Primeira hospedaria de imigrantes do país vira museu a céu aberto em São Gonçalo
Fonte: FAPERJ - Vinicius
Zepeda
Voltaire
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Missa campal nos jardins da Casa do Diretor
da Hospedaria. Coleção Marilene Martins Almeida. Data desconhecida |
O ano era 1951 quando, aos
seis anos de idade, a russa Elke Grunupp – que, mais tarde, ficaria conhecida
dos brasileiros como “Elke Maravilha” –, junto com seus pais, avós e três irmãos
chegaram ao Rio de Janeiro. Depois de viajarem semanas dentro de um navio lotado
de passageiros de diferentes nacionalidades e com condições de higiene e
conforto bastante precárias, o grupo desembarcou na cidade, à época, capital do
País. Os imigrantes que, por razões diversas – ora buscando oportunidades de
trabalho, ora fugindo de conflitos étnicos ou religiosos em seus países de
origem – chegavam ao porto do Rio eram levados para a Hospedaria da Ilha das
Flores, situada na Baía de Guanabara. Elke e seus familiares ficaram por alguns
dias no local e depois foram para a cidade de Itabira, em Minas Gerais, onde
seus pais começaram a trabalhar numa fazenda.
Mais de meio século depois, Elke voltou, nesta terça-feira, 13 de novembro, ao local onde passou seus primeiros dias no País. Mas, desta vez, como convidada a participar da cerimônia de inauguração do Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores. O presidente da FAPERJ, Ruy Garcia Marques, participou da solenidade e do descerramento simbólico de uma placa inaugural.
Mais de meio século depois, Elke voltou, nesta terça-feira, 13 de novembro, ao local onde passou seus primeiros dias no País. Mas, desta vez, como convidada a participar da cerimônia de inauguração do Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores. O presidente da FAPERJ, Ruy Garcia Marques, participou da solenidade e do descerramento simbólico de uma placa inaugural.
Coleção Leopoldino Brasil |
Vista dos alojamentos reservados aos imigrantes, na Ala
Norte: ilha tinha
capacidade para receber até 3.500 pessoas. Data e autor desconhecidos |
Fruto de uma
parceria entre a Faculdade de Formação de Professores (FFP), da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Uerj), campus de São Gonçalo, com a Marinha
do Brasil, o Centro funcionará como um museu a céu aberto, propondo aos
visitantes um passeio pela história da antiga hospedaria, que funcionou entre os
anos de 1883 e 1966, e chegou a ter capacidade de receber até três mil pessoas.
O espaço ganhou totens explicativos e contará com guias treinados que irão
relatar aos visitantes algumas das marcantes histórias de vida dos que por ali
passaram, bem como detalhes do importante conjunto arquitetônico e paisagístico
local. Hoje, a Ilha das Flores integra o município fluminense de São Gonçalo e
abriga o Comando da Tropa de Reforço do Corpo de Fuzileiros Navais da
Marinha.
Coordenado pelo historiador da FFP/Uerj Luis Reznik, o projeto conta com recursos dos editais “Auxílio às Universidades Estaduais – Uerj, Uenf e Uezo” e “Apoio a Pesquisas na Área de Humanidades”, da FAPERJ. Ele explica que o museu conta com cinco totens: entrada da ilha, desembarque no cais/praia, atendimento aos imigrantes, alojamentos e funcionários. Reznik recorda que, para atender aos que chegavam, havia um corpo de funcionários e um diretor, que moravam no local. “Os trabalhos começavam de madrugada. Ainda cedo, eram ligadas as caldeiras das embarcações, que atravessavam a baía para buscar mantimentos no Rio de Janeiro. Na cozinha, eram preparados o café da manhã, almoço e jantar com peças de louça suficientes para atender até 3.500 pessoas. Também havia serviços, como consultas médicas e odontológicas, envio de correspondências, limpeza e manutenção dos prédio”, descrevem Luís Reznik, Rui Fernandes e Henrique Mendonça no folder de apresentação do novo espaço.
