na implantação da História do país, que se inicia nas escolas militares e é sedimentado nas academias de formação e renovação do oficialato.

                E para que, isso? Espanta imaginar que a finalidade de tudo seja apenas a de "justificar" e dar uma espécie "lustro opaco" às biografias dos generais que, efetivamente, foram os que praticaram o golpe de Estado contra o Brasil, aniquilando a democracia brasileira existente no início da década de 1960. Uma forma de esconder destas gerações de militares que o regime implantado impôs um sistema de controle mental da sociedade com base no terror, no medo, na violência, na tortura física e na morte de cidadãos brasileiros. Um sistema de poder que perdurou por longos 25 anos.

                O regime autoritário fechado de governo implantado aqui, sintetizado no bordão fascista "Brasil, Ame-o ou Deixe-o", divulgado pelos militares no poder, tinha o falso pretexto de combater "comunistas". Até nisso não foram originais os generais golpistas, pois copiaram o macartihsmo esquizofrênico norte-americano, que adjetivava de "comunista" qualquer voz política discordante como pretexto para calá-la. E os golpistas brasileiros, contraditoriamente, implantaram um dos sistemas de governo mais próximos das características dos mais retrógrados sistemas comunistas de governo: um país fechado, governado à mão-de-ferro, com partido único sob controle, sem eleições, sem parlamento, com imposição de verdade oficial única mediante censura indiscriminada e controle dos meios de comunicação.

                Além disso, um sistema mantido na base da repressão intelectual, com perseguição a todos os pensadores e intelectuais autênticos, incluindo artistas, com uso indiscriminado de prisões arbitrárias, espancamentos, exílios e morte a brasileiros que discordassem, mesmo minimamente, do regime implantado. Enfim, um regime baseado no uso do medo e do terror, como ocorre em qualquer regime político retrógrado e autoritário.

                Aí reside, pois, a grande mentira da "justificativa" inventada para o golpe em suas próprias contradições. Como se diz, popularmente, para curar a "doença", buscaram matar o "doente". Nada diferente aqui dos regimes de quartelada militar que se espalharam pelo continente latino-americano, por interesse direto dos EUA e sua Doutrina Monroe.

                O que surpreende, já agora, em pleno 2010, é que sobrevive a forma encontrada por aqueles mesmos generais golpistas de manterem-se no controle ideológico e intelectual de todos os militares do país. Basta ver que estes, mesmo nos dias atuais, em grande parte, defendem o golpe militar e acham que ele era necessário, manifestando idéias distorcidas sobre História. Mostram que esta disciplina lhes foi ensinada de forma deturpada, muito diferente de como a aprenderam os demais alunos brasileiros.

                A História, nos meios militares, deixou de ser uma disciplina para transformar-se numa doutrina integrante do ideário militar. Uma doutrina pedagógica que prega que exércitos e democracia são instituições inconciliáveis. Uma doutrina que sobrevive desde aqueles tempos de exceção nos educandários militares, mantidos por verbas públicas, sendo alimentada e renovada até hoje , com o bem detectou o artigo de Urariano Mota.

                Como se vê, a manipulação dos livros de história das escolas militares é apenas a ponta visível desta antiga doutrina existente no seio das FFAA. Por isso, não surpreende a quantidade de cartas ofensivas que recebeu o articulista (algumas até grosseiras, demonstrando problemas mais sérios de formação cultural). Elas mostram que há gerações e gerações de militares aos quais foi negada a verdade real sobre o papel desempenhado pelas FFAA durante a ditadura militar.

                A justificativa de uma ditadura, qualquer que seja ela, pode ser a semente de uma nova ditadura e revela certo grau de apego latente e institucional às vias de exceção e de subversão. Nada pior para uma democracia. Ora, isto contraria a idéia de que todo militar deve ser um correto conhecedor da História do país que deve proteger. Não pode nenhum militar, num bom exército, ser refém de uma doutrina de distorção, manipulação e apropriação da História. Trata-se, não por acaso, da mesma doutrina que levou o dirigente do Colégio Militar de Porto Alegre, em pleno ano de 1995, a ser acometido por um surto intelectivo, vindo a cometer o despótico ato de pretender corromper também a história do Colégio Militar de Porto Alegre, ditando publicamente quem pode e quem não pode, "para todos os efeitos", ser considerado ex-aluno do educandário.

