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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

** Livros sobre a formação do Brasil em narrativa dinâmica atraem leitores - Em livros de sucesso, historiadores e jornalistas travam guerra sobre o país

Livros sobre a formação do Brasil em narrativa dinâmica atraem leitores


Ana Clara Brant
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE Publicação: 28/10/2010


Foi-se o tempo em que para se fazer sucesso no mercado editorial brasileiro tinha que se escrever necessariamente sobre autoajuda, espiritismo ou algo de forte apelo popular. O mais novo filão descoberto pelos autores nacionais é história do Brasil. As publicações que tratam do assunto têm figurado constantemente no rol dos livros mais vendidos do país. 
 - (Fernando Lopes/CB/D.A Press)
Pelo menos cinco em cada 10 obras de não ficção comercializadas por aqui tratam de Cabral, Dom Pedro I, Carlota Joaquina, Princesa Isabel e outras figuras ilustres (ou não) de nossa história. Conhecer o passado para compreender o presente e planejar o futuro. Esse velho clichê serviu de mote para muitos escritores, boa parte deles jornalistas, como o paranaense Laurentino Gomes, autor do best-seller 1808, sobre a chegada da família real ao Brasil  (Editora Planeta), 600 livros vendidos.

 "Há uma busca por explicações para o Brasil de hoje. As pessoas estão olhando para o passado na tentativa de entender por que somos um país tão complicado de construir, de organizar, e de pactuar soluções rumo ao futuro. Ninguém estuda história só para ter informações sobre personagens e acontecimentos pitorescos do passado. O objetivo é outro: é entender as nossas raízes, de onde viemos, como é que chegamos até aqui e para onde vamos. Uma sociedade que não estuda história não consegue compreender a si própria", comenta Laurentino, que lança hoje à noite, em Brasília, a sua mais recente publicação, 1822 (Nova Fronteira), que trata do processo de independência brasileiro. 

Um dos precursores desse interesse pela história do país é o jornalista gaúcho Eduardo Bueno, autor de mais de 25 livros, sendo a grande maioria sobre esse tema. Ele sentia que havia uma demanda reprimida por livros de história do Brasil escritos em linguagem jornalística, ou seja, livros de divulgação desvinculados de "certas peias acadêmicas". Quando se aproximaram os 500 anos do Brasil, no ano 2000, percebeu que ali seria o seu gancho. "O crescente interesse pela história é um fenômeno mundial; não está restrito ao Brasil. E não se trata apenas da história propriamente dita, mas de diversos gêneros que dialogam com o passado, como biografias, textos memorialistas, romances de época. Pode soar contraditório, mas as pessoas parecem desejar cada vez mais a presença do passado. Elas não querem mais datas para decorar, nomes para lembrar. Querem sentir esse passado, encontrar os personagens, sentir o sabor e o cheiro dos tempos que já se foram, nem que seja para entender os tempos que virão — ou, quem sabe, para escapar deles", destaca Bueno.

Datas importantes
Alguns fatores foram determinantes para o crescente interesse por esse tipo de literatura, especialmente, os eventos históricos que se tornaram verdadeiras armas midiáticas nos últimos anos como os bicentenários da chegada da corte portuguesa e o da imprensa, em 2008. "Esses eventos receberam cadernos especiais em jornais, documentários na TV, exposições. E tudo isso estimula o interesse das pessoas em comprar livros sobre os temas. Pode-se dizer também que o contexto dos leitores, muitas vezes embebidos pela imprensa, os leva a comprar livros sobre este contexto. Por exemplo, durante a Copa, houve um significativo aumento de vendas de obras sobre futebol. Em 2008, com o bicentenário da chegada da corte no Brasil, aumentou as vendas de livros de história. Com o lançamento do filme Nosso lar, provavelmente houve um aumento de vendas de livros de caráter espiritualista. Isso me leva a crer que o crescimento dos índices de leitura tem uma ligação íntima com o consumismo impulsionado pelas mídias", acredita o historiador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e blogueiro, André Raboni.

Já o professor de história contemporânea da Universidade de Brasília (UnB) Estevão Martins lembra que datas comemorativas recentes como os 100 anos da abolição da escravatura, em 1988, e os da proclamação da república, em 1989, não tiveram o mesmo espaço que episódios como o bicentenário da chegada da família real, devido ao momento em que o país vivia, e, por isso, não tiveram tanto espaço na mídia e nas livrarias. "Vivíamos uma época complicada no final dos anos 80. Em 1988, estávamos no meio da elaboração da nova constituição. Em 1989, o Brasil realizava sua primeira eleição pós-ditadura. Não tiveram o mesmo impacto como agora, em 2008, com a comemoração da chegada da corte", diz.

Compreensão
A linguagem mais acessível e direta utilizada pelos profissionais de imprensa tem sido apontada como um dos principais motivos pelo aumento da leitura desse tipo de obra. "Acho que esse é o grande desafio do jornalista: atingir um público mais amplo sem banalizar o conteúdo. Como tornar o relevante atraente? O que faço nos meus livros é aplicar o que aprendi nos meus 30 anos como repórter e editor de jornal e revista. E ser muito acessível na linguagem, facilita a vida do leitor em favor de uma compreensão maior", ressalta o jornalista Laurentino Gomes. 

Já o historiador André Raboni afirma que a facilitação da linguagem não pode ser mais importante do que o conhecimento sobre determinados acontecimentos históricos, apesar de reconhecer que jornalistas convivem com uma prática mais cotidiana de escrita que pode ajudar bastante. "São treinados e se deixam treinar para realizarem uma escrita que busca o entendimento do maior número de pessoas. Isso pode ser bom, porque muita gente reclama da linguagem dos historiadores. Mas, muitas vezes, pode ocorrer de o barato sair caro. Como dizia o dramaturgo e jornalista sem  diploma Nelson Rodrigues: 'Não se pode deixar uma pequena verdade estragar uma grande estória.' Quem faz história academicamente, não faz ficção, não faz estória. Por isso, não há nos historiadores a preocupação acerca da linguagem acessível que há nos jornalistas. Mas acho interessante que historiadores comecem a se preocupar com isso", reconhece.

