Este espaço é reservado para troca de textos e informações sobre a História do Brasil em nível acadêmico.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

** Genealogia NE

 
Para conhecimento.

Jorge Bastos Furman

A Universidade Federal Rural de Pernambuco promoveu um evento nacional para comemorar o centenário de nascimento de Joaquim Nabuco, inaugurando a "Cátedra Anita Novinsky", recém-criada nessa Universidade, dedicada à pesquisa sobre cristãos-novos, judaísmo, e sua presença no nordeste.
O evento foi organizado pelo professor Caesar Sobreira, autor do livro "Nordeste Semita", lançado durante o colóquio.
Além de diversos acadêmicos, participaram do encontro Paulo Valadares e Lina Gorenstein, pertencentes à equipe de pesquisadores do Laboratório de Estudos sobre a Intolerância, (LEI), da Universidade São Paulo, que ressaltaram a genealogia judaica de Joaquim Nabuco e a cidade de Barcelos, berço de seus antepassados rabinos.
A professora Anita Novinsky falou sobre a importância dos estudos judaicos no Nordeste e a imensa riqueza das fontes inquisitoriais, destacando a necessidade de divulgar o papel relevante da população judaica na construção do Brasil.

Livros - Lançamentos
- "Primitivos Colonizadores Nordestinos e seus Descendentes" (2ª edição) - Carlos Xavier Paes Barreto - Relançamento do livro esgotado desde 1956, de importância fundamental para a história brasileira ao apresentar a pesquisa de anos do genealogista Carlos Xavier Paes Barreto, que conta a história das principais famílias nordestinas que formaram a sociedade brasileira e seus descendentes.

- "Adriano Francisco Teixeira Brandão e seus Descendentes" - Noemia Paes Barreto Brandão. 

Fonte: Boletim "Carta Mensal", nº 100, nov-dez 2010-jan 2011, p. 3, do CBG - Colégio Brasileiro de Genealogia.




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    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

                                                                                                    Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
 
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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

** Revista Histórica - edição 46

 
Informamos a publicação da 46ª edição da revista Histórica – publicação on-line do Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Acesse http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/
 
Submissão de artigos para as próximas edições:
Edição 47 – Abril
Tema: : História e Ambiente
Prazo de envio: 7 de março
 
Edição 48 – Junho
Tema: : Conflitos em movimento
Prazo de envio: 6 de maio
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** MONTEIRO LOBATO, OUTRO OLHAR

 
DEBATE ABERTO

Carta aberta ao Ziraldo

Peguei-o para bode expiatório, Ziraldo? Sim, sempre tem que ter algum. E, sem ódio, espero que você não queira que eu morra por te criticar. Você disse que "os americanos odeiam os negros, mas aqui nunca houve uma organização como a Ku Klux Klan". Se dependesse de Monteiro Lobato, o Brasil teria tido sua Ku-Klux-Klan, Ziraldo.

Publicado originalmente no Biscoito Fino e a Massa


Caro Ziraldo,


Olho a triste figura de Monteiro Lobato abraçado a uma mulata, estampada nas camisetas do bloco carnavalesco carioca
"Que merda é essa?" e vejo que foi obra sua. Fiquei curiosa para saber se você conhece a opinião de Lobato sobre os mestiços brasileiros e, de verdade, queria que não. Eu te respeitava, Ziraldo. Esperava que fosse o seu senso de humor falando mais alto do que a ignorância dos fatos, e por breves momentos até me senti vingada. Vingada contra o racismo do eugenista Monteiro Lobato que, em carta ao amigo Godofredo Rangel, desabafou: "(...)Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde. E vão apinhados como sardinhas e há um desastre por dia, metade não tem braço ou não tem perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. "Que foi?" "Desastre na Central." Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente vingança!..." (em "A barca de Gleyre". São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1944. p.133).

Ironia das ironias, Ziraldo, o nome do livro de onde foi tirado o trecho acima é inspirado em um quadro do pintor suíço Charles Gleyre (1808-1874), Ilusões Perdidas. Porque foi isso que aconteceu. Porque lendo uma matéria sobre o bloco e a sua participação, você assim o
endossa : "Para acabar com a polêmica, coloquei o Monteiro Lobato sambando com uma mulata. Ele tem um conto sobre uma neguinha que é uma maravilha. Racismo tem ódio. Racismo sem ódio não é racismo. A ideia é acabar com essa brincadeira de achar que a gente é racista". A gente quem, Ziraldo? Para quem você se (auto) justifica? Quem te disse que racismo sem ódio, mesmo aquele com o "humor negro" de unir uma mulata a quem grande ódio teve por ela e pelo que ela representava, não é racismo? Monteiro Lobato, sempre que se referiu a negros e mulatos, foi com ódio, com desprezo, com a certeza absoluta da própria superioridade, fazendo uso do dom que lhe foi dado e pelo qual é admirado e defendido até hoje. Em uma das cartas que iam e vinham na barca de Gleyre (nem todas estão publicadas no livro, pois a seleção foi feita por Lobato, que as censurou, claro) com seu amigo Godofredo Rangel, Lobato confessou que sabia que a escrita "é um processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, 'work' muito mais eficientemente".

Lobato estava certo. Certíssimo. Até hoje, muitos dos que o leram não veem nada de errado em seu processo de chamar negro de burro aqui, de fedorento ali, de macaco acolá, de urubu mais além. Porque os processos indiretos, ou seja, sem ódio, fazendo-se passar por gente boa e amiga das crianças e do Brasil, "work" muito bem. Lobato ficou frustradíssimo quando seu "processo" sem ódio, só na inteligência, não funcionou com os norte-americanos, quando ele tentou em vão encontrar editora que publicasse o que considerava ser sua obra prima em favor da eugenia e da eliminação, via esterilização, de todos os negros. Ele falava do livro
"O presidente negro ou O choque das raças" que, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, país daquele povo que odeia negros, como você diz, Ziraldo, foi publicado no Brasil. Primeiro em capítulos no jornal carioca A Manhã, do qual Lobato era colaborador, e logo em seguida em edição da Editora Companhia Nacional, pertencente a Lobato. Tal livro foi dedicado secretamente ao amigo e médico eugenista Renato Kehl, em meio à vasta e duradoura correspondência trocada pelos dois: "Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. (...) Precisamos lançar, vulgarizar estas idéias. A humanidade precisa de uma coisa só: póda. É como a vinha".

