Este espaço é reservado para troca de textos e informações sobre a História do Brasil em nível acadêmico.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

** Maria Yedda Leite Linhares – 1921/2011 - Artigo de Francisco Carlos Teixeira


Maria Yedda Leite Linhares – 1921/2011


Poucas pessoas conseguiram em uma só vida viver tanto. Maria Yedda Leite Linhares foi, acima de tudo, uma formadora de gente. E tinha a vocação irresistível de participar, de viver no mundo e fazer a mudança, Para ela tenho como lembrança, um título de Pablo Neruda: “confesso que vivi”!

Maria Yedda Leite Linhares foi acima de tudo uma formadora de gente. Sua alegria, a grande satisfação, era ter em seu redor jovens com quem dialogasse – sempre de forma igual, buscando em cada um deles, um talento, uma vocação. Em torno de sua sala de aula e de seus gabinetes de pesquisas passaram gerações. A primeira delas com nomes como Arthur e Hugo Weiss, Valentina Rocha Lima, Francisco Falcon e Helena Lewin. A estes se agregou uma segunda turma, formada pelos jovens Ciro Cardoso, Barbara Levy, José Luis Werneck da Silva, Berenice Brandão. E então veio a Sua integral participação nas lutas do seu tempo a levaria, em 1964, a viver a cada dia no coração da crise do Brasil moderno.

Contra todos os conselhos, inclusive do bom-senso e sabedoria do Dr. José Linhares, ou “o José” simplesmente, ela insistira. Não havia conserto, era da sua natureza. Nascera assim. Lá no Ceará, em 3 de novembro de 1921, nascera - para usar a expressão do poeta que ela tanto amaria - “gauche na vida”. Meninota, contra a vontade dos pais, colocara um imenso laço vermelho nos cabelos para ver a passagem das tropas revolucionárias que adentravam o Calçamento de Messejana para conquistar Fortaleza em 1930. Aí consolidara sua vocação: rebelde, teimosa, voluntariosa, humana e generosa. 

Com a família, seguindo o rastro da crise mundial que derrubara os preços do algodão, mudou-se para Porto Alegre. Lá ficou pouco tempo. Sofreu uma infecção no ouvido, que mais tarde martirizaria a vida e a vaidade. Mudaram-se para o Rio. Aqui, na capital federal, abriu-se o espaço e as redes sociais que permitiriam a Maria Yedda ser a mulher que marcou seu tempo. Autodidata, com uma letra incompreensível, adaptou-se mal ao colégio de freiras. Estudou ainda mais, em especial português – que se tornou uma obsessão e quase a nos rouba para o jornalismo – e história. Na maratona de educação alcançou o primeiro lugar, tendo como prêmio o único livro que jamais emprestou: a História Geral de Varnhagen. 

A criação da UDF facilitou sua ascensão ao curso de “filosofia” – entendida bem mais como um curso humanista para a formação de professores. Lá conheceu os amigos que marcariam sua vida: o Dr. Anísio Teixeira, uma marca poderosa. Com o Dr. Anísio apreendeu, e acreditou, por toda vida que somente a educação para todos, laica e pública, mudaria o país. Aí encontrou também seu amigo de vida, Darcy Ribeiro – o que não quer dizer, de forma alguma, que não brigassem como cão e gato. Conviveu como jovem estudante, em sala de aula ou em reuniões e debates, com homens como Hermes Lima, Brochado da Rocha, San Thiago Dantas - todos jovens professores e oponentes da ditadura varguista. Yedda ouvia, apreendia e preparava-se também para participar.

Por fim assistiu a derrocada da UDF, o golpe do Estado Novo e a prisão de Pedro Ernesto e de seus jovens professores. 

Sua excelência em português, já naquele momento conhecida de todos, a aproximou de uma severa senhora americana encarregada da formação de quadros do Dasp. Era a chegada da política de boa vizinhança. Maria Yedda foi para os Estados Unidos, jovem, corajosa e sozinha. Um fenômeno em sua época. Estudou no Barnard College, na Universidade de Columbia.

Nada seria igual depois disso. Creio que mesmo o amor, e gratidão, que viria a ter pela França, não igualariam jamais a admiração pelos Estados Unidos. Sozinha, e precisando viver, tornou-se, ainda uma vez, professora de português para americanos e, depois, em inglês, locutora da rádio universitária.

Travou laços de amizade com uma geração de exilados da guerra civil espanhola, odiou Franco e ouviu os relatos das atrocidades dos fascismos em ascensão. Conheceu a poesia americana, espanhola e a arte deslumbrante de um México insurgente. Amava Lorca. Freqüentou o Radio City Hall e apaixonou-se pelo jovem Frank Sinatra. O inglês tornou-se uma língua fluente, na qual amava dizer poesias. Todas modernas, nunca amou Shakespeare, mas ficaria para sempre fascinada pela sonoridade de Walt Whitman.

Então veio guerra e a decisão de voltar ao Brasil. Três dias de avião, porto por porto, até mesmo no Caribe com o piloto perseguindo um submarino alemão. O Rio mudara, o Brasil se cansava da ditadura nativa. Voltava para universidade, agora a UB, a gloriosa universidade da qual seria a mais jovem mulher catedrática. 