Em livros de sucesso, historiadores e jornalistas travam guerra sobre o país
    Em meio ao sucesso das obras sobre o país, há uma guerra surda, mas quem sai ganhando é o leitor


Ana Clara Brant
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE Publicação: 28/10/2010 08:00
Laurentino:
Laurentino: "Meu trabalho é jornalístico, porém, a consistência da investigação é quase acadêmica"
Desde que os livros de história do Brasil, principalmente os elaborados por jornalistas, começaram a bombar, críticas do meio acadêmico vieram à tona. Alguns historiadores são contrários ao fato de profissionais de imprensa não terem uma formação adequada para ingressar nesse nicho historiográfico. 

"Penso que qualquer pessoa pode escrever livros de história, mas se esse livro será de boa qualidade, aí é outra história. No geral, parte da comunidade acadêmica é bastante resistente a isso. Compreende-se essa resistência porque pesquisadores passam anos fazendo seus trabalhos com grande cuidado e rigor científico, levantando documentos em arquivos, lendo livros em bibliotecas, escrevendo artigos, teses e livros. De repente, ele vê um livro de história repleto de informações equivocadas enchendo os bolsos de jornalistas best-sellers", defende o historiador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) André Raboni.

» Leia capítulo de 1822 (em PDF)


Para Laurentino Gomes, o jornalista não pode ser um franco atirador e precisa, antes de tudo, de orientação adequada quando for tratar de um assunto. Mas isso não o impede de realizar um bom trabalho, mesmo não tenho o diploma de um historiador. "No caso do 1822, por exemplo, tenho a orientação de um dos maiores intelectuais e historiadores brasileiros que é o embaixador Alberto da Costa e Silva. O meu trabalho é jornalístico, porém, a consistência da investigação é quase acadêmica. O jornalista pode, tem o direto e a prerrogativa da profissão de se envolver com qualquer assunto, ainda mais se for de interesse público. Mas ele precisa de orientação e fontes adequadas para dar consistência ao trabalho de apuração", enfatiza. Laurentino agora prepara seu próximo livro, que é 1889, sobre a proclamação da República.

Há casos de historiadores que concordam com Laurentino e não veem problemas no fato de jornalistas se enveredarem por esse caminho. Para a doutora em história social pela Universidade de São Paulo (USP) Mary Del Priore, autora, ao lado do escritor Renato Venâncio, de um dos livros mais vendidos no país atualmente, Uma breve história do Brasil (Editora Planeta), existe uma interação e um diálogo amistoso, no qual uns aprendem com os outros e que, inclusive, já prefaciou obras de muitos escritores/jornalistas.

1822, de Laurentino Gomes, hoje, às 19h30, na Saraiva MegaStore do Shopping Pátio Brasil. Editora Nova Fronteira. Número de páginas: 352. Preço médio: R$ 44,90. - (Nova Fronteira/Reprodução)
1822, de Laurentino Gomes, hoje, às 19h30, na Saraiva MegaStore do Shopping Pátio Brasil. Editora Nova Fronteira. Número de páginas: 352. Preço médio: R$ 44,90.
Narrativa
 "Vários jornalistas vêm contribuindo para o entendimento da sociedade brasileira contemporânea. Nós, historiadores, também temos muito o que aprender com os jornalistas. A narrativa que eles produzem é mais ágil e mais fácil de ler do que a nossa. Quanto mais gente escrevendo e lendo sobre história, melhor. O importante é que haja história para todos: quem quiser trabalhos mais musculosos, leia ensaios ou teses universitárias. Quem quiser se distrair, aprendendo sobre o nosso passado, não faltam manuais. E as biografias são deliciosas leituras que ajudam na compreensão fácil de épocas inteiras de nossa história", opina. 

O professor de história contemporânea da UnB Estevão Martins revela que um complementa o trabalho do outro, e esse tipo de discussão acaba sendo desnecessária. "Não significa que um jornalista se transformou em historiador. Ele está escrevendo um romance, um livro-reportagem. E ninguém está livre de cometer erros, independente do ofício que exerça. Às vezes, uma tese muito bem feita não consegue atingir o público que um livro como esse consegue. Não tira o mérito nem de um e nem de outro. Na minha opinião, somos aliados e não precisamos ficar com ciúmes besta. Todos ganham com isso", expressa.

TRECHO DO LIVRO 1822
"O destino cruzou o caminho de D. Pedro em situação de desconforto e nenhuma elegância. Ao se aproximar do riacho do Ipiranga, às 16h30 de Sete de setembro de 1822, o príncipe regente, futuro imperador do Brasil e rei de Portugal, estava com dor de barriga. A causa dos distúrbios intestinais é desconhecida. Acredita-se que tenha sido algum alimento mal conservado ingerido no dia anterior em Santos, no litoral paulista, ou a água contaminada das bicas e chafarizes que abasteciam as tropas de mula na Serra do Mar. Testemunha dos acontecimentos, o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, subcomandante da guarda de honra e futuro Barão de Pindamonhangaba, usou em suas memórias um eufemismo para descrever a situação do príncipe. Segundo ele, a intervalos regulares, D. Pedro se via obrigado a apear do animal que o transportava para 'prover-se' no denso matagal que cobria as margens da estrada."

Entrevista com Eduardo Bueno, escritor, tradutor, jornalista e editor. Escreveu mais de 20 livros, a maioria deles sobre História do Brasil.

1 - Você percebe que há um interesse maior por parte do leitor, que antes não tinha pelo assunto? Por que esse grande interesse?

O crescente interesse pela história é um fenômeno mundial, de maneira nenhuma restrito ao Brasil. E não se trata apenas da história propriamente dita, mas de diversos gêneros que dialogam com o passado, como biografias, textos memorialistas, relatos de viagem, romances de época, etc. Pode soar contraditório, mas as pessoas parecem desejar cada vez mais a presença do passado. Não, elas não querem mais datas para decorar, nomes para lembrar. Querem sentir esse passado, vislumbrar as paisagens, encontrar os personagens, sentir o sabor e o cheiro dos tempos que já se foram, nem que seja para entender os tempos que virão - ou, quem sabe, para escapar deles... Aliado a isso tudo, existe uma indústria editorial cada vez mais dinâmica e atenta aos desejos dos leitores. Criam-se áreas específicas de mercado e, no Brasil, com certeza estamos vivendo a expansão do nicho historiográfico. 

