O   leitor do Ouro de Tolo ficou longo tempo sem as resenhas literárias, mas esta   semana teremos duas. O alvo de hoje é o impressionante "Memórias de Uma Guerra   Suja", com o depoimento do ex-delegado do DOPS (Departamento de ordem Política e   Social) Cláudio Guerra a Rogério Medeiros e Marcelo Netto.
Sobre   os jornalistas: Medeiros é um dos autores do excelente "Onde na Corrupção veste   Toga", sobre a corrupção no Judiciário do Espírito Santo, já resenhado neste Ouro de Tolo. 
Marcelo   Netto, ao que parece, é uma espécie de militante de esquerda "arrependido". Em   sua introdução ao livro escreve entre outras barbaridades que "foi bom o   Exército ter ganho aquela guerra" e pede desculpas pelas denúncias envolvendo a   Folha de São Paulo e a Globo no livro. Sinceramente, dispensável.
O   livro em si é o relato das memórias do delegado (na foto) aos jornalistas,   contando sua atuação na eliminação de inimigos do Regime Militar. Após se tornar   pastor evangélico ele resolveu contar suas memórias e tudo o que ha via   feito.
Guerra   atuou como matador do regime, eliminando e ocultando corpos de adversários da   ditadura. Depois foi um dos envolvidos nos atentados tramados pela extrema   direita a fim de jogar a culpa nos adversários da ditadura e retardar o processo   de abertura política - entre eles, o famoso caso do atentado mal sucedido no   Riocentro, em 1981.
O   delegado mostra com detalhes como alguns até hoje desaparecidos políticos   pereceram e tiveram seus corpos desovados. Segundo Guerra a usina de açúcar   Cambahyba, em Campos, teve seu forno utilizado para queimar pelo menos dez   corpos de adversários do regime, cujos nomes são citados no livro.
O   delegado também revela que há um segundo cemitério clandestino em Petrópolis,   perto de uma casa onde funcionou um centro de tortura. Ele esclarece as   circunstâncias da morte de diversos desaparecidos políticos no exemplar.
O   leitor deve estar se perguntando como o nome do delegado jamais apareceu nas   listas de torturadores da ditadura. Isto se explica por duas formas: primeiro   pelo fato de sua função ser a de matar na engrenagem, e segundo por sua   discrição.
As   revelações sobre o destino dos desaparecidos políticos são extremamente   importantes e ele a meu ver deveria ser um dos primeiros a depor na   recém-instituída Comissão da Verdade, mas a meu ver muito mais importantes são   as revelações sobre alguns episódios bastante nebulosos do período da   redemocratização brasileira.
São   descritos com riqueza de detalhes episódios como o do Riocentro, com a   preparação do atentado, dos detalhes - inclusive que não haveria socorro às   vítimas - e até porque uma das bombas explodiu no colo do militar: o carro parou   embaixo de um cabo de alta tensão e acabou "fechando o circuito". Seriam três   bombas, com muitas vítimas.
Guerra   também esclarece a morte do delegado Sérgio Fleury, um dos maiores carniceiros   da ditadura e que faleceu em 1979 em um acidente no mar bastante suspeito.   Guerra conta que sua morte foi decidida em uma reunião realizada em restaurante   paulista e que se deveu a ele estar querendo ganhar muito dinheiro sozinho, além   de ser um "arquivo vivo" da ditadura. Ressalto que o atestado de óbito de Fleury   foi assinado pelo médico de triste memória Henry Shibata, useiro e vezeiro em   laudos forjados de vítimas da ditadura.
Outro   ponto interessante do livro é como vários integrantes da comunidade de   informações, notórios torturadores, se envolveram com o jogo do bicho carioca.   Os responsáveis pela repressão, em especial do SNI, direcionaram integrantes da   comunidade de informações para o bicho como uma espécie de compensação após a   redemocratização.
Castor   de Andrade tinha uma carteira do Cenimar (Centro de Informações da Marinha) e   além do Capitão Guimarães, pelo menos dois presidentes de escolas cariocas são   egressos deste momento. Um deles, inclusive, usa como apelido o seu codinome de   torturador.
Também   são revelações do livro atentados frustrados aos políticos Leonel Brizola e   Fernando Gabeira, algo sobre o qual não se sabia. E elucida-se o assassinato de   Alexandre Von Baumgarten, caso de grande repercussão em 1982.
Guerra   conta sobre reuniões no restaurante "Angu do Gomes", no Rio de Janeiro, onde se   reuniam não somente torturadores e matadores como os membros da "Scuderie Le   Cocq", grupo de extermínio formado por policiais e que existia em diversos   estados. Destas reuniões no restaurante, onde se planejavam ações, participavam   atores como Jece Valadão e figuras proeminentes como José Oliveira de Bonifácio   Sobrinho, o Boni.
Revela-se   que o atentado a bomba na casa do dono da Globo Roberto Marinho, na verdade, foi   forjado pelo próprio empresário a fim de diminuir a pressão sobre ele por parte   de outros órgãos - ele era visto como "pró-ditadura". O delegado dá detalhes da   ação e mostra que foi feito para não machucar ninguém. E a Folha de São Paulo   prestou apoio logístico à tortura durante o Regime Militar.
Confirma-se   também que os panfletos do PT encontrados no cativeiro do empresário Abílio   Diniz foram plantados pelo mesmo pessoal, a fim de prejudicar a candidatura de   Lula a Presidente em 1989 - o episódio foi às vésperas do segundo turno.
Não   esgoto aqui as revelações do livro, mas sem dúvida alguma é um grande avanço na   elucidação de vários episódios nebulosos de nossa ditadura. Questionou-se a   veracidade do depoimento, mas os dados são bastante consistentes.
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FABRÍCIO AUGUSTO SOUZA GOMES------
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