Travava amizade com Delgado de Carvalho, o decano da história moderna e contemporânea. Mais do que tudo: conhecia José, jovem rábula, que a traria, ainda mais, para o coração da crise, casando-se e convivendo com os atores do poder. Data daí a amizade e o respeito por Alzira Vargas – o que importava que fosse oposição, tratava-se de “Alzirinha”, tão somente. Jamais esqueceria a desobediência do Comandante Amaral Peixoto, o pai da nossa “França Livre”, Niterói!

Tornou-se fundadora da UNE e sua primeira diretora do “Departamento Cultural”: o teatro, incluindo o jovem teatro negro, as revistas culturais e dos debates. Talvez fosse sempre isso do que Yedda mais gostava. O debate. Quente. Vivo. Múltiplo. Formou-se a frente pela entrada do Brasil na guerra mundial. Lá estava ela, na primeira fila, de braços com Marighela! O escritório da Reuters, na Cinelândia, tornar-se-ia seu prórpio escritório, lendo em primeira mão os telegramas que relatavam a guerra. Tornar-se-ia, para sempre e do fundo do seu coração, botafoguense. Os chamados rapazes do Botafogo, com João Saldanha à frente, seriam parceiros de caminhadas na então estreita calçada de Copacabana.

O casamento deveria ter equilibrado sua vocação revolucionária, creio, contudo, que foi o Dr. José que se acostumou ao sobressalto. Aconselhava, pedia e sempre, sempre, punha-se ao seu lado. Em toda crise repetia a mesma coisa: “Minha filha, não diga nada, espere para ouvir...” Inútil, Yedda não era mulher de esperar. Agia. Muitas vezes na direção certa, guiada por seu instinto contrário a toda injustiça. Outras vezes era precipitada, nunca, contudo, injusta. No mais das vezes prejudicava a si mesma.

Do casamento teve Maria Teresa, “Teca”, e José, “Zequinha”! Havia orgulho nos filhos, via-se neles, sentia por eles. Uma das maiores revoltas foi vê-los envolvidos na insidiosa e malsã campanha da imprensa golpista nos idos de março de 1964. Creio também que ambos pagaram algum preço – o preço de serem filhos de Yedda, o preço das horas roubadas, o preço de partilhá-la com todos nós, comigo, com Ciro Cardoso e principalmente com Francisco Falcon. Temos que pedir perdão por isso, perdão por tê-la tanto tempo conosco! A tudo se juntava a presença de Yonne Leite, outro motivo de orgulho de Yedda, que a via, com tudo que isso encerra, bem mais como filha do que irmã.

Na casa, a velha Virgínia cuidava de todos, incluindo alimentar os famintos assistentes, como o insistente Falcon.

Vieram os concursos, provas, cerimônias, becas e arminhos. Substituía Delgado de Carvalho como catedrática: foi o dia que mais chorou na vida. Não queria a cátedra, ao menos não queria “aquela cátedra” – lutaria todo o resto de sua vida para mudar a universidade. Falcon seria seu principal companheiro de trabalho, de lealdade e de debates intelectuais. Livros inteiros eram lidos e resenhados pelo telefone, todas as noites.

Os tempos eram de chumbo, o ar era arenoso e o chão fugidio. Yedda namorava com o PCBR, respeitava e ouvi a Apolônio de Carvalho, tinha Renée como amiga. Apoiara o ministro da educação, assumia a direção da Radio MEC. Desesperada, sem tempo, negociando e montando uma equipe de trabalho, pediria a Eduardo Portella que escrevesse seu discurso de posse, dizendo pelo telefone o que queria dizer. Ao seu lado estaria como fiél escudeira a nossa Sandra Ribeiro da Costa, forte, sem sutilezas e capaz de protegê-la, inclusive dela mesma.

Usou seu espaço para fazer cultura, afastou-se do ambiente malsão da FNFi daqueles dias. Adorava as óperas e a música erudita, da qual se tornou aficionada, muitas vezes tendo Ciro Cardoso como interlocutor. Só detestava o Bolero de Ravel. Deu a Roberto Carlos seu primeiro emprego no Rio, na própria rádio. Então vieram rostos novos, em especial Alberto Coelho, um amigo que será um consolo e uma fonte permanente de atualização e de novidades.

Então veio o pior: as forças alarmadas, como dizia “o José”, tomaram o poder. A “Revolução Brasileira em curso”, como diziam os amigos do ISEB, era feita de papel. As conseqüências seriam terríveis. Prisões, cassações, aposentadorias compulsórias. Maria Yedda seria inculpada em 11 IPMs; seria acusada na mídia, seria espezinhada por muitos. Pouco importava, sabia o que fazer.

Queria proteger amigos – advertia Falcon, em razão do projeto da história nova. Passaria uma temporada no exterior e por fim tomaria à frente da resistência. No apartamento da Cinco de Julho organizava-se a Passeata dos Cem Mil. Em fim, o ar tornou-se irrespirável. As prisões se sucederam... Tirada do hospital foi levada para o 1º. RCC. Fernand Braudel e Jean-Paul Sartre escreveriam ao presidente-general exigindo sua liberdade. 