2 - Você acredita que tenha uma grande participação nesse contexto? Que seja o principal responsável por essa "popularização"?

Comecei a perceber que existia uma espécie de "demanda reprimida" por textos desse estilo desde os tempos em que atuei como editor, no início dos anos 80. Lancei, justamente, cartas e relatos de viagens do século XVI (Diários de Colombo, Cabeza de Vaca, Cortez, Pero Vaz de Caminha, Bartolomeu de las Casas e até Marco Pólo, pela editora L&PM). Foi um sucesso imediato e, para época, bastante inusitado, não apenas pelo tema, mas, principalmente, por serem textos de domínio público que, ainda assim, chegaram às listas de mais vendidos. As biografias históricas de Fernando Moraes já faziam sucesso, as de Jorge Caldeira também; o último inclusive viria a lançar uma História do Brasil em CD-ROM, algo bastante avançado para a época. Mas essas publicações não pareciam ser suficientes para suprir a procura. Com a proximidade das comemorações dos 500 anos do Brasil, percebi que era chegada a hora de escrever livros sobre história - e achei que era o momento certo para investir no chamado período "colonial" do Brasil, que me parecia aprisionado dentro da sala de aula. E, sim, acho que se pode dizer que foi o estrondoso sucesso da coleção Terra Brasilis - com mais de seiscentos mil exemplares vendidos - a gênese do surto editorial que hoje presenciamos. Não apenas a coleção mas também "Brasil: uma história", o livro que agora relanço, me parecem terem sido os óbvios protagonistas desse processo. E eles não apenas abriram espaço para novos títulos, como, também, ocasionaram o surgimento de revistas especializadas em história. 

3 - Sempre gostou de história do Brasil? Mesmo quando era estudante, na escola?

O colégio foi uma experiência traumática, quase devastadora para mim. Sentia um tédio avassalador. E lamento informar que, de certo modo, isso se repete com minhas três filhas, que não tem a paciência para a escola, embora tenha certeza de que estejam bem encaminhadas na vida. Apesar disso tudo, sempre achei que ia escrever sobre história – só não imaginava que seria a do Brasil e muito menos que fosse fazer tanto sucesso.

4 - Por que decidiu investir nesse nicho?

Por dois motivos. Primeiro, porque história era um assunto de que eu gostava, especialmente depois de ler, aos 15 anos de idade, Enterrem meu Coração na Curva do Rio,de Dee Brown, um livro maravilhoso que conta a história trágica dos indígenas norte-americanos e que me deu a nítida percepção de que os primórdios do Brasil deveriam ter sido bem mais dinâmicos, movimentados e sangrentos do que faziam supor aquelas aulas insuportáveis. Segundo, como já expliquei, pela minha experiência no mercado editorial, sentia que havia uma demanda reprimida por livros de história no país, escritos em linguagem jornalística. Ou seja, livros de divulgação, desvinculados de certas peias acadêmicas. Quando se aproximaram os 500 anos do Brasil, percebi que aquele seria o meu gancho.

5 - O que acha de alguns historiadores que criticam o fato de jornalistas escreverem sobre história?

Acho que cada vez mais essa vem se tornando uma discussão desnecessária e tola. No caso particular dos meus livros, coincidentemente ou não, aqueles que perceberam de imediato o significado e o propósito do meu trabalho, foram justamente os historiadores que sempre admirei e cuja opinião me interessava. Eles instantaneamente identificaram a óbvia diferença entre uma obra de divulgação – que é o que eu faço – e uma investigação historiográfica – que é o que possibilita o meu trabalho. Desde o início, creio ter obtido a compreensão e o respeito de profissionais renomados, todos eles grandes investigadores historiográficos, entre os quais posso citar Nicolau Sevcenko, Max Justo Guedes, Joaquim Romero Magalhães, Lilia Schwarcz e, é claro, a minha querida amiga Mary Del Priore. Mas o fato é que, a seguir, para minha surpresa e enorme orgulho, acabei recebendo elogios também de Eric Hobsbawm e Kenneth Maxwell. Acho que está de bom tamanho, não? Creio que isso enfraquece - virtualmente pulveriza - a opinião retrógrada de alguns historiadores de menor tirocínio que continuam achando que jornalistas não devem, não sabem ou não "podem" escrever sobre história.

6 - Já teve algum problema sério nesse sentido? Alguém criticar sobre algum dado histórico errado ou algo do gênero?

Que eu me lembre, não. Com certeza cometi alguns deslizes, mas julgo que foram todos menores, aliás típicos de jornalista, acho eu. A edição original de A Viagem do Descobrimento, por exemplo, teve 23 erros, depois corrigidos; e 21 deles foram de conversão de pesos e medidas – de léguas para quilômetros, de quintais para quilos, etc. Acontece que fiz todos os cálculos de cabeça e, gênio da matemática como sempre fui, errei todos... De qualquer modo, todos meus primeiros livros tiveram historiadores como consultores técnicos, Ronaldo Vainfas na coleção Terra Brasilis e Mary del Priori em "Brasil:uma história". Sou grato a ambos, mas atualmente acredito que não preciso mais de consultoria alguma.

7 - O que os livros feitos pelos jornalistas diferem das obras dos historiadores? Acredita que é uma forma leve e divertida de aprender sobre a história do Brasil?

Como já falei, o que os jornalistas produzem, em geral, são obras de divulgação. Não se tratam de investigações historiográficas originais. Salvo exceções, não fazem pesquisa de arquivo – não vão às "fontes primárias", no jargão dos historiadores. Meu trabalho, em especial, sempre foi pautado pelas ferramentas que a minha profissão original proporciona: escrevo livros com um trato jornalístico no texto e um olhar de editor no produto final. E essa é uma tarefa do jornalista: como comunicador, tornar um tipo de produção em geral inacessível ao grande público em algo mais palpável. Nesse sentido, dotar o texto histórico de uma narrativa mais fluída – inclusive com a aplicação de técnicas literárias a um texto de não-ficção – é, por que não, uma maneira mais leve e divertida de se ler sobre História do Brasil (sem o compromisso chato de estudá-la ou aprender com ela). Afinal, o passado não precisa ser um fardo, ele também pode ser entretenimento, diversão. Acho que essa é uma forma muito mais libertária de encarar a questão - embora certeza não seja, e muito menos deva ser, a única.