Impossibilitado de colher os frutos dessa poda nos EUA, Lobato desabafou com Godofredo Rangel:
"Meu romance não encontra editor. [...]. Acham-no ofensivo à dignidade americana, visto admitir que depois de tantos séculos de progresso moral possa este povo, coletivamente, cometer a sangue frio o belo crime que sugeri. Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros." Tempos depois, voltou a se animar: "Um escândalo literário equivale no mínimo a 2.000.000 dólares para o autor (...) Esse ovo de escândalo foi recusado por cinco editores conservadores e amigos de obras bem comportadas, mas acaba de encher de entusiasmo um editor judeu que quer que eu o refaça e ponha mais matéria de exasperação. Penso como ele e estou com idéias de enxertar um capítulo no qual conte a guerra donde resultou a conquista pelos Estados Unidos do México e toda essa infecção spanish da América Central. O meu judeu acha que com isso até uma proibição policial obteremos - o que vale um milhão de dólares. Um livro proibido aqui sai na Inglaterra e entra boothegued como o whisky e outras implicâncias dos puritanos". Lobato percebeu, Ziraldo, que talvez devesse apenas exasperar-se mais, ser mais claro em suas ideias, explicar melhor seu ódio e seu racismo, não importando a quem atingiria e nem por quanto tempo perduraria, e nem o quão fundo se instalaria na sociedade brasileira. Importava o dinheiro, não a exasperação dos ofendidos. 2.000.000 de dólares, ele pensava, por um ovo de escândalo. Como também foi por dinheiro que o Jeca Tatu, reabilitado, estampou as propagandas do Biotônico Fontoura.

Você sabe que isso dá dinheiro, Ziraldo, mesmo que o investimento tenha sido a longo prazo, como ironiza Ivan Lessa:
"Ziraldo, o guerrilheiro do traço, está de parabéns. Finalmente o governo brasileiro tomou vergonha na cara e acabou de pagar o que devia pelo passe de Jeremias, o Bom, imortal personagem criado por aquele que também é conhecido como "o Lamarca do nanquim". Depois do imenso sucesso do calunguinha nas páginas de diversas publicações, assim como também na venda de diversos produtos farmacêuticos, principalmente doenças da tireóide, nos idos de 70, Ziraldo, cognominado ainda nos meios esclarecidos como "o subversivo da caneta Pilot", houve por bem (como Brutus, Ziraldo é um homem de bem; são todos uns homens de bem – e de bens também) vender a imagem de Jeremias para a loteca, ou seja, para a Caixa Econômica Federal (federal como em República Federativa do Brasil) durante o governo Médici ou Geisel (os déspotas esclarecidos em muito se assemelham, sendo por isso mesmo intercambiáveis)".

No tempo em que linchavam negros, disse Lobato, como se o linchamento ainda não fosse desse nosso tempo. Lincham-se negros nas ruas, nas portas dos shoppings e bancos, nas escolas de todos os níveis de ensino, inclusive o superior. O que é até irônico, porque Lobato nunca poderia imaginar que chegariam lá. Lincham-se negros, sem violência física, é claro, sem ódio, nos livros, nos artigos de jornais e revistas, nos cartoons e nas redes sociais, há muitos e muitos carnavais. Racismo não nasce do ódio ou amor, Ziraldo, sendo talvez a causa e não a consequência da presença daquele ou da ausência desse. Racismo nasce da relação de poder. De poder ter influência ou gerência sobre as vidas de quem é considerado inferior.
"Em que estado voltaremos, Rangel," se pergunta Lobato, ao se lembrar do quadro para justificar a escolha do nome do livro de cartas trocadas, "desta nossa aventura de arte pelos mares da vida em fora? Como o velho de Gleyre? Cansados, rotos? As ilusões daquele homem eram as velas da barca – e não ficou nenhuma. Nossos dois barquinhos estão hoje cheios de velas novas e arrogantes, atadas ao mastro da nossa petulância. São as nossas ilusões". Ah, Ziraldo, quanta ilusão (ou seria petulância? arrogância; talvez? sensação de poder?) achar que impor à mulata a presença de Lobato nessa festa tipicamente negra, vá acabar com a polêmica e todos poderemos soltar as ancas e cada um que sambe como sabe e pode. Sem censura. Ou com censura, como querem os quemerdenses. Mesmo que nesse do Caçadas de Pedrinho a palavra censura não corresponda à verdade, servindo como mero pretexto para manifestação de discordância política, sem se importar com a carnavalização de um tema tão dolorido e tão caro a milhares de brasileiros. E o que torna tudo ainda mais apelativo é que o bloco aponta censura onde não existe e se submete, calado, ao pedido da prefeitura para que não use o próprio nome no desfile. Não foi assim? Você não teve que escrever "M*" porque a palavra "merda" foi censurada? Como é que se explica isso, Ziraldo? Mente-se e cala-se quando convém? Coerência é uma questão de caráter.

O que o MEC solicita não é censura. É respeito aos Direitos Humanos. Ao direito de uma criança negra em uma sala de aula do ensino básico e público, não se ver representada (sim, porque os processos indiretos, como Lobato nos ensinou, "work" muito mais eficientemente) em personagens chamados de macacos, fedidos, burros, feios e outras indiretas mais. Você conhece os direitos humanos, inclusive foi o artista escolhido para ilustrar a
Cartilha de Direitos Humanos encomendada pela Presidência da República, pelas secretarias Especial de Direitos Humanos e de Promoção dos Direitos Humanos, pela ONU, a UNESCO, pelo MEC e por vários outros órgãos. Muitos dos quais você agora desrespeita ao querer, com a sua ilustração, acabar de vez com a polêmica causada por gente que estudou e trabalhou com seriedade as questões de educação e desigualdade racial no Brasil. A adoção do Caçadas de Pedrinho vai contra a lei de Igualdade Racial e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que você conhece e ilustrou tão bem. Na página 25 da sua Cartilha de Direitos Humanos, está escrito: "O único jeito de uma sociedade melhorar é caprichar nas suas crianças. Por isso, crianças e adolescentes têm prioridade em tudo que a sociedade faz para garantir os direitos humanos. Devem ser colocados a salvo de tudo que é violência e abuso. É como se os direitos humanos formassem um ninho para as crianças crescerem." Está lá, Ziraldo, leia de novo: "crianças e adolescentes têm prioridade". Em tudo. Principalmente em situações nas quais são desrespeitadas, como na leitura de um livro com passagens racistas, escrito por um escritor racista com finalidades racistas. Mas você não vê racismo e chama de patrulhamento do politicamente correto e censura. Você está pensando nas crianças, Ziraldo? Ou com medo de que, se a moda pega, a "censura" chegue ao seu direito de continuar brincando com o assunto? "Acho injusto fazer isso com uma figura da grandeza de Lobato", você disse em uma reportagem. E com as crianças, o público-alvo que você divide com Lobato, você acha justo? Sim, vocês dividem o mesmo público e, inclusive, alguns personagens, como uma boneca e pano e o Saci, da sua Turma do Pererê. Medo de censura, Ziraldo, talvez aos deslizes, chamemos assim, que podem ser cometidos apenas porque se acostuma a eles, a ponto de pensar que não são, de novo chamemos assim, deslizes.