O exílio seria na França. Primeiro Paris, onde encontraria Ciro Cardoso, e todos que estavam, e depois Toulouse-Le Mirail, onde Jacques Godechot e Bartolomé Benassar a aceitariam com carinho e respeito. Travaria conhecimento e angariaria respeito de todos: Albert Soboul, o amigo Mauro.

Por fim, o casamento de Maria Teresa e o nascimento de Patrícia, a primeira neta seriam de mais. Forçava seu retorno, antes do decreto da anistia. A pressão seria tremenda, obrigando-a a um exílio interno, em Vassouras e impossibilitando toda pesquisa e docência em entidades públicas.

Com a volta reorganizavam-se as redes de sociabilidade, os amigos e os projetos. Em principio o CPDA, no Horto Florestal, depois a UFF e. em fim, o retorno à casa, a UFRJ. Formava-se em torno dela uma nova geração, dos quais João Fragoso e Hebe Mattos são os mais amados.

Enfim a redemocratização: Yedda ainda uma vez aceita os desafios. Primeiro é a secretaria municpal de educação, depois, por duas vezes, seria secretaria estadual de educação. Então, ao lado de Darcy Ribeiro, lançariam mão da herança do Dr. Anísio Teixeira. Os cieps, brizolões – a mais generosa e igualitária proposta de educação que o país produziu – é em verdade a versão moderna da escola-parque. 

Outros amigos vieram: Laurinda, Lia Faria, Edilberto, Maria Lucia kamache – todos embalados pelo mesmo sonho: “A educação para todos, pública, laica e de qualidade. Ao seu lado, como amparo, crítico e amigo, teria a presença de Paulo Sérgio Duarte, mais um filho muito amado.

Isto é um pouco de Maria Yedda, só um pouco, porque tão poucas pessoas conseguiram em uma só vida viver tanto. Hoje não estou triste, não quero estar triste. Para Yedda tenho apenas uma lembrança, um título de Pablo Neruda: “confesso que vivi”!

(*) Professor na Universidade do Brasil.


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Fabrício Augusto Souza Gomes

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** Comissão aprova regulamentação da profissão de historiador

16/11/2011

Comissão aprova regulamentação da profissão de historiador

Arquivo/ Leonardo Prado
Alice Portugal
Alice Portugal retirou 
a exigência de inscrição 
em conselho de fiscalização 
do exercício profissional.

A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público aprovou proposta que regulamenta o exercício da profissão de historiador. De acordo com a proposta, historiador é o profissional responsável pela realização de análises, de pesquisas e de estudos relacionados à compreensão do processo histórico e pelo ensino da História nos diversos níveis da educação.
O texto aprovado é o Projeto de Lei 7321/06, do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que tramita apensado ao PL 3759/04, do ex-deputado Wilson Santos. A relatora, deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), recomendou a aprovação do projeto apensado, com emenda, e a rejeição do projeto principal. Segundo ela, os projetos regulam a matéria em termos análogos, mas o PL 7321/06 não obriga o Poder Executivo a criar conselho de fiscalização do exercício profissional, como faz o PL 3579/04 – o que é inconstitucional. “Tais conselhos são considerados autarquias especiais e só podem ser criados por meio de lei de iniciativa do Presidente da República”, explica.
O PL 7321/06 prevê, porém, a inscrição do historiador em conselho de fiscalização do exercício profissional. A emenda da relatora retira essa previsão.
Profissionais habilitados
Ouça reportagem da Rádio Câmara sobre o assunto.
Segundo o projeto, poderão exercer a profissão de historiador no País:
- quem tiver diploma de nível superior em História, expedido no Brasil, por instituições de educação oficiais ou reconhecidas pelo governo federal;
- os portadores de diplomas de nível superior em História, expedidos por escolas estrangeiras, reconhecidas pelas leis de seu país e que revalidarem seus diplomas de acordo com a legislação em vigor;
- os diplomados em cursos de mestrado ou de doutorado em História, devidamente reconhecidos;
- os que, na data da entrada em vigor desta lei, tenham exercido, comprovadamente, durante o período mínimo de cinco anos, a função de historiador.
Para exercerem as funções relativas ao magistério em História, os profissionais deverão comprovar formação pedagógica exigida em lei.
Atividades
A proposta também define as atividades e funções dos historiadores, entre elas:
- planejar, organizar, implantar e dirigir serviços de pesquisa histórica, de documentação e informação histórica;
- planejar o exercício da atividade do magistério, na educação básica e superior, em suas dimensões de ensino e pesquisa;
- elaborar critérios de avaliação e seleção de documentos para fins de preservação;
- elaborar pareceres, relatórios, planos, projetos, laudos e trabalhos sobre assuntos históricos;
- assessorar instituições responsáveis pela preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural (museus, arquivos, bibliotecas).
Tramitação
A matéria segue para a análise, em caráter conclusivo, da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Íntegra da proposta:

Reportagem – Lara Haje
Edição – Regina Céli Assumpção
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sábado, 26 de novembro de 2011

** Caetano e Chico transitam entre tradição e modernidade

Caetano e Chico transitam entre tradição e modernidade
Caetano e Chico se uniram e se chocaram por mais de 40 anos de música
 
 
Duas trajetórias musicais que surgem quase ao mesmo tempo, se cruzam e se distanciam em diversos momentos ao longo de 40 anos, e se influenciam mutuamente, muitas vezes sem perceber. Uma se liga prioritariamente à modernidade, ao diálogo com a cultura estrangeira e discussões mais amplas sobre arte e mercadoria, enquanto outra nasce a partir da tradição, do debate sobre a busca por uma essência brasileira. Trata-se aqui do baiano Caetano Veloso e do carioca Chico Buarque, respectivamente. “Os dois representam duas forças da cultura brasileira, que se chocam, mas que também têm muito em comum. Não é uma bobagem o suposto Fla-Flu entre os dois, que ao longo dos anos se estabeleceram como padrão de música de qualidade e também de referência na opinião pública”, conta a historiadora Priscila Correa, autora de recente estudo sobre o tema do cotidiano na obra dos dois músicos.
A pesquisa de Priscila, Do cotidiano urbano à cultura: as canções de Caetano Veloso e de Chico Buarque, traz à tona uma análise bastante completa sobre Caetano e Chico, utilizando-se de teoria musical, semiótica, entrevistas e notícias de acervo, análise de capas de discos, performances em palco e espectrogramas de suas canções, abrangendo o período de 1966, quando Chico estreou em disco, até 2006, quando ambos lançaram álbuns. “Um estudo sobre um dificilmente deixaria de lado uma análise sobre o outro, então achei conveniente colocá-los em comparação”, explica a historiadora. Ela ainda ressalta: “A canção só se realiza quando é cantada, então não basta apenas analisar a letra, a música ou o contexto em que ela se insere”.

"A Banda" estava no disco de estreia de Chico Buarque, homônimo
“Eu vou, por que não?”

Em seu estudo, orientado pelo professor José Geraldo Vinci de Moraes na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Priscila define três momentos chave ao longo da trajetória dos dois compositores. O primeiro se passa em 1967, no terceiro Festival de Música Popular Brasileira, organizado pela emissora paulista TV Record. Em 1966, Buarque vencera o festival, com a música “A Banda”, e fora apontado pela crítica como sucessor de Noel Rosa, enquanto o público se deleitava com seus olhos azuis e seu ar de bom moço. “No festival de 1967, Caetano se lança no mercado, com o tropicalismo e a guitarra elétrica, muito em contraposição a Chico. É interessante perceber isso quando se tem a noção de que ‘Alegria, Alegria’, a primeira grande canção de Caetano, é uma marcha, assim como ‘A Banda’”, explica Priscila.
Nos anos seguintes, ambos “tateariam em busca de seu projeto artístico”, como diz Priscila: Caetano desenvolverá mais o tropicalismo e se exilará em Londres, até 1971, enquanto Chico parte para Roma, distanciando-se do clima tenso que se estabelece no Brasil. Nesse ínterim, o mercado fonográfico brasileiro começou a aceitar a presença de guitarras elétricas e outros elementos estrangeiros.

Juntos e ao vivo em 1972, um cantando as canções do outro
“E me calo com a boca de feijão…”

É no contexto da volta do exílio, em 1972, que acontece o segundo momento crucial de suas trajetórias, na análise de Priscila: o encontro dos dois cantores/compositores, no disco Caetano e Chico: Juntos e Ao Vivo. Nesse disco, vê-se que Caetano continuava seu projeto artístico de diálogo com o externo, enquanto Chico flertava brevemente com a postura tropicalista, especialmente em palco. “Ele deixa de se vestir de terno e cara limpa para usar um bigode e roupas mais despojadas, por exemplo. Chico usa elementos do tropicalismo para fortalecer sua indignação com o momento político do Brasil”.
Essa análise encontra seu ponto mais alto na gravação de “Você Não Entende Nada/Cotidiano”, união de uma canção do baiano e uma do carioca em uma só música, respectivamente. “Juntas, as canções mostram a indignação da classe média dentro do contexto da Sociedade do Espetáculo, falando de sua realidade maçante e opressora. ‘Cotidiano” lida com uma visão do coletivo, enquanto ‘Você Não Entende Nada’ traça um olhar acerca da individualidade, dialogando com desejos de consumo, falando de Coca Cola, por exemplo”, diz a pesquisadora. De acordo com Priscila, é também nessa época que os artistas atingem seu ponto de expressão máximo: para Chico, trata-se do álbum Construção, de 1971, enquanto Caetano chegará a ele em Araçá Azul, de 1973. “Apesar de mal compreendido, Araçá tem em sua essência muitas questões que Caetano desenvolveria adiante em seu trabalho”, conta a historiadora.

