Fonte: FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro Publicado em: 24/02/2022
Débora Motta
Um dos fundadores do Salgueiro, Djalma Sabiá, em sua casa na comunidade: guardião das tradições da escola de samba (Foto: Samuel Araújo) |
Samba, agoniza mas não morre/Alguém sempre te socorre/ Antes do suspiro derradeiro...Os versos da música, imortalizados na criação do compositor Nelson Sargento, trazem à tona o debate sobre as transformações sofridas ao longo das décadas por esse gênero musical que representa de forma tão autêntica a cultura brasileira e a alma carioca. Para contar uma história do samba, desde seus primórdios, partindo de uma interpretação interdisciplinar com foco na música, o etnomusicólogo Samuel Araújo, professor da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EM/UFRJ), lança o livro Samba, sambistas e sociedade – um ensaio etnomusicológico. A obra foi publicada com recursos da FAPERJ, por meio do programa Apoio à Editoração (APQ 3), pela Editora UFRJ.
O livro é fruto do projeto de Doutorado do etnomusicólogo, que defendeu em 1992 sua tese na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (Uiuc/EUA), sob orientação do professor Bruno Nettl (1930-2020), que foi um dos grandes nomes nessa área de estudo. O recorte temporal da obra vai de 1917, ano em que a música Pelo telefone entrou para a história como o primeiro samba gravado a ter sucesso comercial no Brasil, até o ano de 1990.
“Fiz uma revisão histórica das referências do samba nesse período, apresentando o que foi produzido, os principais argumentos de jornalistas, antropólogos, cientistas sociais e críticos que pensaram teoricamente a evolução do samba, e um denso trabalho de etnografia. Durante o trabalho de campo, fui conversar diretamente com diversos sambistas relevantes, o que é um contraponto metodologicamente inovador nesse trabalho”, resumiu Araújo.
Entre os sambistas entrevistados, estão grandes nomes da Velha Guarda do Salgueiro, guardiões da memória e das tradições da escola de samba tijucana. Entre eles, o mestre Louro, da bateria do Salgueiro, os compositores Noca da Portela e Nelson Sargento (1924-2021) e a dona Haydée Blandina, jornalista e única mulher presidente do Salgueiro, a primeira que presidiu uma ala de compositores na escola, além de Djalma Sabiá, um dos fundadores da escola, falecido aos 95 anos em 2020. Ricamente ilustrado, a capa e as ilustrações internas são de autoria de Guilherme Sá, compositor da Mangueira que cursa seu Doutorado sob orientação de Araújo, na EM/UFRJ.
Samuel Araújo destaca a tradição da Escola de Música da UFRJ nos estudos de Etnomusicologia (Foto: Divulgação) |
O autor reforça a importância da disciplina Etnomusicologia, tradicionalmente lecionada na Escola de Música da UFRJ, que estabeleceu já no ano de 1939 a cadeira Folclore Nacional, para investigar tradições orais da cultura brasileira. “A disciplina Etnomusicologia tem origem nas universidades germânicas no final do século 19, quando a cultura do Brasil já era objeto de estudo, assim como outros países do mundo colonial”, contextualizou Araújo, que é professor da disciplina tanto na graduação como nos cursos de pós-graduação, além de liderar o grupo de pesquisa Laboratório de Etnomusicologia na Escola de Música da UFRJ.