A gente se acostuma, Ziraldo. Como o seu
menino marrom se acostumou com as sandálias de dedo: "O menino marrom estava tão acostumado com aquelas sandálias que era capaz de jogar futebol com elas, apostar corridas, saltar obstáculos sem que as sandálias desgrudassem de seus pés. Vai ver, elas já faziam parte dele" (ZIRALDO, 1986,p. 06, em O Menino Marrom). O menino marrom, embora seja a figura simpática e esperta e bonita que você descreve, estava acostumado e fadado a ser pé-de-chinelo, em comparação ao seu amigo menino cor-de-rosa, porque "(...) um já está quase formado e o outro não estuda mais (...). Um já conseguiu um emprego, o outro foi despedido do quinto que conseguiu. Um passa seus dias lendo (...), um não lê coisa alguma, deixa tudo pra depois (...). Um pode ser diplomata ou chofer de caminhão. O outro vai ser poeta ou viver na contramão (...). Um adora um som moderno e o outro – Como é que pode? – se amarra é num pagode. (...) Um é um cara ótimo e o outro, sem qualquer duvida, é um sujeito muito bom. Um já não é mais rosado e o outro está mais marrom" (ZIRALDO, 1986, p.31). O menino marrom, ao crescer, talvez virasse marginal, fado de muito negro, como você nos mostra aqui: "(...) o menino cor-de-rosa resolveu perguntar: por que você vem todo o dia ver a velhinha atravessar a rua? E o menino marrom respondeu: Eu quero ver ela ser atropelada" (ZIRALDO, 1986, p.24), porque a própria professora tinha ensinado para ele a diferença e a (não) mistura das cores. Então ele pensou que "Ficar sozinho, às vezes, é bom: você começa a refletir, a pensar muito e consegue descobrir coisas lindas. Nessa de saber de cor e de luz (...) o menino marrom começou a entender porque é que o branco dava uma idéia de paz, de pureza e de alegria. E porque razão o preto simbolizava a angústia, a solidão, a tristeza. Ele pensava: o preto é a escuridão, o olho fechado; você não vê nada. O branco é o olho aberto, é a luz!" (ZIRALDO, 1986, p.29), e que deveria se conformar com isso e não se revoltar, não ter ódio nenhum ao ser ensinado que, daquela beleza, pureza e alegria que havia na cor branca, ele não tinha nada. O seu texto nos ensina que é assim, sem ódio, que se doma e se educa para que cada um saiba o seu lugar, com docilidade e resignação: "Meu querido amigo: Eu andava muito triste ultimamente, pois estava sentindo muito sua falta. Agora estou mais contente porque acabo de descobrir uma coisa importante: preto é, apenas, a ausência do branco" (ZIRALDO, 1986, p.30).

Olha que interessante, Ziraldo: nós que sabemos do racismo confesso de Lobato e conseguimos vê-lo em sua obra, somos acusados por você de "macaquear" (olha o termo aí) os Estados Unidos, vendo racismo em tudo. "Macaqueando" um pouco mais, será que eu poderia também acusá-lo de estar "macaqueando" Lobato, em trechos como os citados acima? Sem saber, é claro, mas como fruto da introjeção de um "processo" que ele provou que "work" com grande eficiência e ao qual podemos estar todos sujeitos, depois de sermos submetidos a ele na infância e crescermos em uma sociedade na qual não é combatido. Afinal, há quem diga que não somos racistas. Que quem vê o racismo, na maioria os negros, que o sofrem, estão apenas "macaqueando". Deveriam ficar calados e deixar dessa bobagem. Deveriam se inspirar no menino marrom e se resignarem. Como não fazem muitos meninos e meninas pretos e marrons, aqueles que são a ausência do branco, que se chateiam, que se ofendem, que sofrem preconceito nas ruas e nas escolas e ficam doídos, pensando nisso o tempo inteiro, pensando tanto nisso que perdem a vontade de ir à escola,
começam a tirar notas baixas porque ficam matutando, ressentindo, a atenção guardadinha lá debaixo da dor. E como chegam à conclusão de que aquilo não vai mudar, que não vão dar em nada mesmo, que serão sempre pés-de-chinelo, saem por aí especializando-se na arte de esperar pelo atropelamento de velhinhas.

Racismo é um dos principais fatores responsáveis pela limitada participação do negro no sistema escolar, Ziraldo, porque desvia o foco, porque baixa a auto-estima, porque desvia o foco das atividades, porque a criança fica o tempo todo tendo que pensar em como não sofrer mais humilhações, e o material didático, em muitos casos,
não facilita nada a vida delas. E quando alguma dessas crianças encontra um jeito de fugir a esse destino, mesmo que não tenha sido através da educação, fica insuportável e merece o linchamento público e exemplar, como o sofrido por Wilson Simonal. Como exemplo, temos a sua opinião sobre ele: "Era tolo, se achava o rei da cocada preta, coitado. E era mesmo. Era metido, insuportável". Sabe, Ziraldo, é por causa da perpetuação de estereótipos como esses que às vezes a gente nem percebe que eles estão ali, reproduzidos a partir de preconceitos adquiridos na infância, que a SEPPIR pediu que o MEC reavaliasse a adoção de Caçadas de Pedrinho. Não a censura, mas a reavaliação. Uma nota, talvez, para ser colocada junto com as outras notas que já estão lá para proteger os direitos das onças de não serem caçadas e o da ortografia, de evoluir. Já estão lá no livro essas duas notas e a SEPPIR pede mais uma apenas, para que as crianças e os adolescentes sejam "colocados a salvo de tudo que é violência e abuso", como está na cartilha que você ilustrou. Isso é um direito delas, como seres humanos. É por isso que tem gente lutando, como você também já lutou por direitos humanos e por reparação. É isso que a SEPPIR pede: reparação pelos danos causados pela escravidão e pelo racismo.

Assim você
se defendeu de quem o atacou na época em que conseguiu fazer valer os seus direitos: "(…) Espero apenas que os leitores (que o criticam) não tenham sua casa invadida e, diante de seus filhos, sejam seqüestrados por componentes do exército brasileiro pelo fato de exercerem o direito de emitir sua corajosa opinião a meu respeito, eu, uma figura tão poderosa". Ziraldo, você tem noção do que aconteceu com os, citando Lobato, "negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão", e do que acontece todos os dias com seus descendentes em um país que naturalizou e, paradoxalmente, nega o seu racismo? De quantos já morreram e ainda morrem todos os dias porque tem gente que não os leva a sério? Por causa do racismo é bem difícil que essa gente fadada a ser pé-de-chinelo a vida inteira, essas pessoas dos subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal, - porque nelas está a ausência do branco, esse povo todo representado pela mulata dócil que você faz sorrir nos braços de um dos escritores mais racistas e perversos e interesseiros que o Brasil já teve, aquele que soube como ninguém que um país (racista) também de faz de homens e livros (racistas), por causa disso tudo, Ziraldo, é que eu ia dizendo ser quase impossível para essa gente marrom, herdeira dessa gente de cor que simboliza a angústia, a solidão, a tristeza, gerar pessoas tão importantes quanto você, dignas da reparação (que nem é financeira, no caso) que o Brasil também lhes deve: respeito. Respeito que precisou ser ancorado em lei para que tivesse validade, e cuja aplicação você chama de censura.