"Araçá Azul", de 1973, foi devolvido por cerca de 80% de seus compradores
“Organizo o movimento, oriento o carnaval”

O último momento, de menor impacto, é o programa de TV Chico & Caetano, exibido pela Rede Globo em 1986. “Ali, a personalidade diversa dos dois já estava definida, e era utilizada como elemento para entreter o público”. Outro dado interessante, na visão da pesquisadora, é que desse momento em diante, os artistas passam a aparecer mais como opinadores da sociedade brasileira. “Eles aparecem bastante na época das eleições. Por serem artistas intelectuais, muita gente quer ouvir suas opiniões acerca do que está acontecendo”, explica Priscila, que fez a pesquisa como parte de sua tese de Doutorado. A defesa aconteceu em 17 de junho de 2011.
Mais informações: email priscilacorrea@usp.br



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** XV Encontro Regional da Anpuh-Rio. "Ofício do Historiador: Ensino e Pesquisa"....

Prezados Colegas,

Ofício do Historiador: Ensino e Pesquisa é o tema do XV Encontro
Regional da Anpuh-Rio a ser realizado entre os dias 23 e 27 de julho
de 2012, na Faculdade de Formação de Professores, unidade da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, localizada na cidade de São
Gonçalo.

Como a sede do encontro tem como principal característica a formação
de professores, fica muito claro que o destaque será dado a este
aspecto fundamental do ofício do Historiador: o espaço da sala de
aula, sem com isso desmerecer, ou colocar em plano diferente, outro
elemento necessário para formação do profissional de História que é a
pesquisa.

Portanto, o convite para a participação no XV Encontro Regional da
Anpuh-Rio está feito para toda a comunidade de historiadores que
ensinam e pesquisam História.

As inscrições para propostas de Simpósios Temáticos e Minicursos serão
iniciadas no próximo dia 25/11/2011. Aguardamos sua colaboração e
solicitamos a ampla divulgação dessa mensagem.

Muito obrigado.
Diretoria Executiva da Anpuh-Rio


Home Page do evento: http://www.encontro2012.rj.anpuh.org
E-mail do evento: encontro2012.anpuhrio@gmail.com


--
Att,
Secretaria do XV Encontro Regional de História da Anpuh-Rio
http://www.encontro2012.rj.anpuh.org
encontro2012.anpuhrio@gmail.com
 
 
 
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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

** CONVITE PALESTRA - UFF / RJ - PPGCP E INCT/PPED

O Programa de Pós Graduação em Ciência Política (PPGCP) e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas, Estratégias de Desenvolvimento (INCT/PPED) convidam para a palestra
“Corporativismo: ontem e hoje”,
pelo Prof. Wagner Pralon Mancuso (USP).
Dia 30 de novembro, quarta feira, às 17:30 h,
UFF, Campus do Gragoatá, Bloco O, sala 307.


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** Literatura censurada pela ditadura é tema de estudo

 


Pesquisadora da USP sistematiza lista de obras de ficção censuradas pela última ditadura e analisa casos específicos. Conclusões estão no livro Repressão e resistência: Censura a livros na ditadura militar
 

Literatura censurada pela ditadura é tema de estudo

22/11/2011
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Entre 1970 e 1988, durante a última ditadura militar no Brasil, mais de 140 livros nacionais chegaram a sofrer censura prévia.
A partir do estudo dos atos censórios do Departamento de Censura e Diversões Públicas (DCDP), uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) sistematizou pela primeira vez uma listagem das obras de ficção censuradas, além de identificar e analisar, a partir de alguns casos particulares, os mecanismos de censura utilizados.
Os resultados do estudo estão sintetizados no livro Repressão e resistência: Censura a livros na ditadura militar, de Sandra Reimão, professora da Escola de Artes e Ciências Humanas (EACH) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.
O livro, que teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações, será lançado no dia 7 de dezembro, às 18h30, na Livraria Martins Fontes, na Avenida Paulista, em São Paulo.
Segundo Reimão, o projeto da obra surgiu após a leitura do livro Roteiro da Intolerância: A censura cinematográfica no Brasil, de Inimá Ferreira Simões, lançado em 1999. Vários dos filmes censurados que constavam no livro de Simões eram adaptações de obras literárias.
“Decidi pesquisar se os livros que haviam inspirado os filmes censurados também haviam sofrido censura. Mas tive uma grande surpresa ao descobrir que não havia nenhum levantamento sistemático dos livros censurados no período da ditadura. Havia apenas listagens parciais, sem especificações claras para identificar as obras. Foi quando decidi fazer esse levantamento”, disse Reimão à Agência FAPESP.
Aproveitando a bibliografia existente, a pesquisadora trabalhou com o arquivo de pareceres do DCDP e rastreou a documentação sobre as obras no Arquivo Nacional. O projeto gráfico, que foi concebido para dialogar com o texto, é um dos destaques da publicação.
“Além de fazer um levantamento sistemático das obras censuradas e de traçar um panorama histórico da atuação censória do governo militar em relação à arte e cultura – e aos livros, em particular –, procurei também destacar alguns casos particulares de censura à ficção, para analisar as características da censura”, disse Reimão.
A pesquisadora analisou especificamente os casos de Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca, Zero, de Ignácio de Loyola Brandão, Dez histórias imorais, de Aguinaldo Silva, Em câmara lenta, de Renato Tapajós, e os contos Mister Curitiba, de Dalton Trevisan, e O cobrador, de Rubem Fonseca.
Segundo ela, o decreto lei 1077, de 26 de janeiro de 1970 – também incluído no livro –, que instituiu a censura prévia no Brasil, definia como passíveis de censura os livros que ofendiam a moral comum e que podiam “destruir a base moral da sociedade”.
O mesmo decreto também indicava que as obras que ameaçavam a moral também colocavam “em prática um plano subversivo que coloca em perigo a segurança nacional”.
“Para os censores, havia uma correlação clara entre a destruição dos valores morais e a segurança nacional. Uma das conclusões do livro é que, quando tratamos da década de 1970, não é possível separar o universo moral do universo político”, disse Reimão.
  • Repressão e resistência: Censura a livros na ditadura militar
    Autora: Sandra Reimão
    Lançamento: 2011
    Preço: R$ 78
    Páginas: 184
    Mais informações: www.edusp.com.br 