8 - E você pretende continuar nesse caminho? Escrever mais sobre a historia do Brasil?

Sim. Na verdade, tenho inúmeros projetos, tantos que chega a ser difícil saber qual deles sairá primeiro. Estou terminando um livro sobre a história da Caixa Econômica Federal. Em 2001, o presidente Fernando Henrique Cardoso solicitou que eu escrevesse sobre os 140 anos daquela instituição. O atual governo encomendou outra edição atualizada, para os 150 anos, que estou finalizando agora. Mas é claro que, além de vários projetos de encomenda e livros institucionais que tenho feito, tenho planos de continuar escrevendo livros para o mercado. Pretendo retomar a Coleção Terra Brasilis, cujo próximo volume deverá tratar mesmo do episódio que ficou conhecido como "França Antártica", quando os franceses tentaram colonizar o Rio de Janeiro, entre 1555 a 1567. Creio que em 2011 ele haverá de estar nas livrarias. Mas, muito possivelmente, não pela mesma editora que publicou os primeiros quatro volumes da série.

9 - Quantos livros exatamente sobre esse tema você já escreveu?

Escrevi mais de 25 livros, a maioria sobre História do Brasil, embora cerca de 15 deles tenham sido obras institucionais ou de encomenda que não chegaram às livrarias. Por exemplo, escrevi, a convite da CNI, uma história da indústria no Brasil, chamada Produto Nacional; na sequência, também em parceira com minha mulher, a poeta Paula Taitelbaum, fizemos a história da indústria no Rio Grande do Sul, sob o título Indústria de Ponta. Para a Caixa federal, além da história da instituição, escrevi a história da avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, e para a Embratel, a história da avenida Presidente Vargas. Fiz, por encomenda da Anvisa, uma história da propaganda de medicamentos no Brasil, chamada Vendendo Saúde e, para a mesma instituição, escrevi a história da vigilância sanitária, chamado À sua saúde. Além disso, já editei mais de três dezenas de volumes ligados à história. Mas claro que o ponto alto de minha carreira são os três livros que escrevi sobre a história de meu glorioso time, o Grêmio. Com certeza, são minhas obras mais sérias, equilibradas, ponderadas e profundas, cuja frase de abertura de uma delas já diz tudo: "Futebol-arte é coisa de veado". ... 

Entrevista Laurentino Gomes, jornalista e autor dos livros 1808 e 1822

1 – Há um interesse maior pelos livros de história?

O interesse mudou totalmente. História virou um tema popular no Brasil, e isso se reflete na lista dos livros mais vendidos. Isso tem a ver não só com uma mudança no mercado editorial, com livros em uma linguagem mais acessível para um leitor não especializado, geralmente escritos por jornalistas, mas também há uma busca por explicações para um Brasil de hoje.

As pessoas estão olhando para o passado, pra entender porque o Brasil é um país tão complicado de construir, de organizar, e de pactuar soluções rumo ao futuro.

Há um uso instrumental da historia. E acho que é um uso correto. A história serve pra isso mesmo. Ninguém estuda história só pra ter informações sobre personagens e acontecimentos pitorescos do passado. O objetivo é outro. É entender as nossas raízes, de onde viemos, como é que chegamos até aqui e pra onde nos vamos. E preparar as pessoas pra construir o futuro. Uma sociedade que não estuda história não consegue compreender a si própria. Acho que essa é a grande transformação. Mas isso é produto de uma grande novidade na história do Brasil que é um exercício continuado de democracia, são 25 anos de democracia. E acho que a gente alimentou algumas ilusões a respeito do Brasil recentemente, de que era muito fácil resolver tudo. E acredito que as pessoas estão meio que chocadas com a persistência da corrupção, da desigualdade social, da criminalidade, da ineficiência do serviço público. E ficam se perguntando: por que somos assim? E aí a história ajuda a responder esse tipo de questão.

2 - Você acredita que ajudou a popularizar esse tipo de leitura?

Acho que sim. Isso é um motivo de muito orgulho. É uma contribuição. Tenho percorrido o Brasil, dando aulas, palestras, bate papo com leitores, participando de feiras literária. Tenho ouvido com muita frequência: eu não gostava de história e passei a gostar por sua causa.

Ou às vezes, até crianças e adolescentes dizendo que por minha causa decidiram virar historiadores, ou jornalistas. Então acho que aí baixa um senso de missão muito forte porque o livro transforma a vida de uma pessoa.

E acho que não e verdade que o brasileiro não gosta de ler por natureza. E especialmente que ele não gosta da história. Mas ele quer uma leitura acessível, que ele consiga compreender, que não seja banal, que não fique apenas no caricato, no pitoresco. Acho que esse é o grande desafio do jornalista: atingir um público mais amplo sem banalizar o conteúdo. Esse é o desafio do jornalista em qualquer área. Como você tornar o relevante em atraente, como transformar uma matéria sobre reforma tributária, medicina, história do Brasil em algo sedutor para um público mais leigo.

Acho que o jornalista bem sucedido consegue enfrentar esse desafiou e vencê-lo. Então o que eu faço nos meus livros e aplicar o que eu aprendi nos meus 30 anos como repórter e editor de jornal e revista. E ser muito acessível na linguagem, facilitar a vida do leitor em favor de uma compreensão. Resumindo: a minha contribuição para a historia do Brasil é de linguagem. Não faço pesquisa acadêmica em fontes primarias; o que faço é usar uma linguagem acessível para ampliar o conhecimento nessa área de história do Brasil.

3 - Você sempre gostou de história?

Desde criança gostava muito de ciências sociais e humanas do que exatas. Minhas notas sempre foram melhores em português, história, geografia do que física, matemática. E esse interesse me levou para o jornalismo. Trabalhei na Veja, Abril, Estadão; mas eu diria que não existe muita diferença entre o trabalho de jornalista e do historiador. A diferença esta na profundidade e na dimensão do tempo.