Junto com outros grandes nomes da literatura infantil brasileira, como
Ana Maria Machado e Ruth Rocha, você assinou uma carta que, em defesa de Lobato e contra a censura inventada pela imprensa, diz: "Suas criações têm formado, ao longo dos anos, gerações e gerações dos melhores escritores deste país que, a partir da leitura de suas obras, viram despertar sua vocação e sentiram-se destinados, cada um a seu modo, a repetir seu destino. (...) A maravilhosa obra de Monteiro Lobato faz parte do patrimônio cultural de todos nós – crianças, adultos, alunos, professores – brasileiros de todos os credos e raças. Nenhum de nós, nem os mais vividos, têm conhecimento de que os livros de Lobato nos tenham tornado pessoas desagregadas, intolerantes ou racistas. Pelo contrário: com ele aprendemos a amar imensamente este país e a alimentar esperança em seu futuro. Ela inaugura, nos albores do século passado, nossa confiança nos destinos do Brasil e é um dos pilares das nossas melhores conquistas culturais e sociais." É isso. Nos livros de Lobato está o racismo do racista, que ninguém vê, que vocês acham que não é problema, que é alicerce, que é necessário à formação das nossas futuras gerações, do nosso futuro. E é exatamente isso. Alicerce de uma sociedade que traz o racismo tão arraigado em sua formação que não consegue manter a necessária distância do foco, a necessário distância para enxergá-lo. Perpetuar isso parece ser patriótico, esse racismo que "faz parte do patrimônio cultural de todos nós – crianças, adultos, alunos, professores – brasileiros de todos os credos e raças." Sabe o que Lobato disse em carta ao seu amigo Poti, nos albores do século passado, em 1905? Ele chamava de patriota o brasileiro que se casasse com uma italiana ou alemã, para apurar esse povo, para acabar com essa raça degenerada que você, em sua ilustração, lhe entrega de braços abertos e sorridente.
Perpetuar isso parece alimentar posições de pessoas que, mesmo não sendo ou mesmo não se achando racistas, não se percebem cometendo a atitude racista que você ilustrou tão bem: entregar essas crianças negras nos braços de quem nem queria que elas nascessem. Cada um a seu modo, a repetir seu destino. Quem é poderoso, que cobre, muito bem cobrado, seus direitos; quem não é, que sorria, entre na roda e aprenda a sambar.

Peguei-o para bode expiatório, Ziraldo? Sim, sempre tem que ter algum. E, sem ódio, espero que você não queira que eu morra por te criticar. Como faziam os racistas nos tempos em quem ainda linchavam negros. Esses abusados que não mais se calam e apelam para a lei ao serem chamados de "macaco", "carvão", "fedorento", "ladrão", "vagabundo", "coisa", "burro", e que agora querem ser tratados como gente, no concerto dos povos. Esses que, ao denunciarem e quererem se livrar do que lhes dói, tantos problemas criam aqui, nesse país do futuro. Em uma matéria do Correio Braziliense você disse que
"Os americanos odeiam os negros, mas aqui nunca houve uma organização como a Ku Klux Klan. No Brasil, onde branco rico entra, preto rico também entra. Pelé nunca foi alvo de uma manifestação de ódio racial. O racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos". Se dependesse de Monteiro Lobato, o Brasil teria tido sua Ku-Klux-Klan, Ziraldo. Leia só o que ele disse em carta ao amigo Arthur Neiva, enviada de Nova Iorque em 1928, querendo macaquear os brancos norte-americanos: "Diversos amigos me dizem: Por que não escreve suas impressões? E eu respondo: Porque é inútil e seria cair no ridículo. Escrever é aparecer no tablado de um circo muito mambembe, chamado imprensa, e exibir-se diante de uma assistência de moleques feeble-minded e despidos da menos noção de seriedade. Mulatada, em suma. País de mestiços onde o branco não tem força para organizar uma Kux-Klan é país perdido para altos destinos. André Siegfred resume numa frase as duas atitudes. "Nós defendemos o front da raça branca - diz o sul - e é graças a nós que os Estados Unidos não se tornaram um segundo Brasil". Um dia se fará justiça ao Kux-Klan; tivéssemos aí uma defesa dessa ordem, que mantém o negro no seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca - mulatinho fazendo o jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destroem (sic) a capacidade construtiva." Fosse feita a vontade de Lobato, Ziraldo, talvez não tivéssemos a imprensa carioca, talvez não tivéssemos você. Mas temos, porque, como você também diz, "o racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos.""Só dói quando eu rio". Como, para acabar com a polêmica, você nos ilustra com o desenho para o bloco quemerdense. Olho para o rosto sorridente da mulata nos braços de Monteiro Lobato e quase posso ouvi-la dizer:
Com pesar, e em retribuição ao seu afeto,

Ana Maria Gonçalves

Negra, escritora, autora de Um defeito de cor.
(*) Escritora, autora de "Um defeito de cor" (Record), ganhador do prêmio Casa de las Américas, escolhido entre 212 concorrentes, em decisão unânime dos jurados.

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domingo, 20 de fevereiro de 2011

** IEB anuncia doação de suas publicações

 

IEB anuncia doação de suas publicações

20.02.2011 | Fonte de informações:

Pravda.ru

IEB anuncia doação de suas publicações a entidades interessadas - Unidade que reúne alguns dos mais importantes acervos da USP de cultura e história do Brasil, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) anuncia que realizará a doação de publicações a outras instituições.

14636.jpegUnidade que reúne alguns dos mais importantes acervos da USP de cultura e história do Brasil, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) anuncia que realizará a doação de publicações a outras instituições. Serão disponibilizados os números da revista do IEB e livros resultantes de pesquisas realizadas no instituto, bem como outras que contemplem os estudos brasileiros. O objetivo é conceder as obras a organizações de ensino, cultura ou de alguma forma ligadas a esses assuntos, como bibliotecas e organizações não-governamentais, e não a pessoas físicas. A lista de publicações disponíveis encontra-se no site do Instituto.

Segundo Fernanda Rodrigues Rossi, supervisora técnica do Serviço de Difusão Cultural do IEB, tais doações já ocorrem há mais de cinco anos, mas como as instituições não tinham conhecimento disso, nunca entravam em contato para solicitar as publicações. A ideia de se divulgar a ação em sites institucionais e redes sociais foi concebida exatamente para incentivar a procura. "A intenção sempre foi fazer com que o conhecimento fosse disseminado, que essas publicações fossem destinadas a instituições que possam aproveitar seu conteúdo", diz Fernanda.

Além disso, a partir da apreciação dos livros e revistas, também é esperado que o IEB se torne mais conhecido do público, de forma que seus cursos, palestras e seminários sejam atendidos por um número maior de pessoas - lembrando que são abertos a quaisquer interessados. Também surge como meta mostrar o trabalho feito pelos pesquisadores e atrair alunos para a pós-graduação que oferece em "Culturas e Identidades Brasileiras", com área de concentração em "Estudos Brasileiros".


Necessidade de divulgação

Ao final do ano passado, percebeu-se que muitas obras não eram sequer conhecidas do público. "Durante a Feira do Livro, as pessoas se espantavam de saber que as publicações existiam e que eram tão acessíveis, com relação ao preço", diz Fernanda. Apesar de estas outras publicações serem vendidas, o IEB não tem como propósito lucrar, já que as pesquisas e as obras são realizadas com fundos da Universidade e da FAPESP, algumas vezes.