Coordenado pelo historiador da FFP/Uerj Luis Reznik, o projeto conta com recursos dos editais “Auxílio às Universidades Estaduais – Uerj, Uenf e Uezo” e “Apoio a Pesquisas na Área de Humanidades”, da FAPERJ. Ele explica que o museu conta com cinco totens: entrada da ilha, desembarque no cais/praia, atendimento aos imigrantes, alojamentos e funcionários. Reznik recorda que, para atender aos que chegavam, havia um corpo de funcionários e um diretor, que moravam no local. “Os trabalhos começavam de madrugada. Ainda cedo, eram ligadas as caldeiras das embarcações, que atravessavam a baía para buscar mantimentos no Rio de Janeiro. Na cozinha, eram preparados o café da manhã, almoço e jantar com peças de louça suficientes para atender até 3.500 pessoas. Também havia serviços, como consultas médicas e odontológicas, envio de correspondências, limpeza e manutenção dos prédio”, descrevem Luís Reznik, Rui Fernandes e Henrique Mendonça no folder de apresentação do novo espaço.
Coleção Marilene Martins Almeida
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Vista panorâmica da ilha. Ao fundo, um barco que
ligava o local com a cidade do Rio. Autor e data desconhecidos. |
Com relação ao atendimento aos
imigrantes, os três pesquisadores explicam que havia espaços, como o Pavilhão
Sanitário – onde ficava a farmácia e eram realizados os exames médicos –,
Pavilhão Clínico – composto de hospital, maternidade e duas enfermarias –,
lavanderia, carpintaria, posto telegráfico, necrotério e balcão de empregos,
além dos alojamentos masculino e feminino. “Também havia uma sala onde um
intérprete era encarregado de facilitar a comunicação entre os funcionários e os
imigrantes”, destacam. Já com relação ao desembarque no cais, eles explicam que
os imigrantes, uma vez em terra firme, preenchiam uma ficha, seus documentos
eram conferidos, e, então, podiam se dirigir à cozinha, a fim de fazer uma
primeira refeição. Todos passavam, igualmente, pela inspeção médica e sanitária,
onde recebiam roupas de cama e sabão, antes de se dirigirem para seus
alojamentos. “No caminho, passavam por uma placa em vários idiomas, onde se lia:
‘Você era um estranho e o Brasil o acolheu’”, complementam.
Reznik explica que, entre 1857 e
1883, o local funcionou como uma fazenda de produção de mandioca e
piscicultura. Já em 1883, o então governo imperial brasileiro adquiriu e
oficializou a Hospedaria dos Imigrantes do Rio de Janeiro, também chamada de
Hospedaria Central, que existiu até 1966. O historiador recorda que no período da
Grande Imigração (1870-1920), o Brasil se tornou o quarto destino mais procurado
pelos imigrantes em todo o mundo. “Além disso, como a política escravocrata
encontrava-se em decadência devido a proibição do tráfico negreiro [1850] e a
Lei do Ventre Livre [1871], o governo imperial brasileiro incentivou a
substituição da mão de obra escrava pela dos imigrantes europeus”, acrescenta.
Vinicius Zepeda |
A partir da esq.: Reznik, Lená, Tatiana, Elke, Alm. Zuccaro e Marquesacompanham o descerramento, em ato simbólico, de um tótem do museu |
Em seu discurso, o historiador destacou a importância e o crescimento da hospedaria ao longo de sua existência. ”Em seu primeiro ano de funcionamento, em 1883, foram recebidos 7.400 imigrantes; dois anos depois, em 1885, eles eram 10.600; em 1887, 18.800; em 1888, 33.400; e, em 1890, 66.500. Imaginem, portanto, como, nesse breve espaço de tempo, foi necessário edificar mais dormitórios, depósitos de bagagens, ampliar o espaço das cozinhas, banheiros, lavanderias, além de construir um enorme reservatório de água”, disse. Reznik chamou a atenção para o fato de que o novo museu trará uma contribuição importante aos estudos sobre imigração, a serem feitos por pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa e da própria Marinha do Brasil. Por último, ressaltou a importância do espaço para a população do entorno. “Esperamos receber pessoas de quaisquer partes do mundo, mas principalmente a população escolar dos municípios do entorno: Rio de Janeiro, Niterói e, especialmente, de São Gonçalo, Itaboraí e Magé, localidades com poucas opções culturais”, salientou.