O jornalista escreve história a sangue quente todos os dias, quando cobre uma eleição, um buraco de rua, um acidente, jogo de futebol. O jornalista está testemunhando e narrando a história acontecendo diante dos seus olhos. O historiador tem uma perspectiva de mais de longo prazo. Muitas vezes, o próprio jornal, a revista se tornam história no futuro. Hoje, estudar as páginas da Gazeta do Rio de Janeiro, o Correio Braziliense do Hipolito José da Costa, é um documento precioso para os historiadores. Esses jornalistas estavam fazendo história quando ela estava acontecendo há 200 anos atrás. Os dois usam uma ferramenta básica e fundamental que é a reportagem. De investigar e de tentar chegar o mais próximo da verdade dos acontecimentos. Embora essa verdade absoluta seja inatingível, por uma questão até filosófica, mas a reportagem, e a investigação nas fontes permitem a gente chegar o mais próximo possível. Então nesse sentido, o trabalho do jornalista e do historiador é muito parecido.

4 - Chegou a receber críticas pelo fato de não ter a formação de historiador?

Não, felizmente não. Nunca recebi. No começo, às vezes apareciam alguns blogs. Mas muito pelo contrário, e é uma coisa que me deixa muito feliz, é que nunca nenhum historiador me fez uma crítica estrutural, tipo essa informação está errada, não é exatamente assim. Ao contrário; recebi resenhas muito favoráveis de historiadores que respeito muito como a Mary Del Priore, o Jean Marcel França da Unesp, Tome Elias Saliba, da USP

Uma coisa importante: jornalista não pode ser um franco atirador. Ele precisa de orientação adequada quando vai tratar de um assunto. Por isso que a gente recorre às fontes, faz as entrevistas. E no meu caso, do 1822, eu tenho a orientação de um dos maiores intelectuais e historiadores brasileiros que é o embaixador Alberto da Costa e Silva. O meu trabalho é jornalístico, mas a consistência da investigação é quase acadêmica. O Alberto viu o projeto do livro, analisou a bibliografia, depois leu, anotou e comentou cada um dos capítulos. E isso foi fundamental pra consistência do livro.

O jornalista pode, tem o direto e a prerrogativa da profissão de se envolver com qualquer assunto, ainda mais se for de interesse público. Mas ele precisa de orientação, fontes adequadas para dar consistência ao trabalho de apuração.

5 - Como surgiu a vontade de escrever sobre história do Brasil?

Um foi puxando o outro. O1808 surgiu por esses bons acasos da vida. Eu era editor da Veja e a revista tinha a intenção de fazer uma série especial sobre a historia do Brasil e eu fiquei encarregado da equipe que ia investigar a presença da corte do Dom João VI no Rio de Janeiro.

Aí o projeto foi cancelado. Fiquei chateado num primeiro momento e segui em frente por minha própria conta. Fazer um livro-reportagem ao invés de uma reportagem sobre o assunto. E aí aconteceu uma grande surpresa: o livro virou um best seller. Nunca imaginei que pudesse acontecer. Sempre dizem que pra fazer sucesso no Brasil nesse ramo, você tinha que escrever sobre esoterismo, auto-ajuda ou literatura barata. História do Brasil nem pensar. E de repente o livro vendeu mais de 600 mil exemplares no Brasil e em Portugal, ganhou um monte de prêmios e então eu animei. Primeiro porque iria sair da minha rotina nas redações, eu saí da Editora Abril em maio de 2008 e passei a me dedicar aos livros. A consequência obvia do 1808 era escrever o 1822. Porque é quase impossível se entender a independência do Brasil, sem estudar o que aconteceu antes, essa grande transformação da colônia portuguesa em função da presença da Corte de Dom João VI nos trópicos. Então isso me levou ao1822.

E já me levou ao meu terceiro livro que estou pesquisando agora que é a terceira data-ícone do século XIX na construção do Brasil, que é 1889, ano da proclamação da República. É o livro que eu espero lançar daqui a três.

6 - Essa linguagem mais leve e direta é um dos ingrediente desse sucesso?

Esse é o desafio do jornalista: oferecer técnicas que se aprendem ao longo do exercício da profissão. Você usar muitas histórias humanas, misturar dados pitorescos, engraçados com uma análise mais profunda, ter uma linguagem provocativa na capa. Por exemplo, no 1808 foi 'Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história do Brasil'.

É uma linguagem que provoca a atenção do leitor. Eu acho que o jornalista tem essa técnica. Quando a gente faz uma manchete do jornal, uma capa de revista, estamos o tempo todo tentando disputar a atenção do leitor.

Então são técnicas de comunicação que eu estou aplicando à área de História do Brasil. E isso é uma grande novidade. Que antes, os livros acadêmicos tinham uma linguagem excessivamente técnica, repleta de jargões próprios da academia e usavam nas capas linguagem muito neutra. O conteúdo muitas vezes é muito bom, muito profundo, mas não consegue chamar a atenção de um público mais amplo. E eu acho que aí é uma virtude do jornalista. Sempre conseguir uma audiência maior para determinados assuntos. O jornalista serve como um divulgador da ciência em geral. Por isso acredito que não há uma competição entre jornalista e historiadores. Nós nos complementamos.

O jornalista tem uma coisa que geralmente o historiador não tem. O uso de linguagem didática, acessível para um publico mais amplo, a gente tem um acesso a uma audiência maior.

Então essas duas coisas se complementam. O jornalista pode ser um ótimo divulgador dos historiadores. É o que eu tenho procurado fazer.

Não banalizo o trabalho deles e não misturo ficção com não ficção. Não procuro preencher lacunas por conhecimento histórico com romance, literatura.

Tudo que eu faço é não ficção. De maneira que isso confere uma grande legitimidade ao meu trabalho. Aliás, esse trabalho de divulgação cientifica é relativamente novo no Brasil.

Eu estou fazendo na área de história do Brasil, o que o Dr. Dráuzio Varella faz em medicina, o Marcelo Gleiser em astronomia. Eu acho que é um campo maravilhoso. Torço para que em outras áreas de conhecimento, alguma hora chegue um divulgador na área de matemática, física, biologia, porque isso vai facilitar a vida dos nosso professores, estudantes que tem que ensinar essas coisas hoje de uma forma muito técnica, muito árida.

Imagina uma criança tendo que aprender história do Brasil só decorando data, nome, números, sem entender exatamente o que se passou. Então acho que esses livros ajudam a chamar a atenção para que essas disciplinas sejam estudadas com prazer. Isso é o grande desafio na educação do Brasil. Como associar o ensino ao prazer, de aprender, de ler. Acho que a divulgação cientifica segue nesse caminho.