Assim, foram feitas divulgações que já obtiveram resultados. Segundo Fernanda, "desde sexta-feira passada, quando começamos a mandar emails e publicar nos sites, recebemos cerca de cinco pedidos de doação". E ainda são esperados mais durante o resto da semana, conforme as instituições verifiquem no site do IEB quais obras são interessantes para elas. Depois de escolher, elas devem encaminhar um ofício pelo correio ou por email com a relação de publicações desejadas, para que instituto avalie se a doação pode ser realizada.


Não há estimativa de quantas obras serão doadas e também não há prazo estipulado para o término da ação. "Enquanto a gente puder atender a demanda das instituições, nós enviamos os livros, até que eles acabem", diz Fernanda. Segundo ela, é apenas pedido que a própria organização que for contemplada se encarregue de recolher o material no IEB, ou então que se responsabilize por pagar a taxa de envio do correio.


Entre as publicações doadas, além da revista do Instituto, encontram-se livros como
A imigração japonesa (1908-1922), produto da tese de Arlinda Rocha Nogueira, e A literatura de folhetos, da coleção Fundos Villa-Lobos, contendo textos comentados de literatura popular do Nordeste, além de trovas, poemas popularescos e letras de músicas que foram reunidas e colecionadas por Mário de Andrade.

Mais informações: (11) 3091-1149, email difusieb@usp.br, site
www.ieb.usp.br

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Atividade nos últimos dias:
    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

                                                                                                    Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
 
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** Revolução cubana na passarela do samba

Cuba from 123gifs.eu


AS ILHAS DA MAGIA DA UNIÃO POPULAR
Raul Longo
 
Ilha da Magia é o dístico de Florianópolis em função da mitologia local que confere à colonização açoriana, a participação de algumas bruxas.
 
Bruxas eram comuns nos Açores porque ao arquipélago no meio do Atlântico, equidistante de Europa e América, os poderosos de Portugal degredavam seus contestadores.
 
Como nas sociedades de todas as épocas, lá em Portugal os contestadores também eram da gente do povo, pois raramente acontece de um nobre, um vigário ou qualquer classe de acomodado às benesses ou aos farelos do Poder, contestar alguma coisa.
 
E, naqueles tempos medievais, isso era ainda mais raro, pois o Poder era tanto e a obstinação em mantê-lo tamanha, que nem preciso contestá-lo. Bastava não se sujeitar a um daqueles poderosos para ser mandado aos Açores.
 
Na Ibéria, como em toda a parte, a força contestadora das mulheres sempre teve um efeito muito forte. Ainda hoje é assim. Reparem que um sujeito que reclama ou não se sujeita, por mais admirado que seja, nunca o é tanto quanto uma mulher que peita a empáfia e prepotência dos poderosos, como há pouco tempo a hoje Presidenta Dilma fez a um extinto senador.
 
Natural, pois da mulher se construiu o mito da fragilidade, da candura. Quando uma foge desse estereótipo, se entende que tenha superado a condição feminina.
 
Observando bem, é condição imposta, patriarcal, formada por preceitos religiosos que relegam a mulher à condição de servis. Agora, imaginem as feministas da europa medieval, dando uma banana para tais mitos!
 
E acontecia, porque aqueles povos ibéricos, antes do domínio do Império Romano, provinham dos celtas, uma cultura baseada em outros ritos onde a entidade religiosa suprema era a Grande Mãe. Aí, quando os romanos se fazem cristãos e se instaura o Império Católico com aquela transformação do Jeová dos semitas hebreus em deus único, dá-se o embate das sacerdotisas da Grande Mãe com os sacerdotes católicos.
 
Assim nasceu o mito das bruxas. A magia, divulgada pelos contos de fadas, foi a forma de convencer as pessoas de que aquelas mulheres contestadoras eram do mal. E quem era do mal, naqueles tempos, ou ia pra fogueira da inquisição ou para os Açores.
 
Lá pelo século 18, aquela gente ali abandonada desde cerca de 1430, estava à míngua, morrendo de fome, pois a insuficiente produção agrícola das ilhas era monopolizada pela Igreja e há registros de um édito real obrigando o bispo de uma delas a distribuir os grãos armazenados nos silos de sua capela, do contrário o povo morreria de fome.
 
Compreensível a avareza do bispo, afinal nos Açores tornou-se impossível satisfazer a gula e o jeito foi transferir aquele povo pela região litorânea da vasta e nova colônia: o Brasil.
 
Assim vieram as bruxas, muitas delas declaradas como tal por provocarem os párocos com a tentação da luxúria, como o caso de uma cabocla da Paraíba, dona de um corpo tão diabolicamente atentado que o padre não teve outro jeito senão mandar queimar a obra do demo.
 
Atenção! Aqui não se trata de alusão à sigla de partido político, coisa que então nem existia, embora, de uma forma ou de outra, marque ainda hoje a história de Florianópolis como Ilha da Magia.
 
Marcou e não apenas pela eleição do partido ao governo do estado, nas últimas eleições, mas principalmente porque aqueles açorianos que de lá vieram, cá continuam em situação similar, ainda que bastante melhorada no tocante ao quesito alimentação, pois com índios aprenderam o cultivo e trato da mandioca, confundindo alguns historiadores locais que chegam a divulgar engenhos de farinha e de cana como de origem açoriana, apesar de por lá não haver matéria prima que justificasse tais empenhos. E além de práticas agrícolas, aprenderam também a construir canoas e outros recursos de pesca.
 
Dos negros escravos aprenderam muito da culinária que hoje vai se tornando mais um atrativo turístico desta Ilha de Santa Catarina ou da Magia, entre outras artes hoje esquecidas. Ou melhor, ainda desenvolvidas, mas esquecidas de onde tenham se originado, de forma que aqui se pensa que tudo tenha vindo dos Açores e que não exista em outras partes do país.
 
Não é bem verdade, pois os guaranis desde o sul se espalhavam por São Paulo adentrando Mato Grosso afora até a fronteira oeste do  Paraguai. E negros foram misturados todos: bantos, iorubas, minas, nagôs, angolas, etc. Misturados na dispersão promovida pelos senhores brancos, mas mesmo formando variações culturais, se os dança em cada um dos estados brasileiros.
 
Estados pouco conhecidos pelos  ilhéus de Santa Catarina ou pelos sulistas em geral, limitados em suas fronteiras únicas dentro das quais se creem exclusivos na manutenção de tradições adaptadas de negros e índios que olvidaram no decorrer das miscigenações às culturas ibéricas, enaltecidas na busca de uma identidade europeia que além de não identificar coisa alguma, solidifica provincianismos e imobiliza a criatividade das gerações, reduzindo a cultura a mesmices xenofóbicas.
 
Similaridades às origens açorianas, sem dúvida se mantém. Mas das mais notáveis são as relações sociais, pois ainda que não mais se careça de éditos que obriguem a dar de comer ao povo, quase tão quanto continua reprimido e abandonado. Ou simplesmente ignorado, como ainda há pouco foram ignorados e até anunciados como inexistentes pela então principal autoridade pública do país no setor, natural de Santa Catarina, os mais tradicionais trabalhadores da região, onde constituem uma das maiores colônias de pesca do Brasil.
 