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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

** O Escravismo Colonial: Obra-prima de Jacob Gorender ganha 5ª edição após 26 anos

Fonte: publicado em 20/10/2011 Por Comunicação Editora EFPA

Relançada pela Editora Fundação Perseu Abramo, a polêmica tese “Escravismo colonial” reinterpreta o legado de Gilberto Freyre, renova o marxismo brasileiro e consolida-se como a mais notável contribuição contemporânea acerca deste período histórico.

Reconhecido como um dos registros mais notáveis da historiografia recente do Brasil, O escravismo colonial, de Jacob Gorender, ganha 5ª edição pela Editora Fundação Perseu Abramo (EFPA). Publicado anteriormente entre o final da década de 1970 e a primeira metade dos anos 1980, o livro – na época, considerado polêmico por contestar as teses defendidas por pensadores devotos de Gilberto Freyre – debate a concepção histórica sobre o modelo de escravismo implantado no país e propõe a inserção do fenômeno entre as possíveis considerações sobre a formação do modelo de socioeconomia brasileira. O lançamento ocorre no mês de novembro.
Passados 26 anos desde a sua última edição, “O escravismo colonial” afirma-se como a mais sólida análise contemporânea acerca da argumentação gilbertiana sobre o sistema escravocrata implantado no Brasil colonial e suas consequências que perpassam a ascensão do capitalismo, em meados do século XIX, até os dias de hoje.
Gorender reinterpreta os clássicos modelos derivados de Freyre e desconsidera a suposta existência de um regime feudal brasileiro, subsistente ou paralelo ao sistema escravista. Sua tese de escravismo colonial suscita outra via para o entendimento da formação econômica do país, ao admitir o fenômeno como o grande responsável pelo fortalecimento da unidade lusitana na América Latina, em contraponto à fragmentação observada no território hispânico.
O autor convida o leitor a refletir sobre a estrutura e o sistema de produção escravista vigente no Brasil e afirma que este foi um método novo, temporal e específico deste espaço geográfico, objetivado pela produção mercantil para atender principalmente a demanda europeia. Portanto, esta forma peculiar de regime é diferente dos moldes do escravismo clássico, feudalismo e, ainda, do capitalismo, colocando o país numa situação de exceção em relação às culturas ocidentais durante todo este período histórico.
Sendo Gorender marxista desde a adolescência, “O escravismo colonial” dá novo fôlego para o marxismo brasileiro, ao acrescentar novas categorias de análise nos mesmos modos de produção. A obra reforça o conceito de materialismo histórico, pois, incrementa variações à fórmula de Karl Marx e o torna mais aplicável como ferramenta de estudo de sistemas econômicos que destoem dos europeus.
Jacob Gorender: intelectualidade excepcional
Nascido em Salvador, em 1923, Jacob Gorender é considerado hoje um dos mais importantes historiadores brasileiros. Filho de um judeu ucraniano socialista, frequentou a Faculdade de Direito de Salvador, onde militou na União de Estudantes da Bahia, durante o início de 1940.
Muito jovem, lutou na 2ª Guerra Mundial pela Força Expedicionária Brasileira. Foi membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) – ao lado de personagens importantes, como Carlos Marighella – e trabalhou como jornalista nos principais veículos de esquerda daquele período. Em 1968, com o início dos anos de chumbo da ditadura militar, Gorender aproxima-se da militância armada e participa da fundação do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).
Em janeiro de 1970, foi preso em São Paulo. Seguiram-se dois longos e traumatizantes anos de constantes torturas, mas também foi nesse período de Gorender teve forças para iniciar esta que atualmente é considerada a tese mais revolucionária sobre a formação socioeconômica brasileira, desde “Casa Grande & Senzala”. “O escravismo colonial” era publicado em 1978 pela editora Ática, com inesperado sucesso.
O preconceito contra seu autodidatismo intelectual o reservou à margem do campo acadêmico durante muitas décadas. Apenas em 1994, aos 71 anos, seu mérito foi reconhecido com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e passou a atuar como professor visitante no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).
Atualmente, com 88 anos, vive entre livros e publicações, numa simpática casa de vila do bairro da Pompeia, na zona oeste da cidade de São Paulo.