                Como se vê, a História é, ainda hoje, uma disciplina claudicante e de difícil manejo e assimilação nos meios militares, sendo tratada como doutrina ideológica formatada no engodo e na falsificação. Prepondera a visão pedagógica que despreza a dialética, o debate, a comparação entre fatos e idéias, negando aos alunos a liberdade de formarem suas próprias convicções. São resquícios vivos do golpe militar que ainda hoje sobrevivem, mulambentos, não surpreendendo haver quem defenda este "modelo pedagógico", sem levar em consideração os danos que causa à integridade intelectual de crianças e adolescentes.

                A imposição da mesma "verdade única" que forjou o fascista lema do "Brasil, Ame-o ou Deixe-o", a despeito da excelência praticada em outras disciplinas curriculares pelas escolas militares, é algo que suprime a capacidade e liberdade de construção crítica e analítica dos alunos destas escolas, ao contrário do que deve ocorrer num bom sistema de educação.

                Um dia, uma nova geração de líderes das FFAA que se revelam imunes a tal doutrinação haverá de estancar esse processo obtuso e manipulador de pedagogia, que ainda hoje perpetua-se nas escolas e academias militares no que diz respeito ao ensino da disciplina de História. Neste dia, os fatos históricos passarão a ser ensinados como efetivamente devem, de uma forma narrativa, respeitando o espaço necessário a que cada aluno e futuro militar elabore suas próprias convicções e deduções. Que isso ocorrerá um dia, todos sabemos, porque, ao fim e ao cabo, "a verdade sempre vence".

                Porém, o que se pode afirmar hoje é que este dia parece estar ainda muito distante. O que mais me intriga é saber se há alguma intenção adicional em manter-se este tipo de doutrina no sistema militar de ensino, além do mero interesse de zelo artificial à biografia dos ilustres generais golpistas. Seria, por acaso, a intenção de formarem militares brasileiros capazes de acreditar que, realmente, a subversão institucional, a tomada do Poder pela força e o controle ditatorial podem ser algum tipo de solução para um país como o nosso, diante de alguma "ameaça" que possa assim ser considerada pelo critério de generais da vez, em algum momento futuro?

                "Povo que não conhece sua História é povo condenado a revivê-la". Pelo menos, apenas a comunidade estudantil militar é afetada e prejudicada por estes livros "pedagógicos" editados pelos generais que controlam a Biblioteca do Exército.

                Rogério Guimarães Oliveira, Advogado, Ex-aluno do Colégio Militar de Porto Alegre entre 1971 e 1979. Email: rgo@via-rs.net
                O ENSINO DE HISTÓRIA NOS COLÉGIOS MILITARES ( Rogério Guimarães Oliveira )




                A reação ao artigo primeiro de Urariano Mota, contada por ele agora, em seu segundo artigo, explica muito mais coisas do que o primeiro. Mostra, por exemplo, que sobrevive respirando e ainda intacto, em pleno ano de 2010, um resquício vivo da ditadura militar brasileira: a formação de quadros militares com visão ideológica distorcida sobre a história do país entre os anos 60 e 90. O arguto articulista tocou num "nervo exposto" que remete a algo bem mais sério.

                Fui aluno do Colégio Militar de Porto Alegre entre 1971 e 1979, bem no auge "duro" da ditadura. Filho de civil, aprovado no referido vestibulinho de ingresso, me recordo que, no meio da década de 70, a disciplina de História que me estava sendo ensinada parou, cronologicamente, no ano de 1960. Dali para a frente, silêncio do professor (quem sabe, obsequioso), bem como a omissão nos livros e nenhuma pergunta nas provas. De certa forma, pressenti, ainda adolescente, que a história do país acabava naquele ano de 1960 ou haveria algo mais, dali em diante, que não poderia ser ensinado num educandário.

                A dúvida me intrigou e me inspirou a sair em busca de respostas. A partir delas, abandonei o sonho comum de todo estudante de escolar militar de tornar-se militar por profissão. Ainda mais na época, em que ser militar era certeza de futuro pessoal promissor. Encerrado o 2.º Grau naquele colégio, segui para o estudo de Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, de onde abrecei a carreira de advogado.