Já certas comunidades étnicas como num passe de mágica se tornam invisíveis. A exemplo do Rio de Janeiro e Espírito Santo, ou onde haja aglomerações urbanas próximas a regiões montanhosas, os mais pobres de Florianópolis também são amontoados nos morros e escondidos nas favelas.
 
Em compensação, assim como no Rio e por todo o Brasil, anualmente os pobres se congraçam com as classes privilegiadas para fazer a maior festa popular do mundo. Temos até nosso sambódromo, que aqui leva o prosaico nome de Passarela Nego Quirido, em homenagem a Juventino João dos Santos Machado que era negro, mas era querido. Nessa de "é nego, mas é quirido" que em outras plagas se substitui por "é negro, mas de alma branca", João acabou atraindo alguns não negros para a entidade carnavalesca Os Garotos do Ritmo que, com a introdução de brancos no samba, passou a ser denominada de Copa Lord, tal como hoje é conhecida uma das maiores escolas de samba da cidade.
 
Duas outras de Florianópolis também tem nomes sintomáticos: Consulado e, a mais antiga, Protegidos da Princesa.
 
A que teve Rodolfo Silva, o popular "Seu das Cor", como primeiro presidente, já não se preocupou em buscar batismo que atestasse apadrinhamento da elite, vindo a existir apenas como Unidos da Coloninha, em homenagem ao bairro onde foi criada, na porção continental do município.
 
Ainda assim, quem vai à Passarela Nego Quirido assistir a um desfile, se pergunta de onde saem tantos negros para fazer o carnaval da capital catarinense. Foi o que intrigou o cineasta alagoano César Cavalcanti que, em 2005, produziu "Além do Samba, a Resistência Afro-Brasileira", onde se documenta essa Florianópolis que não se vê nem se enxerga.
 
De fato, uma magia, um bruxedo. Pois como demonstrado no filme, em shopping e por todo o comércio, restaurantes, bares noturnos, no movimento cotidiano das ruas do centro da cidade, nas praias, no banho de mar e até mesmo nos hospitais e órgãos públicos da cidade, se conseguiu tornar invisível 18% da população da cidade.
 
Já foram 25% há algumas décadas, mas um sistemático processo de embranquecimento ou mais apropriadamente desnegrecimento populacional, conseguiu reduzir o número de cidadãos negros. Mesmo assim é intrigante: afora os da Nego Quirido, durante o ano onde se enfiam tantos negros menos queridos pela elite florianopolitana?
 
Não adianta acompanhar a programação local de TV. Ali não há nenhum. Tampouco nas páginas dos poucos jornais de uma mídia monopolizada pelo grupo gaúcho RBS. No entanto, com o apoio da comunidade negra e sob a legenda do PT, o vereador Márcio de Souza, graduado em química, foi eleito por 5 mandatos. Licenciado neste ano, acaba de ser substituído pelo também negro e doutor, professor em urbanismo da UFSC, Lino Peres.
 
Não há outros políticos negros na cidade, mas esses já são suficientes para demonstrar a razão do título do filme de César Cavalcanti, confirmando que além do samba do carnaval na Nego Quirido, há uma resistência afro-brasileira em Florianópolis ao bloqueio racial.
 
Talvez por tal experiência é que a mais recente escola de samba do município, fundada em 2009 após 3 títulos consecutivos de campeão como bloco carnavalesco, resolveu homenagear outra ilha da magia: Cuba.
 
Há 5 décadas bloqueada pela maior potência político/bélica e econômica do mundo, a resistência de Cuba pela sobrevivência de sua soberania como nação, não deixa de ser uma magia. E ao homenageá-la, o Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba União da Ilha da Magia tem obtido para o carnaval de Florianópolis inédita promoção popular, como se infere da constante circulação pela internet de textos e matérias como a do Alípio Freire, reproduzida adiante.
 
E me chegam de todo o Brasil, de leste a oeste, de norte a su... deste. Quase deslizei, mas a verdade é que daqui do sul, propriamente, nem tanto. O que, talvez, se explique pelo monopólio da RBS.
  
Todos os anos, ao reproduzir flagrantes dos desfiles de cada capital, em cadeia nacional a Rede Globo exibe alguns poucos minutos de imagens da Nego Quirido, produzidas pela sua filiada RBS. Tanto isso é verdade que, comentando a eventualidade da assistência de um desses momentos, um assíduo visitante de temporadas de final de ano me perguntou se os passistas seriam contratados do Rio de Janeiro. Com essa observação confirmou a magia da invisibilidade dos negros de Florianópolis, mas também atestou o esforço da Globo e da RBS em dar alguma visibilidade às manifestações populares brasileiras, ocorridas fora do eixo Rio - São Paulo. Isso ocorre ao menos no carnaval quando as fronteiras culturais do Brasil se estendem até a Bahia.
 
Mesmo assim, o carnaval de Florianópolis nunca obteve maior notoriedade nem tanta divulgação pelos esforços de alguma de suas escolas de samba como vêm ocorrendo neste ano, em razão do enredo da União da Ilha da Magia.
 
Não pela Globo ou qualquer outra emissora, pois no que depende da difusão da mídia convencional o país também é reduzido, ainda que por outros motivos. Mais para mercadológicos do que de cunho xenofóbicos.
 
De toda forma,  seja por questões de mercado ou xenofóbicas, sempre se empobrece o regionalismo pela invisibilidade da riqueza de nossa diversidade e a promoção de anacrônicos jacobinismos e ridículos ufanismos. Mas, graças ao enredo da União da Ilha da Magia, ainda que pelo país continuem ignorando a presença negra na conformação sócio/cultural da capital catarinense, muitos brasileiros pela primeira vez estão sendo informados de que aqui existe carnaval. E carnaval de resistência.
 
Apesar dessa divulgação ser importante para uma cidade de vocação turística que, queira-se ou não, integra um país internacionalmente conhecido pelo evento, ouvi dizer que a União da Ilha da Magia está tendo dificuldades e sofrendo bloqueios de patrocínios públicos e privados. Fui comentar o fato com alguém que me respondeu como se evidente: "Também! Quem manda escolher um enredo como esse?"
 
Na matéria abaixo, Alípio Freire demonstra que a resposta a essa pergunta está mais na magia da união popular no que na crença das bruxas de Florianópolis. Essas, únicas sobreviventes do incêndio dos galpões da Grande Rio na Cidade do Samba, desfilarão no Sambódromo carioca.
 
Embora a prefeitura de Florianópolis, que no final do ano passado antecipou a cobrança do IPTU com significativos acréscimos para o período 2011, tenha se recusado a ajudar a escola mais vitimada pelo incêndio; caso ocorra uma mágica e fantástica consagração oficial da União da Ilha da Magia como campeã deste carnaval, certamente a RBS irá sugerir que os jurados foram comprados com dólares e uísques cubanos.
  
Cuba nunca produziu uísque e, sim, rum; mas aí são outras magias e das verdadeiramente pesadas. Isso de magia branca e magia negra é só manipulação de preconceitos dos velhos podres poderes que detêm a os verdadeiros e perigosos bruxedos. Tem aqueles que não creem, pero que hay, hay.    
    