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Sobre a EFPA
Fundada em 1997, a Editora Fundação Perseu Abramo é um espaço para o desenvolvimento de atividades de reflexão político-ideológica, estudos e pesquisas, destacando a pluralidade de opiniões, sem dogmatismos e com autonomia. Com mais de 180 livros em catálogo, a editora conta com autores importantes como Antonio Candido, Celso Furtado, Aloysio Biondi, Michael Löwy, Marilena Chaui, Lélia Abramo, Milton Santos, Maria da Conceição Tavares, Francisco de Oliveira, Maria Rita Kehl e Leandro Konder, entre outros. Para mais informações, acesse www.efpa.com.br e siga a EFPA no twitter (@editora_perseu).

Atualizado em 20/10/2011


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    **Este grupo foi criado com o intuito de promover releituras da HISTÓRIA DO BRASIL e tão-somente  HISTÓRIA DO BRASIL.  Discussões sobre a situação atual: política, econômica e social não estão proibidas, mas existem outros fóruns mais apropriados para tais questões.

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sábado, 12 de novembro de 2011

** Livro reúne textos acadêmicos de Ruth Cardoso, que começou sua carreira nos anos 1950 com um estudo pioneiro sobre imigração japonesa

A moderna antropologia de uma discreta feminista

Livro reúne textos acadêmicos de Ruth Cardoso, que começou sua carreira nos anos 1950 com um estudo pioneiro sobre imigração japonesa