                Anos depois, em 1995, por ocasião em que foi deferida uma indenização à família de ex-capitão Carlos Lamarca pela comissão federal que analisava casos de crimes praticados durante o golpe militar, o comando do Colégio Militar de Porto Alegre, onde estudara Lamarca, determinou que fosse fundida uma barra de ferro sobre o nome daquele ex-aluno na placa de formatura de sua turma, que encontra-se cimentada nos corredores do pátio do colégio. Estas placas de formatura são uma tradição antiga do colégio e estão em todas as paredes do educandário. O coronel-comandante do colégio, à época, em entrevista a um periódico local que interessou-se pelo evento em razão do interesse jornalístico despertado, declarou o seguinte, como justificativa para o bizarro ato, ao referir-se a Carlos Lamarca: "para todos os efeitos, ele nunca estudou aqui."

                Aquilo, lido no jornal, me soou como uma agressão à história do colégio onde eu estudara. Como assim, "nunca estudou aqui", se ele é e será sempre ex-aluno? E foi como ex-aluno que escrevi cartas ao então comandante (nunca respondidas), protestando contra aquela aberração, e me dei conta de que meu ato era solitário. Pior: alguns de meus ex-colegas, militares da ativa, aprovaram a medida. A correção só acabou anos mais tarde, com o retorno do nome de Lamarca à placa de bronze de sua turma de formatura.

                Por aí, o articulista Urariano pode perceber que as Forças Armadas, através dos colégios militares e, possivelmente, de suas academias de formação militar, mantêm ainda vivo este resquício da ditadura militar brasileira: conseguem passar para os alunos deste sistema militar de ensino uma versão absolutamente distorcida, fraudada, da real e efetiva história do país. A história lhes é repassada, desta forma, adulterada, às sucessivas gerações de militares. Pior que isto, trata-se de um trabalho de inoculação de conceitos defeituosos, de valores não democráticos, baseado na implantação da História do país, que se inicia nas escolas militares e é sedimentado nas academias de formação e renovação do oficialato.

                E para que, isso? Espanta imaginar que a finalidade de tudo seja apenas a de "justificar" e dar uma espécie "lustro opaco" às biografias dos generais que, efetivamente, foram os que praticaram o golpe de Estado contra o Brasil, aniquilando a democracia brasileira existente no início da década de 1960. Uma forma de esconder destas gerações de militares que o regime implantado impôs um sistema de controle mental da sociedade com base no terror, no medo, na violência, na tortura física e na morte de cidadãos brasileiros. Um sistema de poder que perdurou por longos 25 anos.

                O regime autoritário fechado de governo implantado aqui, sintetizado no bordão fascista "Brasil, Ame-o ou Deixe-o", divulgado pelos militares no poder, tinha o falso pretexto de combater "comunistas". Até nisso não foram originais os generais golpistas, pois copiaram o macartihsmo esquizofrênico norte-americano, que adjetivava de "comunista" qualquer voz política discordante como pretexto para calá-la. E os golpistas brasileiros, contraditoriamente, implantaram um dos sistemas de governo mais próximos das características dos mais retrógrados sistemas comunistas de governo: um país fechado, governado à mão-de-ferro, com partido único sob controle, sem eleições, sem parlamento, com imposição de verdade oficial única mediante censura indiscriminada e controle dos meios de comunicação.

                Além disso, um sistema mantido na base da repressão intelectual, com perseguição a todos os pensadores e intelectuais autênticos, incluindo artistas, com uso indiscriminado de prisões arbitrárias, espancamentos, exílios e morte a brasileiros que discordassem, mesmo minimamente, do regime implantado. Enfim, um regime baseado no uso do medo e do terror, como ocorre em qualquer regime político retrógrado e autoritário.

                Aí reside, pois, a grande mentira da "justificativa" inventada para o golpe em suas próprias contradições. Como se diz, popularmente, para curar a "doença", buscaram matar o "doente". Nada diferente aqui dos regimes de quartelada militar que se espalharam pelo continente latino-americano, por interesse direto dos EUA e sua Doutrina Monroe.

                O que surpreende, já agora, em pleno 2010, é que sobrevive a forma encontrada por aqueles mesmos generais golpistas de manterem-se no controle ideológico e intelectual de todos os militares do país. Basta ver que estes, mesmo nos dias atuais, em grande parte, defendem o golpe militar e acham que ele era necessário, manifestando idéias distorcidas sobre História. Mostram que esta disciplina lhes foi ensinada de forma deturpada, muito diferente de como a aprenderam os demais alunos brasileiros.