7 - Houve surpresas na sua pesquisa do 1822?

História é sempre alvo de manipulação, de construção posterior em cima dos fatos verdadeiros. Por exemplo, o quadro do Pedro Américo, sobre o Grito do Ipiranga. Nada do que esta ali é verdadeiro. O Dom Pedro não estava vestido como príncipe, estava vestido como tropeiro. Não estava em um cavalo alazão, estava em cima de uma mula de carga que era o jeito correto de subir a serra do mar. Os dragões da independência ainda nem existiam. Eram tropeiros, fazendeiros, sertanejos do Vale do Paraíba e o Dom Pedro estava com dor de barriga na hora do grito do Ipiranga. Tinha comido uma coisa estragada em Santos. O que não torna essa cena da independência menos importante do que ela é. Mais ela é mais brasileira, mais simples, mais bucólica e mais próxima do verdadeiro. Não é aquele quadro épico do Pedro Américo. Isso me chamou a atenção. Mas por que ele fez aquilo? É um quadro que o Dom Pedro II encomenda para celebrar um feito da monarquia. Então, o quadro não se propõe a ser uma foto jornalística. Ele é uma alegoria, uma celebração e por isso usa elementos épicos.

Outro aspecto que me chamou a atenção foi de que existe um mito de que a independência do Brasil foi um processo pacífico. Que foi resultado de uma negociação entre Dom João e Dom Pedro. Não é verdade isso. Morreu muita gente durante a guerra da independência, que durou 1 ano e meio. A minha estimativa é de que morreram, pelo menos, 5 mil pessoas. O que é bastante gente. Mas por que passa essa imagem de que foi pacífica? Porque o imperador Pedro I, que assumiu a coroa, é um integrador, um agente de pacificação, de tentar organizar esse território vasto, diverso, muito complexo, de muitos escravos e muitas diversidade étnicas e culturais. Então esse agente pacificador passa essa imagem de que o processo foi pacífico. Quando na verdade não foi. Essas coisas me surpreenderam bastante.

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Atividade nos últimos dias:
    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

                                                                                                    Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
 

domingo, 7 de novembro de 2010

** I Congresso Fluminense de História Econômica [1 Anexo]

 
1a  circular do I Congresso Fluminense de História Econômica que ocorrerá na UFF, em junho de 2011. O evento está sendo organizado pelo POLIS - Laboratório de História Econômico-Social  e pelo LEHI - Laboratório de Economia e História.
 
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Atividade nos últimos dias:
    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

                                                                                                    Por Favor divulguem este grupo e grato pelo interesse .
 

** EDUCAÇÃO E IV ENCONTRO DE CINEMA NEGRO RJ - DIVULGANDO

IV ENCONTRO DE CINEMA NEGRO

Prezadas(os) Docentes,

Divulgo e indico, tendo em vista a importância dos mesmos no que se refere a Educação e as história(s) e cultura(s) africanas e afro-brasileiras, os abaixo relacionados seminários e sessões de filmes do IV ENCONTRO AFROCARIOCA DE CINEMA.

Informo que:

OS SEMINARIOS SERÃO GRATUITOS

AS SESSÕES DE CINEMA PARA PROFESSORES (AS) E UM (A) ACOMPANHANTE, também, terão gratuidade, desde que apresentem comprovante.

Maiores informações: http://www.encontrodecinemanegro.com.br/



Cordialmente



Azoilda Trindade

(pró educativo do Centro Afrocarioca de Cinema/RJ)



Seminários



10 DE NOVEMBRO

CINE ODEON BR - Praça Floriano, 7 - Cinelândia



10h - Seminário SENEGAL
. A importância da União dos países africanos
. Senegal - 50 anos de independência
. A importância do renascimento africano

Palestrante:
Prof. Dr. Iba Der Thiam, Historiador, Vice-Presidente do Congresso Nacional do Senegal
Sr. Amadou Lamine Faye, Especialista do Panafricanismo, Ministro da Diaspora.

Membros da mesa:
Prof. Dr. Madiagne Diallo (mediador), PUC-Rio
Mansour Sora Wade, cineasta, senegales
Zózimo Bulbul, cineasta, brasileiro



11 DE NOVEMBRO
CINE ODEON BR - Praça Floriano, 7 - Cinelândia



10h - Seminário AS VÁRIAS ÁFRICAS
. 50 anos de independência da Costa do Marfim, Chad e R.D. Congo
. A libertação de Cabo Verde
. Literatura, cinema e a importância dos roteiros

Mesa Redonda:
Sra. Ruth Pinheiro (mediadora)
Idriss Diabate - cineasta, Costa do Marfim
Guenny Pires - cineasta, Cabo Verde
Mahamat Seleh Haroun, cineasta, Chad
Léandre Alain Backer, cineasta, Republica Democratica do Congo



Sessões de filmes especiais para educadoras e educadores



10 DE NOVEMBRO

CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL - Av. Rio Branco, 241 - Centro



14h
ASWAD - Diáspora Africana - 72'
Júlio Tavares
Debate com o cineasta após a sessão

SINOPSE: ASWAD – Diáspora Africana de Júlio César Tavares; documentário, 72' (Rio de Janeiro, 2005). Aswad significa "negro" em árabe e há dez anos dá nome também a uma das mais importantes conferências mundiais sobre a diáspora africana – a Association For The Study Of World African Diaspora (ASWAD), de Nova Iorque. O documentário do antropólogo e membro da coordenação do comitê de organização da ASWAD no Brasil, Júlio César de Tavares, faz um registro memorial da terceira edição da conferência, realizada em 2005, no Rio de Janeiro, com o objetivo de transformar o filme em uma ferramenta pedagógica a serviço da Lei nº 10.639/2003, que institui a obrigatoriedade do ensino da história africana e afro-brasileira nas escolas – o Brasil é o país com o maior índice populacional de descendentes africanos das Américas e o segundo maior do mundo, depois da Nigéria. Classificação: livre.