Fonte: O ESTADO DE SÃO PAULO 12 de novembro de 2011 |
 
Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S. Paulo
Para definir a modernidade da antropóloga e professora paulista Ruth Cardoso (1930-2008), casada com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por 55 anos, sua aluna Teresa Pires do Rio Caldeira, hoje lecionando na Universidade de Berkeley, EUA, recorre a uma frase do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984): ela, como todos os modernos, sentia compulsão por se inventar. Talvez por isso, poucos tenham conseguido acompanhar o ritmo camaleônico de alguém que, segundo a organizadora do livro Ruth Cardoso - Obra Reunida, agora lançado pela Editora Mameluco, "criou um espaço de reflexão e interrogação do presente para forçar limites, procurar alternativas". Ruth conservou-se assim: foi uma feminista de primeira hora, incentivadora de outros movimentos sociais emergentes nos anos 1970, nascidos entre descendentes de escravos, favelados e homossexuais, sem medo de provocar os conservadores, mesmo quando assumiu - contra sua vontade - a condição de primeira-dama do Brasil.
Antropóloga. Ruth Cardoso nos anos 1970 - Arquivo Ruth Cardoso/Fund. IFHC
Arquivo Ruth Cardoso/Fund. IFHC
Antropóloga. Ruth Cardoso nos anos 1970
Com a chegada do marido à Presidência, ela investiu contra a herança getulista do assistencialismo (ou clientelismo), ao extinguir a LBA (Legião Brasileira de Assistência) e inventar o Comunidade Solidária, projeto conduzido com a ajuda de empresários e apoiado pelo governo para enfrentar a pobreza e a exclusão social. O fim da LBA provocou polêmica. Anteriormente, em 1994, quando FHC fazia alianças visando à Presidência, ela já havia provocado o establishment político ao imprecar contra Antonio Carlos Magalhães. O episódio é lembrado na biografia da antropóloga, Ruth Cardoso - Fragmentos de uma Vida (Editora Globo) pelo autor Ignácio de Loyola Brandão, colunista do Caderno 2: "Ruth, certo dia, afirmou publicamente não entender como o marido se aliava a um político como ACM, figura que trazia todos os vícios do autoritarismo e da prepotência da ditadura". A explicação: o poder do baiano, capaz de manter a aliança PFL/PSDB.
Ruth Cardoso, que insistia em se manter autônoma e apartidária, parou de falar mal de ACM. Em contrapartida, um dos seus primeiros atos como primeira-dama foi levar para Brasília antigas companheiras da batalha feminista para fortalecer o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, estrutura básica da Secretaria de Políticas para as Mulheres, criada em 2003. Em A Mulher e a Democracia, um dos textos selecionados por Teresa Caldeira para o livro, ela afirma que o processo de democratização da sociedade passa necessariamente pela ideia da igualdade entre os sexos.
A luta por uma relação simétrica entre homens e mulheres, defendia a antropóloga, não se dava na porta dos sindicatos nem nas sedes de partidos, formas rotineiras (e manipuladoras) de fazer política, segundo ela. A dificuldade para as mulheres penetrarem nesse mundo, escreve, eram enormes - pelo menos eram quando o texto foi produzido, em 1987 - e por isso o movimento feminista teria um caráter exemplar entre todos os outros nascidos depois do histórico Maio de 1968.
"O trabalho intelectual de Ruth não se dissociava da intervenção no debate político, no qual se engajava como antropóloga", diz Teresa Caldeira no livro que reúne parte de sua produção acadêmica, mais de meio século de trabalho intelectual que exigiu da discípula três anos de pesquisas para selecionar os textos - o mais antigo de 1959 e o mais novo, de 2004. O primeiro, é, além de tudo, um estudo pioneiro e original sobre a imigração japonesa no Brasil, tema de sua tese de doutorado (de 1972), publicada em 1995 (pela editora Primus). O volume organizado por Teresa Caldeira reúne, pela primeira vez, os artigos acadêmicos da antropóloga em forma cronológica. Como o objetivo era apresentar o pensamento crítico, autoral, de Ruth Cardoso, ele só não contempla a produção da época em que ela ocupou o posto de primeira-dama, justifica a organizadora. Foi um período em que, mais discreta do que nunca, a antropóloga evitou expor publicamente suas opiniões.
Seis textos do livro são inéditos em português. Alguns foram produzidos um ou dois anos antes do exílio forçado do casal Cardoso no Chile e na França, após o golpe militar de 1964. São poucos. A maioria dos textos foi produzida nas décadas de 1970 e 1980, quando, novamente fixados no Brasil, a professora recebia encomendas de artigos ou convites para participar de seminários como As Mulheres e as Políticas Alimentares (França, 1985). Todos esses escritos ficaram aos cuidados do sociólogo, historiador e sócio-fundador da Mameluco, Jorge Caldeira, encarregado da missão de digitalizar todo o acervo da antropóloga, trabalho que começou duas semanas após sua morte e resultou na descoberta de diversos cadernos que traziam anotações de suas pesquisas de campo. A irmã do editor organizou esses textos, separando versões preliminares das finais.
Atenção especial merecem os artigos escritos em parceria com a antropóloga e cientista política Eunice Ribeiro Durham. Ela escreve um depoimento emocionado sobre a influência que Ruth exerceu em sua formação, destacando seus múltiplos interesses culturais (cinema, filosofia, literatura, história, teatro). "Eu admirava muito e invejava um pouco essa minha colega", admite Eunice, lembrando como as duas inventavam e adaptaram novos métodos didáticos trabalhando com estudantes. A amiga Ruth, "que conhecia o marxismo bem melhor que eu", realizou - com sucesso, segundo Eunice - o casamento da sociologia com a ciência política. No livro, o mais ambicioso texto escrito pelas duas analisa o processo acelerado de urbanização (em 1977) e o desequilíbrio provocado pela migração interna no Brasil.
Um ano depois, a antropóloga ousaria ainda mais, avançando no campo sociológico para desafiar o discurso dominante ao falar da marginalização da população trabalhadora em países de industrialização tardia. Em pesquisas de campo junto a trabalhadores favelados de São Paulo, quase todos migrantes, Ruth descobriu que eles não se viam como marginais - esses, para os entrevistados, eram os "vagabundos" ou doentes, os verdadeiros excluídos da sociedade. Recorrendo a Richard Hoggart, que definiu os trabalhadores de Leeds como crentes na evolução contínua da sociedade industrial (embora nem tanto na ascensão social), a antropóloga afirma que os favelados paulistanos acreditavam ainda mais na mobilidade social que os operários ingleses.
Hoggart, acadêmico inglês cuja participação no julgamento de O Amante de Lady Chatterley foi decisiva para a liberação de obra de D.H. Lawrence, desconfiava (já em 1957) que a cultura de massas iria impor novos padrões de comportamento e fortalecer preconceitos sociais. Ruth Cardoso detecta, de fato, num ensaio sobre consanguinidade e educação em famílias de favelas, que uma favelada negra havia adotado um bebê branco, dispensando todo carinho e atenção a ele, enquanto desprezava os dois filhos biológicos. Contra o discurso politicamente correto, a antropóloga demonstra que a adoção nas classes urbanas menos favorecidas seguia, para falar o mínimo, uma lógica um tanto perversa.
"Mais que Lévi-Strauss, cujos seminários frequentou nos anos 1960 e foi uma influência importante, Hoggart e Paul Willis inspiraram muito essas análises das entrevistas com residentes em favelas", observa Teresa Caldeira. "Importava a ela qual a relação que o entrevistado tinha com essas falas pesquisadas", diz a organizadora, acenando com um segundo volume para abrigar textos que ficaram de fora no livro. Professora e orientadora dedicada, segundo ela, Ruth Cardoso chegou a visitar a aluna diversas vezes em São Miguel Paulista, bairro em que se fixou para escrever sua tese.
Graças a esse corpo a corpo com a vida nas periferias, os meios de comunicação de massa e os jovens passam a ser seus "temas estratégicos para entender as mudanças políticas e culturais" nos anos 1970. "Ela era contra o conceito de subcultura, queria mostrar como os favelados estavam a par de tudo e sempre foi uma feminista convicta, fascinada pelo seriado Malu Mulher, de Regina Duarte, justamente por forçar os limites e ter, surpreendentemente, uma imensa aceitação pública", diz Teresa Caldeira.


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