Estudo destaca   participação
intensa das   mulheres da elite
rural   brasileira nos diversos 
aspectos da   vida cotidiana no 
fim do século   19 e início do
século 20   (divulgação
Fonte: Agência FAPESP
Poderes femininos nos interstícios da ordem patriarcal
04/10/2012
Por José Tadeu   Arantes
Agência FAPESP – As   mulheres da elite rural brasileira do fim do século 19 e início do século 20   podem ter exercido um papel muito mais ativo, dentro e fora do lar, do que   deixou transparecer o discurso ideológico dominante.
Para além da epiderme da ordem   patriarcal, elas teriam sido centros de gravidade de famílias extensas, atuantes   nos negócios e opinantes na política. Tal é a generalização que poderia ser   feita a partir do caso singular – e exemplar – estudado por Marcos Profeta   Ribeiro, professor da Universidade do Estado da Bahia.
O estudo foi feito em mestrado   orientado por Maria Odila Leite da Silva Dias, professora titular aposentada da   Universidade de São Paulo, onde mantém atividades de orientação de mestrado e   doutorado, e professora associada da Pontifícia Universidade Católica de São   Paulo, e resultou no livro Mulheres e poder no Alto Sertão da Bahia,   publicado com apoio da   FAPESP.
Ribeiro se ocupou do vasto acervo de   cartas deixado por Celsina Teixeira Ladeia, irmã do educador Anísio Teixeira,   idealizador da Universidade de Brasília e notável defensor da reforma   educacional no país.
Celsina (1887-1979) testemunhou,   quando criança, a última década do século 19 e, como adolescente e adulta, as   oito primeiras décadas do século 20. O livro enfoca um período específico da   vida de Celsina, o quarto de século que se estendeu de 1901 a 1927.
"Nesse trabalho, Ribeiro dá uma   importante contribuição aos estudos das relações de gênero, ao investigar os   espaços de autonomia, ocultados pelos papéis atribuídos às mulheres pela Igreja,   pela cultura e pelas tradições das elites", disse Maria Odila.
"As cartas, estudadas com argúcia   pelo autor, são expressivas não apenas pelo que dizem, mas também e   principalmente pelo que silenciam", afirmou a professora.
Celsina era filha do coronel   Deocleciano Pires Teixeira (chefe político do município de Caetité, no Alto   Sertão da Bahia) e de Ana Spínola Teixeira, a terceira de três filhas do coronel   Antonio de Souza Spínola (grande fazendeiro de Lençóis, na Chapada Diamantina),   com as quais Deocleciano se casou sucessivamente.
Fruto de um casamento que foi, antes   de tudo, um arranjo político entre duas famílias poderosas, Celsina foi a   segunda filha de sua mãe e quinta integrante da prole do pai – que teria um   total de 14 filhos e filhas.
"Sua intensa atividade epistolar,   iniciada aos 14 anos de idade, em 1901, estendeu-se até meados da década de   1960. Dessas mais de seis décadas de produção resultou um espantoso acervo de   1,5 mil cartas, emitidas ou recebidas", disse Ribeiro.
Ribeiro esmiuçou parte desse legado,   estudando as cartas produzidas até 1927, quando, em decorrência do estresse   sofrido com a prolongada doença e a morte do marido (o fazendeiro e farmacêutico   José Antônio Gomes Ladeia, neto do Barão de Caetité) e as primeiras   manifestações da doença mental que afetou seu único filho (Edvaldo Teixeira   Ladeia, morto precocemente aos 35 anos), Celsina viveu um severo, mas   rapidamente superado, episódio de depressão, ou, como foi diagnosticado na   época, uma enfermidade causada por "incômodos nervosos".
Essas cartas colocam diante de nossos   olhos uma mulher muito ativa, não apenas na gestão do lar, mas também na   administração das fazendas, na promoção da filantropia e nas articulações de   bastidores da política local.
"Celsina mantinha uma rigorosa   contabilidade, tomava decisões em relação aos empregados, planejava   investimentos para enfrentar as graves secas que castigavam o sertão, estava a   par das variações do preço do gado e sabia aproveitar as melhores ofertas dos   compradores e recusar as oportunidades de risco", disse Maria Odila.
Dotado da singularidade que   caracteriza cada trajetória humana, o caso de Celsina não foi, no entanto,   único. A vasta documentação estudada por Ribeiro desvelou uma participação   intensa das mulheres da elite local nos diversos aspectos da vida   cotidiana.
Tanto que, em seu trabalho de   doutorado, Ribeiro pretende ampliar o foco, estudando as trajetórias de outras   mulheres, inclusive da mãe de Celsina, Ana Spínola Teixeira.
"Os documentos sugerem uma revisão da   questão patriarcal. Por meio deles, percebemos que as mulheres da elite   exerceram poderes difusos e periféricos que não transparecem ao primeiro olhar.   E constatamos que o ambiente doméstico era um espaço de articulação do poder   público", disse Ribeiro.
-     Mulheres e poder no Alto Sertão da Bahia: A escrita epistolar de Celsina Teixeira Ladeia (1901-1927)
Autor: Marcos Profeta Ribeiro
Lançamento: 2012
Preço: R$ 40
Páginas: 228
Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br/mulheres-e-poder-no-alto-sertao-da-bahia 
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