10 DE NOVEMBRO

CINE ODEON BR - Praça Floriano, 7 - Cinelândia



18h
Estreia de Renascimento Africano - 51'
Zózimo Bulbul (RJ)

SINOPSE: Renascimento Africano de Zózimo Bulbul; documentário, 56' (Rio de Janeiro, 2010). O testemunho de uma África liberta, renovada e vigorosa pelo olhar do brasileiro Zózimo Bulbul, em colaboração com o senegalês Mansour Sora Wade. Através dos depoimentos de líderes políticos, religiosos, intelectuais, artesãos e pescadores, o filme discute os rumos de uma nova África, seus impactos sobre a política, a economia e a cultura mundiais, tomando como ponto de partida o entendimento do continente como berço da humanidade e a diáspora africana como um sexto continente. O filme tem como mote o grande símbolo do momento no continente: o portentoso monumeto que lhe empresta o título, com 54m de altura (um para cada país da África), inaugurado pelo governo do Senegal durante as comemorações do cinquentenário de independência dos países do Oeste africano, em abril deste ano. Classificação: livre.



11 DE NOVEMBRO

OI FUTURO em Ipanema



14h
Mumbi - 7'
Viviane Ferreira (SP)

SINOPSE: Mumbi: 7 Cenas pós Burkina de Viviane Ferreira; documentário, 7' (São Paulo, 2010). Depois de participar de um importante festival de cinema, a jovem cineasta Mumbi não consegue conceber sua próxima obra. A recordação de obras marcantes do cinema brasileiro reaciona seu processo criativo. Classificação: 16 anos.



Renascimento Africano - 53'
Zózimo Bulbul (RJ)



12 DE NOVEMBRO

ESPAÇO TOM JOBIM Rua Jardim Botânico, 1008



13h
Mumbi - 7'
Viviane Ferreira (SP)

Renascimento Africano - 53`
Zózimo Bulbul (RJ)



13 DE NOVEMBRO

CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL Av. Rio Branco, 241 - Centro



14h
Pensando em Cheikh Anta Diop | 26'
Zózimo Bulbul (RJ)

SINOPSE:Pensando em Cheikh Anta Diop de Zózimo Bulbul; documentário, 26' (Rio de Janeiro, 2010) – na casa do reitor da Universidade Cheikh Anta Diop, em Dakar, professores e intelectuais senegaleses contam suas vivências com o antropólogo, político e historiador falecido em 1986 e discorrem sobre seu pensamento e sua importância no resgate da auto-estima do povo africano.



Renascimento Africano - 53'
Zózimo Bulbul
Debate com o cineasta Zózimo Bulbul e o Professor Madiagne Diallo



Atividade nos últimos dias:
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sábado, 6 de novembro de 2010

** Lançamento - PERSEU: HISTÓRIA, MEMÓRIA E POLÍTICA - Rebeliões, Motim e Negociações

 
convitelancaper.cinco.jpg
PERSEU: HISTÓRIA, MEMÓRIA E POLÍTICA
Lançamento da Revista – Número 5 –
Rebeliões, Motim e Negociações

Centenário da Revolta da Chibata

Com as presenças de:

César Vieira (Idibal Piveta)
(Dramaturgo, autor de João Cândido do Brasil – A Revolta da Chibata)

Anderson da Silva Almeida
(Doutorando em História Social da Universidade Federal Fluminense)

Álvaro Pereira do Nascimento
(Professor da Universidade Rural do Rio de Janeiro e autor de Cidadania, Cor e Disciplina na Revolta dos Marinheiros de 1910)

22 de novembro de 2010
19 horas
Local: Livraria Expressão Popular
Rua Abolição, 201
Telefone: 3105-5500

Informações:
5571-4299 Ramal 125
revistaperseu@fpabramo.org.br

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** Revista Cordis - Séries Urbanas: Conflito e Memória

 
Prezados colegas.

O Núcleo de Estudos de História Social da Cidade (NEHSC), do Programa
de Estudos Pós-Graduados em História da PUC-SP, acabou de lançar os números 3 e 4
da Revista Cordis: Revista Eletrônica de História Social
da Cidade, com a temática Séries Urbanas: Conflito e Memória, n. 3-4,
jul. 2009/jun. 2010. Para acessar o conteúdo da publicação, entre na

Os próximos números terão as seguintes temáticas: História, Arte e
Cidades e História, Corpo e Saúde, recebendo textos respectivamente
até os dias: 08/04/2011 e 08/08/2011. Os textos devem ser
enviados para o e-mail: revistacordis@pucsp.br

Atenciosamente.
Nataniél Dal Moro

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** [Carta O BERRO] "A Classe Operária" na clandestinidade (1966-1983)

Carta O Berro..........................................................repassem

 