 
   
 
 
 
 
 

De: Alipio Freire
Revolução cubana dá samba

Mostrar ao Brasil e ao mundo uma Cuba livre de preconceitos, descortinando sua história, cultura e conquistas sociais. Esse é o objetivo da escola samba de Florianópolis União da Ilha da Magia. Por defender que o Carnaval é não apenas beleza e diversão, mas também informação e momento oportuno para questionamentos, a agremiação desfilará na Festa de Momo com o enredo "Cuba sim! Em nome da verdade". É a primeira vez que a revolução cubana será homenageada numa passarela do samba.

A ideia é aproveitar os 52 anos da revolução cubana, em 2011, e os festejos pelo bicentenário das independências na América do Sul, iniciados em 2010, para exaltar a luta da ilha pela liberdade.

A mais nova escola de samba de Florianópolis, que vai para o sue terceiro ano de desfiles, associa o tema escolhido à função que avalia ser a mais importante em uma agremiação, a de trabalhar a questão da cidadania. Nesse sentido, quer questionar no Carnaval: "qual o preço da liberdade?"

"Este enredo quer mostrar a saga de um povo que sonhou revolução e lutou para conquistar sua independência. A fibra de pessoas simples, alegres, cheias de sonhos e desejos que valorizam o social, o trabalho, a educação, a cultura e o esporte. Um lugar onde se vive sem miséria ou fome e que mantém acesa a chama dos ideais de liberdade, mesmo com todo o sofrimento do bloqueio que lhes é imposto pela "nação" à qual eles tiveram a ousadia de dizer não", diz a sinopse do enredo.

A União da Ilha da Magia, que já está realizando ensaios todas as sextas e domingo, na Praça
Bento Silvério, em Lagoa da Conceição, lembra no samba os heróis da ilha, José Martí, Che Guevara e Fidel Castro. Destaca as conquistas de Cuba, mas também não deixa de mencionar os prejuízos do bloqueio norte-americano: "Um preço a pagar, não vou negar/ Mas a comunidade em primeiro lugar", diz a letra da música.

Para preparar o desfile, os diretores da escola, que em 2010 tornou-se vice-campeã, estiveram em Cuba colhendo informações. Se encantaram com o país e se convenceram do tema. Chegaram a convidar uma das filhas de Che Guevara, a médica cubana Aleida Guevara, para a festa.

De acordo com o carnavalesco da escola, Jaime Cezário, o enredo será dividido em quatro setores, quatro alegorias e uma média de 18 alas. A história da ilha está presente nos vários elementos do desfile. As fantasias remetem desde à ditadura e à dominação do Tio Sam, até à nacionalização das empresas estrangeiras, aos tradicionais charutos cubanos e ao culto na Santeria.

"Aproveitando essa data mágica (do bicentenário), quando muitos países irmãos começaram a sonhar em ser livres de dominadores estrangeiros, encontramos um em especial, Cuba, que nos dias de hoje ainda é notícia por seus ideais de liberdade, lutas e conquistas sociais, assim como pelo preço que paga por querer administrar suas terras sem influência de nenhuma potência estrangeira, principalmente da maior delas, os Estados Unidos da América, que além de vizinho, sempre sonhou em fazê-la um paraíso de ricos e milionários", diz a escola.

Veja abaixo o resumo do enredo, que tenta clarear um pouco da visão embaçada que muitos têm sobre Cuba. E, ao final, a letra do samba enredo.


SINOPSE DO ENREDO

Cuba sim! Em nome da verdade

O desejo de liberdade ocasiona histórias admiráveis de homens e nações que sonham em ser livres para conquistar uma sociedade mais equilibrada e justa, sem tantas diferenças entre as classes sociais, onde quase sempre, o povo faz parte da classe dos miseráveis e os que detêm o poder, a dos ricos.

Num cenário como esse, nasceu na ilha de Cuba, no final do século XIX, um poeta que sonhou com liberdade, e através de suas idéias de uma sociedade mais justa, usou a literatura como uma flecha certeira para atingir mortalmente o "poder" que estava sempre alheio aos interesses populares, e iniciar o processo que levará o povo, anos mais tarde, a administrar seu próprio destino: José Martí.

"A liberdade custa muito caro e temos ou de nos resignarmos a viver sem ela ou de nos decidirmos a pagar o seu preço." José Martí

O poeta fundará o Partido Revolucionário Cubano, plantando sementes importantes no coração do povo, mas que num primeiro instante não consegue atingir seu principal objetivo: um governo livre de interesse de forças estrangeiras. Cuba liberta-se da dominação espanhola, mas obtém essa liberdade com a ajuda dos Estados Unidos da América, seu vizinho mais próximo que sorrateiramente se envolve na guerra pela independência contra Espanha. A independência é conquistada, mas a liberdade lhes é roubada.

Os americanos camuflam atrás dessa nobre atitude, interesses em transformar a ilha de Cuba num grande paraíso para suas empresas e milionários. Começam a apoiar ditadores que sorriem para seus interesses, mas não se preocupam com o bem-estar da população. Cuba se torna a menina dos olhos do Tio Sam, chegando ao ponto de Havana, sua capital, tornar-se o destino mais requintado das Américas e do mundo nos anos 40 e 50, ditando modas e modismos.

"Quem não se sentir ofendido com a ofensa feita a outros homens, quem não sentir na face a queimadura da bofetada dada noutra face, seja qual for a sua cor, não é digno de ser homem" José Martí

O país que se torna destino mais requintado dos anos 40 e 50, paraíso de ricos e milionários, possui uma população que sofre com os desmandos do poder, vivendo em condições precárias nos centros urbanos, o mesmo acontecendo no campo, onde agricultores e camponeses sofrem com as condições de trabalho.

Um paraíso para poucos e um sofrimento para muitos. Este clima faz surgir no seio do povo o antigo sonho de conquistar um país de justiça social e livre de interferências, mas a ação impiedosa da ditadura tenta abafar esse clamor com mãos de ferro. A insatisfação só aumenta e nos meios estudantis um novo líder surge com idéias de lutar contra a tirania dos governantes e por uma nova sociedade cubana: Fidel Castro.

"Os poderosos podem destruir uma, duas, até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera." Che Guevara

Em 1952 mais um golpe de estado fez tomar o poder o ditador Fugêncio Batista. Fugêncio governará com mãos de ferro e fará aumentar cada vez mais o desejo de mudanças. Fidel se destacará rapidamente entre os insatisfeitos, organizará a resistência contra a ditadura e fará movimentos para derrubá-la. Por essas tentativas, será perseguido, preso e exilado. No exílio no México, será apresentado ao médico argentino Che Guevara que se tornará o maior símbolo da revolução cubana.

Fidel organiza e lidera o movimento guerrilheiro 26 de Julho ou M26, em referência a tentativa de assaltar a maior prisao de presos politícos da ditadura em 26 de julho de 1953. A tentativa é um fracasso e os obrigam a se refugiar na Sierra Maestra. Os rebeldes lentamente se fortalecem, aumentando seu armamento e angariando apoio e o recrutamento de muitos camponeses, intelectuais, estudantes e trabalhadores urbanos insatisfeitos com o rumo da Nação. A luta se intesifica, e mesmo contando com o apoio americano, o ditador Fugêncio Batista é derrotado em 1959 e foge de Cuba.

"Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros." Che Guevara

A vitória do grupo revolucionário surpreendeu o mundo, pois à época era inimaginável que um grupo de "sonhadores" derrotassem a grande potência econômica e militar. Mas os ideais revolucionários contagiaram o povo cubano. E as idéias e os sonhos venceram as armas.

"Sonha e serás livre de espírito... luta e serás livre na vida."Che Guevara

A vitória da revolução faz surgir um governo de orientação socialista e uma das primeiras medidas do novo governo foi nacionalizar as empresas estrangeiras, inclusive as norte-americanas. Esta atitude desagrada o seu poderoso vizinho capitalista que corta relações diplomáticas, facilitando o alinhamento de Cuba com o seu mais temido rival, a União Soviética. Essa aproximação irá gerar muitas confusões diplomáticas, o que culminará no bloqueio vigente até os dias de hoje.

"Os grandes só parecem grandes porque estamos ajoelhados!" Che Guevara

Apesar do bloqueio e de alguns problemas sociais encontrados pela revolução, as conquistas sociais foram contabilizadas. A maioria da população recebe energia elétrica e tem acesso à água potável e saneamento básico. Os que não são ainda donos de sua moradia pagam aluguéis simbólicos. A taxa de analfabetismo é praticamente zero, assim como a taxa de evasão escolar e o cubano tem acesso a um ensino – desde o fundamental ao universitário – de qualidade e totalmente gratuito. Mas, além de oferecer educação gratuita ao seu povo, o governo cubano acolhe estudantes de mais de 34 países latino-americanos, africanos e do caribe, tanto nos cursos universitários como nos cursos de mestrado e doutorado.

"O conhecimento nos faz responsáveis." Che Guevara

O sistema de seguridade social, cujos princípios são os da solidariedade, universalidade e integridade, é um dos mais abrangentes do mundo.

A assistência à saúde em Cuba é comparável aos países mais desenvolvidos. Segundo dispositivo constitucional, o cubano tem direito a prestação gratuita de serviços médicos, hospitalares e odontológicos.

Hoje, mesmo reconhecendo que o país passa por dificuldades econômicas e possui deficiências em alguns setores como as telecomunicações e transportes, os cubanos se orgulham da revolução e dos seus resultados, que vão mais longe do que as medalhas conquistadas nas olimpíadas e nos jogos pan-americanos. O cubano tem grande amor ao seu país e faz questão de registrar que mora no único país latino americano sem favelas.

"A melhor maneira de ser livre é ser culto." José Martí

A economia cubana sofreu grande revezes. Com a nacionalização das empresas privadas e o bloqueio americano ficou contando apenas com o apoio da sua grande parceira comercial, a União Soviética que veio a desaparecer nos anos 90, deixando Cuba sem nenhum apoio internacional.

O produto de maior destaque na economia cubana é o açúcar, seguidos pelo tabaco (com destaque para os charutos cubanos que são valorizados no mundo inteiro), a extração do níquel, a pesca, a indústria farmacêutica e a biotecnologia. Na última década o governo vem priorizando o turismo que se tornou grande fonte de divisas e empregos. Os turistas vêm atraídos por suas maravilhosas praias de águas verdes cristalinas e o encantamento das suas cidades que mantêm o clima "retrô" dos anos 50.

"O importante não é justificar o erro, mas impedir que ele se repita." Che Guevara

Na cultura, Cuba encanta por sua diversidade. A mistura do africano com o espanhol gerou uma riqueza cultural raramente vista. A música e a dança cubana rompem fronteiras desde o início do século XX, tornando-se conhecida mundialmente. Com a presença marcante na percussão da conga (tambor), destaca-se a rumba, a salsa, o bolero, o chá-chá-chá e a habanera.

Dois terços da população cubana é negra e mestiça. São descendentes de escravos africanos, que levaram para a Ilha suas tradições religiosas, que foram passadas para seus descendentes ao longo da história. O culto mais importante é a Santeria, que funde crenças católicas com a religião tradicional Iorubá. Inicialmente praticada por escravos, ganhou popularidade e se difundiu pelo seu caráter festivo, suas cerimônias e seus Orixás.

Ao longo de 400 anos, a cozinha cubana experimentou sabores que combinavam produtos e costumes de diferentes culturas. Não há como negar a importância da influência espanhola na culinária desta parte do Caribe, assim como o peso das sucessivas levas de escravos africanos. Um prato típico da cozinha tradicional cubana é moros y cristianos, "mouros e cristãos", que é o arroz com feijão. Outro destaque fica por conta do rum cubano e seus drinks especialíssimos e muito apreciados como a Cuba Libre e o Mojito.

A festa mais popular e animada da ilha de Cuba é o carnaval, com destaque para os de Havana e o de Santiago de Cuba. O carnaval é uma festa espontânea, com música ditada pelo ritmo das congas que são tambores artesanais. Uma música para ser sentida e vivida até o êxtase, um frenesi coletivo. No carnaval cubano o povo participa de diversas maneiras, nas comparsas (blocos), participam integrantes dos bairros e de organismos que se preparam com muito interesse durante o ano todo na confecção de fantasias e de alegorias.

No final dos anos 30 surgiu em Havana, a casa de espetáculos que iria ditar, nos anos 40 e 50, um novo conceito de apresentação de grandes shows, que vai ser imitado por todos: O Cabaré Tropicana. No seu palco os maiores artistas internacionais se apresentaram, dentre essas estrelas, Carmem Miranda.

"Uma pitada de poesia é suficiente para perfumar um século inteiro!" José Martí

É claro que Cuba tem os seus problemas e não é nenhum paraíso socialista, ainda mais por conviver há cinco décadas com um bloqueio econômico. Entretanto, não podemos deixar de ressaltar e, por que não, admirar esse povo que transformou um país com grande índice de analfabetos e miséria em uma nação que hoje é referência mundial nas artes, nos esportes, na medicina, entre outras áreas, e respeitada pela defesa intransigente de sua soberania e que, apesar de todas as dificuldades, não capitulou e permanece firme em seus ideais revolucionários.

Após os avanços e conquistas sociais alcançados nessas últimas cinco décadas, o povo cubano nunca mais será submisso a qualquer interesse externo, tão pouco abrirá mão dessas conquistas, pois os alicerces sociais estão fincados. Um povo alfabetizado e consciente politicamente não se dobra à força das armas, mas sim à dos ideais.

"Endurecer sem perder a ternura!" Che Guevara

Em 2011, Cuba comemora 52 anos da Revolução. Aproveitando esta oportunidade, é importante exaltar a luta do povo cubano pela liberdade. Existe uma Cuba que poucos conhecem, e quando descobrem sua cultura, seu povo e principalmente suas conquistas sociais, se encantam. Por este motivo nós, da Escola de Samba União da Ilha da Magia, escolhemos este enredo para o nosso carnaval. Desejamos mostrar ao Brasil e ao mundo que Cuba precisa ser vista com um olhar livre de preconceitos!

Cuba sim! Em nome da verdade.

Jaime Cezário
Carnavalesco

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