                A História, nos meios militares, deixou de ser uma disciplina para transformar-se numa doutrina integrante do ideário militar. Uma doutrina pedagógica que prega que exércitos e democracia são instituições inconciliáveis. Uma doutrina que sobrevive desde aqueles tempos de exceção nos educandários militares, mantidos por verbas públicas, sendo alimentada e renovada até hoje , com o bem detectou o artigo de Urariano Mota.

                Como se vê, a manipulação dos livros de história das escolas militares é apenas a ponta visível desta antiga doutrina existente no seio das FFAA. Por isso, não surpreende a quantidade de cartas ofensivas que recebeu o articulista (algumas até grosseiras, demonstrando problemas mais sérios de formação cultural). Elas mostram que há gerações e gerações de militares aos quais foi negada a verdade real sobre o papel desempenhado pelas FFAA durante a ditadura militar.

                A justificativa de uma ditadura, qualquer que seja ela, pode ser a semente de uma nova ditadura e revela certo grau de apego latente e institucional às vias de exceção e de subversão. Nada pior para uma democracia. Ora, isto contraria a idéia de que todo militar deve ser um correto conhecedor da História do país que deve proteger. Não pode nenhum militar, num bom exército, ser refém de uma doutrina de distorção, manipulação e apropriação da História. Trata-se, não por acaso, da mesma doutrina que levou o dirigente do Colégio Militar de Porto Alegre, em pleno ano de 1995, a ser acometido por um surto intelectivo, vindo a cometer o despótico ato de pretender corromper também a história do Colégio Militar de Porto Alegre, ditando publicamente quem pode e quem não pode, "para todos os efeitos", ser considerado ex-aluno do educandário.

                Como se vê, a História é, ainda hoje, uma disciplina claudicante e de difícil manejo e assimilação nos meios militares, sendo tratada como doutrina ideológica formatada no engodo e na falsificação. Prepondera a visão pedagógica que despreza a dialética, o debate, a comparação entre fatos e idéias, negando aos alunos a liberdade de formarem suas próprias convicções. São resquícios vivos do golpe militar que ainda hoje sobrevivem, mulambentos, não surpreendendo haver quem defenda este "modelo pedagógico", sem levar em consideração os danos que causa à integridade intelectual de crianças e adolescentes.

                A imposição da mesma "verdade única" que forjou o fascista lema do "Brasil, Ame-o ou Deixe-o", a despeito da excelência praticada em outras disciplinas curriculares pelas escolas militares, é algo que suprime a capacidade e liberdade de construção crítica e analítica dos alunos destas escolas, ao contrário do que deve ocorrer num bom sistema de educação.

                Um dia, uma nova geração de líderes das FFAA que se revelam imunes a tal doutrinação haverá de estancar esse processo obtuso e manipulador de pedagogia, que ainda hoje perpetua-se nas escolas e academias militares no que diz respeito ao ensino da disciplina de História. Neste dia, os fatos históricos passarão a ser ensinados como efetivamente devem, de uma forma narrativa, respeitando o espaço necessário a que cada aluno e futuro militar elabore suas próprias convicções e deduções. Que isso ocorrerá um dia, todos sabemos, porque, ao fim e ao cabo, "a verdade sempre vence".

                Porém, o que se pode afirmar hoje é que este dia parece estar ainda muito distante. O que mais me intriga é saber se há alguma intenção adicional em manter-se este tipo de doutrina no sistema militar de ensino, além do mero interesse de zelo artificial à biografia dos ilustres generais golpistas. Seria, por acaso, a intenção de formarem militares brasileiros capazes de acreditar que, realmente, a subversão institucional, a tomada do Poder pela força e o controle ditatorial podem ser algum tipo de solução para um país como o nosso, diante de alguma "ameaça" que possa assim ser considerada pelo critério de generais da vez, em algum momento futuro?

                "Povo que não conhece sua História é povo condenado a revivê-la". Pelo menos, apenas a comunidade estudantil militar é afetada e prejudicada por estes livros "pedagógicos" editados pelos generais que controlam a Biblioteca do Exército.
                Rogério Guimarães Oliveira, Advogado, Ex-aluno do Colégio Militar de Porto Alegre entre 1971 e 1979. Email: rgo@via-rs.net





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