A Classe Operária na clandestinidade (1966-1983)
Por Augusto C. Buonicore

A Carlos Danielli e Pedro Pomar
O Portal da Fundação Maurício Grabois, através do seu Centro de Documentação e Memória (CDM), está disponibilizando aos pesquisadores e militantes interessados na história do comunismo no Brasil um precioso acervo documental. Trata-se da coleção do jornal A Classe Operária que abarca o período que vai de 1967 até 1983, anos de ditadura militar. No total foram 155 edições que o público poderá ter acesso.
A Classe Operária, relançada em 1962, jogou um importante papel no processo de reorganização do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Era, fundamentalmente, através dela que o partido expressava suas opiniões e buscava organizar sua militância dispersa em diversos estados.
Durante o governo Jango existia no país uma situação de relativa liberdade política. Por isso, ela podia ser vendida livremente nas bancas de jornais, livrarias e em "comandos" de militantes nas portas de fábricas, escolas e bairros populares. Existia certa aceitação do jornal pelos trabalhadores. O aumento constante de sua tiragem e periodicidade nos dão mostras disso. Suas sucursais funcionavam como sedes informais do PCdoB. Ali se realizavam reuniões e debates com sua militância.
A Classe Operária e a ditadura militar
Esta situação foi radicalmente alterada com o golpe militar de primeiro de abril de 1964. As suas sedes foram ocupadas e fechadas pela polícia, seus principais responsáveis – Maurício Grabois, Pedro Pomar e João Amazonas - tiveram que passar para clandestinidade. Começava, então, uma das mais difíceis fases de existência deste jornal.
No dia primeiro de maio de 1965 – em homenagem aos 40 anos de seu surgimento – voltou circular o jornal dos comunistas. No seu editorial, intitulado "Trincheira de Luta", estava escrito: "pouco mais de um ano era arbitrariamente suspensa A Classe Operária, combativo e valoroso órgão do proletariado revolucionário". Ela, continuava o artigo, "foi um dos primeiros alvos da reação militar-policial que varreu furiosamente o país. Sua redação foi invadida, depredada, e, até o presente, se encontra interditada". A data escolhida não deixava de ser uma provocação aos novos donos do poder que achavam que tinham eliminado o pequeno e aguerrido PC do Brasil.
A responsabilidade de editar a nova "Classe" coube ao dirigente comunista Carlos Danielli, que também era responsável pela Comissão Nacional de Organização. Nestes anos de arbítrio, ela era elaborada e circulava na mais dura clandestinidade. Esses primeiros números, produzidos quase artesanalmente num mimeografo, saíram com o título Boletim d'A Classe Operária.
Aqueles que a produziam corriam riscos de serem assassinados. Uma pessoa que fosse apanhada com um simples exemplar do jornal poderia ser presa e torturada. Centenas de comunistas e simpatizantes passaram por esta dolorosa experiência.
Desde 1966, o militante César Telles era o responsável por rodar A Classe. Recebia os textos, geralmente em stencil, e os mimeografava. A "gráfica" ficava na sua própria casa, que funcionava como aparelho do Partido. Era localizada em Nova Iguaçu na baixada fluminense. Depois de imprimir os boletins entregava, numa sacola de feira, ao Carlos Danielli que distribuía para os comitês estaduais.
No segundo semestre de 1968, a "gráfica" clandestina mudou-se para São Paulo. Nesta mesma ocasião, a direção do Partido decidiu que deveria ser melhorada a apresentação visual do seu órgão oficial e, por isso, comprou uma máquina impressora mais moderna, uma off-set. Uma "Classe", com nova cara, sairia no início de 1969. Sua tiragem era de, aproximadamente, 400 exemplares e circulava de mão em mão.
No início dos anos 1970, devido ao aumento da repressão política, foi definido que o jornal passaria ser impresso, da maneira que fosse possível, nos próprios estados. Isso fez com que aumentasse a variedade de suas formas – eram feitas em papel carbono, mimeografada ou mesmo reproduzida em xerox. Um documento de 1975 afirmava: "sua feição gráfica aparece bastante diversificada, uma vez que é impressa em vários estados de acordo com as condições locais". Isto pode ser constatado nos exemplares que se encontram na pagina da Fundação Grabois/ CDM.
Em dezembro de 1972 as forças de repressão invadiram a gráfica do Partido, onde era impressa parte d'A Classe Operária e outros documentos sob a responsabilidade do Comitê Central. Seu maquinário foi confiscado e os responsáveis presos e barbaramente torturados. Nesta mesma ocasião foi assassinado Carlos Danielli,. Mesmo assim, o jornal continuou sendo produzido.
Desde o inicio da Guerrilha do Araguaia havia aumentado a repressão em cima do Partido. Vários importantes dirigentes nacionais haviam sido mortos. Além de Danielli, foram presos e assassinados Lincoln Oest, Luiz Guilhardini e Lincoln Bicalho Roque. Eles eram do núcleo da Comissão Nacional de Organização.
A responsabilidade pela Comissão de Organização e pela edição d'A Classe Operária passou para Pedro Pomar. Neste período, possivelmente, o jornal tenha deixado, definitivamente, de ser publicada de maneira centralizada. Os textos eram enviados aos estados, muitas vezes sob a forma de estencil, e, depois, mimeografados e distribuídos para os militantes da maneira mais segura possível. 
Alguns anos mais tarde, outra tragédia se abateria sobre os comunistas brasileiros. Em dezembro de 1976, os órgãos de segurança descobriram onde e quando se realizaria uma reunião do Comitê Central. No ataque, promovido pelo II Exército, três dirigentes foram assassinados, entre eles Pedro Pomar.
Isto representou um novo e terrível golpe contra a organização do Partido Comunista do Brasil Mas, para surpresa geral, no mês seguinte, já circulava um novo número d'A Classe Operária, denunciando a Chacina da Lapa. O Partido Comunista e seu jornal pareciam indestrutíveis. Como a Fênix teimavam em renascer das cinzas.
Com parte de sua direção presa e outra parte dispersa pelo país, a principal responsabilidade passou para as mãos dos camaradas que se encontravam no exterior: João Amazonas, Renato Rabelo, Diógenes Arruda e Dyneas Aguiar. Eles estavam em missão na China quando ocorreu a tragédia. 
João Amazonas assumiu a direção do jornal e foi responsável pela elaboração das principais matérias, que chegavam ao país de duas maneiras. A primeira era através das emissões feitas pela rádio Tirana, localizada na Albânia socialista. Os locutores brasileiros daquela rádio liam as matérias e seus camaradas no Brasil as reproduziam em boletins. O segundo meio era através de finas folhas de papel de arroz que eram trazidas clandestinamente para dentro do país. Esta situação durou até a anistia em 1979.
Entre 1979 e 1983 entramos na fase de semi-clandestinidade. A luta popular havia ampliado os espaços democráticos. A Classe Operária, novamente, teria um grande papel no processo de reorganização que o Partido começaria viver. Com a volta dos exilados, especialmente de João Amazonas, ela passou ser escrita, editada e rodada no próprio país. Embora ainda fossem mantidos certos métodos clandestinos. Afinal, o regime militar ainda dominava e o Partido Comunista do Brasil continuava vivendo na ilegalidade.
A Classe Operária não é apenas um jornal de uma organização clandestina. Ela é um patrimônio dos brasileiros. Ao preservá-la e divulgá-la ao público em geral, a Fundação Maurício Grabóis e o seu Centro de Documentação e Memória (CDM) estão dando uma importante contribuição para resgatar uma pequena parte da história de luta do nosso povo contra a ditadura militar e pela conquistas da democracia, da soberania nacional e do socialismo no Brasil. 
Como vocês poderão notar, faltam ainda alguns números, especialmente anteriores a 1968. O projeto do CDM é, até o ano que vem, através de parcerias com outros centros de documentação, disponibilizar todos os números publicados durante a ditadura militar. Neste esforço, os antigos militantes partidário também poderão contribuir, avisando se possuem os números que faltam e documentos do período da clandestinidade, especialmente de antes de 1979.

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