O presidente da FAPERJ reafirmou
a importância em apoiar um projeto voltado para a memória da imigração e aberto
à visitação pública. “Este espaço reforça a importância da contribuição que a
Fundação pode dar à sociedade. Desde 2007, a FAPERJ cresceu muito, a partir de
uma elevação sem precedentes em seu orçamento. Contudo, o maior crescimento que
a FAPERJ vem tendo decorre, sobretudo, dos bons resultados dos projetos que ela
vem apoiando, como este, por exemplo. Não tenho qualquer dúvida de que esse
crescimento qualitativo vem se tornando uma marca da FAPERJ. Tenho certeza de
que este museu a céu aberto fará parte do roteiro cultural da região
metropolitana do Rio de Janeiro”.
O Almirante Zuccaro, chefe do Comando da Tropa de Reforço do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha, organizador do evento, realizou uma explanação sobre as atividades de recepção de imigrantes no local e enalteceu a relevância da oportunidade de se criar um museu com tais características.
A sub-reitora de graduação da Uerj, professora Lená Menezes, representando o reitor da instituição, prof. Ricardo Vieiralves, ressaltou a importância que o local teve na recepção a esse grande número de imigrantes. A sub-reitora é professora titular da Uerj e uma das grandes referências nacionais acerca de estudos sobre imigração.
Após a cerimônia de abertura do Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores, Ruy Marques, Lená Medeiros, Luis Reznik, a filha de imigrante e oficial da Marinha, Tatiana, e o Almirante Zuccaro, acompanhados por muitos oficiais da Marinha do Brasil e de pesquisadores da Uerj, descerraram, em ato simbólico, um dos totens do museu. Após o descerramento, os convidados realizaram uma visita guiada pelo museu, seguida por uma apresentação da Banda dos Fuzileiros Navais.
O Almirante Zuccaro, chefe do Comando da Tropa de Reforço do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha, organizador do evento, realizou uma explanação sobre as atividades de recepção de imigrantes no local e enalteceu a relevância da oportunidade de se criar um museu com tais características.
A sub-reitora de graduação da Uerj, professora Lená Menezes, representando o reitor da instituição, prof. Ricardo Vieiralves, ressaltou a importância que o local teve na recepção a esse grande número de imigrantes. A sub-reitora é professora titular da Uerj e uma das grandes referências nacionais acerca de estudos sobre imigração.
Após a cerimônia de abertura do Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores, Ruy Marques, Lená Medeiros, Luis Reznik, a filha de imigrante e oficial da Marinha, Tatiana, e o Almirante Zuccaro, acompanhados por muitos oficiais da Marinha do Brasil e de pesquisadores da Uerj, descerraram, em ato simbólico, um dos totens do museu. Após o descerramento, os convidados realizaram uma visita guiada pelo museu, seguida por uma apresentação da Banda dos Fuzileiros Navais.
Serviço:
Local: Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores – Complexo Naval da Ilha das Flores, Avenida Paiva, s/nº, Neves, São Gonçalo-RJ.
Visitações: terças e
quintas-feiras à tarde e aos sábados pela manhã através de marcação pelos
telefones (21) 3707-9506, pelo e-mail contato@hospedariailhadasflores.com.br e
www.hospedariailhadasflores.com.br
© FAPERJ – Todas as matérias poderão ser
reproduzidas, desde que citada a fonte.
Atividade nos
últimos dias:
**Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO
BRASIL e tão somente HISTÓRIA DO BRASIL. Discussões sobre a situação atual:
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